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CONCURSO PÚBLICO – EXIGÊNCIAS EDITALÍCIAS – EXCESSO DE FORMALISMO – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 89-96)

Tribunal Regional Federal da 1ª Região

CONCURSO PÚBLICO – EXIGÊNCIAS EDITALÍCIAS – EXCESSO DE FORMALISMO – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

1. Ofende o princípio da razoabilidade, bem como constitui exces- so de formalismo, a atitude da banca examinadora em exigir que o documento apresentado pela candidata para comprovação de título (certificado de pós-graduação lato sensu) faça referência expressa a sua conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases, ainda mais quando se constata que foi expedido por Universidade Federal e devidamente registrado no MEC.

2. Tal postura violou, inclusive, o princípio da legalidade, afinal, o ato administrativo que não observa o princípio da razoabilidade, não está em conformidade com a lei, sendo passível de controle pelo Poder Judiciário. Precedentes deste Tribunal.

3. Apelação parcialmente provida.

acÓrdão

Decide a Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nos termos do voto da Exma. Sra. Desembargadora Federal Selene de Almeida (Relatora).

Brasília, 26 de março de 2014.

Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida

relatÓrio

Trata-se de apelação interposta por Daniela Barreto Chaves Nunes contra sentença proferida pelo juízo da 16ª Vara da Seção Judiciária do

Distrito Federal que, em mandado de segurança impetrado contra ato do Diretor Geral do Cespe, denegou a segurança pleiteada sob o argumento de que não se admite a atuação do Judiciário em substituição à Banca Exa- minadora, analisando os critérios de formulação de questão e correção de provas, bem como avaliação de títulos.

Sustenta que, após a aprovação nas provas objetiva e discursiva do concurso público para o cargo de Analista em Ciência e Tecnologia Júnior I, da carreira de Gestão, Planejamento e Infraestrutura em Ciência e Tecno- logia do quadro de pessoal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a banca examinadora não atribuiu a pontuação corres- pondente aos títulos por ela apresentados, relativos à pós-graduação e ao exercício de atividade profissional.

Requer a impetrante a reforma da sentença, para que seja determina- do “[...] à autoridade indigitada coatora que proceda nova avaliação dos tí-

tulos apresentados pela Impetrante, atribuindo-lhe as respectivas notas devi- das por preencher os requisitos previstos nas alíneas c e d do subitem 10.3.1 do edital Edital nº 1 – Capes, de 27 de setembro de 2012, posicionando-a, via de consequência, de forma correta na classificação geral dos aprovados no concurso, reservando-lhe uma vaga com estrita observância da ordem de classificação, sendo-lhe garantida a nomeação e posse quando da convoca- ção dos demais candidatos ao cargo a que concorreu [...]”.

Contrarrazões da Fundação Universidade de Brasília – FUB (Cespe/UnB) às fls. 234/238.

É o relatório.

Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida

voto

Trata-se de apelação em mandado de segurança interposta por Da- niela Barreto Chaves Nunes, objetivando a reforma da sentença para que a autoridade coatora proceda a nova avaliação dos títulos apresentados por ela apresentados, atribuindo-lhe as respectivas notas devidas por preencher, em tese, os requisitos previstos nas alíneas c e d do subitem 10.3.1 do Edital nº 01 – Capes, de 27 de setembro de 2012, de forma que seja posicionada de forma correta na classificação geral dos aprovados no concurso.

Relata que se inscreveu no concurso público destinado ao provimen- to de vagas nos cargos de Analista em Ciência e Tecnologia Júnior I, da

Carreira de Gestão, Planejamento e Infraestrutura em Ciência e Tecnologia, do quadro de pessoal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, conforme Edital nº 1 – Capes, de 27 de setembro de 2012.

Aduz que logrou êxito nas fases objetivas e discursivas, sendo clas- sificada para avaliação de títulos, não tendo, porém, recebido a pontuação devida.

Verifico que assiste parcial razão à apelante.

No que se refere à fase de avaliação de títulos, o quadro de atribuição de pontos do subitem 10.3.1 do edital em comento assim dispôs:

C. Certificado de curso de pós-graduação em nível de especialização com carga horária mínima de 360 h/a. Também será aceita a declaração de con- clusão de pós-graduação em nível de especialização desde que acompanha- da de histórico escolar.

D. Exercício de atividade profissional de nível superior na Administração Publica ou na iniciativa privada, em empregos/cargos na área de formação do cargo a que concorre.

Em relação à alínea d, verifico que a candidata apresentou duas de- clarações para comprovar o desempenho de atividade profissional, uma oficial, expedida pelo Departamento de Recursos Humanos do Senado Fe- deral, atestando o desempenho do cargo de Secretária Parlamentar e ou- tra, do ex-chefe de gabinete dos senadores Jefferson Péres e Jefferson Praia, declarando que a ex-servidora comissionada exerceu várias atividades na função de Relações Públicas.

