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Capítulo IV — Discussão — Estudo 1

4.1 Crenças dos pais sobre a aprendizagem da leitura e escrita, práticas e ambiente de

Inicialmente, tendo em vista o nosso primeiro objetivo que propõe caracterizar as práticas, ambientes e crenças (sobre o papel e aprendizagem da leitura e escrita) dos pais — relativamente à literacia emergente, as variáveis trazidas neste estudo parecem ser relevantes para uma melhor perceção da literacia familiar.

De acordo com diversos outros estudos realizados (e.g., Mata, 2002; Mata & Pacheco, 2009; Pacheco, 2012; Pacheco e Mata, 2013a, 2013b), existe uma grande diversidade de práticas desenvolvidas pelos pais que podem ser consideradas fundamentais, na medida em que irão colaborar para as aprendizagens e desenvolvimento da criança. Nossa investigação analisou três tipos de práticas desenvolvidas pelos pais: Práticas de treino, Práticas de entretenimento e Práticas do dia-a-dia, tendo como base o trabalho de Pacheco e Mata (2013).

Os estudos anteriores que investigaram as práticas parentais de literacia, tendo como amostra famílias de crianças em idade pré-escolar, indicaram que as Práticas mais frequentes são as de Treino, e as Práticas de dia-a-dia revelaram-se as menos frequentes (e.g., Fernandes, 2007; Lourenço, 2007; Mata, 2002; Mata &Pacheco, 2009; Pacheco, 2012; Pacheco e Mata, 2013a, 2013b). O resultado do nosso estudo encontra-se em conformidade com os resultados dos estudos citados, revelando igualmente o predomínio de Práticas de treino, seguidas pelas de Entretenimento — e, por último, as Práticas do

dia-a-dia.

Para a caracterização dos ambientes de literacia familiar, utilizamos o instrumento baseado nos estudos de Mata (2002, 2006) e Pacheco (2012), considerando que o instrumento referido muito contribuiu para a recolha de dados, através de vários itens relativos a tempo de leitura e escrita, aos materiais e a sua acessibilidade.

O indicador de literacia familiar mais evidenciado pelos pais em vários estudos (e.g., Hood et al., 2008; Pacheco,2012; Sénéchal, 2006a; Sénéchal & LeFevre, 2002), foi leitura de histórias. A frequência de leitura de histórias, no estudo de Sénéchal (2006a), mostra que os pais leem histórias aos seus filhos, em média, sete vezes por semana — e, em outro estudo (Hood et al., 2008), os pais afirmam ler ao menos uma vez por semana.

Um ambiente que proporciona o contato com uma grande quantidade de livros tem sido considerado um fator importante na motivação e envolvimento das crianças (Aikens & Barbarian, 2008; Li & Rao, 2000). Neste contexto, os inquiridos deste estudo afirmaram que iniciam as práticas de leitura de histórias antes do primeiro ano de vida, sendo que a maioria destina a esta atividade um tempo semanal com mais de 1 hora e que mais de metade dos pais leem para seus filhos todos os dias. O número de livros infantis mais citado pelos pais da amostra é em média entre 26 a 50 (34.3%) e, seguidamente, com significativa proximidade, uma média entre 51 a 100 livros (32.2%). Quanto a acessibilidade aos livros, 96.2 % das crianças tem acesso livre, assumindo um valor social, cultural e pedagógico imensurável.

Relativamente às práticas de escrita, os pais afirmaram que iniciaram práticas junto aos seus filhos(as) aos 3 anos (37.2 %), seguindo-se a indicação da idade de 2 anos (30.3%). O tempo de escrita com e para os filhos tem referências entre 15 a 30 minutos semanais (28.4%), seguidamente da frequência de menos de 15 minutos (27.4%).

Em análise dos materiais, 90.4% dos pais afirmaram ter computador em casa, porém somente 2.1% das crianças o usam para atividades de escrita com muita frequência. Todos os pais também afirmaram ter em casa canetas, lápis e papeis e que as crianças podem ir buscá-los sozinha. De forma unânime, os pais também afirmaram ter livros para crianças em casa. Em comparação aos dados vinculados à leitura, percebe-se que a escrita acontece mais tardiamente. Para Mata (2002; 2006) as práticas de leitura, mais do que a escrita, parecem ser muito mais valorizadas e consideradas pelos pais como importante para desenvolver os conhecimentos de literacia, assumindo relevância nas

atividades de literacia familiar.

Lopes (2015) em seu estudo afirma que as crianças utilizam o computador com maior frequência para jogos e vídeos, sendo que a escrita é a atividade menos realizada. Os nossos resultados parecem ir ao encontro deste dado, uma vez que a utilização do computador com frequência para a escrita, pelas crianças, é bastante baixa.

Mata (2002) faz um contraponto aos nossos dados, realçando o contato precoce das crianças com o computador, usando-o com autonomia e conhecendo sua finalidade no seu uso, tendo neste aspeto o presente estudo apresentado valores menores — no tocante a utilização com intenção de escrever — do que o apontado no estudo de Mata (2002).

Por fim, trazemos a variável das Crenças de Pais, em dois aspetos: crenças sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita e a importância do seu papel.

