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Concurso de Crimes e Crime Continuado I – Concurso de Crimes

No documento Teoria Geral Do Crime e Da Pena - Apontamentos (páginas 112-118)

1. Preliminar

Concurso de Agentes: várias pessoas praticam um crime.

Concurso de Crimes: uma só pessoa comete dois ou mais crimes. 2. Concurso de Crimes. Conceito

Concurso de Crimes (art. 30º)

Homogéneo: vários crimes – crimes que correspondem ao mesmo tipo legal,

violação plúrima do mesmo tipo de crime.

Heterogéneo: vários crimes - crimes que correspondem a diferentes tipos legais,

violação plúrima de vários tipos de crime

Concurso de Crimes ≠ Concurso (aparente) de normas: unidade do facto e a

pluralidade de normas potencialmente aplicáveis, mas o facto constitui um só crime.

Concurso de Crimes ≠ Concurso de Penas (art. 77º a 79º): quando em razão da pratica

de vários crimes pelo agente ou de um só crime continuado, as referidas disposições legais estabelecem que lhe será aplicável uma só pena principal e as regras para a formação dessa pena.

3. Concurso de Crimes Real e Concurso Ideal; Concurso Homogéneo e Concurso Heterogéneo

Concurso Real: o agente comete mais de um crime mediante duas ou mais ações. Ex:

hoje furta e amanha mata uma pessoa (dois crimes)

Concurso Ideal/Formal: com a mesma conduta, em sentido amplo, o agente produz

mais do que um evento. Ex: com um só tito mata duas pessoas; com um só tiro destrói uma montra e mata ou gere uma pessoa.

Concurso pode ser:

Homogéneo: os crimes cometidos são idênticos, da mesma espécie – a mesma

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Heterogéneo: os crimes cometidos são de espécie diferente – duas ou mais

espécies de crime são efetivamente cometidos.

4. Vontade nos Crimes em Concurso

A Vontade deve abranger todos e cada um dos crimes em concurso e cada um só será subjetivamente imputável ao agente se for doloso ou culposo e na forma em que o for.

5. Concurso de Crimes e Reincidência. Regra Geral da Punição do Concurso e da Reincidência

Reincidência: repetição de crimes dolos. Nos termos do art. 75º/1, é punido como

reincidente quem cometer um crime doloso que deva ser punido com prisão efetiva a 6mses, depois de ter sido condenado por sentença transitada em julgado em pena efetiva superior a 6 meses por outro crime doloso, se, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, o agente for de censurar por a condenação ou as condenações anteriores não lhe terem servido de suficiente advertência contra o crime.

Concurso (art. 77º): pratica de vários crimes antes de transitar em julgado a

condenação por qualquer deles. Ou seja, ate ao transito em julgado da condenação por qualquer crime, se o agente praticou vários crimes antes, há acumulação, mas não há acumulação relativamente a crimes cometidos e julgados com transito em julgado e crimes cometidos posteriormente. Na hipótese de crimes cometidos posteriormente a outros julgados com trânsito há ou pode haver, se se verificarem os respetivos pressupostos, reincidência.

Ex: X cometeu 3 crimes:

 Crime A – 1994  Crime B – 1995  Crime C – 1997

Em 1996 – julgado e condenado com transito em julgado pelo crime B. EM 1998 – julgado pelos crimes A e C  crime C, concurso ou reincidência?

 Crime C – o agente é condenado como reincidente, se se verificarem os respetivos pressuposto.

 Crime A - terão de se aplicar as regras da punição do concurso com o crime B, independentemente da data que é julgado.

Regra quanto à punição da pluralidade de crimes: cúmulo jurídico (art. 77º/2, 3, 4).

Art. 76º/1: reincidência constitui uma circunstância modificativa geral que tem como efeito o agravamento do limite mínimo da pena aplicável ao crime.

▲ se a reincidência pressupõe o caso julgado anterior e por isso com ele, em regra, não há que formular o cumulo jurídico de penas em razão do concurso de crimes. Pelo contrario, em relação ao crime(s) cometidos anteriormente à condenação mas ainda não julgados, como é o caso do crime A com o crime B, dado que o crime A foi perpetrado antes de julgado o Crime B  O concurso verifica-se entre os Crimes A e B. Em relação ao Crime C haverá ou não reincidência, conforme ocorram ou não os

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respetivos pressupostos, com o crime B julgado com transito antes da pratica do Crime C.

