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Construção da Pena de Prisão no Brasil

3 EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO NO SISTEMA BRASILEIRO

3.1 Construção da Pena de Prisão no Brasil

Assim como ao redor do mundo, no Brasil, a prisão tida como pena teve seu aparecimento e aplicabilidade tardios, pois enquanto o Brasil estava sob a vigência das ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, as penas eram fundadas nas sanções corporais e pecuniárias, e a pena de prisão era tida apenas como meio de manter os infratores até seus julgamentos ou até execução das penas.

O primeiro registro que se tem da existência de prisão no Brasil foi de 1551, na Bahia, de maneira muito diminuta. Ficavam localizadas nas câmaras municipais, e o encarceramento não tinha caráter de pena.

Posteriormente, com a vinda da Família Real para o Brasil, a Igreja cedeu um antigo cárcere eclesiástico para servir de prisão comum, o Aljube, no Rio de Janeiro. Em 1831 chegou a abrigar mais de 500 detentos (CARVALHO FILHO, 2002, p. 38).

Só em 1837 começou a funcionar a Casa de Correção da Corte, primeira prisão, de fato, implementada no Brasil, e localizada, também, no Rio de Janeiro. Dois grandes raios foram construídos, cada um com cerca de 200 celas, construção essa que só se findou em 1870. Ali funcionavam diversas oficinas para os trabalhos diurnos dos presos, como oficinas de carpinteiros, de sapateiros, de marceneiros, entre outros, além de uma lavanderia que só empregava mulheres. O complexo penitenciário era composto, também, por uma enfermaria, uma escola de primeiras letras para indivíduos livres, pela prisão do Calabouço e, até, pelo Instituto de Menores Artesãos, que abrigava órfãos, menores abandonados e menores em conflito com a lei (SOARES, 2007, p. 233).

Apesar da criação da Casa de Correção, outras prisões, anteriores a ela, continuaram funcionando, como foi o caso da prisão de Santa Bárbara, destinada somente às mulheres sentenciadas, que permaneceu funcionando até 1841, ou a Cadeia do Aljube, que

funcionou até 1856 (SOARES, 2007, p. 234).

Já em 1821, era possível perceber certa preocupação por parte de Dom Pedro I com a situação das prisões, preocupação esta reafirmada pela Constituição Imperial de 1824,

que determinava que: “As cadeiras serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas

casas para a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e a natureza dos seus crimes20.” Porém, apesar da previsão legal acerca da salubridade das prisões, a realidade era diversa, pois as prisões brasileiras do início do século XIX eram ambientes sujos e degradados.

Para Fernando Salla (2008, p. 65):

O aparecimento da Casa de correção de São Paulo, em 1852, bem como a do Rio de Janeiro, em 1850, significou a materialização de uma nova percepção das formas de atribuição e execução das penas que vinha se dando desde o processo de

Independência. A nação emancipada construía um novo perfil em todos os setores e o encarceramento não deixou de ser alvo das investidas dos diferentes grupos que estiveram comandando o país na primeira metade do século.

Esse momento durou até a introdução do Código Criminal do Império, em 1830. Código permeado de ideais de justiça, equidade, e influenciado por ideias liberais.

Diferentemente do que ocorreu com a legislação civil, que seguiu certa continuidade entre a Colônia e o Império, a legislação penal cortou esse vínculo, sendo compreendida em dois momentos distintos: o primeiro, período colonial, arraigado nas Ordenações Filipinas, e o segundo, período imperial, marcado pelo advento do Código Criminal de 1830, pelo Código de Processo Criminal e pela legislação específica (WOLKMER, 2008, p. 401).

As leis penais tiveram mudanças significativas no final do século XIX em virtude da abolição da escravatura e da Proclamação da República. O Código Penal da República de 1890 trazia em seu rol algumas modalidades de prisão, entre elas a prisão celular, a reclusão, prisão com trabalho forçado e disciplinar.

Após a proclamação da República, pode-se observar outra mudança importante para as penas restritivas de liberdade individual, pois a partir daí, estabeleceu-se seu caráter temporário (CARVALHO FILHO, 2002, p. 43).

Desde o séc. XIX, as prisões brasileiras já se mostravam insalubres, o que se intensificou no início do século XX, pois já se mostravam de forma precária, com os detentos vivendo em condições, por vezes, sub-humanas, com excesso de presos, que não eram, sequer, separados entre os que já haviam sido condenados e dos que não.

O início do século XX ficou marcado pela inauguração da penitenciária de São

Paulo, que se deu em 1920. Penitenciária esta com capacidade para abrigar 1.200 detentos, e que era um verdadeiro modelo de prisão moderna, pois contava com acomodações adequadas, enfermarias, oficinas, e outras muitas inovações para a época.

E, com o advento do Código Penal de 1940, firmou-se ainda mais a importância do cárcere, da pena privativa de liberdade, tendo em vista que mais de 300 tipos penais eram punidos com reclusão e detenção.

Porém, apesar da supervalorização do cárcere, a situação do sistema prisional já era tratada com descaso por parte do Poder Público. Naquela época, já era possível notar a superlotação das prisões, a promiscuidade dentro das mesmas e o desrespeito ao Princípio da Dignidade Humana. A título exemplificativo, a Casa de Detenção de São Paulo chegou a abrigar cerca de 8 mil presos quando só tinha capacidade para acolher apenas 3.25021.

Atualmente, o sistema prisional brasileiro encontra-se em flagrante estado de alerta ante a superlotação. Não há uma distinção entre os presos provisórios e os que já estão com sentença transitada em julgado, e a ociosidade se faz presente entre a maioria dos que estão encarcerados. Tal situação faz com que não haja condições de proporcionar uma reinserção social, ou, uma tentativa de reabilitá-lo ao convívio social.

A volta ao convívio social é parte fundamental do objetivo da sanção, que é o de fazê-lo pagar pelo delito que cometeu e ao mesmo tempo contribuir para que ao sair do encarceramento possa sentir-se reinserido socialmente não vindo a praticar novo ato delituoso.

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