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4 POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE UMA PESSOA MENOR DE IDADE

4.4 CONSTITUIÇÃO DE EMPRESA POR PESSOA SINGULAR MENOR DE IDADE

Como já estudado no conceito de empresário, é necessário que ele possua capacidade plena para o exercício dos atos da vida civil, é o determinado pelo artigo 972, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Sabe-se que a capacidade plena é adquirida com 18 (dezoito) anos completos, em regra, e que, excepcionalmente, é possível a antecipação da capacidade civil, por meio da emancipação, em conformidade com o artigo 5º do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Sobre o assunto, Coelho (2014) reforça a necessidade da capacidade plena, afasta os menores de idade não emancipados, já que não podem exercer a empresa como maior de idade. Brito (2002, p. 985) enfatiza a ideia de que esse parâmetro reestruturou a sociedade. Fez com que a lei brasileira se adequasse à sociedade atual, já que antes era regida pelo Código Civil de 1916:

Portanto para o empresário individual, além do exercício profissional da atividade empresarial, exige-se também a plena capacidade, sem a qual o exercício da atividade será qualificada como irregular. Desta maneira, toda pessoa com 18 anos completos poderá exercer a atividade empresarial no Brasil, independentemente de autorização, salvo nos casos especificados em lei. Com estes dispositivos o legislador não adotou uma nova sistemática do regime das incapacidades no exercício dos Direitos no Brasil, mas apenas adequou a legislação brasileira à própria sociedade urbana brasileira que durante muito tempo estava sendo disciplinada pelo Código Civil Brasileiro de 1916 calcado em outra estrutura de sociedade. O Novo Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406/02, assim como o Código Civil Brasileiro de 1916 partem da premissa de que as pessoas até certa idade ou submetidas a determinadas circunstâncias fáticas referentes à sua saúde mental ou física não possuem discernimento e nem aptidão para a prática de determinados atos na esfera jurídica. Diante da nova sistemática do Novo Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406/02, a pessoa plenamente capaz poderá exercer livremente a atividade empresarial.

Quanto à possibilidade de um menor incapaz integrar uma empresa, O artigo 974 do Código Civil dispõe que “Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança”. (BRASIL, 2002).

Sobre o referido artigo, Ramos (2020, p. 181) interpreta que se trata da possibilidade de participação do menor em empresa individual, não se referindo à societária.

Em primeiro lugar, destaque-se que o art. 974 do Código Civil se refere ao exercício individual de empresa. Trata-se, pois, de casos em que o incapaz será autorizado a explorar atividade empresarial individualmente, ou seja, na qualidade de empresário individual (pessoa física). A possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação totalmente distinta, já que o sócio de uma sociedade não é empresário.

Impende salientar que o exercício da empresa pelo menor é condição excêntrica, porquanto depende de autorização do juiz, pelo instrumento chamado alvará. Tal conjuntura em que isso se aplica é excepcional, uma vez que se aplica em duas condições, sendo a primeira a continuação do exercício da empresa que o incapaz constituiu quando era capaz, ao passo que

a segunda é o incapaz dar seguimento, na empresa, já iniciada pelos pais ou de qualquer sucessor do incapaz, destacando-se que não existe permissivo legal que autorize o incapaz constituir uma empresa do zero. (COELHO, 2014).

Cita-se o Enunciado 206, da III Jornada de Direito Civil, que destaca: “O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte. (JUSTIÇA FEDERAL, 2012, p. 62)”.

Esse entendimento se coaduna com o disposto no parágrafo primeiro do artigo 974, do Código Civil (BRASIL, 2002), segundo o qual, antes de analisar a situação e os riscos da empresa e a conveniência da continuidade das operações, será obtida autorização judicial, podendo o juiz revogar a autorização com a oitiva dos pais, responsável ou representante legal do incapaz sem que possa afetar os direitos de terceiros.

Em se tratando dos bens do menor, a legislação protege aqueles que o menor incapaz tinha, à época da sucessão, quando alheios à atividade e ao acervo da empresa, sendo que tal informação deve estar especificada no alvará que autoriza o menor, nos termos do § 2º do artigo 974, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Acerca do alvará,

[...] o juiz deverá aferir além da oportunidade e conveniência das circunstâncias e riscos da empresa, o montante de bens do menor que não estará vinculado aos referidos riscos, bem como a legitimação para o comércio dos representantes do menor e necessidade ou conveniência de nomeação de gerente. (BRITO, 2002, p. 990).

