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Constância do tamanho é a tendência de determinado objeto de parecer do mesmo ta-

manho independentemente de suas imagens retinianas serem grandes ou pequenas. Por

TERMO-CHAVE Constância do tamanho

Os objetos são

percebidos como tendo determinado tamanho, independentemente do tamanho da imagem retiniana.

68 PARTE I Percepção visual e atenção

exemplo, se alguém caminha em sua direção, a imagem retiniana dessa pessoa aumenta progressivamente, mas seu tamanho parece continuar o mesmo.

Por que exibimos constância do tamanho? Muitos fatores estão envolvidos. Con- tudo, a distância aparente de um objeto é especialmente importante quando julgamos seu tamanho. Por exemplo, um objeto pode ser considerado grande mesmo que sua ima- gem retiniana seja muito pequena se ele estiver muito distante. Assim, existem conexões próximas entre os julgamentos do tamanho e da distância. Muitos outros fatores têm influência em até que ponto é observada a constância do tamanho. A seguir, abordamos brevemente alguns desses fatores antes de considerarmos a relação entre a constância do tamanho e a percepção da profundidade.

Achados

Haber e Levin (2001) defenderam que a percepção do tamanho dos objetos normalmen- te depende mais da memória de seu tamanho familiar do que unicamente da informação perceptual referente à sua distância. Eles identificaram que os participantes estimavam os tamanhos dos objetos comuns com grande precisão usando apenas a memória. Então apre- sentaram aos observadores vários objetos ao alcance próximo (de 0 a 50 m) ou distantes da visão (de 50 a 100 m) e pediram que fizessem julgamentos sobre o tamanho. Os objetos per- tenciam a três categorias: (1) aqueles que quase não variam no tamanho ou na altura (p. ex., raquete de tênis, bicicleta); (2) aqueles que variam no tamanho (p. ex., aparelho de televisão, árvore de Natal); e (3) estímulos não familiares (p. ex., objetos ovalados, triângulos).

Que achados esperávamos? Se o tamanho familiar é da maior importância, os jul- gamentos de tamanho devem ser melhores para objetos de tamanho invariável do que para os de tamanho variável, com os julgamentos de tamanho sendo piores para objetos não familiares. E se a percepção da distância for de extrema importância? As distâncias são estimadas com mais precisão para os objetos próximos do que para os mais distan- tes, portanto os julgamentos de tamanho devem ser melhores para todas as categorias de objetos ao alcance próximo da visão.

Os achados de Haber e Levin (2001) indicaram a importância do tamanho familiar para a precisão dos julgamentos sobre tamanho (ver Fig. 2.22). No entanto, não pode- mos explicar a alta precisão dos julgamentos de tamanho com objetos não familiares em termos de tamanho familiar. Observe que a distância da visão não teve praticamente efeito nos julgamentos de tamanho.

Witt e colaboradores (2008) encontraram que bons jogadores de golfe percebiam o buraco como maior do que os jogadores de golfe que não eram tão bons quando davam as tacadas. Também constataram que os jogadores de golfe, diante de uma tacada curta, percebiam o tamanho do buraco como maior do que aqueles que deveriam dar uma ta- cada longa. Eles concluíram que os objetos parecem maiores quando podemos agir de forma eficiente em relação a eles, o que poderia explicar por que o buraco sempre parece incrivelmente pequeno para o primeiro autor quando joga golfe! Observe, no entanto, que A. D. Cooper e colaboradores (2012) obtiveram evidências sugerindo que esses efeitos envolvem mais a memória do que a percepção.

Van der Hoort e colaboradores (2011) encontraram evidências do efeito do tama-

nho corporal, em que o tamanho de um corpo percebido erroneamente como o próprio

influencia os tamanhos percebidos dos objetos no ambiente. Participantes equipados com head-mounted displays* conectados a câmeras CCTV viram o ambiente pela pers- pectiva de um boneco (ver Fig. 2.23). O boneco era pequeno ou grande.

Van der Hoort e colaboradores (2011) constataram que outros objetos eram percebi- dos como maiores e mais distantes quando o boneco era pequeno do que quando era gran- de. Esses efeitos eram maiores quando os participantes percebiam erroneamente o corpo

* N. do T.: Dispositivo de vídeo usado na cabeça como um capacete e fones de ouvido, com uma interface por meio da qual o indivíduo experimenta um ambiente de realidade virtual.

TERMO-CHAVE Efeito do tamanho corporal

Ilusão na qual a falsa percepção do tamanho do próprio corpo faz o tamanho percebido dos objetos ser julgado de forma errada. CONTEÚDO ON-LINE em inglês Website: Constância do tamanho

CAPÍTULO 2 Processos básicos na percepção visual 69

como sendo seu – isso foi obtido ao ser tocado o corpo do participante e do boneco ao mesmo tempo. Assim, a percepção do tamanho e da distância depende em parte de nossa experiência ao longo da vida de ver tudo segundo a perspectiva do nosso corpo.

