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Conhecimento local e uso de espécies arbóreas em comunidades do Baixo São

Francisco

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Bruno Antonio Lemos de Freitas, Allívia Rouse Carregosa Rabbani, Laura Jane Gomes, Suzana Russo Leitão, Adonis Reis de

Medeiros Filho e Renata Silva-Mann

A degradação do meio ambiente proporciona problemas econômicos, sociais e políticos. A utilização irracional e des- mesurada do ambiente acarreta graves danos de ordem mate- rial, ocasionando prejuízos irrecuperáveis (RABBANI, 2013), e tem levado ao esgotamento dos recursos naturais existentes e ao aumento na destruição dos ecossistemas. Visando reverter essa situação, estudos são realizados com o intuito de preser- var e conservar os recursos vegetais e a vida silvestre.

As pesquisas dessa grandeza apontam para aspectos posi- tivos e negativos da intervenção humana nas comunidades vegetais, tanto em relação à estrutura, evolução e biologia de determinadas populações de plantas, como também, promo- vendo e beneficiando o manejo adequado desses recursos (AL- BUQUERQUE & ANDRADE, 2002).

1 Parte dos resultados do projeto de Desenvolvimento Científico Regional intitulado “Caracterização de genótipos de canafístula (Cassia grandis L.f.) e juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.): espécies de potencial econômico localizadas no Estado de Sergipe” financiado pela Fapitec/CNPq.

Os conhecimentos desse segmento têm sido preserva- dos pela transmissão verbalizada, sendo facilmente perdidos no decorrer do tempo. Para Guarim-Neto, Santana e Silva (2000), a transmissão da cultura popular entre as gerações tende à diminuição ou ao desaparecimento com o avanço da modernidade, reforçando assim a necessidade do registro do saber popular de comunidades locais.

O estudo das interações de populações tradicionais com as plantas e o modo como elas utilizam esses recursos, tem ajudado na conservação de muitos recursos naturais. Assim, de forma abrangente, esta interação compreende o estudo de comunidades humanas e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas (FONSECA -KRUEL & PEIXOTO, 2004).

Portanto, o conhecimento local pode servir como subsídio às pesquisas que visam à proteção das espécies e uso sustentável dos recursos, contribuindo com o resgate e valorização de conheci- mentos e hábitos perdidos com o passar do tempo, já que o ter- ritório brasileiro abriga uma das floras mais ricas do mundo, da qual 99% são desconhecidas (GOTTLIEB et al.,1998).

Conhecimento local no Estado de Sergipe

Em Sergipe, há uma década se iniciaram pesquisas relaciona- das ao conhecimento tradicional, o que resultou, até o momento, em poucos registros dos conhecimentos locais ou tradicionais das comunidades do Estado. Uma forma de abordagem nas comu- nidades é por meio de questionários semi-estruturados (SILVA, 2003; OMENA, 2003; BOTELLI, 2010; LIMA, 2010; OLI- VEIRA, 2012; FREITAS, 2013). Nesse método perguntas são

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previamente estabelecidas pelos pesquisadores, porém apresen- tam flexibilidade que permitem aprofundamentos nos elemen- tos que surgem durante a entrevista (ALBUQUERQUE et al., 2010).

Um dos primeiros trabalhos foi realizado por Silva (2003) e tratou do uso popular de plantas medicinais com fins farmaco- lógicos contra distúrbios do trato gastrintestinal no Povoado Colônia Treze, município de Lagarto. Paralelamente, foram realizados estudos na mesma linha de investigação, contudo para espécies da Caatinga do município de Porto da Folha, que agissem no sistema nervoso central (OMENA, 2003).

Mais recentemente, foi apresentado o primeiro trabalho deste gênero no entorno do Parque Nacional Serra de Itabaia- na, registrando o uso popular de comunidades daquela região (BOTELLI, 2010). Nesta pesquisa constatou-se o desinteresse dos jovens da região em relação aos conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais, o que contribui para uma perda significativa de tais saberes tradicionais ao longo das gerações.

No mesmo sentido, Lima et al. (2010) realizou um levanta- mento do conhecimento tradicional com 180 espécies e o uso destas por especialistas locais por meio de questionários semi -estruturados e turnês guiadas, em quatro comunidades rurais do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana, margea- das pelo rio Poxim-Açu, são elas: Pedrinhas e Caroba no mu- nicípio de Areia Branca, e Cajueiro e Ladeira localizadas em Itaporanga d’Ajuda. Estas áreas caracterizam-se por estarem situadas em uma transição entre os Biomas Mata Atlântica e Caatinga, ocorrendo exemplares de fauna e flora de ambas as localidades. As espécies foram agrupadas em cinco categorias quanto ao uso: combustível, místico-farmacológico, alimen-

tar, madereiro, outros usos, sendo o primeiro predominante na pesquisa. O autor constatou ainda a similaridade de conhe- cimento entre os especialistas das comunidades.

