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Conduta ética e má conduta ética na pesquisa científica

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 52-65)

2.1 Ética

2.2.2 Conduta ética e má conduta ética na pesquisa científica

As atuais discussões sobre conduta ética na pesquisa enfatizam a questão da responsabilidade do pesquisador. Morin (1996) destaca que, a responsabilidade é noção humanista ética que só tem sentido para o sujeito consciente e que o problema da consciência (responsabilidade) supõe uma reforma das estruturas do próprio conhecimento.

O assunto da responsabilidade ética do cientista e as reflexões sobre o impacto da ciência e da tecnologia sobre a vida social e sobre o ser humano não é algo moderno. Contudo, foram os efeitos catastróficos do progresso da técnica e da ciência após a primeira guerra mundial e no período entre ela e a segunda guerra mundial, que trouxeram à tona a importância de refletir sobre a responsabilidade do cientista (SANTOS; SILVA NETO, 2000).

Artigo publicado na revista Nature, em 2005, divulga o resultado de uma investigação efetuada entre cientistas dos Estados Unidos a respeito de práticas questionáveis em pesquisa. A pesquisa apontou que, em torno de 35% dos entrevistados mencionaram ter adotado, nos últimos três anos, algum tipo de comportamento considerado questionável em sua atividade. Entre tais comportamentos, destacavam-se: falsificação, fabricação e ocultação de dados, plágio, quebra da confidencialidade, desconsideração pelo bem-estar dos participantes, utilização das ideias de outras pessoas sem solicitar permissão, definição da metodologia e dos resultados dos estudos em obediência à pressão de financiadores da pesquisa (GUILHEM; ZICKER, 2007).

A investigação científica é construída sobre uma base de confiança. A sociedade confia que, os resultados das pesquisas científicas são honestos e reflexos precisos do trabalho de um pesquisador. Quando essa confiança é quebrada e os padrões profissionais da ciência são violados, as consequências afetam direta e pessoalmente os pesquisadores, bem como afeta também a base da profissão de pesquisador, o que pode ter impacto na relação entre ciência e sociedade. (COMMITTEE ON SCIENCE, ENGINEERING, AND PUBLIC POLICY et al., 2009).

Na visão de Morin (1996), o conhecimento científico elimina de si mesmo toda a competência ética, porém a práxis de investigador suscita ou implica uma ética própria, não se tratando unicamente de uma moral exterior que a instituição impõe as pessoas, mas sim de

uma consciência profissional inerente a toda a profissionalização, tratando-se de uma ética própria do conhecimento.

Resnik (2005) aborda que, não há uma demarcação clara entre má conduta em ciência e práticas de pesquisa questionáveis e que a linha entre conduta antiética e conduta ética na pesquisa é muitas vezes nebulosa. Mas o autor salienta que, para uma conduta ética na ciência, não devem ser violados padrões morais comumente aceitos e deve-se promover o avanço dos objetivos científicos.

Na visão de Brown (1993), a noção de responsabilidade contém tanto pauta negativa quanto positiva, ou seja, responsabilidade negativa se refere à obrigação de não fazer o mal, e responsabilidade positiva, ao contrário, refere-se à responsabilidade em fazer o bem.

O autor parte do entendimento da responsabilidade como a habilidade de responder, baseada na capacidade das pessoas de pesar os prós e os contras de diferentes cursos de ação, de examinar as razões que as apoiam e de escolher o curso de ação que tem o maior apoio.

Brown (1993, p.3) coloca que, “esta abordagem vê a ética como um processo de reflexão acerca das razões para um curso de ação proposto”. E assim, as pessoas podem gerar os recursos essenciais para tomar as melhores decisões, a partir das ferramentas conceituais e das estratégias para agir responsavelmente.

Destaca-se assim, que a reflexão sobre a responsabilidade ética do pesquisador e sua consciência profissional ao ser focada no avanço da ciência, deve considerar os possíveis impactos destes avanços sobre a vida social e sobre o ser humano, como também os limites éticos da busca dos objetivos científicos.

Morin (1996) salienta ainda que é imperativo conhecer para conhecer e que esse imperativo de conhecer deve triunfar, para o conhecimento, sobre todos os interditos, e tabus que o limitam. A ética do conhecer tende, no investigador sério, a tomar a prioridade, a opor- se a qualquer outro valor, e este conhecimento "desinteressado" se desinteressa de todos os interesses político-econômicos que utilizam, de fato, estes conhecimentos.