No entanto, da análise dos documentos acostados, não há comprova- ção de que as atividades de secretária parlamentar fossem atividades profis- sionais de nível superior, como exigido no edital do concurso, motivo pelo qual a banca examinadora indeferiu o recurso interposto pela candidata, não cabendo ao Judiciário se imiscuir neste tema.

Já em relação à alínea c, observo que a banca agiu com excessivo rigor em não aceitar o certificado de especialização apresentado pela impe- trante, conforme passo a expor.

Para comprovação da conclusão do curso de pós-graduação, em ní- vel de especialização, o edital assim estabeleceu:

10.9.2 Para comprovação da conclusão do curso de pós-graduação em ní- vel de especialização, será aceito certificado atestando que o curso atende às normas da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes

e Bases da Educação), do Conselho Nacional de Educação (CNE) ou está de acordo com as normas do extinto Conselho Federal de Educação (CFE). Também será aceita declaração de conclusão de pós-graduação em nível de especialização acompanhada do respectivo histórico escolar no qual conste a carga horária do curso, as disciplinas cursadas com as respectivas menções e a comprovação da apresentação e aprovação da monografia, atestando que o curso atende às normas da Lei nº 9.394/1996, do CNE ou está de acordo com as normas do extinto CFE.

A apelante, por sua vez, alega ter apresentado os seguintes documen- tos ao Cespe – informação em nenhum momento impugnada pela parte contrária: diploma de conclusão de curso de nível superior (bacharelado em Comunicação Social); certificado de conclusão do curso de especializa- ção em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (UFRJ); declara- ção da Coppe/UFRJ atestando a conclusão do curso de pós-graduação lato

sensu; histórico escolar demonstrando as disciplinas cursadas; declaração

da UFRJ atestando o credenciamento da instituição no Ministério da Edu- cação.

Dos documentos apresentados para comprovação do título de espe- cialização, percebe-se que a única “irregularidade” encontrada é não ter deles constado, expressamente, estar o curso em conformidade com a Lei nº 9.393/1996, conforme resposta concedida pelo Cespe ao recurso inter- posto, veja:

O recurso não foi aceito, pois o que consta na documentação é o registro do certificado na instituição de ensino e não atesta que o curso foi realizado de acordo com as normas da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), do Conselho Nacional de Educação (CNE) ou está de acordo com as normas do extinto Conselho Federal de Educação (CFE), estando em desacordo com o disposto no subitem 10.9.2 do Edital nº 1 – Capes, de 27 de setembro de 2012.

É bem verdade que a norma editalícia, no subitem 10.9.2, exigia que constasse dos documentos apresentados uma declaração, no sentido de que o curso foi realizado de acordo com as normas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

No entanto, considerando que a prova de títulos “tem por finalidade avaliar a experiência profissional e acadêmica do candidato”, configura ex- cessivo rigor a atitude da banca examinadora em exigir que o documento apresentado pela candidata faça referência expressa a sua conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases, ainda mais quando se constata que foi ex- pedido por Universidade Federal e devidamente registrado no MEC.

Sobre a questão, transcrevo trecho do Parecer da Procuradoria da República no Distrito Federal:

Entendo, contudo, que a exigência de se fazer referência, no documento, à Lei de Diretrizes e Bases da Educação é não só exagerada quanto inútil, ain- da mais diante de certificado de especialização, expedido por Universidade Federal, devidamente registrado no Ministério da Educação.

De fato, se o curso não atendesse à Lei de Diretrizes e Bases da Educação, com o devido respeito, não poderia ser ofertado, ainda mais por uma Uni- versidade Federal.

Ademais, basta uma simples leitura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação para se constatar que ela (muito) pouco trata dos cursos de especialização. Isso porque é o Conselho Nacional de Educação quem estabelece as diretri- zes curriculares nacionais (art. 39, § 3º, da Lei nº 9.394/1996).

Em verdade, a matéria está regulada na Resolução nº 1/2007 do Conselho Nacional da Educação, a qual prevê, em seu art. 5º, os requisitos mínimos para o curso se qualificar como pós-graduação lato sensu, em nível de espe- cialização:

Art. 5º Os cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização, têm duração mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, nestas não compu- tado o tempo de estudo individual ou em grupo, sem assistência docente, e o reservado, obrigatoriamente, para elaboração individual de monografia ou trabalho de conclusão de curso.

Da análise dos documentos acostados aos presentes autos, fácil verificar de- les constar, expressamente, a carga horária do curso e a apresentação/apro- vação de projeto final.

