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CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NACIONAIS DA MAÇONARIA NO BRASIL: OS MOTIVOS PELOS QUAIS A

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 77-83)

PARTE II – FUNDAÇÃO E HISTÓRIA DA MAÇONARIA BRASILEIRA 2 COMO A MAÇONARIA SURGIU E ESTÁ ORGANIZADA NO BRASIL?

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NACIONAIS DA MAÇONARIA NO BRASIL: OS MOTIVOS PELOS QUAIS A

MAÇONARIA É E NÃO É UMA INSTITUIÇÃO COESA

O itinerário percorrido nesta seção procurou demonstrar como a maçonaria se consolidou enquanto instituição no Brasil, com o objetivo de indicar posteriormente a formação da maçonaria no Estado do Paraná – cenário deste trabalho. Nesta trajetória, procuramos revelá-la pela ótica das potências maçônicas, ou seja, na visão dos grandes corpos nacionais (e não pela história de lojas isoladas ou iniciativas frustradas que ocorreram, sobretudo, nos primeiros anos da presença maçônica no país). Esta opção se fez necessária considerando que a história da maçonaria no Paraná transcorreu a partir da subordinação de delegacias e potências, como analisaremos adiante. Ademais, a metodologia de estudo quanto às questões estaduais nos dará a dinâmica das eleições para o Grão-Mestrado, principal foco deste trabalho.

A história do surgimento e da organização da maçonaria no Brasil exposta priorizou como protagonista o Grande Oriente do Brasil, primeira potência maçônica fundada no país, em 1822. Antes do GOB existiam tentativas de fixar a instituição no

32 São as “proclamações” cartas assinadas em encontros anuais da COMAB, disponíveis no portal da internet da instituição no link http://www.comab.org.br/index.php?page=proclamacoes. Acesso em 10 dez 2014.

país, isoladas pela distância geográfica e por iniciativas esparsas. Somente com a fundação do GOB, como exposto, a maçonaria passou a ser um grupo estratégico nacional, sobretudo em relação à política e às forças armadas.

Entretanto, a unidade institucional não durou muito, vez que o Grande Oriente do Brasil é marcado pela fragmentação política ao longo dos anos, em cisões que duraram tempo determinado (como exposto anteriormente) e outras duas que permanecem até hoje, casos da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil e suas Grandes Lojas estaduais e da Confederação Maçônica do Brasil.

A primeira cisão ocorreu na década de 1920, em relação ao GOB: é fundada uma série de Grandes Lojas estaduais, capitaneadas por Mário Behring, fato este que posteriormente culminou com a fundação da CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica Brasileira em 27 de julho de 1966, reunindo diversos organismos estaduais já independentes e que tinham por motivo principal o descontentamento com a administração do GOB. Vale ressaltar que o sistema de Grandes Lojas estaduais funciona desde 1927 e, tal marco histórico de 1966 serve apenas para formalizar a união nacional em torno desta organização (PIRES, 2015).

A criação das “grandes lojas” estaduais e da CMSB marcaram o início de disputas políticas no seio do GOB. A cisão capitaneada por Mário de Carvalho Behring sinalizava o ambiente político na organização do Grande Oriente do Brasil, refletindo em proporções regionais os desentendimentos nacionais. A criação dos Grandes Orientes Estaduais, em definitivo, é resultado destes embates e pressões:

se por um lado havia as orientações maçônicas do GOB (entidade nacional), as lojas maçônicas não concordavam com as medidas tomadas pela instituição, acarretando assim pressões de seus membros por uma maior autonomia administrativa (PIRES, 2015).

A paz entre o poder central (GOB) com os organismos estaduais permaneceu até 1972, quando Athos Vieira de Andrade foi candidato a grão-mestre nacional do Grande Oriente do Brasil, perdendo a eleição para Osmane Vieira de Resende. Tal eleição novamente contou com indícios de fraudes na apuração (CASTELLANI & CARVALHO, 2009, p. 265), com alguns votos sendo anulados. A segunda cisão relevante na história do GOB ocorreu em 27 de maio de 1973, com a

separação dos Grandes Orientes Estaduais do organismo nacional e a posterior fundação do Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira.

O advento da COMAB traria um rumo para que as demais potências estaduais pudessem pautar os seus trabalhos:

Iniciava-se uma nova jornada na Maçonaria brasileira e fixavam-se os alicerces para que outros Grandes Orientes Estaduais se orientassem pelos princípios federativos e constituíssem, primeiramente, um Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria brasileira, que evoluiu para a Confederação Maçônica do Brasil – COMAB (SOBRINHO, 1998. p. 299)

A fundação da COMAB em 1973 reuniu os presidentes das potências estaduais de Minas Gerais, São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para a fundação definitiva do então Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira, ocorrida no Rio de Janeiro (SCHÜLER, 1998). Este colégio tinha como princípio a independência em relação ao poder central do GOB e que este já seria uma instituição confederada. A formação definitiva com a nomenclatura COMAB viria em 1991, mas a atuação perdurava desde 1973:

Realizou-se em Brasília, nos dias 4, 5 e 6 de abril de 1991, a “XXXVª Assembléia Geral do Colégio de Grão-Mestres”, tendo como local o Instituto Presbiteriano Nacional de Educação. [Boletim Oficial do GOSC n°310/91, de 2 de maio de 1990, p.19] A Reunião tinha como “Edital de Convocação” a votação da proposta de reforma do Estatuto e do Regimento Interno da Confederação Maçônica do Brasil - COMAB, ex-Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira. (COMAB, 2015)

Considerando estas alterações na estrutura das três principais potências maçônicas do país, a disposição organizacional das mesmas é demonstrada na figura abaixo, com as respectivas divisões. Podemos visualizar a independência do sistema da CMSB e da COMAB dos organismos estaduais, além da subordinação de cada subdivisão do GOB. Vale ressaltar que há a manutenção deste alicerce organizacional da maçonaria em âmbito nacional até hoje. Adiante observaremos que, no caso do Paraná – recorte geográfico desta tese, a criação da Grande Loja do Paraná e o caminho percorrido pelo Grande Oriente do Brasil no Estado não

reflete necessariamente as datas de início do diagrama abaixo, observando a peculiaridade regional.33

Figura 2. Rupturas na estrutura da maçonaria no Brasil.

Fonte: VALENCIANO, Tiago (2014)

Esta figura demonstra a estrutura maçônica formada desde 1822: as duas cisões (1927 e 1973) deixam claro o exposto anteriormente, tanto em relação à subordinação dos organismos estaduais (GOB) quanto a independência do modelo de confederação adotado pela CMSB e pela COMAB. Assim, notamos as subdivisões ocorridas ao longo dos anos, oriundas da estrutura do Grande Oriente do Brasil, mas que ainda são aceitas entre os maçons do país como regulares, na maioria das vezes.

Pretendemos demonstrar nesta seção as origens e o desenvolvimento institucional da maçonaria no Brasil, a partir do olhar direcionado para as potências com expressão nacional e regularidade aceita. Tal panorama é importante, visto que as iniciativas da maçonaria no Paraná são oriundas desta estrutura e, para tal, preferimos expor esta trajetória, com o objetivo de solidificar este trabalho, que versa sobre as carreiras dos grão-mestres da maçonaria no Paraná exclusivamente das três subdivisões das potências analisadas: o Grande Oriente do Brasil-Paraná, seção do Grande Oriente do Brasil no Estado; a Grande Loja do Paraná, autônoma,

33 O capítulo quinto intitulado “A radiografia da instalação da maçonaria no Paraná: uma síntese histórico-sociológica” resume a trajetória paranaense destas rupturas.

porém ligada à Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB); e o Grande Oriente do Paraná, na mesma condição da Grande Loja do Paraná, porém relacionada à Confederação Maçônica do Brasil.

Outrossim, ainda paira a questão acerca da maçonaria: afinal, diante de tantas cisões a maçonaria é ou não única? Estas divisões atrapalham ou ajudam a atuação dela? Pelo exposto, a maçonaria é uma instituição coesa no aspecto de seu pensamento, da ideologia que repassa aos seus membros, conforme exposto no capítulo 1.3 desta tese. Por outro lado, as subdivisões internas expuseram a disputa pelo espaço no campo político institucional, ressaltando que cada uma das três grandes vertentes maçônicas do país (GOB, CMSB e COMAB) tem organização e personalidade jurídica próprias, com a dinâmica de funcionamento variável de acordo com a realidade regional.

Apesar das subdivisões existentes, a maçonaria ainda preza por ações conjuntas (caso dos recentes posicionamentos políticos, conforme exposto) e, por conseguinte, o modo de conduta repassado aos maçons tem base comum. Em suma: as divisões administrativas não afetam a transmissão da filosofia maçônica para seus integrantes; por outro lado, ações em massa (nacionais ou estaduais, por exemplo), devem ser tomadas a partir de suas lideranças, isto é, de seus Grão-Mestres.

Esta realidade reforça a importância deste trabalho, destinado à análise do perfil sociológico destes sujeitos e a relação entre eles no espaço social. O “retorno do sujeito”, analisado por Montagner (2007) demonstra este panorama na atualidade da teoria sociológica:

O movimento pendular entre a filosofia do sujeito e a filosofia sem sujeito é uma constante nos embates entre as ciências sociais e a filosofia há muito tempo, desde os primórdios durkheimianos (Bourdieu e Wacquant, 1992).

Esse debate é vasto e infindável, mas não se pode negar a nova preeminência das abordagens em que o sujeito social é colocado como centro e a chave das análises sociológicas a partir dos anos sessenta e setenta. Atualmente esta é a pedra de toque de toda moderna Sociologia, a mais ver, de todas as ciências humanas. (MONTAGNER, 2007, p. 241).

Ou seja, a partir do retorno do sujeito e de sua relação com o estudo das biografias coletivas (prosopografia) é que podemos analisar os perfis destes Grão-Mestres e, sobretudo, a inserção sob os aspectos políticos, associativos e

econômicos de cada um, a fim de que se possa responder a questão: qual é a identidade social de um líder maçom no Estado do Paraná? Esta é um das propostas desta tese e, para tal, haverá a exposição da construção da maçonaria no Paraná para, então, desdobrarmos a relação entre a sociologia destes sujeitos e a inserção social e política dos mesmos na tríade Paraná, maçonaria e sociologia.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 77-83)