Destaca-se, nessa mesma linha, Coelho (2014). Para esse autor, os bens pertencentes ao empresário incapaz, no momento da herança, que não sejam utilizados para o exercício da atividade empresarial, não serão responsáveis pelas obrigações decorrentes dessas atividades executadas, durante o período de autorização, ordem judicial que listará os referidos bens.

Ramos (2020) também coaduna com o referido entendimento, considerando uma atualização muito importante, pois o menor assumir a empresa representa riscos ao empreendimento, assim, no alvará de autorização de continuação da empresa, os bens do menor devem estar relacionados, para que, desse modo sejam protegidos de eventuais débitos.

Tal fato se mostra necessário, uma vez que, na condição de empresário individual, não há uma diferenciação entre os bens da empresa e os bens particulares, o que difere da sociedade empresarial, que possui seu patrimônio social distinto do patrimônio pessoal dos sócios. Em vista disso, o empresário individual responde com seus próprios bens, para as dívidas e obrigações contraídas em nome da empresa. (RAMOS, 2020).

Não há de se confundir com o menor emancipado que exerce atividade empresarial, uma vez dotado de capacidade plena, não necessita de alvará para continuar empresa e, portanto, não terá proteção patrimonial. (RAMOS, 2020).

Outro ponto que merece destaque é a exigência da presença do representante ou assistente. Coelho (2014, p. 26), ensina que, por ser exigência legal, mesmo que o representante ou assistente não possa exercer a atividade empresária, será nomeado um gerente, para administrar e cuidar da atividade do menor:

O exercício da empresa por incapaz autorizado é feito mediante representação (se absoluta a incapacidade) ou assistência (se relativa). Se o representante ou o assistido for ou estiver proibido de exercer empresa, nomeia-se, com aprovação do juiz, um gerente. Mesmo não havendo impedimento, se reputar do interesse do incapaz, o juiz pode, ao conceder a autorização, determinar que atue no negócio o gerente. A autorização pode ser revogada pelo juiz, a qualquer tempo, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito. A revogação não prejudicará os interesses de terceiros (consumidores, empregados, fisco, fornecedores etc.).

O posicionamento do referido autor está em consonância com o contido no artigo 975 do Código Civil (BRASIL, 2002), que, em seu § 1º, explora mais ainda a questão, determinando que, sempre que o juiz entender conveniente, será nomeado um gerente, não havendo na lei uma restrição ao número de gerentes.

Cabe ressaltar, ainda, que, mesmo com a nomeação do gerente, o representante ou assistente não se exime da responsabilidade pelos atos do gerente, é o que consta no § 2º do artigo 975, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

4.5 CONSTITUIÇÃO DE EMPRESA COM SÓCIO MENOR DE IDADE

Assim como no caso de o menor poder figurar na qualidade de empresário individual, existe a possibilidade de o incapaz integrar um quadro societário.

A princípio, cumpre enfatizar que esse tema foi fortemente debatido pela jurisprudência e pela doutrina, que entendiam, anteriormente que, caso não fosse emancipado ou regularmente autorizado pelos pais, o menor não poderia integrar uma sociedade comercial que pudesse trazer riscos ao patrimônio do incapaz, por conta do regime da responsabilidade limitada. (BRITO 2002).

Esse pensamento baseava-se no antigo Código Comercial Brasileiro em razão da sociedade se constituir pela união de pessoas:

Entende-se também que em se tratando de uma sociedade de pessoas que se submetesse ao regime da responsabilidade limitada, o menor também não poderia participar, pois valendo-se do art. 308 do Código Comercial Brasileiro vislumbrava impedimento legal à referida participação, tendo em vista que em seu entendimento a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada (Ltda.) era, em sua essência, uma sociedade de pessoas. (BRITO, 2002, p. 989).

Apesar da ressalva que a doutrina fazia quanto aos riscos em potencial, o Supremo Tribunal Federal já tinha o entendimento da capacidade do representante do menor subscrever quotas em seu nome, condição essa que seria possível, caso o representante exercesse o pátrio poder sobre o menor e a contribuição se resumisse a bens móveis e dinheiro. (BRITO, 2002).

Esse posicionamento do Tribunal, de que era permitido ao menor integrar a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, por meio de seu representante, acabou sendo introduzido no Código Civil de 2002, por meio do seu artigo 9744, já tratado anteriormente. (BRITO, 2002).