Agora nos concentraremos nas pesquisas que consideram a relação entre a estima- tiva do tamanho e a distância percebida. Se os julgamentos do tamanho dependem da distância percebida, não deve ser encontrada constância do tamanho quando a distância percebida de um objeto diferir consideravelmente de sua distância real. O quarto de Ames proporciona um bom exemplo (Ames, 1952; ver Fig. 2.24). Ele tem uma forma peculiar: as inclinações do piso e a parede do fundo não estão em ângu-

lo reto com as paredes adjacentes. Apesar disso, o quarto de Ames cria a mesma imagem retiniana que um quarto retangular normal quando visto através de um orifício de observação. O fato de uma extremidade da parede do fundo estar muito mais longe do espectador é disfarçado por ela parecer muito mais alta.

O que acontece quando os observadores olham para dentro do quarto de Ames? As pistas que sugerem que a parede do fundo está em ângulo reto com o espectador são tão fortes que os observadores acreditam equivocadamente que dois adultos de pé nos cantos da parede do fundo estão à mesma distância deles. Isso os leva a estimar que o tamanho do adulto mais próximo é muito maior do que o do adulto que está mais longe. (Veja o quarto de Ames no YouTube: Ramachandran – Ames room illusion explained.)

O efeito de ilusão do quarto de Ames é tão grande que um indiví- duo que caminha para trás e para frente diante da parede do fundo pa- rece crescer e encolher enquanto se move. Assim, a distância percebida parece guiar o tamanho percebido. No entanto, os observadores têm maior probabilidade de entender o que está acontecendo se o indiví- duo for alguém que eles conhecem bem. Certa ocasião, a esposa de um pesquisador chegou no laboratório e o encontrou dentro do quarto de Ames. Sua reação imediata foi gritar: “Nossa, querido, esse quarto está distorcido!” (Ian Gordon, comunicação pessoal).

Precisão dos julgamentos de tamanho

Coeficiente de determinação 0,98 0,96 0,94 0,92 0,90 0-50 m 50-100 m Objetos não familiares Objetos familiares: tamanho variável Objetos familiares: tamanho invariável Figura 2.22

Precisão dos julgamentos de tamanho como uma função de tipo de objeto (não familiar; tamanho variável familiar; tamanho invariável familiar) e distância de visão (0-50 m vs. 50- 100 m).

Fonte: Fundamentada em dados de Haber e Levin (2001).

Figura 2.23

Esta figura mostra o que os participantes do experimento do boneco podiam ver. Do pon- to de vista de um boneco pequeno, objetos como uma mão parecem muito maiores do que quando vistos do ponto de vista de um boneco grande. Isso exemplifica o efeito do tamanho do corpo.

Fonte: Van der Hoort e colaboradores (2011). Pu- blic Library of Science. Com a permissão do autor.

CONTEÚDO ON-LINE em inglês Weblink: Ramachandran explica o quarto de Ames

70 PARTE I Percepção visual e atenção

Resultados similares (porém mais extraordinários) foram reportados por Glenners- ter e colaboradores (2006). Os participantes atravessavam um quarto de realidade virtual enquanto ele se expandia ou se contraía consideravelmente. Mesmo tendo várias infor- mações sobre a paralaxe do movimento e o movimento para indicar que o tamanho do quarto estava mudando, nenhum participante percebeu as mudanças! Ocorreram grandes erros nos julgamentos dos participantes sobre os tamanhos dos objetos a distâncias mais longas. A forte expectativa de que o tamanho do quarto não se alteraria fez a distância percebida dos objetos ser muito imprecisa.

Nguyen e colaboradores (2011) também demonstraram a íntima relação entre a percepção do tamanho e da distância. Eles usaram um ambiente virtual no qual dois bas- tões eram apresentados em um túnel. Houve ensaios iniciais de treinamento nos quais o

(a) Ponto mais baixo do chão Ponto mais alto do chão Ponto mais alto do chão PLANTA DO CHÃO DO QUARTO REAL PAREDE DO FUNDO DO QUARTO REAL

Orifício de observação Parede percebida Parede r eal Tamanho percebido Tamanho real Tamanho real e tamanho percebido

PLANTA DO CHÃO DO QUARTO PERCEBIDO Orifício de observação

(b)

Figura 2.24

(a) Uma representação do quarto de Ames. (b) Um quarto de Ames real mostrando o efeito obtido com dois adultos.

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tamanho dos bastões permanecia constante e os observadores julgavam a sua distância. Depois disso, os bastões mudavam de tamanho. Quando os bastões ficavam menores, os observadores superestimavam sua distância, mas a subestimavam quando os bastões ficavam maiores. Assim, o tamanho familiar dos bastões durante o treinamento inicial influenciou fortemente a distância percebida.

Avaliação

A percepção do tamanho e a constância do tamanho dependem principalmente da dis- tância percebida. Algumas das mais fortes evidências para isso provêm de estudos nos quais as percepções equivocadas da distância (p. ex., no quarto de Ames ou em ambien- tes virtuais) produzem distorções sistemáticas no tamanho percebido. Além disso, a dis- tância percebida pode ser fortemente influenciada pelo tamanho percebido ou familiar. Inúmeros outros fatores influenciam a percepção do tamanho, e mencionamos apenas alguns.

Até agora, faltam teorias compreensíveis dos julgamentos de tamanho. Pouco se sabe sobre a importância relativa dos fatores que influenciam os julgamentos de tamanho ou as circunstâncias nas quais dado fator é mais ou menos influente. E, ainda, não sabemos como os diversos fatores se combinam para produzir julgamentos de tamanho.