No município de Pirambu, no assentamento agroextrativis- ta São Sebastião, inserido no Bioma Mata Atlântica, Oliveira (2012) estudou a relação dos moradores com o ambiente natural que os rodeia e o uso botânico que fazem dele, juntamente com o uso dos quintais. Foram identificadas 106 espécies e agrupadas em sete categorias de uso: alimentícia, medicinal, combustível, artesanal, místico-religiosa, ornamental e outros. A autora cons- tatou ainda a importância do quintal para o sustento familiar e observou a pressão de uso sofrida por algumas espécies da região, apontando assim a necessidade de novos estudos e a elaboração de estratégias sustentáveis no assentamento.

No Bioma Caatinga, Freitas (2013) realizou levantamento etnobotânico no Assentamento São Judas Tadeu, em Porto da Folha, onde o autor trabalhou de forma participativa, aplican- do métodos como a lista livre e o exercício de pontuação adap- tados para aquela realidade. Nesta pesquisa foram citadas 44 espécies, classificadas em seis categorias de uso: medicinal hu- mano, medicinal animal, alimento humano, alimento animal, lenha, e outros, sendo a primeira predominante. Com isso, o autor constatou a importância de espécies como o matruz, catingueira, umbú, umbu-cajá, mandacaru e macambira, para os moradores, além da riqueza do saber popular.

Diante da riqueza existente sobre o conhecimento e uso das plantas, este trabalho propôs registrar o conhecimento local e identificar os usos para as espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa ame-

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foram escolhidas devido à sua importância econômica e de con- servação para o estado e por já serem alvo de diversas pesquisas realizadas (SILVA-MANN et al., 2013; RABBANI et al., 2012; GOIS, 2010; SANTANA et al., 2008) pelo grupo idealizador do projeto, o Grupo de Pesquisa em Conservação, Melhora- mento e Gestão de Recursos Genéticos (GENAPLANT).

Área de trabalho

Os povoados de atuação foram o Alto Verde e o Assen- tamento Modelo localizados em Canindé do São Francisco, além do Assentamento Borda-da-Mata no município de Ca- nhoba, localizados em cidades do Baixo São Francisco.

A primeira comunidade visitada foi a de Borda-da-Mata (10º5’8” S, 36º56’53” O), localizada no município de Ca- nhoba (Sergipe). Segundo relatos dos moradores, o povoado foi estabelecido como assentamento de reforma agrária em 1982 decorrente da demanda de antigos trabalhadores rurais.

Esta região tem apresentado ocupação e mudança do uso do solo muito rápida, comprometendo a área de ocorrência natural de espécies florestais (GARRASTAZU & MATTOS, 2013).

O segundo povoado o Alto Verde (9°36’21.1” S, 37°50’44.5” O) está localizado às margens do Rio São Francisco. Segundo relato dos habitantes, este foi estabelecido após a realocação dos moradores do antigo povoado Cabeça-de-Negro devido à inundação da região pela construção dos diques da Usina Hidrelétrica de Xingó. A comunida- de encontra-se às margens do Rio São Francisco, possui dez mora- dias, e a principal fonte de renda dos habitantes é a pesca.

Por último, foi visitado o Projeto Assentamento Modelo (9º43’5” S, 37º50’41” O), localizado às margens da Rodovia SE-206,

município de Canindé do São Francisco, Alto Sertão Sergipano. Criado em fevereiro de 1998 e financiado pelo Instituto Nacional de Crédito Rural (INCRA), segundo dados oficiais contidos no Plano Preliminar do Projeto de Assentamento Modelo datado de 1998, este conta com 30 famílias residentes e a principal fonte de renda dos habitantes é a agricultura.

Coleta e análise dos dados

O trabalho consistiu de uma pesquisa qualitativa, onde foram aplicados nas localidades selecionadas formulários se- miestruturados (ALBUQUERQUE et al., 2010). As comuni- dades foram questionadas sobre as espécies juazeiro, canafís- tula, jenipapo e mulugu; salvo a localidade de Borda-da-Mata, onde a espécie mulungu não foi inserida no questionário.

Foram aplicados 49 formulários na região de Borda-da-Ma- ta, o que correspondeu a 78% das residências, oito formulá- rios no povoado Alto Verde, correnpondeu a 80%; e 17 no Projeto Assentamento Modelo, com 57%. Os dados obtidos nesta pesquisa foram agrupados em planilhas, e apresentados em forma de gráficos e tabelas.

