o nAcionAlismo e A bAse dA Produção modernA no brAsil
1.1. A representação nacional na produção arquitetônica no brasil
1.2.2. o contexto econômico e político do Plano de Ação do governo do estado de são Paulo
O PAGE foi elaborado e implementado num momento em que o Brasil, nos mecanismos de política, economia e cultura internacionais, estava inscrito na condição de país em desenvolvimento, segundo a deinição capitalista, marcada pelos ideários e planejamento econômico elaborados pela Comissão Econômica para América Latina – CEPAL.
A partir dos anos 1950, uma sucessão de estudos e planos econômicos ganhou fôlego no País.32
O primeiro grande estudo seria realizado pela Comissão mista Brasil – Esta- dos Unidos (1951/53) e o segundo, pelo Grupo Misto BNDE-CEPAL (1953/55). A eles sucederia o Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB [...]
(BUZZAR, 1996, p.174)
Skidmore atentou que, para passar da fase de transição de uma economia agrária para uma economia industrial moderna, os planos econômicos a partir dos anos 1950 receberam um apoio estratégico através da pesquisa e publica- ções da CEPAL. As propostas desta última adquiriam feições próprias:
Durante o período em pauta (década de 1950) o planejamento econômico no Brasil, com o Estado desempenhando o papel de coordenador econômico e mesmo de empresário em vários setores da economia, exatamente como previa a receita cepalina/isebiana.
(MANTEGA, 1984, p.64)
nomeação de Carvalho Pinto tranqüilizou os críticos de Jango, tanto no país quanto no estrangeiro” (SKID- MORE, 2000, 7ª ed., p. 307). Entre os anos de 1967 e 1975, Carvalho Pinto ocupou o cargo de Senador da República pela Arena, Aliança Renovadora Nacional. Fundada em 4 de abril de1966, a Arena foi um partido conservador de apoio ao governo, criado após o Ato Institucional nº 2 (27.10.1965), durante o regime militar que extinguiu o pluripartidarismo no País. O bipartidarismo instituído teve duas correntes, uma de apoio à situação, a Arena, e outra de oposição o MDB, Movimento Democrático Brasileiro. O ex-governador faleceu em São Paulo, em 1987.
32 Como marcos de planejamentos no Brasil, temos: o Plano SALTE, no governo Dutra (1946-1951); a Co- missão Mista Brasil – Estados Unidos (1951). Governo Vargas (1930-1945, 1º período); em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Governo Vargas (1951-1954, 2º período); em 1956, o Plano de Metas, governo Kubitschek (1956-1961).
Assim apoiado nos estudos em curso, particularmente aqueles derivados da CEPAL:
[...] o modelo econômico adotado pelo País se coniguraria num padrão de- senvolvimentista-nacionalista, que se consolidava através da imagem de um país do futuro, ao mesmo tempo em que se uniicava sob o manto da democracia e colocava o País num patamar diferenciado do resto do mundo, autonomia que se explicaria “porque estaria revestida de um projeto histórico, que postulava a recu- peração do atraso”.
(BUZZAR, 1996, p.173)
Desta forma, com o modelo desenvolvimentista nacionalista, somente seria viável atingir a condição de uma nação “madura e moderna” mediante um impul- so acelerado para a industrialização. 33
[...] a ideologia nacional-desenvolvimentista, forjada ao longo dos anos 50, gestou-se inicialmente nos escritórios da CEPAL [...], na segunda metade dos anos 50 essa ideologia fornecia um projeto político de desenvolvimento que, mal ou bem, argamassava a sociedade civil brasileira e fornecia ao Estado sua base de legitimação.
(MANTEGA,1984, p.63)
Com um processo de modernização heterogêneo, no qual diversas frentes se confrontavam no avanço da resolução da dualidade do “arcaico” versus o moderno, condição para que o país de fato se tornasse desenvolvido, as diver- gências ganharam fôlego, acirrando processos de marginalização entre alguns setores sociais. 34
A condição econômica do País do pós-guerra até os anos 1970 é explicada pela “Teoria da Dependência”, cuja postulação era a de que o desenvolvimento apenas aconteceria se combinado com o capital internacional.35
O Brasil não seria um país rico e soberano no futuro, que iria colocar-se na pirâmide, no cume, lado a lado dos estados desenvolvidos [...] ele já ocupava 33 Segundo Thomas Skidmore, a partir da era Dutra iniciaram-se vigorosos debates sobre estratégia do de- senvolvimento. Para isso, surgiram três fórmulas principais: a neoliberal, a desenvolvimentista-nacionalista e a nacionalista radical. Nenhuma dessas posições representava uma estratégia detalhada. Ao contrário, cada uma delas era “uma combinação de diagnósticos e de recomendações de medidas gerais”, indicação que se estenderia nos planejamentos posteriores dos anos 1950.
34 No Brasil, a “modernidade capitalista”, alinhada ao capitalismo mundial, desenvolveu-se congregando uma pobreza crescente a uma progressão econômica acelerada. Para uma análise mais aprofundada do desdobramento desse modelo, ver: ANDRADE, Regis de Castro, Brasil: a economia do capitalismo selva-
gem. Revista Cultura e política, nº 4, 1981; disponível também em versão eletrônica, Revista Lua Nova nº
57, portal Scielo, 2002: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n57/a02n57.pdf>.
