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1 COOPERAÇÃO JURÍDICA E JUDICIÁRIA INTERNACIONAL 1.1 Cooperação jurídica e Cooperação judiciária. Definições e distinções

No documento 1 2 1 2 (páginas 83-86)

24 STRENGER, Irineu, Op.cit., p.121

1 COOPERAÇÃO JURÍDICA E JUDICIÁRIA INTERNACIONAL 1.1 Cooperação jurídica e Cooperação judiciária. Definições e distinções

Qualquer forma de colaboração entre Estados, para a consecução de um objetivo comum, que tenha reflexos jurídicos, denomina-se cooperação jurídica internacional2. Cooperação jurídica internacional é a interação entre os Estados com o objetivo de dar eficácia extraterritorial a medidas processuais provenientes de outro Estado; pode se basear em tratado ou em pedido de reciprocidade. 3

1 GRINOVER, Ada Pellegrini. As garantias processuais na cooperação internacional em matéria penal. 2 TOFFOLI e CESTARI in Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos, pg.23 3 ARAÚJO in Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos, pg. 41

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A cooperação internacional é essencial à medida que, ao proporcionar o estreitamento das relações entre os países, por meio da intensificação da assinatura de tratados, convenções e protocolos fundamentados no auxílio mútuo, facilita o intercâmbio de soluções para problemas estatais quando o aparato judicial, administrativo de um determinado Estado mostra-se insuficiente para solucionar a controvérsia, necessitando recorrer ao auxílio que lhe possam prestar outras nações.

No Brasil, a política externa se desenvolve norteada pelo princípio constitucional positivado no art. 4, inciso IX de sua Carta Magna, a qual estabelece, para as suas relações internacionais, a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.

Para conceituar cooperação jurídica internacional, transcrevo as seguintes definições de Villareal Corrales e Cervini: ―A cooperação jurídica internacional pode ser considerada como um intercâmbio entre Estados soberanos, destinando-se à segurança e à estabilidade das relações transnacionais. Tem por premissas fundamentais o respeito à soberania dos Estados e a não-impunidade dos delitos‖4. Para Cervini,

―É um conjunto de atividades processuais, regulares, concretas e de diverso nível, cumpridas por órgãos jurisdicionais competentes em matéria penal, pertencentes a distintos Estados soberanos, que convergem em nível internacional, na realização de um mesmo fim, que não é senão o desenvolvimento de um processo da mesma natureza dentro de um estrito marco de garantias, conforme o diverso grau e projeção intrínseco do auxílio requerido‖5.

Necessário, todavia, salientar que alguns doutrinadores fazem distinção entre a cooperação jurídica e a jurisdicional. Esta ocorreria quando um ato de natureza jurisdicional é reclamado do Estado cooperante, ao passo que naquela a cooperação demandada não envolveria necessariamente a intervenção do Poder Judiciário, requerendo somente atividade administrativa,6 podendo inclusive ser denominada simplesmente, de cooperação administrativa.

Na lição de Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, ―a preferência pela expressão cooperação jurídica internacional decorre da idéia de que a efetividade da jurisdição, nacional ou estrangeira, pode depender do intercâmbio não apenas entre órgãos judiciais, mas também entre órgão judiciais e administrativos, de Estados distintos.‖7

A cooperação jurídica internacional significa, em sentido amplo, o intercâmbio para o cumprimento extraterritorial de medidas processuais do Poder Judiciário de um outro Estado. Ela se classifica em ativa e passiva – a depender da posição que o país pátrio ocupa, de requerente ou requerido - bem como direta e indireta – a depender da exigência jurisprudencial de juízo de delibação anterior à prestação jurisdicional requerida.

Após conceituar cooperação jurídica internacional, como parte do objeto central deste artigo – instrumentos de cooperação jurídica internacional – passa-se agora aos esclarecimentos sobre a competência legal atribuída aos órgãos estatais encarregados da implementação da mesma, com intuito que melhor se entenda o trâmite político-jurídico de seus pedidos.

