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Jogador 2 Impactos ambientais/Legislação ambiental Jogador 3 Tomada de decisão/Gestão Ambiental

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Optou-se, nesta pesquisa, pela divisão do problema que envolve a construção da UHE Belo Monte em várias partes devido a sua complexidade. A etapa de estruturação das matrizes de decisão da UHE Belo Monte propiciou a identificação de algumas dessas partes importantes, como o tamanho do reservatório, a presença e o tamanho dos canais de derivação, os valores da vazão mínima de estiagem em m³/s e a vazão mínima de cheia, o tamanho da barragem em metros de altura e os condicionantes da obra. Os dois problemas principais destacados pela análise de especialistas foram a área do reservatório e as vazões no trecho de vazão reduzida.

Esses dois problemas principais serviram de base para a construção de duas matrizes de decisão. A primeira etapa para a construção destas matrizes foi a identificação das alternativas adotadas e das opcionais relacionadas aos dois problemas, sendo, para o problema 1, as alternativas de área do reservatório de 516 km² (a adotada na obra), área do reservatório de 335 km², pequenos reservatórios e área do reservatório de 1225 km²; e, para o problema 2, as alternativas de trecho de vazão reduzida no rio Xingu (a adotada na obra), vazões mais variáveis, vazões muito próximas às naturais e vazões mais próximas às naturais. Vale ressaltar que houve dificuldade por parte dos especialistas em elencarem muitas alternativas opcionais ao projeto.

Após esta etapa, foi feita a identificação dos critérios pela análise documental do Manual de Inventário de Bacias Hidroelétricas, seguida da análise de especialistas. Chegou-se, assim, aos dezesseis critérios/atributos que envolveram as dimensões de sustentabilidade e técnicas, que foram adaptados a fim de esclarecer sua forma de mensuração. Eles foram dispostos de maneira a abranger cada dimensão da sustentabilidade em igual número, com a presença da dimensão técnica e validados por meio da aplicação do VFT (o que não é comum na área), em que se observou que todos os critérios/atributos apresentaram vínculos com os objetivos hierarquizados pelo método, apesar de nem todos os objetivos terem sido representados por critérios/atributos. Ademais, notou-se que os objetivos fundamentais identificados não foram consenso na maioria dos especialistas na aplicação do VFT e a abordagem de considerar os critérios de impactos negativos a fim de discriminar as alternativas também foi um diferencial da pesquisa.

Com as duas matrizes de decisão medidas, iniciou-se a aplicação do método ELECTRE III. A alternativa de área do reservatório de 516 km², que foi a real adotada na construção da UHE Belo Monte, foi avaliada como a alternativa mais adequada na abordagem em grupo e por três dos quatro jogadores. Já a alternativa de vazões muito próximas às naturais do rio, que não foi a adotada na construção da UHE Belo Monte, foi avaliada como a alternativa mais adequada

na abordagem em grupo e em todos os quatro jogadores. O entendimento do caso da UHE Belo Monte, considerando as duas avaliações das matrizes de decisão, foi, dessa forma, não generalista, ou seja, a avaliação ficou restrita às duas alternativas (alternativa 1 e alternativa 2, respectivamente, dos problemas 1 e 2). Isso é observado pela alternativa de área de 516 km², alternativa do grupo mais adequada para o problema 1, inviabilizar que as vazões no rio Xingu sejam mais próximas às naturais, alternativa do grupo mais adequada do problema 2 e vice versa.

Entretanto, houve algumas diferenças no método baseado na Teoria de Jogos que podem influenciar um melhor entendimento do caso, como a clara identificação do segundo melhor equilíbrio, o equilíbrio 3 (coalizão) pela alternativa 1b de pequenos reservatórios com pequenas centrais hidrelétricas. Se o segundo melhor equilíbrio fosse assim adotado, haveria uma relação maior com os resultados encontrados na análise do problema das vazões no rio Xingu, pois uma diminuição do reservatório poderia alterar o impacto gerado nas vazões.

As contribuições da pesquisa foram divididas em duas partes. Uma está relacionada ao caso da UHE Belo Monte em si, pois a modelagem feita para uso dos métodos MCDA propiciou maior entendimento do caso, elencando vários critérios, alternativas e considerando diversos tomadores de decisão, o que corrobora com a abordagem construtivista dos métodos e aumenta suas possibilidades de uso em um contexto ainda pouco aplicado. A outra contribuição está relacionada intrinsicamente aos métodos MCDA, pois o uso destes ocorreu com critérios que tiveram como parâmetro a validação feita por um Método de Estruturação de Problemas e em um problema complexo. Ainda quanto aos métodos MCDA, foi feita a utilização de dois diferentes métodos, que levaram a uma interpretação das diferentes ordenações das alternativas e o método proposto por Leoneti (2012; 2015) obteve resultados adequados e próximos ao ELECTRE III.

