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Como visto, os diversos programas de compra e venda de terra no Ceará aconteceram legalmente a partir de 1997, com o mercado de terras, o qual teve como concepção fundante a “reforma agrária assistida pelo mercado”, desenhada pelo Banco Mundial e desenvolvida na América Latina (México, Guatemala, Colômbia e Brasil), no continente africano (Zimbábue e África do Sul) e no continente asiático (Tailândia e Índia). A execução da experiência piloto no Ceará antecedeu a implementação da política no Brasil.

Conforme Alencar (2000), a articulação da política de compra e venda de terra no Ceará começou com a Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-Áridas (ICID), ocorrida em Fortaleza, em

1992, resultando na elaboração do documento intitulado Projeto Áridas: uma estratégia de desenvolvimento sustentável.

Através do Projeto Áridas estava proposto no seu plano de metas que viabilizariam o desenvolvimento sustentável no Nordeste. Para este projeto, a reforma agrária seria importante (BRASIL, 1995, p.133), desde que,

os esforços do governo e da sociedade sejam orientados para resultados objetivos, procurando conciliar os diversos interesses e baseando-se, na medida do possível, em sistemas de incentivos e desincentivos que motivem e orientem a iniciativa descentralizada dos diversos agentes sociais envolvidos, particularmente os candidatos a beneficiários. Instrumentos como crédito fundiário e o fundo de terras são importantes para uma reforma agrária efetiva, capaz de conciliar o papel da promoção do governo com a capacidade realizadora dos mecanismos de mercado.

Desse modo, foram lançadas, no Ceará, as bases do que veio a ser no Nordeste brasileiro o projeto piloto por iniciativa do governador Tasso Jereissati em cujo período (1995 -1998) aconteceram várias reuniões entre representantes do governo do Estado do Ceará e um grupo de técnicos do Banco Mundial. Ocorreram várias reuniões com o objetivo de discutir o planejamento e a implementação de um programa de reforma agrária semelhante aos desenvolvidos em outros países.

Como resultado das reuniões ficou combinado que o governo de Estado, através do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (IDACE), deveria incorporar um componente de ação fundiária ao Projeto São José. Criou-se então o Fundo Rotativo de Terras, instituído pela Lei Estadual n.24.239, de 4 de outubro de 1996, e em fevereiro de 1997 foram concedidos os primeiros financiamentos para aquisição de terra via experiência piloto, denominada Reforma Agrária Solidaria - Projeto São José (ALENCAR, 2005).

Consoante exposto na seção 2.1 sobre os diversos programas de compra e venda de terras no Estado do Ceará, e como se constata, sua política do Banco Mundial para o setor agrário brasileiro, o projeto piloto, desde sua implementação em 1997, não tem funcionado como complementar para o governo do Estado, pois somente os programas para aquisição de terras são usados, logo, não existe complementação. Pelo contrário, os programas de Crédito Fundiário vêm competindo com a desapropriação por interesse social.

De modo geral, a redução da pobreza rural, a inclusão social, a obtenção da casa própria, o acesso ao crédito rural se contrapõem à divida que os mutuários contraíram no banco e à preocupação com a produção e a produtividade agropecuária, as quais não viabilizaram o sustento econômico da família.

Vale frisar, no entanto: um programa de reforma agrária é um processo político, e um programa de compra e venda de terra jamais poderá ser complementar a uma reforma

agrária. É apenas mais uma anomalia da política pública de intervenção no espaço rural cearense e até mesmo no espaço brasileiro, privilegiando os donos de terra e o capital.

A forma como o capital vem se estruturando tem apresentado condicionantes históricos e culturais diversos, determinantes do modo de produção e reprodução das estruturas de poder do sistema dominante.

Motivado pela globalização, o sistema determina uma padronização de modelos cujo objetivo maior é a afirmação do capital e obtenção de lucros, gerando a competição, concorrência e adequação aos mercados.