Para Fromm (1986), as fontes das normas para uma conduta ética hão de encontrar-se na própria natureza do homem, pois para o autor as normas morais se baseiam nas qualidades inerentes ao homem e a sua violação origina uma desintegração mental e emocional.

Habermas aborda a ética do discurso, que seria a tentativa de estruturar uma teoria da racionalidade amparada no que o próprio Habermas chama de razão comunicativa, tratando-se

da proposta de uma ética do “viver bem” entre indivíduos capazes de linguagem e ação (PIZZI, 1994). A racionalidade ético-comunicativa admite o nexo entre os avanços da racionalidade técnica e o mundo vital social ou a práxis social.

Knapp (2007) afirma que, Habermas propõe o recurso argumentativo em favor de uma racionalidade comunicativa na perspectiva de seja possível resgatar pretensões de validez, envolvendo não apenas um mundo objetivo, mas também o mundo social e subjetivo presentes no contexto vital. A autora analisa que, o método do discurso, apresentado pelo filósofo em sua ética do discurso, parte de princípios nos quais os participantes têm de sair de sua posição egocêntrica para o entendimento com o outro, assumindo suas responsabilidades.

A ética ao conduzir as ações da pesquisa, deve ser observada de uma forma que haja o entendimento coletivo visando o todo, a partir das responsabilidades assumidas. Para Fourez (1995), é útil adotar um “modelo” da maneira pela qual se processa em geral o desenvolvimento de um debate ético. A reflexão ética se inicia diante do sofrimento (não implicando que este seja valor), mas como uma alteridade que desencadeia a reflexão. Muitas vezes o debate ético tem por trás interesses próprios e não-éticos. Está sempre ligado às lutas ideológicas em que se cruzam interesses diversos.

O debate ético é uma reflexão racional e comunitária que se situa em meio a considerações, relatos e tipos de apelos múltiplos (implícitos ou explícitos). Para que possa ocorrer o debate ético, é necessária uma grade analítica preliminar que envolva: a identificação dos indivíduos e grupos implicados; as causas e fatores que conduziram ao ponto do debate; os interesses econômicos, técnicos, de poder, ideológicos, emocionais, que envolvem os indivíduos e grupos. (FOUREZ, 1995).

Daft (2005) coloca que, uma questão ética está presente em uma situação quando as ações de uma pessoa ou organização podem prejudicar ou beneficiar os outros. A ética pode ser mais claramente entendida quando comparada com os comportamentos governados pelas leis e pela livre escolha. A figura a seguir mostra que o comportamento humano se encaixa em três categorias.

Figura 2 - Os três domínios da

Alta Fonte: Daft (2005, p.101).

A primeira é a lei c de controle explícito. A s padrão social, que se situa categoria é a do domínio da explícito. Assim, como col pessoas, trata-se de uma que

A partir da abordage salientar a questão da int envolvidos na produção do Cortella (2006) afirm ética na pesquisa, é a noção do conhecimento hoje, a g nossa integridade?

A integridade em p manter a confiança do pú quanto para as instituições acima de tudo, compromis pessoal. Para uma instituiç conduta responsável na pes em seguida, avaliar se os p altos níveis de integridade RESEARCH ENVIRONME

a ação humana

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lta controle explícito Baixa

codificada, que engloba o padrão legal, e ond segunda categoria trata do domínio da ética

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gem sobre a conduta e a responsabilidade ética integridade na pesquisa científica, por parte

o conhecimento.

irma que, se há algo que é fundamental quand ão de integridade. E coloca que quando se pens grande questão é: como está a nossa possib

pesquisa é essencial para manter a excelên público, deve ser inerente tanto para os pesq es em que trabalham. Para um cientista, a i isso individual com a honestidade intelectu uição, é um compromisso de criar um amb esquisa, ao adotar padrões de excelência, credi s pesquisadores e administradores percebem q de foi criado (COMMITTEE ON ASSESSI MENTS et al., 2002). Domínio da lei codificada (Padrão legal) Domínio da ética (Padrão social) Domínio da livre escolha (Padrão pessoal)

nde há uma alta quantia ica, relacionado com o e explícito. Já a terceira aixa quantia de controle ossam prejudicar outras

ica do pesquisador, vale rte de todos os atores

ndo se fala em ciência e nsa em ética e produção ibilidade de sustentar a

lência científica e para squisadores individuais a integridade incorpora, tual e responsabilidade biente que promova a dibilidade, legalidade e, que um ambiente com SING INTEGRITY IN