No primeiro aspeto, abordamos as crenças dos pais sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Mata e Pacheco (2013) e Pacheco (2012), quanto a este aspeto, abordam três dimensões de crenças: holística «abordagem funcional e lúdica» (e.g., é importante que a criança tenha contacto com diferentes tipos de escrita como revistas, livros, publicidades, cartas), tecnicista-prática (e.g., as crianças precisam de saber as letras do alfabeto e seus respectivos sons antes do início da escrita) e tecnicista- escola (e.g., as crianças só estão preparadas para aprender a ler e escrever quando entram na escola do 1o ciclo). Tiveram como resultante dos seus estudos, pais valorizando ideias mais holísticas sobre a aprendizagem da leitura e escrita, sendo que as ideias menos valorizadas foram as de dimensão tecnicista prática. Vilhena (2014) apresentou uma amostra onde a maior parte dos pais também tinham crenças mais holísticas. Lopes (2015) constatou também que a dimensão mais valorizada pelos pais foi a holística «Afetiva/Motivacional». Em nossa investigação, podemos afirmar que os resultados são congruentes com os obtidos nestes estudos, pois os nossos inquiridos mostraram-se, predominantemente, com ideias holísticas sobre a aprendizagem de leitura e escrita dos seus filhos em idade pré-escolar.

Relativamente às crenças dos pais acerca do seu papel no processo de aprendizagem da leitura e escrita, as autoras Mata e Pacheco (2013) caracterizam três tipos distintos: Papel-Práticas Holísticas, Papel-Práticas Leitura de Histórias e Papel- Práticas Ensino «tecnicista». Naquele estudo, ocorreu o registo de predominância do

Papel-Leitura de Histórias, sendo que o segundo tipo mais valorizado foi o de Papel- Práticas Holísticas e, por último, o Papel-Práticas Ensino. Na pesquisa de Lopes (2015) prevaleceu o Papel-Práticas-Leitura de História, porém em Vilhena (2014) foi percebido que os pais valorizaram mais o Papel-Práticas Ensino. Em nossa investigação tivemos resultados que vão ao encontro dos estudos de Mata e Pacheco (2013) e de Lopes (2015), já citados, — ou seja, o nosso grupo de pais valoriza mais o Papel-Práticas-Leitura de História.

Em suma, os pais inquiridos apresentaram os seguintes resultados: sobre as crenças mostram-se mais holísticos; quanto à importância do seu papel nas aprendizagens de leitura e escrita de seus filhos, valorizaram o Papel-Leitura de História; e, quanto às práticas, a de maior representatividade foi a Prática de Treino. Quanto aos ambientes descritos pelos pais, estes atendem a diversidade, quantidade e acessibilidade daquilo que se faz necessário para um ambiente que estimule o desenvolvimento da literacia emergente. Tais resultados, atendendo a que os pais têm crenças predominantemente holísticas, vão ao encontro da hipótese operacional 5 em que afirmamos: “Os pais com crenças com predominância holística oferecem um ambiente de literacia familiar diversificado”. No entanto, esta hipótese não pode ser verdadeiramente testada dado que não existe um número suficiente de sujeitos com crenças predominantemente tecnicistas para poder fazer comparações.

Lynch et al. (2006) mostra o facto de que as práticas de entretenimento e dia-a- dia se associam às crenças «mais holísticas», tal como as práticas de treino «tecnicista» podem indicar que os pais visam preparar os seus filhos para a entrada na escola e o sucesso académico, buscando o uso de estratégias de aprendizagem formais.

No aspeto relativo ao ambiente de literacia familiar no presente estudo, os pais predominantemente com crenças holísticas, proporcionam uma quantidade interessante de livros — maioritariamente entre 26 a 100 —, e os seus filhos na grande maioria tem livre acesso a estes exemplares, tal como também a canetas, lápis e papel. Grande parte desses inquiridos afirmam ter computador em suas casas, ainda que a sua utilização seja pouca como instrumento de desenvolvimento de competências e estratégias de escrita.

Ao buscarmos saber se existe uma relação entre crenças dos pais sobre o aprender a ler e escrever dos filhos e as práticas e ambientes de literacia na família, verificámos que nas crenças de dimensão holística observamos correlações com as Práticas-Leitura

História, tal como também com as Práticas do dia-a-dia. As relações com as práticas de treino e entretenimento apresentaram-se moderadas.

Quanto à hipótese operacional 1 “Os pais com predominância nas crenças holísticas sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita apresentam correlações significativas dessas crenças com práticas de literacia familiar de entretenimento”, as correlações apresentam-se com magnitude moderada em relação as práticas de entretenimento.

Relativamente à hipótese operacional 2, em que afirmamos: “Os pais com predominância nas crenças tecnicistas sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita apresentam correlações significativas dessas crenças com práticas de literacia familiar de treino”, verificou-se a existência de correlações, apesar de as associações terem menor representatividade entre as variáveis.

Na hipótese operacional 3 afirma-se: “Os pais com crenças holísticas sobre a importância do seu papel na aprendizagem da leitura e da escrita dos filhos apresentam correlações dessas crenças com o Papel-práticas holísticas”. Com base nos dados analisados estatisticamente percebemos que no caso dos pais com crenças holísticas obtiveram-se correlações significativas e de magnitude elevada.

A hipótese operacional 4 definiu a seguinte afirmação: “Pais possuidores de crenças com predominância tecnicista sobre a importância do seu papel na aprendizagem da leitura e escrita dos filhos apresentam correlações dessas crenças com o papel tecnicista”. Relativamente a esta afirmação foi identificada a correlação negativa baixa com o papel tecnicista.

4.2 As práticas, ambientes, crenças e a importância do papel dos pais em