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e, possivelmente, mitigar o risco de sobrepeso e obesidade.

Em revisão que avaliou 13 trabalhos, os tamanhos de porções de alimentos examinados variou de 125% a até 500% em relação à porção controle, porém, a maioria dos trabalhos in-vestigou, em média, o dobro da porção padrão. Todas as publicações avaliadas demonstraram que a ingestão calórica dos indivíduos aumentou quando porções maiores foram oferecidas7.

Revisão sistemática e metanálise com dados da biblioteca Cochrane de Hollands et al.

(2015)6 investigou, por meio de 69 estudos clínicos randomizados (RCTs), totalizando mais de 10 mil participantes, intervenções baseadas no uso de diferentes tamanhos de porções, embalagens ou de louças (como pratos, tigelas e copos), no consumo ad libitum de alimentos e bebidas não-alcoólicas em adultos e crianças. A análise de 58 estudos (n = 6.603) encon-trou qualidade moderada de evidência de que a exposição a tamanhos maiores de porções, embalagens ou tamanho de louças levou à maior escolha para consumo e maior ingestão de alimentos. Especificamente, estimou-se que tal exposição levaria ao incremento no

con-CAPÍTULO 5.3

CONTROLE DE PORÇÕES

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sumo médio de alimentos na dieta de crianças e adultos do Reino Unido em 189 kcal/dia (considerando ingestão calórica na linha de base de 1.689kcal)6. A magnitude do efeito foi mais acentuada em trabalhos que avaliaram alimentos mais densos em energia. Em paralelo, comparações envolvendo três experimentos (n = 232) encontraram evidência, muito embora limitada, de que a exposição a copos ou garrafas mais curtos e largos em comparação aos mais altos e estreitos, induziu à seleção para o consumo aumentado de bebidas não-alcoóli-cas (sucos de frutas ou água) entre adultos e crianças6.

Similarmente, em metanálise de 30 estudos em população adulta e infantil, examinou-se o efeito de manipulações no tamanho de porções de alimentos, sendo observado que dobrar a porção gerou, em média, incremento em 35% no consumo. A influência do dimensionamento de porção foi mais pronunciada em alimentos embalados do que não-embalados. Cabe res-saltar que o efeito do tamanho da porção não foi linear, havendo limite máximo, visto que a ingesta de alimentos foi restringida pela plenitude gástrica, sinais internos de saciedade e, também, ao que era considerado uma quantidade adequada para ingestão, ou seja, normas de consumo. Observou-se que participantes do sexo feminino foram menos influenciadas pela duplicação do tamanho de porção sobre a ingestão alimentar e indivíduos com excesso de peso responderam menos ao tamanho da porção duplicada do que seus pares eutróficos, sendo reportado aumento na ingestão em 18% e 34%, respectivamente7. Os autores ressaltam que o resultado foi inesperado, visto que se contrapõe à pesquisa, que sugere que indivíduos com sobrepeso e obesidade seriam mais sensíveis a estímulos externos7,8. De fato, em estudo comparativo que examinou adultos (n = 278) com e sem excesso de peso, indivíduos com excesso de peso foram mais suscetíveis a comer por estímulos externos e menos por sinais in-ternos de saciedade em comparação àqueles eutróficos8. Hollands et al. (2015)6, por sua vez, não observaram influência de fatores como sexo ou índice de massa corporal (IMC) sobre o consumo de porções de dimensões aumentadas6.

Em RCT crossover realizado em adultos (n = 23) que receberam porções 50% maio-res de alimentos e bebidas calóricas durante 11 dias, verificou-se incremento na ingestão energética de 423 kcal/dia em relação ao mesmo período em que receberam porções de tamanho padrão. A maior ingestão alimentar foi sustentada ao longo dos 11 dias em que os indivíduos receberam porções aumentadas e os participantes não apresentaram qualquer mecanismo para compensação do excesso de ingestão calórica. Adicionalmente, o efeito do tamanho da porção sobre o consumo alimentar não foi influenciado pelo status de peso corporal dos participantes9.

