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CRIAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO, INDÚSTRIA E COMERCIO

4. A REFORMA ADMINISTRATIVA

4.1 CRIAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO, INDÚSTRIA E COMERCIO

Interpretado como o Ministério da Revolução, o MTIC foi idealizado como órgão de superintendência das questões relativas ao trabalho, tendo ampliadas suas funções, acrescentando-lhe matérias administrativas relativas à produção e à circulação de riquezas, concebendo-se a interdependência dos problemas do trabalho com os da indústria e do comércio.

Sua estrutura compreendia a Secretaria de Estado121 (Gabinete do Ministro, Diretoria-geral do Expediente e Contabilidade122 e Portaria), além de cinco departamentos:

1. do Trabalho (organização, higiene, segurança e inspeção do trabalho; previdência social, patrocínio operário e atuarial)123;

2. da Indústria (padronização dos produtos, marcas de indústrias e do comércio e privilégios de invenção)124;

3. do Comércio (coordenação das atividades oficiais e iniciativas particulares destinadas a promover, regular e defender os interesses comerciais no país e no exterior)125;

4. do Povoamento (imigração126 e colocação de trabalhadores, colonização, terras

públicas, arquivos e informações e proteção aos índios)127 e;

121 Em 12 de maio de 1931, foi aprovado o regulamento da Secretaria de Estado pelo Decreto 19.975. 122 Que posteriormente foi desdobrada em duas diretorias: Diretoria-geral de Expediente e Diretoria-

geral de Contabilidade pelo Decreto 21.515, de 13 de junho de 1932. Em 8 de dezembro de 1933, o Decreto 23.567 tratou apenas do Gabinete do Ministro, Diretoria-geral de Expediente e Diretoria-geral de Contabilidade.

123 Decreto 19.671-A, de 4 de fevereiro de 1931. 124 Decreto 19.668, de 4 de fevereiro de 1931. 125 Decreto 19.671, de 4 de fevereiro de 1931.

126 De acordo com o decreto 24.215 de 9 de maio de 1934, era considerado imigrante todo

estrangeiro que, vindo ao Brasil com intuito de permanecer no país por mais de trinta dias, exercesse atividade laboral lícita e lucrativa. Era vedada a introdução de imigrantes: 1. aleijados ou mutilados, exceto se mantida sua capacidade de trabalho em pelo menos 80%; 2. cegos ou surdo-mudos; 3. com doenças mentais; 4. atacados de enfermidade incurável ou contagiosa grave, como lepra, tuberculose, doenças venéreas, etc.; 5. toxicômacos; 6. que apresentassem lesão orgânica com

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5. de Estatística (estatística territorial, demográfica, econômica, financeira e social)128.

Vinculou-se a ele o Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos Civis da União, vindo do Ministério da Fazenda. Foi mantido o Conselho Nacional do Trabalho, vindo do antigo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, e foram extintos o Conselho Superior de Comércio e Indústria, a Diretoria de Estatística Comercial, o Instituto de Expansão Comercial, a Diretoria-geral de Estatística, a Diretoria do Serviço de Proteção aos Índios, a Diretoria-geral de Indústria e Comércio, o Serviço de Informações, a Diretoria-geral do Serviço de Povoamento, o Serviço Econômico e Comercial e a Diretoria-geral de Propriedade Industrial129. Foram transferidas ao Departamento Nacional do Trabalho atribuições e encargos relativos à concessão de férias aos empregados e operários130. Ficou sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho a fiscalização das empresas que explorassem a indústria da borracha131.

