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O sociólogo equatoriano Franklin Ramírez Gallegos também classifica tentativa de numeração de tipos de esquerda no continente como um equívoco. Segundo ele, em cada contexto nacional a definição do que é esquerda precisa levar em conta três aspectos.

Primeiramente, é preciso averiguar quais as heranças institucionais deixadas pelo período neoliberal, o que influenciará na capacidade de atuação da esquerda. Em países como o Brasil, o capital especulativo exerce ainda muito poder de pressão. Empresas estratégicas tornam-se sociedade de economia mista ou quando não, encontram-se totalmente privatizadas diminuindo o poder de intervenção governamental. A autonomia, quando não de direito, mas de fato, do Banco Central, pode produzir ou gerar crises econômicas que podem acuar os governos na correlação de forças interna.

Depois, a trajetória dos partidos políticos de esquerda ou progressistas, que será fator importante na compreensão das experiências de esquerda. Experiências como a do Brasil e do Uruguai são fortemente marcadas por luta armada contra regimes militares, o que pode influenciar, passadas as ditaduras, na valorização e conversão de importantes quadros políticos ao regime democrático liberal. Há ainda partidos políticos com estreita ligação com suas bases, ganhando, muitas vezes, uma identificação semelhante a movimentos sociais, como é o do Movimiento al

Socialismo,MAS, na Bolívia.

Finalmente, o papel e desempenho dos movimentos sociais neste processo de ascensão, com suas capacidades de pautarem suas demandas na agenda política, pressionando os governos a reafirmarem e mesmo manterem seus compromissos e vínculos com as bases sociais. Gallegos defende a existência de várias esquerdas latino-americanas que se desenvolvem e se relacionam a partir de um ciclo comum.

As alternativas postas para as esquerdas da América Latina ao fim do atual período podem ser, por um lado a retomada da influência dos Estados Unidos no continente através de cooptações com um discurso mais flexível, atraindo para perto

de si experiência mais moderadas como a do Brasil e a do Uruguai.

Neste caso, a divisão da esquerda política em bloco antagônico é extremamente profícuos para atração de uma para políticas de alianças que afetem sua identidade programática, comprometendo sua história e relação com sua base, bem como, para isolamento de outra parte da esquerda, que, caricaturada, sobretudo a partir de grandes meios de comunicação, perde a capacidade de diálogo com o conjunto da sociedade e poder de aglutinação.

Certamente esta diversidade no interior da esquerda política expressa -se em concepções de estratégia, tática, políticas de alianças e programas de governo distintos e até mesmo conflitantes entre si. No entanto, a formulação da Doutrina Kirkpatrick e sua replicação por influentes setores da Ciência Política na América Latina, dão conta de lembrar que existe uma direita bem menos diversa e, por vezes, bem mais coesa, para além dos debates internos à esquerda.

Ou, podem as esquerdas latino-americanas, a partir dos governos nacionais, avançar no processo de integração regional, criando novas relações políticas, econômicas e culturais, fortalecendo instâncias como a ALBA, UNASUL e MERCOSUL, implementando reformas estruturais que superem a influência do período neoliberal, entre elas a financeirização da economia, ampliando a democratização da sociedade a partir da universalização de direitos sociais universais, ou, tão logo a fórmula programas sociais mais estabilidade econômica, aumentando o poder de consumo da classe trabalhadora alcançará seus limites.

Apenas com a ampliação do consumo, mas, sem projetos políticos de mobilização e mudança das sociedades latino-americanas, poderemos enfrentar uma reação conservadora que, entre outras ações, apresentará o passado como uma novidade. O desafio do giro à esquerda criado na América Latina em resistência às políticas neoliberais é agora, portanto, consolidar-se com muita democracia e inclusão na economia e na política.

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