O parágrafo terceiro do referido artigo, que foi incluído pela Lei nº 12.399, de 2011, exige três requisitos a serem respeitados pela sociedade, quando for registrar alterações contratuais ou contratos de sociedade que tenha menor incapaz nas Juntas Comerciais, sendo elas: a impossibilidade de o sócio menor atuar em funções de administração da sociedade; a exigência de ter o capital social integralizado na sua totalidade; e a presença do já conhecido representante, no caso de o incapaz ser absolutamente incapaz, ou de assistente, caso o menor esteja entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, sendo relativamente capaz. (BRASIL, 2002).

Insta apresentar acerca desse dispositivo legal a percepção de Ramos (2020, p. 185):

A possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação totalmente distinta, já que o sócio de uma sociedade não é empresário. Nesse sentido, foi incluído o § 3.º ao dispositivo legal em referência, deixando claro que a regra do caput não se aplica aos casos em que o incapaz esteja ingressando numa sociedade, pois nesse caso o empresário é a própria pessoa jurídica, sendo exigido apenas que o incapaz não exerça poderes de administração, que o capital esteja totalmente integralizado e que ele seja assistido ou representado, conforme o grau de sua incapacidade.

No caso das sociedades anônimas e das sociedades com sócios que tenham a responsabilidade ilimitada, a exigência de integralização de todo capital, para que tenha um sócio menor incapaz não se aplica, já que a integralização do capital não interferirá na proteção do sócio incapaz. É o contido no Enunciado 467 da V Jordana de Direito Civil, que dispõe: “A

4 Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. (BRASIL, 2002).

exigência de integralização do capital social prevista no art. 974, § 3º, não se aplica à participação de incapazes em sociedades anônimas e em sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada nas quais a integralização do capital social não influa na proteção do incapaz”. (JUSTIÇA FEDERAL, 2012, p. 67).

O que se tenta por meio § 3º citado acima é a proteção do patrimônio do menor, evitando que seus bens pessoais respondam por qualquer ato da empresa, ou mesmo para evitar que o seu representante ou assistente extrapole o direito de administrar seus atos dentro da sociedade. Sobre o assunto, pode-se observar a jurisprudência do próprio Tribunal de Justiça de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2020):

DIREITO COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL - CONFISSÃO DE DÍVIDA EM CONTRATOS DE SECURITIZAÇÃO - MENOR IMPÚBERE E SÓCIA QUE, REPRESENTADA PELA MÃE, CELEBROU DISPOSIÇÕES DE DEVEDORA SOLIDÁRIA DA DÍVIDA DA EMPRESA - DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO POR ABALO DE CRÉDITO E CANCELAMENTO DE NEGATIVAÇÃO - PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS PEDIDOS NO JUÍZO A QUO - RECURSO DA CREDORA RÉ - VALIDADE DO ATO JURÍDICO ANTE HÍGIDA REPRESENTAÇÃO DA SÓCIA MENOR - INACOLHIMENTO - CELEBRAÇÃO DE GARANTIA CONTRATUAL DE DÍVIDA DA SOCIEDADE EMPRESARIAL - LIBERALIDADE DOS PAIS QUE EXTRAPOLA A MERA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DOS FILHOS - ONERAÇÃO DO PATRIMÔNIO PESSOAL DO FILHO INADMISSÍVEL, MORMENTE INOCORRENDO AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PRÉVIA - SEPARAÇÃO PATRIMONIAL DA PESSOA JURÍDICA E DO SÓCIO MENOR, QUE SEQUER TEM PODERES DE ADMINISTRAÇÃO SOCIETÁRIA - NULIDADE CARACTERIZADA - ARTS. 166, I, E 1.691 DO CC/2002 - SENTENÇA MANTIDA, MAJORADOS OS HONORÁRIOS EM RAZÃO DA SUCUMBÊNCIA RECURSAL - APELO IMPROVIDO. Ocorrendo extrapolação dos poderes de administração dos bens dos filhos (art. 1.691 do CC), é nulo o ato dos pais que onera o patrimônio pessoal do menor mediante pactuação, em seu nome, de garantia solidária de dívida, ainda que o infante seja sócio da empresa devedora. (TJSC, Apelação Cível n. 0007275-70.2013.8.24.0011, de Brusque, rel. Monteiro Rocha, Quinta Câmara de Direito Comercial, j. 12-03-2020). (SANTA CATARINA, 2020).