Ora, com o devido respeito à Autoridade Impetrada, para a computação dos pontos relativos à pós-graduação em nível de especialização faltou apenas a expressão “Este curso está conforme à Lei nº 9.394/1996”, o que soa risível, diante do fato de que a LDB nada diz sobre a matéria e de que o diploma foi expedido por Universidade Federal!

Diferente seria se se exigisse, no título, o atestado de que atende uma norma específica do CNE, como a Resolução acima mencionada.

Mas esse não é o caso, pois, pelo Edital, bastaria uma referência genéri- ca (e sem significado algum no plano concreto, como já afirmado) à Lei nº 9.394/1996 para um título ser aceito, o que não soa razoável.

Nota-se, portanto, que quando a administração não reconheceu o título apresentado – certificado de pós-graduação –, agiu com excesso de formalismo, contrariando, dessa forma, o princípio da razoabilidade.

Tal postura violou, inclusive, o princípio da legalidade, afinal, o ato administrativo que não observa o princípio da razoabilidade, não está em conformidade com a lei, sendo passível de controle pelo Poder Judiciário.

Em casos análogos, este Tribunal assim decidiu:

ADMINISTRATIVO – CONCURSO PÚBLICO – PROCURADOR FEDERAL – PROVA DE TÍTULOS – PONTUAÇÃO – COMPROVAÇÃO MEDIANTE AU- TENTICAÇÃO DE DOCUMENTAÇÃO POR ÓRGÃO PÚBLICO, E NÃO POR CARTÓRIO, CONFORME EXIGÊNCIA EDITALÍCIA – POSSIBILIDADE – PRIN- CÍPIO DA RAZOABILIDADE – 1. O indeferimento do pedido de pontuação pelas aprovações em concursos públicos anteriores, sob o fundamento de que a autenticação dos documentos se deu por órgão público, e não por cartório, conforme previsto no edital, ofende o princípio da razoabilidade, bem como constitui excesso de formalismo. 2. Apelações e remessa não providas. (AC 0020372-52.2007.4.01.3300/BA, 5ª T., Relª Desª Fed. Selene Maria de Almeida, Rel. Conv. Juiz Federal Avio Mozar Jose Ferraz de Novaes, e-DJF1 p. 467 de 17.04.2009)

APELAÇÃO – REEXAME NECESSÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – CONCURSO PÚBLICO – PROVA DE TÍTULOS – PONTUAÇÃO – AUSÊN- CIA DE AUTENTICAÇÃO DE DOCUMENTO EMITIDO EMPRESA PÚBLICA – ÓRGÃO PÚBLICO – SEGURANÇA CONCEDIDA – SENTENÇA MANTIDA – 1. Ofende o princípio da razoabilidade, por excesso de formalismo, a deci- são que rejeita documento comprobatório de anterior exercício de atividade profissional em empresa pública, por não apresentar firma reconhecida, em desacordo com a previsão editalícia que dispensava de autenticação somen- te os documentos emitidos por órgãos públicos. 2. Apelação e remessa ofi- cial a que se nega provimento.

(AMS 0033149-89.2009.4.01.3400/DF, 6ª T., Rel. Des. Fed. Kassio Nunes Marques, e-DJF1 p. 102 de 16.01.2014)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – CONCURSO PÚBLICO – COM- PROVAÇÃO DE PRÁTICA FORENSE – APRESENTAÇÃO DE DOCUMEN- TOS – AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO – CÓPIA DO DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO – NÃO ACEITAÇÃO – FALTA DE RAZOABILIDADE – SENTENÇA MANTIDA – 1.Candidata aprovada em todas as fases do concurso público para provimento do cargo de Advogado da União não pode ser prejudicada por excesso de formalismo da banca examinadora, ao indeferir o pedido de inscrição definitiva no certame, por entender insuperável mera falta de autenticação de cópia do Diário Oficial da União, apresentada para compro- vação do tempo de prática forense. 2. Sentença confirmada. 3. Apelações e remessa oficial desprovidas.

(AC 0025758-52.2006.4.01.3800/MG, 6ª T., Rel. Des. Fed. Daniel Paes Ribeiro, e-DJF1 p. 57 de 21.03.2011)

Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação, determinando que a autoridade impetrada proceda à nova avaliação dos títulos apresen- tados pela candidata Daniela Barreto Chaves Nunes, atribuindo-lhe as res- pectivas notas devidas por preencher o requisito previsto nas alíneas c do subitem 10.3.1 do edital Edital nº 1 – Capes, de 27 de setembro de 2012, posicionando-a, via de consequência, de forma correta na classificação ge- ral dos aprovados no concurso, reservando-lhe uma vaga com estrita obser- vância da ordem de classificação, sendo-lhe garantida a nomeação e posse quando da convocação dos demais candidatos ao cargo a que concorreu.

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No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 89-96)