Possíveis fatores que influenciam o efeito do tamanho da porção na ingestão alimentar decorrem de diferenças interindividuais na capacidade de estimar o tamanho apropriado das porções10, a percepção de saudabilidade de alimentos ou bebidas11 e de mecanismos como o

“viés da unidade”. Esse fenômeno sugere que a visualização de uma porção, a exemplo de um sanduíche ou biscoitos, determina a quantidade para consumo em uma única ocasião, independentemente da sua dimensão12. Propõe-se que tal efeito se relaciona ao mecanismo de adequação, no qual a porção - ao invés dos sinais internos de fome ou saciedade - norteia a quantidade de alimento ou bebida a ser consumida13.

Tanto porções de alimentos quanto louças podem sinalizar o que seria mais apropriado, típico e razoável comer14,15. A ilusão de Delboeuf é frequentemente mencionada na

literatu-81 CAPÍTULO 5

ra para elucidar como porções idênticas de alimentos podem ser percebidas como maiores quando servidas num prato pequeno em comparação a um prato grande, induzindo os indiví-duos a julgar o tamanho das porções de forma distinta14,16. Por meio de modelos matemáticos, Pratt et al. (2012)17 examinaram a relação entre a energia disponível para consumo e tama-nho de louças, a partir de dois formatos de pratos - plano e cônico - modelados para faixas de diâmetros que variaram entre 12,7 e 35,6cm. Os resultados indicaram que o aumento de prato de formato plano e cônico de 20,3 para 25,4cm resultou no incremento em 67% e 109%

na energia disponível para ingestão, respectivamente, em comparação ao menor tamanho17. No entanto, em RCT com mulheres com excesso de peso (n = 20), as participantes foram designadas para se servir em prato pequeno ou grande (respectivamente, 19,5 e 26,5cm de diâmetro) com a finalidade de examinar se haveria influência na ingestão de energia ad libi-tum em almoço estilo buffet. Os autores observaram que não houve diferença detectável no consumo calórico entre os grupos de pratos de tamanhos distintos18. Complementarmente, revisão sistemática e metanálise de Robinson et al. (2014)19, com base em nove experimentos, mostrou que não há efeito consistente do tamanho do prato sobre ingestão de alimentos19.

Em contraste, em RCT com crianças em idade pré-escolar (n = 69) e escolar (n = 18) que foram randomizadas para receber uma tigela de cereal pequena ou grande (volume de 227 e 456g, respectivamente), a utilização de tigela maior induziu as crianças em idade pré-es-colar a solicitar 87% a mais de cereais aos adultos e nas crianças em idade espré-es-colar, 52% a mais em relação ao uso de tigelas menores15. Interessantemente, em experimento realizado por Libotte et al. (2014)20, adultos (n = 83) foram randomizados e convidados a se servi-rem de almoço em um buffet contendo 55 réplicas de itens alimentares, com o objetivo de investigar se o tamanho do prato influencia a escolha de composição e calorias da refeição.

Aos participantes foi fornecido prato de 27 ou de 32cm de diâmetro. Os resultados sugerem que, embora o tamanho do prato não exerceu efeito significativo sobre a energia total da refeição, os participantes que receberam o prato maior serviram-se de mais vegetais como acompanhamentos20.

Comer sem atenção pode prejudicar a capacidade de se estimar com precisão a quan-tidade de comida consumida e indivíduos que se mostraram engajados à alimentação de forma desatenta, como comer na presença de fator de distração (por exemplo, um jogo de computador) relataram níveis mais baixos de saciedade e maior desejo de comer em com-paração àqueles que não comiam de forma distraída21. Em adição, demonstrou-se que há influência do processamento oro-sensorial no tamanho da porção consumida, à medida que porções maior dimensionadas se mostraram relacionadas ao aumento do tamanho da mordida e à velocidade mais rápida de alimentação, possivelmente atrasando a sensação de saciedade22,23. Em RCT crossover, conduzido em adultos (n = 45) eutróficos, com so-brepeso ou obesidade, o aumento em 150% e 200% em relação ao número de mastigações habitual de cada participante, reduziu a ingestão alimentar em média de, respectivamente, 9,5% e 14,8% e prolongou a duração das refeições, muito embora não tenha influenciado a percepção subjetiva de apetite 24.