Conforme Cooper e Schindler (2003), a pesquisa ética exige integridade pessoal do pesquisador, do coordenador do projeto e do patrocinador da pesquisa, remetendo a questão ao indivíduo, as pessoas, que são subjetivas. As pessoas que integram uma organização, uma sociedade, ou uma comunidade científica possuem formações culturais e científicas diferentes, experiências sociais diversas e opiniões distintas sobre os fatos da vida.

A expressão “integridade da pesquisa” (research integrity) vem sendo utilizada para demarcar um campo particular no interior da ética profissional do cientista, entendida como a esfera total dos deveres éticos, a que o cientista está submetido ao realizar suas atividades propriamente científicas. (SANTOS, 2011).

O referido autor coloca que, no interior dessa esfera, pode-se distinguir dois conjuntos de deveres do cientista: o conjunto dos deveres derivados de valores éticos mais universais, tais como: o valor (não especificamente científico) relacionado ao respeito à integridade física, psicológica e moral dos seres humanos e, por outro lado, o conjunto de deveres derivados de valores éticos especificamente científicos, ou seja, valores que se impõem ao cientista em virtude de seu compromisso com a própria finalidade de sua profissão: a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo.

Santos (2011) salienta ainda que, o princípio desse campo particular da ética profissional é que ao exercer suas atividades científicas, um pesquisador deve sempre visar a contribuir para a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo, deve abster-se de agir, intencionalmente ou por negligência, de modo a impedir ou prejudicar o trabalho coletivo de construção da ciência e a apropriação coletiva de seus resultados. É a essa parte da ética profissional do cientista que remete a expressão “integridade da pesquisa”.

Na visão de Resnick (2008), existem várias razões que demonstram a importância de se respeitar as normas éticas em pesquisa, e destaca que, as normas promovem os objetivos da pesquisa, tais como, o conhecimento e a verdade, de forma a ser evitado o erro. Como exemplo, o autor cita que as proibições quanto à falsificação ou adulteração de dados da pesquisa promovem a verdade e evitam o erro ou fraude. O autor destaca ainda que, a pesquisa envolve, muitas vezes, grande cooperação e coordenação entre diferentes pessoas, em disciplinas e instituições distintas, e assim os padrões éticos promovem valores que são essenciais ao trabalho em conjunto, tais como confiança, responsabilidade, respeito mútuo e justiça.

Schminke e Ambrose (2011) também reforçam que, a integridade é a base para a maioria dos esforços relacionados à pesquisa e à publicação. Autores, revisores e editores dividem a responsabilidade na criação e na manutenção do sistema no qual são conduzidos e publicados os trabalhos. Porém, a pesquisa e a publicação são processos complicados. Uma única tentativa de pesquisa pode envolver múltiplos autores, centenas de participantes e uma variedade de habilidades e ferramentas que se estendem por meses ou até anos. Os desafios éticos podem surgir a qualquer ponto do caminho, então não é de surpreender que novos pesquisadores e também experientes pesquisadores geralmente se esforcem para compreender e manter os padrões éticos que se esperam deles.

Por outro lado, Kennedy (2006) considera que, a integridade da pesquisa inclui a incorporação de códigos de ética pessoais e profissionais no projeto de pesquisa, e também inclui aderir a estes códigos enquanto o estudo é realizado. A autora coloca que a forma como são interpretadas as questões éticas na pesquisa pode ser intensamente pessoal, ou seja, é uma área complexa e muitas vezes ambígua.

O uso de códigos de ética tem sido aplicado para defender uma postura íntegra em diversos setores das organizações, inclusive nas pesquisas, mas segundo Cooper e Schindler (2003), a prova de que esse esforço tenha melhorado as práticas éticas é questionável. Restringir o comportamento antiético é de ação limitada, porque sugestiona o senso moral de cada pessoa, o que é sugestionável.