A proteção do patrimônio do menor incapaz se estende, inclusive, para processos da Justiça do Trabalho, que versem sobre verba alimentar de ex-trabalhador, eximindo-o de arcar com a respectiva responsabilidade com seus bens pessoais, principalmente por não exercer atividade de administração da empresa.

Isso se evidencia por meio da jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, conforme boletim: SÓCIO MINORITÁRIO. ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. RESPONSABILIDADE. O sócio minoritário

absolutamente incapaz à época da constituição da empresa e da duração do

contrato de trabalho objeto de discussão nos autos, que manteve sociedade apenas com sua genitora, a qual era a administradora do empreendimento, não responde,

créditos trabalhistas de ex-funcionários. (SANTA CATARINA, 2019a – grifo

nosso).

Todavia, esse entendimento não é pacífico, quando se trata de verbas trabalhistas, tendo decisões que, mesmo reconhecendo a menoridade, a responsabilidade por ações contra a sociedade não foi afastada, por entender que o menor tenha obtido vantagem com o trabalho do empregado, mesmo que indiretamente por meio da genitora. É o que se observa por outra jurisprudência também do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região:

SÓCIO MENOR DE IDADE. RESPONSABILIDADE. EXECUÇÃO. O fato de ser

o agravante menor de idade, por ocasião da desconsideração da personalidade jurídica da empresa, não impede o reconhecimento de sua responsabilidade pelo pagamento dos créditos trabalhistas, uma vez que se beneficiou da força de trabalho do empregado exequente, ainda que por intermédio de sua genitora.

(SANTA CATARINA, 2019b – grifo nosso).

Em sede de débitos federais e execuções fiscais, o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região é no sentido de proteger o patrimônio do menor incapaz, pelo motivo de ele não exercer a administração da empresa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL.

REDIRECIONAMENTO. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. SÓCIO.

CAPACIDADE. Não cabe o redirecionamento da execução fiscal contra o sócio, com base no artigo 135 do CTN, quando esse estaria impedido de exercer, de fato, a administração da sociedade, por incapaz. HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. CAUSALIDADE. Se a União postulou o redirecionamento da execução fiscal contra sócio-gerente com base nas informações constantes do registro mercantil, não pode ela responder por honorários advocatícios pelo acolhimento da exceção de pré-executividade que demonstra a inadequação dos registros. (AG 5042951-47.2015.4.04.0000 5042951-47.2015.4.04.0000. Segunda Turma. Julgamento: 15 de Dezembro de 2015. Relator: Rômulo Pizzolatti – grifo nosso). (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

No direito criminal, especificamente na prática de crimes tributários, o entendimento jurisprudencial também visa à proteção do menor, é como julgou o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Segue a ementa:

APELAÇÃO. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. NOTAS PARALELAS. ACUSADO MENOR DE IDADE, QUE SOMENTE FIGURAVA NO CONTRATO SOCIAL DA EMPRESA, COMO SÓCIO MAJORITÁRIO. AUSÊNCIA DE PROVAS DA PARTICIPAÇÃO. Demonstrado que o réu foi apenas usado como uma espécie de "laranja" por seu próprio genitor/corréu, e em razão de sua tenra idade, nem mesmo tomou conhecimento das ilegalidades praticadas na gerência do negócio, impositiva a absolvição. Réu menor de idade absolvido. Apelação da defesa, parcialmente provida. (TJ-RS-ACR: 70042213199 RS. Relator. Gaspar Marques Batista. Julgamento: 29 de Junho de 2011. Órgão Julgador: Quarta Câmara Criminal. Publicação no Diário da Justiça do dia 07/07/2011). (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Segundo dados informados, no caso do menor relativamente capaz não emancipado, assistido pelos pais ou representante, sua participação na sociedade será como sócio quotista. A qualificação do menor e do assistente constarão no contrato, sendo que, nesse caso, todos devem assinar. (SÓCIO, [201-?]).

Em se tratando de representação, por envolver pessoa absolutamente incapaz, não há a assinatura do menor, somente do representante, sendo que a participação na empresa também será como sócios quotistas. (SÓCIO, [201-?]).