Cabe ressaltar que alimentos e bebidas em porções maiores geralmente são ofertados a um custo proporcionalmente baixo25. Neste sentido, o conceito de “valor pelo dinheiro” foi identificado como incentivo relevante aos consumidores, que estariam mais propensos à

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compra de porções maiores. Uma vez que apresentam preço mais baixo por unidade, os indi-víduos tendem a pagar mais por uma porção maior que necessária, mesmo que outras opções menores estejam disponíveis3.

A influência do tamanho da porção indicada em rótulos sobre o consumo alimentar ainda permanece controversa. Em revisão de Zuraikat et al. (2019)23, o fornecimento de informa-ções sobre o tamanho da porção por meio de rotulagem nutricional não afetou a ingestão de alimentos, sugerindo que o conhecimento sobre porções apropriadas não seja suficiente para promover este efeito23. Contudo, revisão sistemática investigou, a partir de número limitado de estudos (n = 5), como informações sobre porções em embalagens de alimentos impactam a sua ingestão. Em três dos trabalhos, mudanças na rotulagem, como a ênfase no forneci-mento de informações nutricionais, a exemplo do valor calórico por porção e por embalagem, resultaram em respostas positivas dos consumidores, como o menor consumo de alimentos considerados não saudáveis26.

Cabe ressaltar, visando estabelecer o real impacto do tamanho de porções na ingestão energética, a importância em se considerar a análise em situações fora de condições experi-mentais em laboratórios e em ambiente com disponibilidade limitada de alimentos27. Adicio-nalmente, permanece necessário compreender se a modificação nas dimensões de porções não seria capaz de promover mudanças compensatórias de natureza fisiológica ou psicológi-ca no consumo alimentar27,28.

RECOMENDAÇÃO

O controle do tamanho de porções pode auxiliar na redução do consumo excessivo de alimentos e bebidas, sendo adjuvante no tratamento da obesidade na ausência de quais-quer fatores compensadores na ingestão calórica. Classe de recomendação IIb, Nível de evidência B.

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O café da manhã é uma das três principais refeições do dia, definido como a primeira re-feição da manhã1. Um sinônimo para a expressão “café da manhã” é a palavra desjejum, que vem do latim e significa o rompimento do jejum involuntário mantido durante o sono1.

O estilo de vida da sociedade contemporânea tem modificado os hábitos alimentares da população. Neste sentido, há evidências da diminuição do consumo de café da manhã como uma modificação importante no comportamento alimentar atual. O declínio no consumo de café da manhã está normalmente relacionado com mudanças no estilo de vida da população, tais como aumento do número de indivíduos que moram sozinhos e falta de tempo para rea-lizar as refeições2.

A relação entre café da manhã e gênero foi também evidenciada em diferentes pesquisas.

A omissão dessa refeição foi encontrada principalmente em adolescentes do sexo feminino.

Entre as razões para esse achado, destaca-se a preocupação com a imagem corporal e com o peso, situação em que a prática de omitir refeições é muito comum3.

Um fator que parece influenciar o peso corporal é o consumo regular do café da manhã4. A associação em pular o café da manhã com o aumento da gordura corporal e obesidade está presente em muitas culturas4.

Têm sido identificados vários fatores associados com a obesidade, que podem confundir os resultados (como hábitos de sono e ritmo circadiano), influenciar o peso corporal e expli-car as associações entre o café da manhã e a obesidade. Muitos estudos falham em mensurar a duração do sono e a influência do ritmo circadiano no peso corporal4.

Ritmos circadianos são orientados por um relógio mestre localizado no núcleo supra-quiasmático, que é sincronizado pelo ciclo claro-escuro diário5. O núcleo supraquiasmático

CAPÍTULO 5.4

CAFÉ DA MANHÃ