Os formulários continham perguntas, a priori, sobre o perfil sócioeconômico dos moradores, e questões relacionadas aos prin- cipais usos dessas espécies, as partes utilizadas e suas respectivas finalidades, além da percepção da comunidade quanto às altera- ções dos ambientes nos quais estas espécies estão inseridas.

Por fim, foram realizadas pesquisas nos principais sites de registro de patentes: European Patent Office (EPO), World In-

tellectual Property Organization (WIPO), United States Patent and Trademark Office (USPTO) e Instituto Nacional de Pro-

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priedade Industrial (INPI) a fim de confirmar se os usos das espécies encontrados nos povoados são conhecidos pela co- munidade científica e estão descritos em patentes.

Perfil dos entrevistados

Quanto ao gênero os participantes das entrevistas 24% eram homens e 76% mulheres, no Projeto Assentamento Mo- delo; 35% de homens e 65% de mulheres no Povoado Borda da Mata; e 50% para os dois gêneros no Povoado Alto Verde (Figura 4). Observou-se uma predominância da participação das mulheres em relação aos homens no Assentamento Mode- lo e no Assentamento Borda da Mata, este fato se deu, pois a pesquisa foi realizada durante a semana, em horário que os homens dedicam tempo para agricultura ou a pesca.

Figura 4. Sexo dos participantes em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

A faixa etária dos participantes variou para as localidades trabalhadas (Figura 5). No Assentamento Modelo, a maioria dos entrevistados apresentou-se na faixa entre 30 e 39 anos (35%), assim como ocorrido em Borda da Mata (24%); no entanto, a maioria dos entrevistados do Povoado Alto Verde apresentou idade mais avançada, entre 50 e 70 anos, corre- spondendo a 50%.

Figura 5. Faixa etária dos participantes em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Em relação à escolaridade, em todas as regiões trabalhadas, a maioria dos entrevistados afirmou não ter concluído os estudos, sendo que somente em Borda da Mata 14% haviam concluído o ensino médio. Nas três regiões, a maioria afirmou ter parado no ensino fundamental (53% no Assentamento Modelo, 55% em Borda da Mata e 50% no Alto Verde). No Assentamento Modelo, 24% dos entrevistados disseram ser analfabetos, assim como 18% em Borda da Mata e 38% no Alto Verde (Figura 6).

USOS 0 10 20 30 40 50 60

Analfabeto Ens. Fund. Ens. Fund.

Incomp. Ens. Médio Ens. MédioIncomp. respondeuNão

Fr eq uên cia ( % ) Escolaridade

Assentamento Modelo Povoado Borda-da-Mata Povoado Alto Verde

Figura 6. Escolaridade dos participantes da pesquisa em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Os entrevistados afirmaram ainda retirar o sustento de suas famílias da agricultura (71% no Assentamento Modelo e 55% em Borda da Mata; Figura 5), com exceção dos entrevistados do Povoado Alto Verde, onde 50% afirmaram ter a pesca como principal meio de subsistência, devido à localização deste estar às margens do rio São Francisco. Embora o Povoado Borda da Mata também esteja localizado às margens deste mesmo rio, so- mente 4% dos entrevistados responderam possuir a pesca como fonte de sustento. Para a maioria, provavelmente, isto se deva por esta região estar em pleno crescimento econômico o que pode levar a formação de outras oportunidades de trabalho.

Figura 7. Fonte de renda de entrevistados em comunidades de três localidades no Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

A maioria dos entrevistado não soube informar a renda mensal. Entre os que souberam informar, a maioria afirmou receber menos de R$ 300,00 por mês, no Assentamento Mo- delo (29%) e no Povoado Alto Verde (13%). Em Borda da Mata, maioria afirmou possuir renda mensal entre R$ 679,00 e R$1.356,00, correspondente a dois salários mínimos, para 18% dos entrevistados (Figura 8).

USOS Figura 8. Renda mensal de entrevistados em três localidades do Baixo São

Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco ).

Conhecimento sobre as espécies pesquisadas

Para canafístula, a maioria dos entrevistados em Borda da Mata afirmou conhecer essa planta (96%), ao contrário do As- sentamento Modelo, onde a maioria afirmou não conhecê-la (76%), e 88% dos entrevistados em Alto Verde não souberam afirmar. A maioria dos entrevistados nas três localidades afir- mou conhecer o juazeiro (82% no Assentamento Modelo, 98% no Povoado Borda da Mata e 88% no Assentamento Alto Ver- de). Assim como a maioria do Assentamento Modelo e do Alto Verde afirmou conhecer o mulungu (41% e 50%) (Figura 9).

