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1. O DESIGN NO BRASIL

1.7. ARTE E DESIGN NO BRASIL ENTRE OS ANOS 1950 E 1960

1.7.1. Concretismo e Neoconcretismo

No trabalho de designers como Alexandre Wollner e Geraldo de Barros pode-se perceber a relação entre arte e design e, mais ainda, as referências da arte concreta que se fazia notar nas artes visuais e no design. A arte concreta desenvolveu-se na Europa desde os anos 1930, quando Theo Van Doesburg fundou a revista Art Concret, em Paris. A arte concreta tinha suas origens “alicerçadas no Neoplasticismo holandês, nos princípios da Bauhaus, no Construtivismo Russo. O real na arte era a concretude: um plano seria sempre um plano, assim como uma linha seria sempre uma linha”.(OLIVEIRA, 1999, p. 101). Os artistas ligados aos temas concretos buscavam na arte o rigor não expressivo e geométrico.

Estes princípios formaram as bases do trabalho de Max Bill (1908-1994). Formado pela Bauhaus, Bill foi personalidade marcante no desenvolvimento da arte concreta e no design no Brasil. A I Bienal Internacional de São Paulo, realizada em 1951, premiou a escultura de Bill, intitulada Unidade Tripartida. Max Bill defendia “a incorporação de processos matemáticos à composição artística e a autonomia da arte em relação ao mundo natural. A obra de arte não representa

a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos relacionados, que falam por si mesmos”.(ITAÚCULTURAL, 2007).

As tendências abstratas e geométricas haviam influenciado a arte brasileira neste período, fato que pôde ser comprovado pelas obras expostas. O brasileiro Ivan Serpa recebeu o prêmio Jovem Pintor, pela obra Formas. Neste contexto, Geraldo de Barros e Abraham Palatinik destacavam-se na arte concreta e exerceriam papel fundamental na organização dos grupos formados nos anos seguintes, em São Paulo e no Rio de Janeiro. (OLIVEIRA, 1999).

O Grupo Ruptura, criado em 1952, era composto por Anatol Wladyslaw (1913 - 2004), Lothar Charoux (1912 - 1987), Féjer (1923 - 1989), Geraldo de Barros (1923 - 1998), Leopold Haar (1910 - 1954), Luiz Sacilotto (1924 - 2003) e liderado por Waldemar Cordeiro (1925 - 1973). Os artistas envolvidos com a arte concreta buscavam uma nova expressão na arte, que dialogasse com a sociedade industrial da época. A abstração fazia parte desta busca e dos elementos

Os integrantes do Grupo Ruptura defendiam o rompimento com as formas tradicionais e antigas da arte, das vertentes figurativas, expressionistas, de negação pura e simples da natureza. O manifesto do grupo foi criado com base nos fundamentos da Gestalt; a composição de palavras, símbolos gráficos e cores foi planejada e estruturada de acordo com os princípios defendidos pelo grupo. No manifesto, defendia-se a ruptura entre a arte do passado e a nova arte que pretendiam os artistas concretos: “a arte do passado foi grande, quando foi inteligente. Contudo, a nossa inteligência não pode ser a de Leonardo. A história deu um salto qualitativo. Não há mais continuidade! Então nós distinguimos: os que criam formas novas de princípios velhos; os que criam formas novas de princípios novos”. (MAC-USP). A primeira exposição foi realizada em dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, reivindicado como espaço de divulgação dos artistas concretos, que montaram e organizaram as obras na exposição, e distribuíram o manifesto assinado aos visitantes.

O Grupo Ruptura queria promover a arte em espaços dedicados à exposição da arte figurativa; tinha como proposta um envolvimento com a arte e a

cultura, o ambiente urbano e os temas da sociedade contemporânea, incluindo uma visão de arte dentro de um contexto industrial. É interessante observar que arte e design era atividades que se complementavam no trabalho de artistas como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Alexandre Wollner. A arte fundia- se aos temas da sociedade, dialogando com a cultura brasileira, com a arquitetura, com o paisagismo e com o design. Esta fusão de elementos antes restritos às artes visuais abriu espaço para novas possibilidades e experiências na arte, que seguiram nos anos 1960.

As obras de Waldemar Cordeiro utilizavam fundamentos da Gestalt no uso e aplicação das cores. Composição com linhas, que instigam a percepção visual e desafiam o olhar, como na obra da figura 8, onde Cordeiro empregou linhas horizontais e variação cromática entre cores complementares, criando um efeito dinâmico, de uma percepção que transita na relação espaço-tempo.

Figura 8. Obra de Waldemar Cordeiro: têmpera s/tela, acervo MAC-USP. Cartaz de Alexandre Wollner, para a IV Bienal de São Paulo (1957).Fonte: http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/ruptura /cordeiro/index.html;http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/secul oxx/modulo3/ruptura/wollner/index.html

Outro movimento de arte concreta desenvolveu-se no Rio de Janeiro, com o Grupo Frente, criado em 1954. A partir da exposição do Grupo Ruptura em São

Paulo, os artistas dos dois grupos realizaram entre 1956 e 1957 a Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, que aconteceu simultaneamente nas duas cidades. Desta primeira exposição, surgiram divergências entre os artistas dos dois grupos, principalmente entre Waldemar Cordeiro e Ferreira Gullar. Estas discordâncias levaram à cisão do movimento de arte concreta do Rio de janeiro, que se transformou no movimento Neoconcreto.

O Grupo Frente era composto por Ivan Serpa (1923-1973), Lygia Pape (1927-2004), Lygia Clark (1920-1988), Vicent Ibberson, Carlos Val (1937), Décio Vieira (1922-1988) e, posteriormente, Franz Weissmann (1911-2005) e Hélio Oiticica (1937-1980). A experiência estética neoconcreta rejeitava o racionalismo pleno, em favor de uma sensibilidade artística. O Manifesto Neoconcreto, de 1959, defendia uma outra abordagem da arte, menos rígida e presa às normas da objetividade e da excessiva racionalidade.

O Grupo Frente propunha o resgate da expressividade e da subjetividade, com o intuito de se realizarem experiências na arte. Seus integrantes defendiam a interação entre a obra de arte e o observador, incorporado a ela. O observador não é apenas convidado a olhar; é estimulado a participar da obra, por meio da percepção e manipulação de objetos, tornando-se parte dela. Lygia Clarck define em linhas gerais a arte neoconcreta, através da idéia de espaço, linha, superfície:

A idéia é o espaço abstrato A realização é um espaço-tempo

A superfície modulada é a materialização da idéia-espaço A idéia-espaço deve ser realizada dentro do seu próprio tempo

A superfície é construída em função da necessidade da idéia-espaço a imprimir

A superfície só é bidimensional quando préexiste à idéia-espaço

Linhas absolutamente iguais, horizontais e verticais, produzem entre si uma tensão oblíqua distorcendo um quadrado perfeito: o espaço então se revela ali como um momento do espaço circundante

Figura 9. Exposição de Lygia Clarck na Bienal de Veneza (1968), em sala especial. Fonte: http: //www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/ seculoxx/modulo3/frente/clark/index.html

Os artistas neoconcretos permitiam-se expressões e subjetividade, no sentido de minimizar o caráter racional, ou técnico-científico do concretismo, visto como rígido em excesso dentro destes parâmetros. O Neoconcretismo, diferente da experiência concreta, buscou na arte a experiência de criação e investigação, com o olhar sobre a humanização da obra, pautada na participação do observador.