Em 1932, foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação e Julgamento para obtenção, por acordo, da solução de conflitos e as Juntas de Conciliação e Julgamento para dirimir os dissídios individuais132. A convenção coletiva de trabalho

insuficiência funcional; 7. menores de 18 (dezoito) anos e maiores de 60 (sessenta); 8. ciganos ou nômadas; 9. os que não provassem o exercício de profissão lícita ou a posse de bens suficientes para manter-se; 10. os analfabetos; l) aqueles que explorassem ou se entregassem à prostituição ou tivessem costumes imorais; m) aqueles que apresentassem conduta nociva à ordem pública ou à segurança nacional; n) aqueles já anteriormente expulsos do Brasil, exceto de o ato de expulsão tivesse sido revogado; o) os condenados em outro país por ilícito cuja natureza determinasse a sua extradição, conforme a lei brasileira.

127 Decreto 19.670, de 4 de fevereiro de 1931, posteriormente modificado pelo Decreto 22.992-A, de

26 de julho de 1933.

128 Decreto 19.669, de 4 de fevereiro de 1931. A criação desse departamento indicou o início de uma

tendência centralizadora nos domínios da estatística federal. Segundo o art. 3º, do Decreto nº 19.670, também de 4 de fevereiro, era sua atribuição “coligir todos os elementos e informes estatísticos de outras repartições congêneres, federais, estaduais e municipais, de modo que se facilite a publicação de anuários que compendiem todas as informações de interesse geral do país”, bem como a direção das operações do recenseamento geral da população, da agricultura e das indústrias e a publicação dos resultados obtidos.

129 Decreto 19.667, de 4 de fevereiro de 1931. 130 Decreto 19.686, de 11 de fevereiro de 1931. 131 Decreto 20.066, de 2 de junho de 1931.

132 Decretos 21.396, de 12 de maio de 1932, e 22.132, de 25 de novembro de 1932 (alterado pelo

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foi instituída pelo Decreto 21.761, de 23 de agosto de 1932133. A ação do Ministério foi estendida aos Estados mediante a criação das Inspetorias Regionais134.

O constituinte Abelardo Marinho de Albuquerque e Andrade, em justificação da emenda 1.516, demonstrou a necessidade da instituição da Justiça do Trabalho, no sentido de aprimoramento da iniciativa do Governo Provisório:

São tantas e tão variadas às feições que podem assumir os conflitos entre as forças da produção, tamanhos podem ser os desentendimentos entre o capital e o trabalho, entre os que prestam e os que recebem serviço; tão intensa é a sede de justiça experimentada, em muitos dos seus setores, pelas massas operárias da capital e do interior do País, que tudo isso vem estar a exigir uma organização judiciária permanente que, diante dos textos das nossas leis, dos princípios da nossa legislação social, resolva de modo rápido, num largo ambiente de serenidade, fora da influência do arbítrio, os casos trazidos à sua apreciação e julgamento. Completar-se-á, assim, com a instituição permanente da Justiça do Trabalho, o muito que já tem feito o Governo Provisório, através do Ministério do Trabalho, no sentido da ordem e da harmonia entre as forças produtoras (CASTRO, 1935, pp. 470 e 471).

A Constituição Federal de 1934, no art. 122, instituiu a Justiça do Trabalho para dirimir questões entre empregadores e empregados, estabelecendo, no seu parágrafo único, a sua constituição, em observância à forma determinada em decreto presidencial que a precedeu:

A constituição dos Tribunais do Trabalho e das Comissões de Conciliação obedecerá sempre ao princípio da eleição de seus membros, metade pelas associações representativas dos empregados, e metade pelas dos empregadores, sendo o presidente

133 Este decreto declarou: “Entende-se por convenção coletiva de trabalho o ajuste relativo às

condições de trabalho, concluído entre um ou vários empregadores e seus empregados, ou entre sindicatos ou qualquer outro agrupamento de empregadores e sindicatos, ou qualquer outro agrupamento de empregados”.

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de livre nomeação do Governo, escolhido dentre pessoas de experiência e notória capacidade moral e intelectual.

