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A conferência local de educação escolar indígena em duas aldeias de Paranhos, MS A fronteira do Brasil com o Paraguai, onde se localiza o atual município de Paranhos, é

4 FAZENDO ACONTECER

4.3 A conferência local de educação escolar indígena em duas aldeias de Paranhos, MS A fronteira do Brasil com o Paraguai, onde se localiza o atual município de Paranhos, é

região de índios Guarani, predominantemente. Ali se encontram cinco aldeias: Pirajuí, reserva fundada na época do SPI, Paraguassu, Potrero Guasu, Arroio Corá e Sete Cerros; além da área denominada Ypo’i, para onde a família Vera retornou em 2010, após os episódios violentos relatados no capítulo 2. Na aldeia Pirajuí vivem 480 famílias, com 2.176 pessoas.

Os dados referentes à conferência de educação escolar indígena na aldeia Pirajuí estão presentes no relatório produzido na ocasião e foram apresentados na Conferência Regional, ocorrida em Dourados, MS, no período de 30 de março a 03 de abril de 2009. Segundo esse relatório, os mais velhos não foram alfabetizados ou o foram de forma rudimentar. Na sua maioria possuem o Ensino Fundamental, séries iniciais e finais. Poucos terminam o Ensino Médio, principalmente as mulheres que se casam cedo demais e abandonam os estudos para cuidarem dos filhos.

À pergunta “por que queremos a escola?”, aqueles que participaram da conferência local responderam:

Para uma boa educação com visão no futuro que envolva curto, médio e longo prazo; e que esta formação seja diversificada em diversas áreas, formando psicólogo, médico, enfermeiro, professores, dentistas, entre outros; que a escola ensine a respeitar os mais velhos, bem como seus ensinamentos e ajude a promover a união; saber os direitos e deveres dos indígenas; capacitar os filhos para o trabalho de acordo com o modo indígena de produzir; ajudar a adquirir mais sabedoria e repassar para a comunidade de como viver no agora e no futuro. (FICHA..., 2009, fl. 1). Às perguntas “o que já conquistamos? O que temos hoje?” os dados empíricos apresentados foram:

Transporte escolar; Bolsa família; Salas de aulas; Material escolar; Encanamento de água; Energia Elétrica; Computadores, ( não estão funcionando ); Ára-Verá; Teko Arandu; trator com grade; niveladora , trilhadeira; um automóvel; quadra esportiva na escola; aparelhos de TV, DVD e Vídeos; quinze cabeças de gado; ponte; estradas. (IDEM, fl. 2).

Quanto à pergunta: “o que fazer para avançar na educação escolar que queremos?”, o relatório aponta as seguintes perspectivas:

Senso de justiça dentro da própria família, apoiado e fortalecido pelos professores; comunidade indígena cobrar mais dos professores e vice-versa; pais conscientizarem seus filhos a valorizarem os estudos e não deixarem faltarem; pais e comunidade indígena participarem mais de reuniões escolares, debates, palestras, e outros...; escritório da FUNASA e FUNAI na própria aldeia e com funcionários indígenas; transporte escolar circulando dentro da aldeia; gestão escolar indígena com produtividade e efetividade; fortalecimento da língua materna e também a língua portuguesa para comunicarem com os “brancos”; museu indígena dentro da aldeia; oferecimento do pré-escolar até o Ensino Médio dentro da aldeia; interculturalidade dentro da aldeia; lançar vereadores [de] dentro da aldeia para elaborar projetos que tragam benefícios para a própria aldeia; em épocas de eleições deverá ter uma urna dentro da aldeia; criação de piscicultura, organização indígena; fortalecer nossa cultura e nosso “guaraniete” [modo de vida guarani]; viveiro de plantas medicinais para que os alunos pesquisassem e aprendessem a técnica e o cultivo e preparo das mesmas; curso diferenciado para a comunidade em diferentes áreas; casa do idoso para tratamento diferenciado; casa de artesanato dentro da aldeia, casa de rezas dentro da aldeia; sala de laboratório científico e de informática; construção de “oga pysy” e roças em tempo certo, e a escola onde será retirado os recursos; ampliação de estradas; motorista escolar cumprir os seus deveres, completando as linhas,trabalhando com vontade, pois muitos alunos perdem aulas na cidade e muitos professores não passam os

conteúdos perdidos e muitas avaliações são deixadas para trás, ficando o aluno indígena prejudicado no aprendizado. (FICHA..., 2009, fl. 3).

As respostas à pergunta: “quais os problemas e as necessidades da comunidade?”, os Guarani da aldeia Pirajuí chegaram à seguinte compreensão, incluídas nas categorias ‘problemas’ e ‘necessidades’:

PROBLEMAS: indisciplinas; falta de respeito para com os mesmos e para com os mais velhos; ampliar a escola, espaço físico insuficiente para a demanda; pouca terra indígena, (gerando desunião); falta de organização indígena; politicagem de fora da aldeia feita pelos “brancos”.

NECESSIDADES: Recolhimento do lixo da aldeia para reciclagem: imposto de energia deveria ser aplicado dentro da aldeia; mini-hospital dentro da aldeia; organização na alimentação, território e outros; os alunos que terminam de estudar devem voltar a cuidar de seus pais; saber como viver com os “brancos” e com os próprios patrícios. (FICHA..., 2009, fl.2/3) Incluem, ainda, a observação: “Nossas necessidades deverão ser relatadas para que alguém se comprometa a nos ajudar na realização [delas]”.

Na aldeia Sete Cerros, que está localizada a 70 quilômetros da cidade, habitada por 75 famílias, com 375 integrantes, da parcialidade Kaiowá, existe uma sala de extensão da Escola Pancho Romero, cuja oferta de educação escolar indígena é bastante precária, dada à distância da cidade e a ausência de professor provindo da própria comunidade.

À pergunta “porque queremos a escola?”, os Kaiowá da aldeia Sete Cerros foram elucidativos:

Através da educação de nossos filhos, saberemos enfrentar os problemas que afetam nossa comunidade nos dias de hoje. Cada professor e professora possui um importante papel a desenvolverem nas escolas das aldeias, orientando nossas crianças na questão da busca de seus valores étnicos e culturais, em que os mesmos não sintam envergonhados de serem índios, e sim, que se orgulhem de sua raça. E que cada conteúdo estudado seja incluso os valores indígenas.

E a educação trará harmonia para viverem uns com os outros (alegres, contentes). Que a escola venha nos fortalecer o nosso jeito de ser, que ensine a história de luta de seu povo, como eles recuperaram essas terras. E que sempre valorizem nossa língua, que ela não venha ser esquecida. O mais importante, que a escola venha formar novos líderes em diversas áreas, (saúde, educação,e outros..). (FICHA..., 2009, fl.3).