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Bruna Fernanda Ferreira Fernandes38

Fabíola Mônica da Silva Gonçalves39 Em novembro de 2015 o governo brasileiro decretou Emergência em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) por conta do aumento da ocorrência de microcefalias no país. Posteriormente, identificou-se a relação deste aumento com a vírus Zika, reconhecendo o padrão nos bebês nascidos de mães que foram infectadas pelo vírus durante a gestação. Adiante, constatou-se se tratar de uma síndrome congênita com sinais e sintomas como: desproporção craniofacial; espasticidade; convulsões; irritabilidade, entre outros, denominada como Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZv). Para além das questões de saúde pública que se inserem, também somou-se esforços para garantir a inclusão dessa criança nas redes de ensino, uma vez que o direito à aprendizagem, e por conseguinte, à educação, é universal e democrático, de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015). Diante dessa problemática, estamos realizando uma pesquisa longitudinal que direciona a atenção para as questões sociais da inclusão da criança com SCZv³. Através dos Estudos de Casos Múltiplos de cunho qualitativo em creches do município de Campina Grande/PB buscamos conhecer como está sendo construído este espaço de desenvolvimento e aprendizagem para essa criança. Destaca-se ainda

38 Aluna do curso de Psicologia, Departamento de Psicologia (UEPB), Campina Grande, PB. E-mail: fernandes.brunaff@gmail.com

39 Professora do Departamento de Educação (UEPB), professora Permanente do Programa de Pós-Graduação Profissional em Formação de Professores (UEPB), Campina Grande, PB. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFPE), Recife, PE. E-mail: francesfabiola@gmail.com

3. Apoio financeiro do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa (PROPESQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

que a discussão que aqui se segue tem por perspectiva epistemológica os autores Vygotski e Paulo Freire. Frente a isso, este trabalho discute como uma educação autônoma e libertadora pode garantir os direitos de aprendizagem da criança com SCZv. Como foi citado anteriormente, as crianças com essa síndrome possuem características que podem acarretar em dificuldades no processo de escolarização, necessitando de condutas especializadas para que sejam devidamente incluídas no sistema de ensino (GONÇALVES; FERNANDES, 2019). Vygotski (1929/1997) propõe a tese de que uma criança com deficiência não é uma criança menos desenvolvida, mas que se desenvolve de outro modo. O autor vê o desenvolvimento como um caminho sinuoso, que produz uma dinâmica conflituosa, com rupturas, saltos e com possibilidades de construção de caminhos indiretos; com ênfase na cultura dado que “o desenvolvimento cultural é o principal meio de compensar a deficiência.” (VYGOTSKI, 1929/1997, p. 173). Por conta disso, a educação é uma ponte essencial para o desenvolvimento cultural, auxiliando na construção de um sistema de signos e significados que se adaptam a condição psicofisiológica da criança com deficiência. Freire (1982) vai destacar, por exemplo, que uma concepção bancária de educação apassiva o sujeito e de modo a adequá-lo ao mundo, fatalizando-o; tirando do mesmo as possibilidades de criação e recriação de sua realidade. Portanto, uma educação problematizadora, tal qual propõe o autor, deve se comprometer com a transformação: “O fatalismo cede, então, seu lugar ao ímpeto de transformação e de busca, de que os homens se sentem sujeitos” (FREIRE, 1982, p. 48). Desse modo, à medida que se entende que a educação tem esse papel primordial, entende-se também que a escola não é um mero veículo para a adaptação da pessoa com deficiência à sociedade. Para se garantir os direitos da aprendizagem não basta olharmos para a conquistas federativas da legislação brasileira como exemplos de regimentos que asseguram o direito da criança com deficiência a uma educação de qualidade, é preciso pensar e criar uma educação emancipatória e crítica que fomente possibilidades de aquisição do conhecimento, que vão promover a aprendizagem e desenvolvimento das pessoas com

deficiência. Para tanto, voltamos a Freire (1989) e enfatizamos que o sujeito precisa se apropriar das dinâmicas produzidas culturalmente, uma vez que se é um ser de relações e não apenas de contatos; faz-se necessária a sua relação com os fenômenos do mundo, ou seja, é preciso “estar com o mundo” (FREIRE, 1989, p. 39). Dito isso, o educador mostra-se como sujeito essencial nesse processo de mediação que requer a rejeição de qualquer forma de discriminação, que fere não só o sujeito em si como também a conjuntura social, familiar e democrática, como salienta Freire (1996). Neste ponto torna-se ainda mais importante quando pensamos que muitas famílias das crianças com SCZv são mães pobres, jovens e pouco escolarizadas (DINIZ, 2016). Em suma, essa concepção de educação libertadora pavimenta caminhos para pensarmos a inclusão da criança com a SCZv. Nas nossas análises, constatamos que, apesar dos esforços para garantir a inserção dessa criança na rede pública de ensino, ainda não se conseguiu construir uma prática emancipatória que coloque a criança como agente do seu processo, para que ela própria nos mostre os caminhos indiretos do seu desenvolvimento. Ademais, nesse processo de uma educação libertadora, esta criança pode vir efetivamente a aprender sendo motivada sempre por mudanças possíveis, reafirmando o lugar da educação como uma forma de intervenção no mundo.

PALAVRAS-CHAVE: criança com SCZv, educação inclusiva,

direitos de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 28 nov. de 2019. DINIZ, D. Vírus Zika e mulheres. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 32, n. 5, mar./abri, 2016.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 1982.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

GONÇALVES, F. M. da S.; FERNANDES, B. F. F. O trabalho das professoras na educação infantil e a aprendizagem da criança com sczv. Revista Infad de Psicología. V. 3, n. 1, p.199-212, 2019. VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas – Tomo V: Fundamentos de defectología. Madrid: Visor, 1929/1997.

AS CONTRIBUIÇÕES DO EDUCADOR SOCIAL