Tal premissa é seguida a rigor pelos Tribunais, sendo possível citar jurisprudência que, verificada ausência de suprimento da assinatura pelo representante do menor, constitui irregularidade na inclusão societária, como se vê:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE C/C APURAÇÃO DE HAVERES - IRREGULARIDADE NA ASSUNÇÃO DE

COTAS DE SÓCIO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ - ILEGITIMIDADE PASSIVA - RECURSO DESPROVIDO. Comprovada a incapacidade absoluta da

parte Ré, ao tempo de sua inclusão como sócia, a regularidade da assunção de cotas está submetida ao preenchimento dos requisitos legais consagrados no artigo 974, §3º, do Código Civil. A ausência de comprovação do suprimento da assinatura da

menor, por seus representantes legais, bem como a divergência entre o número do

CPF constante no registro comercial da empresa e àquele registrado no documento da menor, representam fortes indícios de irregularidade na inclusão societária. Por

conseguinte, não preenchidos os requisitos legais para a inclusão de indivíduo absolutamente incapaz nos quadros societários da empresa, resta configurada a sua ilegitimidade passiva para a causa. (TJ-MGAC: 10024075934794003 – Belo

Horizonte: MG. Publicação 14/12/2018. Julgamento: 6 de Dezembro de 2018 Relator: Newton Teixeira Carvalho). (MINAS GERAIS, 2018 – grifo nosso).

Não existe nenhum impedimento legal para que tanto o menor quanto o representante ou assistente integrem, juntamente, o quadro societário da empresa. Apenas ressalta-se que, caso ocorra, o representante ou assistente assine duas vezes o referido contrato, uma por sua pessoa e outra pela pessoa do menor incapaz. (SÓCIO, [201-?]).

Como já explicitado, para o menor estar no quadro societário, faz-se necessário que todo o capital esteja integralizado, o qual “[...] deve ser expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer outra espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária”. (SÓCIO, [201-?]).

Quando se trata de bem imóvel ou direitos reais sobre o bem, deverá constar no contrato social, quer seja ele particular ou público, a especificação detalhada, incluindo número de matrícula no registro de imóveis e, nesse caso específico faz-se necessária a autorização judicial. (SÓCIO, [201-?]).

Como o menor não irá praticar nenhuma atividade laboral, não fará jus ao recebimento de pró-labore, apesar disso, será detentor dos demais direitos inerentes dos sócios, incluindo distribuição de lucros. (SÓCIO, [201-?]).

O artigo 976, do Código Civil determina, ainda, que a sentença de autorização, bem como a sua eventual revogação, deve ser inscrita ou então averbada na Junta Comercial. (BRASIL, 2002).

Assim, verifica-se que o menor pode integrar empresa individual ou mesmo quadro societário de sociedade empresarial, em determinadas situações, sendo elas, quando emancipado, tendo entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, se absolutamente incapaz, desde que acompanhado pelo representante e obtenha autorização judicial, ou então quando relativamente capaz, acompanhado por seu assistente.

5 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo analisar a possibilidade de participação de pessoa menor de idade na constituição de empresa. Para alcançar esse objetivo, adotou-se quanto à metodologia, a pesquisa do tipo exploratória, com abordagem qualitativa. Quanto à coleta de dados, classificou-se como pesquisa documental e pesquisa bibliográfica. Foram utilizados, documentos legais, sobretudo, a Constituição Federal do Brasil de 1988, o Código Civil 2012, e ainda todo um conjunto de leis que versam sobre o tema. Dentre esses, destaca-se a Lei nº 8.934/94 Lei de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, também autores como Coelho (2014); Araujo; Vidal Junior (2006), Teixeira (2016) entre outros.

Para compreender melhor o assunto, alguns pontos foram devidamente tratados no decorrer desta monografia, sendo que, no segundo capítulo, foram elucidados os princípios da atividade econômica, que se pautam na soberania nacional, livre concorrência, redução das desigualdades sociais, preservação da empresa, defesa do consumidor, livre exercício da atividade econômica e defesa do meio ambiente. Tais princípios são essenciais para o bom funcionamento da empresa, bem como para o reflexo da atividade empresarial junto ao governo e junto à população em geral. Ainda, no segundo capítulo, apresentou-se o conceito de empresário, como sendo aquele que exerce atividade empresarial de forma organizada, produzindo ou fazendo circular bens e serviços, condizente com o artigo 966, caput, do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Além do conceito, estudou-se as suas principais características, que compreendem o profissionalismo, a atividade econômica, organização, produção e circulação de bens e serviços. Outro assunto tratado foi a caracterização do “não empresário”, sendo aquele que exerce atividade intelectual, como a artística, a literária ou a científica, como sua atividade fim. Os requisitos para ser um empresário são a própria atividade empresária e a plenitude da

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