Atualmente, a grande novidade é a mundialização do capital e a tentativa de tornar também mundial a mercadoria terra e seu potencial de gerar renda capitalizada para diferentes grupos de proprietários de terras e capitalistas rentistas, em vários países do mundo (MICHALET, 2002).

No Brasil, após o período de implantação das políticas de ajuste neoliberal dos governos Collor e FHC, as quais deixaram suas consequências para o Estado brasileiro, os “indivíduos marginalizados pelo sistema capitalista” passaram a serem os beneficiários das políticas públicas. Essas políticas se subordinaram ao modelo de “mundialização do capital”, buscando sua adequação e elegibilidade e passaram a funcionar como resposta às pressões dos movimentos sociais, desde que não alterassem as estruturas do modelo em evidência.

O que se percebe é que as políticas públicas direcionadas ao meio rural cearense são apenas compensatórias. Assim, em nada alteram as estruturas econômica, fundiária e nem provocam as mudanças culturais, sociais e políticas aptas a orientar novas formas de organização, solidariedade e transformação social.

Permanece ainda no Ceará o grande desequilíbrio na estrutura fundiária, caracterizado pela alta concentração de terras, constituída por latifúndios e pela pulverização dos minifúndios através do Programa Nacional de Crédito Fundiário.

Conforme Ramos Filho (2008, p.317), o PNCF é o novo nome atribuído à RAM, durante o governo do presidente Lula.

Desta maneira, “reforma agrária de mercado” no Ceará foi uma negociação do governo com os políticos locais e proprietários rentistas. Uma negociação que fortaleceu a aliança entre proprietários de terra e capitalistas comerciantes com o claro objetivo de desmobilizar os movimentos sociais e viabilizar a apropriação da renda capitalizada da terra.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Neste estudo, adotou-se uma combinação de ferramentas das abordagens qualitativa e quantitativa, e a estratégia utilizada ofereceu condições para que os atores envolvidos na implementação do PNCF pudessem avaliá-lo. Buscou-se incorporar as opiniões desses sujeitos, em face do programa em análise, de modo a responder à pergunta norteadora desta pesquisa, dando preferência ao método qualitativo em virtude do caráter subjetivo das informações a serem colhidas e avaliadas conforme Holanda (2006).

Como complemento da análise e avaliação qualitativa do problema investigado, procurou-se o aporte de alguns recursos baseados no método quantitativo através dos indicadores segurança alimentar, saúde, educação, moradia/habitação, renda, acesso a bens duráveis e organização social. Portanto, explicitar e formular a necessidade de avaliação de um programa remete diretamente à definição do foco principal da avaliação. Isto implicou a formulação precisa de questões a serem respondidas pela avaliação, relativas aos efeitos decorrentes do PNCF na melhoria das condições de vida das famílias de agricultores

mutuários, ou explicações plausíveis que se esperava encontrar para as questões formuladas nas entrevistas.

Weiss (1998, p. 4) relembra: “Avaliação de um programa é a produção de um conhecimento sistemático sobre a sua operacionalização, comparada a padrões implícitos ou explícitos como meio de contribuir para a melhoria de seu desempenho”. Assim, a avaliação de programas se faz necessária à medida que as políticas sociais proporcionam o combate das desigualdades sociais presentes no país. Tal assertiva é confirmada por Paula (2002, p. 7), para quem “o objetivo maior das avaliações das políticas públicas é contribuir para as melhorias sociais”.

Neste estudo, chamou-se de métodos a pesquisa bibliográfica, a documental e a de campo. Enquanto as duas primeiras se valem das chamadas fontes de papel, a última utiliza os dados fornecidos pelas pessoas.

As técnicas utilizadas foram a entrevista do tipo semiestruturada, o formulário e o diário de campo.

Observou-se, no momento da aplicação das entrevistas, certa euforia por parte de alguns entrevistados, quando eram valorizadas suas opiniões ou quando se sentiam ouvidos em suas reclamações e reivindicações. Percebeu-se a mesma euforia quando ficaram sabendo estarem contribuindo para a publicação de um trabalho escrito.