Pelo Decreto 24.784, de 14 de julho de 1934, foi extinto o Departamento Nacional de Estatística e criou-se o Departamento de Estatística e Publicidade. Serviços a cargo deste Ministério foram transferidos para o da Fazenda, assim como para o da Justiça e Negócios Interiores. Para o Ministério da Agricultura transferiu-se o Serviço de Estatística Territorial135. O Departamento Nacional de Indústria e Comércio foi reorganizado136. Criou-se o Conselho de Recursos da Propriedade Industrial137 e, no Departamento Nacional do Povoamento, o Serviço de Identificação de Imigrantes138.

O Serviço de Proteção aos Índios foi transferido do Departamento Nacional do Povoamento para o Ministério da Guerra139.

A composição de interesses na área de atuação deste ministério envolvia atores políticos diversos dos usuários do MESP. A disputa política e a composição de interesses neste setor consagraram um modelo de política pública que favoreceu aqueles inseridos no mercado de trabalho e os agentes desse processo de acumulação, definindo-os como os legítimos destinatários das políticas sociais constituídas no MTIC140:

Aos representantes do setor industrial não interessava assumir uma posição radical contra as crescentes reivindicações dos setores trabalhistas, o que favoreceu a modelagem do sistema de proteção social via sistema corporativo. Tal sistema, que pouco a pouco se desenhava, era resultado da relação tripartida entre Estado, trabalhadores e burguesia industrial. Assim, estruturou-se a política social brasileira, ancorada sobre princípios corporativos que garantiam benefícios aos trabalhadores, mas que permitiam também o controle 135 Decreto 24.600, de 6 de julho de 1934. 136 Decreto 24.635, de 10 de julho de 1934. 137 Decreto 24.670, de 11 de julho de 1934. 138 Decreto 24.695, de 12 de julho de 1934. 139 Decreto 24.700, de 12 de julho de 1934.

140 O reconhecimento da cidadania operou-se na área urbana e industrial, via mercado de trabalho.

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do Estado sobre o movimento sindical, atendendo igualmente aos interesses dos industriais (FONSECA, 2007, p. 37).

Os serviços estruturados nos organismos vinculados ao MTIC destinavam-se

à prestação médica individual, através da categoria profissional.

Até a criação do MTIC, o sistema previdenciário resumia-se às Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), criadas em 1923, pela Lei Eloy Chaves, organizadas por empresas, sendo a assistência médica atribuição obrigatória.

Pelo Decreto 20.465, de 1º de outubro de 1931141, foi reformada a legislação referente às CAPs, condicionando a prestação de serviços médicos às disponibilidades financeiras das instituições previdenciárias.

O Governo Provisório criou um novo modelo de instituição previdenciária, os IAPs (Institutos de Aposentadoria e Pensões), organizados por categorias profissionais em âmbito nacional. O primeiro instituto foi o dos marítimos (IAPM), em 1933, seguido pelo dos bancários (IAPB), dos comerciários (IAPC) e industriários (IAPI).

Os IAPs administraram a prestação de serviços de saúde (que incluía a assistência médica, cirúrgica e hospitalar) de forma restrita, não sendo esta a atribuição primordial da instituição previdenciária.

Apesar das restrições iniciais, a área previdenciária142 foi fortalecendo seu papel nas ações de medicina clínica.

141 Além dos benefícios declarados neste artigo, terão as Caixas serviços médicos, hospitalares e

farmacêuticos enquanto não houver legislação especial relativa a essas formas de assistência social, mas não poderão despender com esses serviços mais de 8% da sua receita anual total, apurada no exercício anterior e sujeita a respectiva verba à aprovação do Conselho Nacional do Trabalho.

142 Na área previdenciária há, desde o início, uma relação tripartida entre estado, trabalhadores e

empregadores na definição de políticas para o setor. Na saúde pública foi diferente: foi ela engendrada de forma unilateral, partindo diretamente de iniciativas governamentais; não resultaram de negociações políticas, nem de demandas entre uma clientela específica e o Estado. Cf. FONSECA, Cristina M. Oliveira, op. cit.

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