Cada indivíduo possui percepções diferentes de uma mesma coisa, o que torna problemática essa questão. Por isso, estes autores defendem que é preciso encontrar um equilíbrio entre ser completamente governado por códigos e relativismo ético, em que o ponto de equilíbrio se encontraria através de um consenso sobre os padrões éticos para os pesquisadores.

A Conferência Mundial da Unesco de 1999, em Budapeste, Hungria, na sua declaração final, recomenda: "Todos os cientistas devem se comprometer a respeitar elevados padrões éticos e um código de ética - baseado em normas relevantes espelhadas em instrumentos internacionais de direitos humanos - estabelecido por profissionais da ciência". (PESQUISA FAPESP, 2000).

Porém, a ética profissional não pode ser reduzida somente aos códigos de ética, que na verdade constituem códigos morais, mas deve ser a busca por uma reflexão crítica sobre a ação do profissional no seu espaço de trabalho, que deve fundamentar seu bem-estar e o dos

outros, uma vez que o trabalho se dá por uma relação. A ética, como reflexão crítica, ajuda a analisar os fundamentos morais que norteiam as ações de cada pesquisador. (POLLI; VARES, 2008).

Schminke e Ambrose (2011) afirmam que, mesmo com fácil acesso à orientação ética de alta qualidade (os autores destacam as orientações éticas disponíveis por academias no exterior), as violações da ética em pesquisa, infelizmente, são bastante comuns. Os autores relatam que fizeram uma pesquisa informal com dezesseis ex-editores de periódicos de gestão importantes e de várias partes do mundo, em que pediram que relatassem uma ou duas ocasiões nas quais foram forçados a confrontar uma possível ou aparente violação ética em seus periódicos. Enquanto metade quase não conseguiu lembrar nem mesmo de um único acontecimento de comportamento ético questionável, alguns outros não tiveram nenhuma dificuldade em identificar uma quebra séria de ética.

Os eventos descritos pelos editores refletiram múltiplos temas. O mais comum envolveu autores que enviaram manuscritos bastante semelhantes para dois periódicos diferentes, ou autores que reenviaram manuscritos rejeitados para o mesmo periódico. Outro aspecto que Schminke e Ambrose (2011) destacam, no levantamento feito, são os comentários dos editores relacionados à regularidade com a qual as violações éticas nas pesquisas são cometidas por pesquisadores experientes. A maioria das violações éticas não aparece no trabalho de pesquisadores principiantes que não sabem ou não compreendem as regras. Nem é resultado de pesquisadores principiantes que avançam ‘o sinal amarelo da ética’ devido às pressões impostas. Talvez até mais preocupante, os autores constataram que em muitos casos os autores mais experientes não assumiram a responsabilidade por seus atos. Ao invés disso, explicaram o problema a partir dos erros por parte dos colegas principiantes.

Observa-se assim, que mesmo com a existência de códigos de ética na pesquisa, em várias instituições internacionais, e com fácil acesso às orientações para uma conduta ética, por parte destas instituições, as violações éticas ainda podem continuar ocorrendo. O que remete à responsabilidade do pesquisador, mas também pode-se questionar caso não existissem nenhuma norma ou diretriz orientadora de boa conduta, se o quadro apresentado pelos autores, anteriormente citados, não seria ainda mais preocupante.

A partir das abordagens sobre a conduta ética, a responsabilidade do pesquisador, e a integridade na pesquisa, enforcar-se-á a má conduta na pesquisa, os dilemas éticos que podem ocorrer na tomada de decisão no processo de pesquisa e a questão do produtivismo científico.

Atores

A má conduta não é fenômeno recente, haja vista os vários exemplos que a história apresenta de fraudes e falsificação de resultados. A autocorreção por parte da comunidade científica não é suficiente para impedir os efeitos danosos advindos da fraude, pois o falso conhecimento atrasa o avanço do conhecimento, além de gerar consequências econômicas e sociais (CNPq, 2011). Essa observação feita por uma comissão do CNPq remete a crescente preocupação com as denúncias de fraude, e com as consequências que a má conduta por parte do pesquisador podem acarretar.