Figura 9. Conhecimento sobre as espécies: juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) para os moradores de três localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

A maioria dos entrevistados afirmou não comercializar ou ver comercialização das espécies em questão. Em Borda da Mata foram 70% para a canafístula, 78% para o juazeiro. No Assentamento Modelo o porcentual correspondeu à 70% para juazeiro e não souberam informar a respeito de canafístula (94%). No Alto Verde os moradores não souberam responder (74% -canafístula, 50% - juazeiro).

USOS Figura 10. Conhecimento tradicional para as espécies: juazeiro (Ziziphus

joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) informada pelos

moradores de três localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Os moradores dos três povoados usam as espécies estudadas (Figura 11). Os moradores de Borda-da-Mata afirmaram utili- zar canafístula (84%) e juazeiro (96%), no entanto, a maioria informou não usar jenipapo (61%), para mulungu não houve resposta. No Assentameto Modelo, os moradores informaram utilizar o jenipapo (76%), porém poucos afirmaram usar cana- fístula (6%) e juazeiro (35%). Ninguém afirmou utilizar mu- lungu nesta localidade. No Assentamento Alto Verde os mora- dores afirmaram utilizar pouco as espécies pesquisas.

Figura 11. Usa a espécie de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina

velutina Willd.) pelos moradores de três localidades do Estado de Sergipe:

Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda- da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

No Assentamento Borda da Mata, foram citados 16 usos di- ferentes para juazeiro e quatro para canafístula. No Povoado Alto Verde, ocorreram três usos diferentes para o juazeiro e um para canafístula. No Assentamento Modelo foram citados 10 usos para juazeiro e um para canafístula. Estas citações foram classifi- cadas em cinco categorias de usos principais, são elas: medicinal, veterinário, alimento para humano, alimento para animal, e ou- tros, para usos que não se enquadravam nas categorias anteriores.

Assentamento Borda-da-Mata

A categoria medicinal foi predominante em relação às ou- tras, para todas as espécies pesquisadas, esta categoria corres- pondeu a 28% para juazeiro, 63% para canafístula e 60% para o jenipapo. A segunda categoria de uso foi Alimentação

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humana, onde o jenipapo e a canafístula se destacaram. Para juazeiro, a categoria Veterinário e Alimentação animal apre- sentaram a mesma porcentagem de citações, 3%; e esta foi a única espécie que os moradores reconheceram outros usos (26%), alguns destes foram: sombreamento (5%), lenha (2%) e sabão (7%). Foram registrados participantes que afirmaram não conhecer usos para as espécies pesquisadas, e correspon- deu a 38% para juazeiro; 18% canafístula (Figura 12).

Figura 12. Citações de comunidades para o conhecimento associado ao uso para as espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).

Entre as utilidades do juazeiro citadas pelos moradores, destaca-se: o uso para escovar dentes (15%), para lavar feri- mentos (10%), no combate à caspa (7%) e no tratamento da gripe (4%), entre outros. Esta foi à espécie mais citada, para diversos usos e a única entre as três onde os moradores ci-

taram usos que foram agrupados na categoria Outras, como sombreamento (5%), lenha (2%) e outros. O uso na forma de lambedor (xarope) para combate à gripe (47%) e anemia (15%) foram citados para canafístula.

Em Borda da Mata, os moradores demonstraram conhe- cer mais usos relacionados ao fruto para canafístula (75%). Em relação ao juazeiro, a maioria dos moradores não soube responder qual parte era utilizada para as finalidades citadas durante entrevista (27%) (Figura 13).

Figura 13. Partes das plantas das espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) utilizados no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).

Projeto de Assentamento Modelo

Nesta localidade, houve predominância da categoria Medici- nal referente ao juazeiro (67%) e Alimento para humanos para

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jenipapo (65%) (Figura 14). Grande parte dos moradores não soube citar usos para a canafístula (94%) e mulungu (88%).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Medicinal Alimento

humano Alimentoanimal Outras Não soubedizer

Ci taçõ es (% ) Usos

Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu

Figura 14. Principais categorias de usos relatadas por comunidadesdo Projeto Assentamento Modelo em Canindé do São Francisco (Sergipe), para as espécies juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.).

Para o juazeiro os moradores destacaram o uso contra cas- pa (17%), como dentifrício (27%) e no tratamento da gripe (7%). Somente o uso como alimento para o gado (6%) foi citado para canafístula.