Nesta pesquisa, a modelagem da UHE Belo monte foi feita, pois foram identificadas/avaliadas partes principais do problema da usina, bem como alternativas reais e opcionais, além de os diferentes critérios das dimensões da sustentabilidade e da dimensão técnica terem fomentado a discussão sobre a sustentabilidade do projeto. Nesse sentido, nota- se que as decisões tomadas na construção da UHE Belo Monte foram acompanhadas do Estudo de Impacto Ambiental, do Relatório de Impacto Ambiental e do Projeto Básico de Engenharia, ou seja, de documentos técnicos integrantes da legislação ambiental brasileira. Tais estudos, quando bem elaborados, são fundamentais para o processo decisório por reunirem diversas informações a fim de justificar as escolhas locacionais e técnicas das alternativas adotadas em

empreendimentos. Entretanto, muitos destes documentos levam anos para serem feitos e podem ser de difícil entendimento para diversos gestores envolvidos no processo decisório.

Ao contrário dessas dificuldades, os métodos MCDA podem propiciar uma modelagem dos problemas de maneira mais rápida, facilitar o entendimento desses problemas e, principalmente, incluir diversos tomadores de decisão, como os atingidos pela construção do empreendimento, que, no caso do licenciamento da UHE Belo Monte, não foram considerados apropriadamente conforme apontam diversos autores. Alguns autores elencaram, ainda, os problemas do processo decisório da usina, como a ausência de consultas públicas adequadas aos indígenas e problemas nas audiências públicas.

Sugere-se, portanto, que os métodos MCDA possam ser uma etapa inicial na discussão de problemas complexos e que ocorram, por exemplo, juntamente com as audiências públicas de grandes estudos ambientais, a fim de captar opiniões de diversos tomadores de decisão, incluindo várias alternativas ao projeto (seja de especialistas ou não), valorando diversas opiniões e identificando (seja por especialistas ou por análises documentais) múltiplos critérios. Ou seja, eles serão úteis tanto para uma melhoria da participação dos atingidos, por proporcionar uma participação formal se aplicados corretamente, quanto para uma discussão mais estruturada da decisão e de fácil compreensão a ser tomada entre os gestores.

A partir deste estudo, são feitos os seguintes encaminhamentos para futuras pesquisas: (i) a criação de matrizes de decisão para outras partes do problema da UHE Belo Monte, promovendo a análise de outras alternativas e a expansão dos critérios/atributos considerados, (ii) a ampliação do número de tomadores de decisão, visando a considerar os atingidos na obra, (iii) a análise dos resultados feita por especialistas de energia elétrica e hidrelétricas, (iv) a utilização de valores reais/estimados para os critérios mensuráveis como os custos de operação/manutenção e potência de energia gerada e (v) a execução da análise de sensibilidade e de robustez. Como encaminhamento específico de utilização dos métodos MCDA, sugere-se que eles passem ser aplicados nas etapas de licenciamento ambiental no Brasil, principalmente em relação aos EIAs ou AAIs.

As limitações deste estudo referem-se, primordialmente, à utilização da escala tipo Likert, que desempenhou papel influenciador nas matrizes de decisão7, aos especialistas envolvidos (que podem ser de um número maior de organizações/instituições), aos critérios existentes passíveis de mensuração como os custos e energia gerada, à participação de especialistas apenas do estado de São Paulo e à não realização de uma análise de sensibilidade

7 Entretanto, ressalta-se a dificuldade de mensuração dos critérios/atributos e que, no caso das alternativas opcionais, seriam também estimativas.

e robustez dos métodos. Por fim, deve-se ressaltar que o estudo aqui realizado analisou critérios e alternativas de um caso em fase de implementação/operação, ou seja, cujas decisões reais, à época da pesquisa, já haviam sido tomadas e que, devido a sua complexidade, comporta diversas variáveis que podem ter fugido do controle dos analistas, implicando, assim, na necessidade de maiores estudos. Dessa forma, não houve a intenção de esgotar as discussões sobre a UHE Belo Monte, mas de promovê-las.