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Continuidade e gradualismo – ressalta o fato de a gramaticalização

SUMÁRIO

MODOS VERBAIS INDICATIVO SUBJUNTIVO

V. embedding problem (o problema do encaixamento) identifica tanto a matriz social como a matriz linguistica da comunidade na

3) Continuidade e gradualismo – ressalta o fato de a gramaticalização

tender sempre para a renovação da estrutura da língua e constituir-se num processo contínuo, baseado numa propriedade das línguas naturais que é a sua criatividade, motivada por necessidades sociais (já aparece nos escritos de Kurylowicz apud Lehmann (1982). Este princípio de continuidade permite distinguir gramaticalização de troca lexical, no qual um item substitui outro, como ocorreu com ser estativo, trocado por estar nesse tipo de construção. 4) Unidirecionalidade – mostra o caráter irreversível da gramaticalização, não permitindo, portanto, o movimento inverso, isto é, uma desgramaticalização. (Atualmente, Castilho contesta esse princípio, admitindo a existência da multidirecionalidade no processo de gramaticalização).

O problema da frequência de uso das formas é uma questão bastante discutida atualmente na literatura sobre o tema. Bybee e Hopper (2001) discutem a implicação entre gramaticalização e frequência de uso ou “rotinização” da forma em processo de gramaticalização, que, envolve fixação de posição, perda de fronteiras morfológicas e erosão fonológica, está vinculada ao aumento de frequência textual e ao distanciamento do significado original.

Bybee (2003, p.603) destaca que a frequência de uso de uma forma não resulta na gramaticalização, mas constitui uma contribuição primária para o processo. Para a autora, a gramaticalização é caracterizada como o processo pelo qual uma sequência de palavras ou morfemas, altamente frequentes, se torna automatizada como uma unidade de processamento singular.

Para Bybee, a ritualização aplicada aos processos de gramaticalização corrobora para justificar a relevância da frequência da repetição de um item, pois representa importante papel nas seguintes mudanças:

a) a frequência de uso leva ao enfraquecimento de forças semânticas pela habitualidade - processo pelo qual um organismo deixa de responder no mesmo nível ao estímulo repetido;

b) mudanças fonológicas de redução e fusão de construções gramaticalizadas são condicionadas por sua alta frequência e por seu uso em porções do enunciado que contêm informação velha ou de fundo;

c) o aumento da frequência confere maior autonomia à construção, o que significa que componentes individuais da construção enfraquecem ou perdem sua associação com outras ocorrências do mesmo item;

d) a perda de transparência semântica que acompanha a separação entre os componentes da construção gramaticalizada e seus congêneres lexicais permite o uso da forma em novos contextos com novas associações pragmáticas, levando a mudança semântica;

e) a perda de autonomia da forma frequente a torna mais enraizada na língua e frequentemente condiciona a preservação de algumas das características morfossintáticas obsoletas.

Para a contagem da frequência dos itens em estudo, são utilizados dois métodos, segundo a autora: um relacionado à frequência de uso (“token frequency”) e outro à frequência de tipo (“type frequency”). Sendo que, “Token”, ou frequência textual, se refere à contagem de todas as ocorrências do item, sem que se observe o significado que elas veiculam; já a frequência “type” refere-se à contagem de um padrão particular de dicionário; ou seja, o significado ou a função de um item ou construção.

Segundo a autora, as construções gramaticalizadas estão propensas a a aumentar sua frequência “type”, visto que podem ser utilizadas num número cada vez mais amplo de contextos, acarretando, consequentemente, o aumento da frequência “token” e a sua implementação num processo de mudança.

4 METODOLOGIA

4.1 CONSTITUIÇÃO DO CORPUS 19

Definir o corpus de uma pesquisa, sem dúvida alguma, constitui a primeira ou maior das dificuldades a ser vencida pelo pesquisador, pois o

corpus a ser escolhido, deve ser sempre adequado ao tema que se pretende

estudar, isto é, deve ser propício ao aparecimento das formas linguisticas a serem analisadas. Assim, tendo em vista estar o mais-que-perfeito simples praticamente em desuso, optou-se por escolher, para a análise da língua escrita, textos do gênero epistolar, mais ou menos formais, do Brasil e de Portugal, dos séculos XVI ao XX, no sentido de detectar, se possível, se os diferentes textos demonstravam: 1) a preferência pela forma simples ou composta; 2) o momento em que a preferência pelo pretérito mais-que-perfeito composto se torna evidente e 3) se esse é um fenômeno que também ocorre no português europeu..

Como afirmam Ilari e Basso ( 2006, p.182) , é muito difícil, não só para os leigos, mas também para os especialistas, pensar qualquer aspecto das grandes línguas ocidentais sem evocar, de maneira automática, uma de tantas representações tradicionais, construídas, em sua maioria, com base na língua escrita, uma vez que essas representações costumam trazer respostas prontas para as perguntas do estudioso. Sabendo-se, também, que a escrita não consegue abarcar todas “as cores” da língua falada, que somente a fala permite observar a variação e os vários usos e sentidos que podem assumir as palavras, conferindo à língua uma vivacidade praticamente inatingível pela língua escrita (ROSSEAU, 1998, p. 128), visando confrontar o emprego do tempo verbal em estudo na língua escrita e na língua falada no século XX, foram consultados também, diálogos entre informantes e documentadores (DID’s) do Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta (NURC) do Rio de Janeiro e Salvador dos anos de 1970 e 1990, e, ainda, seguindo a

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Neste trabalho o termo corpus será utilizado em substituição a corpora tendo em vista considerar-se o conjunto de textos analisados como uma unidade

tônica de comparar Brasil e Portugal, foram consultadas entrevistas do VARPORT - Análise Contrastiva de Variedades do Português , um projeto desenvolvido em conjunto pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

4.2 O CORPUS DA LÍNGUA ESCRITA

Objetivando montar uma amostra realmente representativa dos séculos XVI ao XX, foram escolhidas cartas escritas por portugueses e brasileiros20, conforme especificado nas tabelas 1 e 2 , a seguir:

Tabela 1 - Corpus utilizado para estudo do português europeu

SÉCULO PORTUGAL QTD.

CARTAS