2 COMPETÊNCIA

4VILLAREAL CORRALES, Lucinda. La globalización y la cooperación internacional em materia penal, 2005, p. 31-56 in RBCCRIM 71 – 2008, P. 300

5CERVINI, Raúl. Das garantias do concernido na cooperação judicial penal internacional, 2001, p. 441-457 in artigo de Carolina Yumi de Souza, RBCCRIM 71-2008, P.301

6 TOFFOLI e CESTARI in Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos, pg.24 7SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. O direito internacional contemporâneo- estudos em homenagem ao professor Jacob Dollinger, Rio de Janeiro, 2006, p.798

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2.1 Autoridade Central e órgãos estatais envolvidos na cooperação jurídica internacional

A cooperação jurídica internacional é centralizada em um órgão administrativo, a chamada Autoridade Central. Os tratados é que estabelecem as autoridades centrais de cada país que ficam responsáveis pelo andamento e concordância dos pedidos de cooperação, nas diversas modalidades que apresenta. De acordo com o Decreto 4.991, de 18 de fevereiro de 2004, ficou designado para exercer o papel de Autoridade Central em cooperação jurídica internacional no Brasil, a Secretaria Nacional de Justiça, por meio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça8.

O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Secretaria de Estado das Relações Exteriores e de seus órgãos no exterior, exerce papel de relevância na formulação da política externa referente à cooperação jurídica e na tramitação dos pedidos de cooperação que seguem pelos canais diplomáticos9.

A Advocacia-Geral da União e o Ministério Público, por sua vez, são imprescindíveis para o exercício da representação judicial quando é necessário obter uma decisão judicial10.

Além desses, órgãos como Polícia Federal, Receita Federal e Controladoria-Geral da União atuam de modo relevante, dentro de suas esferas de atribuição, para que a cooperação jurídica desenvolvida pelo Brasil seja desempenhada com sucesso11.

A decisão de cooperar com um Estado estrangeiro, insere-se no contexto das relações internacionais que devem ser mantidas pelo Presidente da República; portanto, os pedidos de auxílio, bem como as rogatórias, são encaminhados por via diplomática ou por meio de Autoridade Central prevista em tratado.

Além da robusta participação do Poder Executivo que acabamos de verificar, observa-se que o processo para prestação de cooperação jurídica envolve, em muitos casos, a participação conjunta do Poder Executivo e do Poder Judiciário. A próxima seção trata da atribuição conferida ao Superior Tribunal de Justiça para o juízo de delibação, também da competência para a prestação do auxílio direto atribuída aos juízes federais de primeira instância.

2.2 - Superior Tribunal de Justiça e juízes de primeira instância

Os meios de cooperação jurídica, na modalidade judiciária, que dependem por isso do Poder Judiciário são, na atualidade, desde a entrada em vigor da EC n. 45/04, de competência do STJ. Tal corte exerce somente o juízo de delibação, tanto na Carta Rogatória como na Homologação de Sentença Estrangeira. Há também o instituto do Auxílio Direto, que permite cognição plena, mas cuja competência é atribuída ao juiz de primeira instância.

Na Resolução no 9, de 4/05/2005, a Presidência do Superior Tribunal de Justiça esclareceu, no parágrafo único do artigo 7, que os pedidos de cooperação judiciária stricto sensu não serão cumpridos pelo Superior Tribunal de Justiça, devendo ser levados, quando impliquem a necessária intervenção do Poder Judiciário, ao conhecimento do primeiro grau de jurisdição.

8 Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos, MJ- 2008. 9 Idem, pg.15

10 Idem, pg.16

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Sobre carta rogatória, homologação de sentença estrangeira e auxílio direto versarão seções específicas no capítulo seguinte deste artigo, onde serão abordados cada um dos instrumentos de cooperação jurídica internacional contemporizados pela legislação pertinente à problemática da cooperação internacional em matéria penal.

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