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1.7 Contrato individual de trabalho

1.7.3 Contratos de trabalho especiais

156 O prestador de serviço assume uma obrigação de resultado. 157 O trabalhador assume uma posição de meios.

158 A propósito disto o Ac. do STJ de 16/01/2014, Processo n.º 924206.4TBOER.LI.SI considera “patente a existência de vários pontos de afinidade entre o contrato de trabalho e o contrato de prestação de serviços de carácter técnico, não só pelo facto de ambos serem celebrados intuitu personae, como também porque ambos têm como objeto a prestação de determinadas atividades (trabalhos ou serviços) gerando-se uma relação de confiança pessoal entre os sujeitos contratuais imprescindível à manutenção do vínculo …”.

159 Juízo de aproximação entre o da situação concreta e o modelo típico da subordinação.

160 Por exemplo, a existência ou não de horário de trabalho, o local de trabalho corresponder ou não às instalações do empregador, os instrumentos de trabalho pertencerem ou não ao empregador, o direito ou não ao período anual de descanso e de subsídios de férias e natal, se beneficia ou se tem por conta própria um seguro para acidentes de trabalho, se está enquadrado na segurança social como trabalhador por conta de outrem ou se está coletado nas finanças ou enquadrado na segurança social como trabalhador independente, entre outros.

Fazem parte deste tipo de contratos o contrato de trabalho em espetáculos, o contrato de serviço doméstico e o contrato de trabalho com desportistas profissionais.

Além destes, cabe apenas referenciar que existe ainda o Trabalho Portuário que só deve considerar-se afastado da aplicação direta do CT nos aspetos que são diretamente regulados por lei especial, o DL n.º 280/93, de 13 de agosto, e o DL n.º 298793, de 28 de agosto; o trabalho a bordo cuja legislação especial se encontra no DL n.º 74/73, de 1 de março, e na Lei n.º 15/97, de 31 de Maio; o trabalho rural161 que abrange as atividades diretamente ligadas à exploração agrícola e recolha

dos produtos ou as que permitem torná-las possíveis ou assegurar a sua exploração e o trabalho em funções públicas – que está regulada pela Lei n.º 59/2008, de 11 de setembro.

1.7.3.1 Contrato de trabalho dos profissionais de espetáculo

Regulado pela Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro, alterada pela Lei n.º 105/2009, de 15 de setembro, e pela Lei n.º 28/2011, de 16 de junho, aplica-se aos trabalhadores das artes e do espetáculo que desenvolvam uma atividade artística, técnico-artística ou de mediação destinada a espetáculos públicos162.

De acordo com o art. 1.º - A, al. a) da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro, são espetáculos públicos os que se realizam perante público e ainda se destinam a gravação e transmissão para posterior difusão pública, nomeadamente em teatro, cinema, radiofusão, televisão ou outro suporte audiovisual, internet, praça de touros, circo ou noutro local destinado a atuações ou exibições artísticas.

Este tipo de contrato está sujeito a forma escrita163, ao regime geral do Código do Trabalho e

respetiva regulamentação164, sendo certo que as especialidades surgem quando este contrato é

celebrado a termo ou na organização do tempo de trabalho.

Nestes contratos a termo e de acordo com o art. 7.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro, aponta-se como principais especialidades a admissibilidade genérica da contratação a termo sem necessidade de indicar o motivo justificativo para tal contratação e poder prolongar-se até seis anos, a possibilidade de contratação sucessiva de trabalhadores a termo para o mesmo posto de trabalho e a não previsão na lei da renovação automática nestes contratos.

161 O seu regime específico instituído pela PRT para a Agricultura encontra-se publicado no BTE, 1.ª Série, n.º 21, de 08/06/79. 162 Vide o art. 1.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro.

163 Vide o art. 10.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro. 164 Vide o art. 2.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro.

Quanto ao tempo de trabalho, é considerado como tal a atividade perante o público, os ensaios, pesquisa, estudo, atividades promocionais e de divulgação e os trabalhos preparatórios do espetáculo165.

É de salientar ainda a permissão constante do art. 13.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro, quanto à localização dos profissionais de espetáculos nos seus dias de descanso semanal fora do fim- de-semana ou a constante no art. 14.º da mesma lei quanto à admissibilidade de mais do que um intervalo de descanso diário e da variabilidade das jornadas de trabalho.

É também possível que neste tipo de contratos os profissionais de espetáculos tenham de trabalhar em dias de feriados166e lhes seja restringido o período de trabalho noturno ocorrido entre a

meia-noite e as cinco horas da manhã.

Existe, ainda, a possibilidade de celebração de contrato com pluralidade de trabalhadores de acordo com o art. 9.º da presente lei, bem como o trabalho intermitente que se encontra regulado no art. 8.º do mesmo diploma.

Quanto aos direitos e deveres deste tipo de trabalhadores, é de salientar o direito à ocupação efetiva quanto à realização de ensaios e demais atividades preparatórias do espetáculo público, não podendo estes ser excluídos sem motivo atendível167. Por sua vez existe uma obrigação de exclusividade

na realização destas atividades.

Quando o profissional de espetáculos se trata de um menor, o seu trabalho é regido pelo RCT/2009, nos seus arts. 2.º a 11.º.

1.7.3.2 Contrato de serviço doméstico

É regido pelo DL n.º 235/92, de 24 de outubro, que o define no seu art. 2.º como aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a outrem, com caráter regular, sob a sua direção e autoridade, atividades destinadas à satisfação das necessidades próprias ou específicas de um agregado familiar, ou equiparado, e dos respetivos membros.

Vem estabelecer uma maior flexibilidade quanto à possibilidade de desvinculação do contrato por parte do empregador, sem incorrer em processo disciplinar168.

165 Vide o art. 12.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro. 166 Vide o art. 16.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro. 167 Vide o art. 11.º da Lei n.º 4/2008, de 7 de fevereiro.

Neste tipo de contratos é possível a contratação a termo169 e existem regras específicas quanto

à forma de pagamento da retribuição relativamente aos trabalhadores que são alojados pelos empregadores ou a quem este fornece alimentação170.

Neste tipo de contratos, por norma, existe uma relação de confiança entre as partes e um dever de reintegração do trabalhador em caso de despedimento sem justa causa por parte do empregador171.

O contrato de serviço doméstico tem se tornado mais autónomo e autogerido ao longo dos anos.

1.7.3.3 Contrato de trabalho dos desportistas profissionais

Regulado pela Lei n.º 28/98, de 26 de junho, que aprova o Regime Jurídico do Contrato de Trabalho do Praticante Desportivo e do Contrato de Formação Desportiva, fixa regras especiais para os desportistas profissionais, sendo tudo o resto regulado pelas leis gerais do trabalho172.

Carece de forma escrita173 e são obrigatoriamente celebrados a termo174, havendo ainda um

claro afastamento das regras gerais no que concerne ao tempo de trabalho175 e ao descanso semanal176.

Há ainda a possibilidade de desvinculação do contrato por parte do trabalhador177 e a liberdade

de trabalho178, ou seja, o trabalhador é livre para rescindir o contrato e celebrar um contrato com um

outro clube após a cessação do anterior.