II – Crime Continuado 1. Características Gerais do Crime Continuado

O conceito de crime continuado provoca grandes divergências na doutrina, mas existem características inegáveis:

 Pluralidade de ações que constituem o corpus de uma pluralidade de crimes, tantos quantas ações, mas a lei unifica e trata como um crime só.

2. Crime continuado, crime permanente, tendência criminosa, crime habitual, crime complexo e concurso de crimes

Crime Permanente: quando a consumação se protrai no tempo, dependente da

vontade do sujeito ativo o pôr-lhe termo com um ato de sentido contrario para que o crime não prossiga. Ex: sequestro, rapto, tomada de reféns.

Crime Continuado: repetição de atos, mas que entre cada um medeia um interregno

temporal.

Alimenta utilizava uma imagem gráfica muito expressiva:

 Crime instantâneo é comparado com um ponto (.)

 Crime continuado exige para a realização uma linha de pontos (…)  Crime permanente exige uma linha ininterrupta (---)

Delinquência por Tendência: mantém-se autónomos os crimes praticados e a sua

reiteração apenas tem como efeito que a pena a aplicar em último lugar seja uma pena relativamente indeterminada.

Crime Habitual: exige uma multiplicidade de atos, de modo a revelarem uma certa

habituação por parte do agente, sem que, porem, nenhum deles constitua o crime habitual, pois este é constituído precisamente pela reiteração desses atos, pela persistência na atuação criminosa, reiteração que revela uma tendência ou habito de vontade. Ex: aborto habitual  nuns casos pode éter como efeito a agravação da pena aplicável, e noutros é elemento constitutivo do próprio crime.

Nos Crimes Complexos e Crimes Continuados, a unidade do crime pode ser criada diretamente pela própria lei.

Crimes Complexos: fusão de mais de um tipo. Ex: roubo (ofensa corporal ou a ameaça

contra a pessoa e a subtração de cisa alheia). São em geral crimes pluriofensivos por lesarem ou exporem a perigo de lesão mais de um bem jurídico tutelado. Ex. roubo (ao mesmo tempo que se atinge o património (subtração de coisa alheia) também se atinge a liberdade individual (constrangimento).

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Crime Complexo Crime Continuado

As distintas ações ou partes componentes da ação que se integram

no tipo são constitutivas cada uma delas de um tipo de crime de espécie diferente que dá origem a um novo tipo

de crime

diversas ações são homogéneas e representam a ofensa de um mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime

que fundamentalmente protegem o mesmo bem jurídico, mas não dão origem a um novo tipo autónomo de crime, são apenas tratadas em conjunto

para efeito de punição. As ações devem ser simultâneas ou

pelo menos contemporâneas Em regra, há um interregno temporal entre as sucessivas ações.

Crime Continuado distingue-se do concurso real de crimes porque:  Unidade do bem jurídico protegido

 Execução por forma essencialmente homogénea

 Diminuição considerável da culpa em razão de uma mesma situação exterior.

3. Natureza jurídica do crime continuado

Teorias acerca da natureza do crime continuado:

 Teoria da Unidade Natural ou Real: não obstante a pluralidade de factos e de violações jurídicas, o crime continuado constitui um ato criminoso único. Todos os factos ainda que praticados em momentos distintos e obedecendo a resolução criminosas diversas constituem uma só conduta típica.

 Teoria da Ficção Jurídica: existência da unidade, mas considera que tal não é substancial, mas provem da vontade do legislador

 Teoria da realidade jurídica ou mista: nega a unidade ou pluralidade de violação do bem jurídico, vendo antes um terceiro crime; o crime continuado não seria nem um crime único nem um concurso de crimes, mas um conceito sui genrir.

Crime de Execução Sucessiva: um só crime, que resulta da insistência na sua

execução, por sucessivas ações dirigidas à produção do evento.

Crime de Execução Reiterada: um só crime, mas em que as diversas condutas que o

integram realizam parcialmente, e não totalmente a execução e a produção de evento parcial do crime.

Quer no crime de execução sucessiva quer no crime de execução reiterada existe unidade da resolução criminosa, ao contrario que acontece no crime continuado e no concurso real de crimes  em ambos há varias resoluções.

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4. Crime Continuado no CP (art. 30º/2)

Art. 30º/2:

 Na base do crime continuado existe um concurso de crimes: realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime , unificados pela lei por efeitos putativos, em atenção à identidade do bem jurídico protegido, à homogeneidade da execução e à diminuição considerável da culpa no caso concreto.