35 Ver: CARDOSO, Fernando Henrique e FALETO, Celso, Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Ensaio de Interpretação Sociológica, Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
um lugar próprio, seu, no cenário econômico e político mundial, do qual era um participante ativo, porém na condição de dependente, o que não signiica que não pudesse ocorrer um desenvolvimento econômico desde que associado.
(BUZZAR, 1996, p. 174)
O desenvolvimento associado, articulando processos arcaicos e moder- nos, sem que um excluísse o outro, como as elaborações desenvolvimentistas supunham, somente se esclareceria a partir de estudos econômicos efetuados nos anos 1970, particularmente com o trabalho de Francisco de Oliveira “Crítica à razão dualística”, como dito por Buzzar:
[...] esta compreensão viria à luz dos anos 70, anos 50, a aura do modernis- mo que parte da produção cultural recebia, valia-se da visão nacional-desenvol- vimentista [...]
(BUZZAR, 1996, p. 174)
Organizados para orientar uma política estatal, a visão “nacional-desen- volvimentista” não foi unânime na intelectualidade econômica brasileira, porém contou com signiicativas adesões, nas quais participavam “ditos progressistas e, principalmente, de esquerda, guardadas algumas restrições e mesmo dife- renças que não alteravam o conteúdo do instrumento essencial: um plano de desenvolvimento” (BUZZAR, 1996, p.174).
Nessa direção, o Plano de Metas, base do governo Kubtischek (1956-1960), anos de realizações e ações do Estado animados pelo tema “cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo”, cooptou as aspirações da modernidade desejada.
[...] síntese do pensamento econômico daquele período, o Plano de Metas (1956/61), que tornava realidade as aspirações desenvolvimentistas, tendo o Es- tado como planejador da economia.
(BUZZAR, 1996, p. 174)
Foram, sem dúvida, anos de crescimento econômico real no País, algo que icou evidente principalmente nos setores industriais.
A base para o progresso foi uma extraordinária expansão industrial. Entre 1955 e 1961, no Brasil a produção industrial cresceu 80% (em preços constantes), com as porcentagens mais altas registradas pela indústria de aço (100%), indús- trias mecânicas (125%), indústrias elétricas e comunicações (380%) e indústrias de equipamentos de transportes (600%). De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano e, aproximadamente, 4% per capita. Para a década de 1950,
o crescimento per capita efetivo do Brasil foi aproximadamente três vezes maior que o resto da América Latina.
(SKIDMORE, 2000, 12ª ed.)
Em que pese um problema, foi também um período de grande agravamen- to inlacionário, de desequilíbrio econômico e de instabilidade social.
[...] a realidade internacional de crise e instabilidade, quer política quer econômica, que poderia parecer banida nas relações locais, porque o pro- gresso brasileiro tudo resolveria, pelo contrário, vinha junto com o mesmo pro- gresso que a industrialização tornava presente, renovando os conlitos sociais locais.
(BUZZAR, 1996, p.175)
A estratégia desenvolvimentista do Plano de Metas era composta porum conjunto de 31 metas para o período de 1956-1960, incluindo-se a construção de Brasília, chamada de “meta síntese”. As 30 metas setoriais foram agrupadas em cinco áreas:
1. Energiaenergia elétrica, energia nuclear, carvão mineral e petróleo (pro- dução e reino);
2. Transporteferroviário (re-aparelhamento e construção), rodoviário (pavi- mentação e construção), serviços portuários e de drenagem, marinha mercante e transporte aeroviário;
3. Alimentaçãotrigo, silos, armazéns frigoríicos, matadouros industriais, me- canização da agricultura e fertilizantes;
4. Indústria de basesiderurgia, alumínio, metais não-ferrosos (chumbo, es- tanho, níquel e cobre), cimento, álcalis, celulose e papel, borracha, exportação de minério de ferro, indústria automobilística, indústria da construção naval, indústria mecânica e de material elétrico pesado;
5. Educaçãoformação de pessoal técnico. 36
O governo Kubitschek, também rotulado por Skidmore e outros historiadores como não somente ”desenvolvimentista”, mas “nacionalista desenvolvimentista”, reforçava os propósitos e ações do Estado recorrendo ao senso nacionalista como porta para receber o “caminho do desenvolvimento” no Brasil. Claro icou que as ambigüidades no processo social advinham de críticas ao modelo de- senvolvimentista, que problematizavam as desigualdades sociais, a presença de estruturas arcaicas de produção no campo e na cidade, trazendo à tona uma 36 Ver: PAGNUSSAT, José Luiz, in Jornal’Ecos da Literatura Lusófona, 25 de Janeiro de 2006 - Edição N° 33.
realidade econômica caracterizada por alguns teóricos como subdesenvolvida, mesmo que combinada com aspectos modernizadores.37
Com o Estado no papel de grande promotor do desenvolvimento no País, mesmo sem ter a adesão unânime da intelectualidade brasileira, esse plano de desenvolvimento propiciou, além de uma modernização, o reforço do projeto de identidade nacional, de uma nação forte e moderna, alinhada aos padrões inter- nacionais.