Yokomizo (2008) estudou os desvios de conduta na pesquisa científica, na área da pesquisa social, e diferencia má conduta de fraude, colocando que na má conduta não existe premeditação, mas que na fraude a prática antiética é premeditada. E que é possível derivar que a má conduta e a fraude levam à prática de desvios de conduta por parte de agentes (autores, revisores e editores). O autor ilustra esses conceitos na figura a seguir.

Figura 3 - Desvios de conduta na pesquisa social

Fonte: Yokomizo (2008, p.11).

Já Andrade (2011, p.16) propõe a seguinte definição para má conduta na pesquisa: “É o ato intencional de fabricar, falsificar, plagiar dados e informações, enganar indivíduos e instituições e violar valores intersubjetivos da comunidade científica em qualquer fase do processo de pesquisa, incluindo suas formalidades”.

Steneck (2007), ao apresentar discussões e definições trabalhados pelo Office of Research Integrity (ORI), órgão ligado ao Department of Health and Human Services

O que deve ser preservado?

Pesquisa Social Desvios de conduta Agentes Má conduta ou fraude? (premeditação) Ética

(DHHS) do governo dos Estados Unidos, coloca que para uma conduta ser considerada má conduta, deve representar uma mudança significativa de práticas aceitas, ter sido cometida intencionalmente, conscientemente ou imprudentemente e ser comprovada por uma preponderância de provas.

Steneck (2007), a partir das definições do ORI, apresenta o conceito de má conduta como fabricação, falsificação ou plágio cometidos na proposição, desenvolvimento ou revisão da pesquisa, ou também no relato dos resultados da investigação científica.

E o autor destaca que a fabricação pode ser de dados ou resultados; a falsificação em manipular materiais da pesquisa, equipamentos ou processos, alterando ou omitindo dados ou resultados, de forma que o estudo não é representado com precisão no relatório da pesquisa e por plágio, entende-se a apropriação de ideias de outra pessoa, processos, resultados ou palavras, sem dar o crédito apropriado.

A partir das definições de má conduta propostas por Yokomizo (2008), por Andrade (2011) e por Steneck (2007), verifica-se que Yokomizo (2008) diferencia má conduta de fraude, em que na má conduta não existiria a premeditação, e na fraude a prática antiética seria premeditada, mas que tanto a má conduta quanto a fraude seriam consideradas desvios de conduta. Porém, Andrade (2011) e Steneck (2007) não fazem essa diferenciação e colocam que a má conduta por parte do pesquisador envolve a intencionalidade do ato em fabricar, falsificar, plagiar dados e informações, violando valores éticos da comunidade científica.

Considerando as definições de Andrade (2011) e Steneck (2007), parte-se para a conceituação de algumas práticas e modalidades de má conduta. Em estudo apresentado em 2001, por uma comissão de integridade na pesquisa do CNPq, podem-se identificar as seguintes modalidades de má conduta (CNPq, 2011):

• Fabricação ou invenção de dados - consiste na apresentação de dados ou resultados inverídicos;

• Falsificação: consiste na manipulação fraudulenta de resultados obtidos de forma a alterar-lhes o significado, sua interpretação ou mesmo sua confiabilidade. Cabe também nessa definição a apresentação de resultados reais como se tivessem sido obtidos em condições diversas daquelas efetivamente utilizadas;

• Plágio: consiste na apresentação, como se fosse de sua autoria, de resultados ou conclusões anteriormente obtidos por outro autor, bem como de textos integrais ou de parte substancial de textos alheios sem os cuidados detalhados nas diretrizes. Comete

igualmente plágio quem se utiliza de ideias ou dados obtidos em análises de projetos ou manuscritos não publicados aos quais teve acesso como consultor, revisor, editor, ou assemelhado;

• Autoplágio: consiste na apresentação total ou parcial de textos já publicados.

Santos (2011) apresenta um estudo, desenvolvido por Fanelli (2009 apud SANTOS, 2011), que analisou estatisticamente vários levantamentos realizados entre 1987 e 2005, e concluiu que, dos pesquisadores consultados nesses levantamentos, 2% confessaram já ter praticado má conduta grave e 33% confessaram já ter praticado conduta ao menos eticamente questionável; 14% declararam já ter observado a prática de má conduta grave e 72% declararam já ter observado a prática de conduta eticamente questionável por parte de outros pesquisadores.

Schminke e Ambrose (2011) destacam que, pela pouca atenção dada ao tema da

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