 No crime continuado existem tantas resoluções criminosas quanto as condutas que o integram, de tal modo que cada conduta parcelar constitui materialmente um crime autónomo, apenas unificado para efeitos punitivos e de sorte que a não verificação de um dos pressupostos que determinam a unificação se verificara uma pluralidade de crimes em concurso real.

4.1. Elementos Constitutivos do Crime Continuado

Realização Plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime

Pluralidade de condutas típicas, de ações ou omissões típicas, que não fora o regime especial do crime continuado seriam tratadas nos quadros das pluralidades das infrações, ou seja cada uma constituiria um facto típico.

As condutas podem ser tipicamente diversas, ou seja corresponder a diversos tipos incriminadores.

Identidade do Bem Jurídico Protegido

Bem jurídico protegido pelo tipo ou tipos plurimamente realizados deve ser fundamentalmente o mesmo: quando forem diversos os tipos incriminadores preenchidos com as varias condutas do agente todos hão-de proteger essencialmente o mesmo interesse.

▲ art. 30º/3

Homogeneidade da Execução

Prof. Eduardo Correia: é impossível fixar com rigor onde começa e acaba tal homogeneidade, sendo diferente de caso para caso. Não será preciso determiná-lo com tanto rigor, sendo a sua determinação praticamente indiferente, quando as diversas atividades preencherem o mesmo tipo de delito. Contudo, deverá tentar-se fixá-la com maior precisão quando forem realizados vários tipos criminais referidos ao mesmo bem jurídico fundamental.

Diminuição considerável da culpa no caso concreto

Prof. Eduardo Correia: pressuposto da continuação criminosa será a existência e uma relação que de fora e de maneira considerável, facilitou a repetição da atividade criminosa, tornando cada vez menos exigível ao agente que se comporte de maneira diferente.

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Fundamento do art. 30º/2 reside essencialmente na diminuição da culpa do agente em virtude da facilidade criada por determinadas circunstancias exteriores para a pratica de novos atos da mesma natureza.

 Ter-se criado, através da primeira atividade criminosa, uma certa relação, um acordo entre os sujeitos.

 Circunstância de voltar a verificar-se uma oportunidade favorável à pratica do crime, que já foi aprovada ou que arrastou o agente para a primeira conduta criminosa. Ex: quando descobriu uma porta falsa que dá acesso a uma casa e que se aproveitou varias vezes para furtar objetos la depositados.

 Circunstancias de perduração do meio apto para realizar um crime, que se criou ou adquiriu com vista a executar a primeira conduta criminosa. Ex: moedeiro falso que, tendo adquirido ou construído a aparelhagem destinada a fabricar notas, se vê sempre solicitado a utiliza-la.

 Circunstância do agente, depois de executar a resolução que tomara, verifica que se lhe oferece a possibilidade de alargar o âmbito da sua atividade criminosa. Ex: ladrão que entra num quarto e furta uma joia e verificando depois que la se encontra dinheiro apropria-se dele.

▲ art. 71º do CP brasileiro, ao definir crime continuado, refere-se à pratica de dois ou mais crimes da mesma espécie devendo os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro.

Prof. Germano Marques da Silva: embora este elemento não conste do CP português, é um elemento essencial, resultando de se exigir tantas resoluções criminosas quantos os tipos preenchidos (o que afasta o crime unitário), e que o agente tenha agido num único contexto ou em situações que se repetem ao longo de uma relação que se prolonga no tempo.

5. Punição do Crime Continuado

Nos termos do art. 79º, o crime continuado é punido com a pena aplicável ao crime mais grave que integra a continuação criminosa  aos vários crimes que integram o crime continuado é aplicável em conjunto uma única pena e essa é a que seria aplicável a só um deles se todos fossem puníveis com a mesma pena ou ao mais grave, segundo as penas aplicáveis diferentes.

Ou seja:

 O Tribunal terá de determinar qual a pena aplicável a cada uma das condutas unificadas na continuação criminosa e determinar depois a pena concreta dentro dos limites da pena aplicável.

 na determinação concreta da pena a aplicar ao agente do crime continuado, o tribunal terá de ponderar as varias circunstancias do crime (art. 71º) e entre elas as circunstâncias do crime continuado ser integrado por repetidas violações do mesmo bem jurídico, o que naturalmente agravará o grau de ilicitude.

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Nota: se depois de uma condenação transitada em julgado, for conhecida

uma conduta mais grave que integre a continuação, a pena que lhe for aplicável substituiu a anterior.

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