As partes das plantas usadas pelas comunidades reflete um potencial risco que esta pode ter quanto à sua sobrevivência na natureza. Os moradores informaram usar mais a casca do juazeiro (37%) e o fruto do jenipapo (75%). Estes ainda, não souberam informar partes que podem ser utilizadas da cana- fístula (94%) e mulungu (94%) (Figura 15).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Toda

árvore Fruto Folhas Polpa Casca Semente soubeNão informar Cita çõe s ( % ) Parte utilizada

Juazeiro Canafístula Jenipapo Mulungu

Figura 15. Partes das plantas de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) indicadas para uso pelos moradores do Projeto Assentamento Modelo em Canindé do São Francisco (Sergipe).

Povoado Alto Verde

No povoado Alto Verde, para o juazeiro, houve predomi- nância da categoria de uso Medicinal (89%). Para o jenipapo, a predominância se deu na categoria Alimento para humanos (75%). Assim como ocorrido no Assentamento Modelo, a maioria dos entrevistados não soube citar usos para a canafís- tula (88%) e mulungu (75%) (Figura 16).

USOS 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Medicinal Alimento humano Não soube dizer

Ci taçõ es (% ) Tipos de uso

Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu

Figura 16. Citações para as principais categorias de usos para as espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) feitas por moradores no Povoado Alto Verde em Canindé do São Francisco (Sergipe).

Nesta localidade, o juazeiro foi citado para tratamento da gripe (11%), no controle de caspa (44%) e para lavar ferimen- tos (33%). Para canafístula citou-se o uso no preparo de xarope (lambedor) para combate dos sintomas da gripe (12,5%). Os moradores destacaram o uso do suco do jenipapo na alimen- tação humana (75%) e como remédio para gastrite (12%). O mulungu foi citado somente como remédio para dormir (25%).

Os moradores afirmaram utilizar o fruto do juazeiro (50%) e jenipapo (50%), predominantemente. Novamente, estes não souberam citar partes que podem ser utilizadas da cana- fístula (94%) e mulungu (100%) (Figura 17).

Figura 17. Uso de partes das plantas relatados pelos moradores no Povoado Alto Verde em Canindé do São Francisco (Sergipe) para juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulungu (Erythrina velutina Willd.).

Nota-se que ocorrem citações de usos similares entre as lo- calidades, como por exemplo, para o juazeiro os moradores das três localidades citaram usos para combate dos sintomas da gripe, caspa e lavar ferimentos o que demonstra um conhe- cimento generalizado acerca das espécies.

Para duas comunidades situadas no município de Canindé foram citadas usos semelhantes para as espécies, mesmo sendo uma localizada em beira de rio e a outra próxima a rodovia, o que demonstra a difusão da importância das espécies na região.

Os usos das espécies alvos desta pesquisa foram reconhecidos pelos moradores, confirmando assim a importância cultural des- tas para o Estado. Este estudo destaca a importância do registro dos saberes locais relatados na pesquisa, pois a falta de interesse das novas gerações contribui para a perda de significado.

USOS

Percepção dos moradores sobre as mudanças no meio

Aos moradores foi questionado sobre a quantidade de indi- vídos existentes na região, e se eles observam um acréscimo ou descrecimo nas redondezas (Figura 18).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Aum ent ou Di m in ui u Ig ua l Nã o s oube re spo nde r Aum ent ou Di m in ui u Ig ua l Nã o s oube re spo nde r Aum ent ou Di m in ui u Ig ua l Nã o s oube re spo nde r Aum ent ou Di m in ui u Ig ua l Nã o s oube re spo nde r

Juazeiro Canafistula Jenipapo Mulungu

C ita çõ es (% )

Percepção dos moradores

Povoado Borda-da-Mata Assentamento Modelo Povoado Alto Verde

Figura 18. Pecepção dos moradores quanto à quantidade de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa

americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) no Assentamento

Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Segundo os moradores, em Borda-da-Mata a quantidade de pés de jenipapo aumentou, pois os indivíduos plantados na beira do rio, em uma ação de recuperação florestal no as- sentamento, iniciada em 2003, cresceram e dão uma maior quantidade de frutos disponíveis para os moradores.

Os moradores do Assentamento Modelo afirmaram que a quantidade de jenipapo nesta região sempre foi pequena, com

raros indivíduos distribuídos, segundo eles, esta quantidade per- manece a mesma.

Para o juazeiro, os entrevistados das três comunidades afirma- ram que a quantidade de indivíduos na região diminuiu. Os mo- radores do Assentamento Modelo informaram o mesmo sobre o mulungu, afirmando que a quantidade de indivíduos na área teve

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