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As curvas de triagem ou screening curves são uma ferramenta que permite comparar os custos de geração de energia elétrica de diferentes tipos de tecnologia. Essas curvas levam em consideração os custos xos, os custos variáveis e o Fator de Capacidade (FC) das usinas a serem comparadas (STOFT, 2002). O FC é obtido através da divisão da geração média durante o intervalo de tempo em questão pela potência total. O valor do FC pode variar entre zero e um. Entretanto, para uma usina ter FC de um, é necessário que ela tenha funcionado a plena carga cem por cento do tempo, o que é improvável, uma vez que são necessárias paradas para manutenção. A Figura 3.6 ilustra curvas de triagem comparando duas tecnologias diferentes para um período de um ano.

Legenda: CV- custo variável; CF- custo xo. Figura 3.6: Curvas de triagem

Fonte: Elaboração própria

Como é possível ver na Figura 3.6 as curvas de triagem relacionam os custos por ano e o fator de capacidade de cada tecnologia. O custo de cada tecnologia é composto por custo xo e custo variável. A parcela de custo xo é composta pelo custo de investimento anualizado e pelo custo xo de O&M anual. O custo xo de O&M é devido ao custo de geração a vazio, citado anteriormente.

Por sua vez, a parcela de custo variável é composta por aqueles custos que variam de acordo com o fator de capacidade da planta, são eles: custos anuais de com- bustível e de O&M variável. No caso da Figura 3.6 a tecnologia 1 seria a melhor escolha para um fator de capacidade de até x% e a tecnologia 2 seria a melhor escolha para um fator de capacidade entre x% e 100%, onde 0 6 x 6 100. O custo total da tecnologia 1 pode ser calculado pela seguinte equação:

CT1 = CF1+ CV1· h (3.1)

onde CT1 é o custo total em R$, CF1 é o custo xo em R$, CV1 é o custo unitário variável

em R$/kWh e h é o número de horas de utilização. O custo variável da tecnologia 1 é dado por:

CV1 = tgθ (3.2)

Para calcular o custo total da tecnologia 2, basta fazer o equivalente das equa- ções 3.1 e 3.2.

Fazendo uso das curvas de triagem juntamente com a CDC residual, é possível determinar qual tecnologia é a melhor opção para gerar em cada uma das faixas de valor de demanda. A Figura 3.7 ilustra como é feita a relação entre as curvas de triagem e a

curva de duração de carga.

Figura 3.7: Curvas de triagem e curva de duração de carga Fonte: Elaboração própria

Analisando a Figura 3.7, tem-se que a tecnologia 1 seria a melhor escolha para suprir a carga de pico, a tecnologia 2 para a carga intermediária e a tecnologia 3 para a carga de base. No capítulo 6 é feita uma análise de quais tecnologias de geração termelétrica a gás natural são a melhor escolha para cada faixa de demanda.

4 Teoria de Leilões

Este capítulo expõe os principais conceitos de teoria de leilões e explica de maneira mais detalhada os formatos de leilão mais utilizados. Diversos são os autores que apresentam o equacionamento de leilões, tais como Menezes e Monteiro (2005), Cramton, Shoham e Steinberg (2006), entre outros. Entretanto, este capítulo se baseia predominan- temente em Krishna (2010) pois o mesmo consegue ilustrar de maneira bastante didática o funcionamento destes leilões.

4.1 Introdução

De maneira resumida, um leilão pode ser denido como um mecanismo eciente utilizado na compra e venda de bens e serviços em mercados complexos, onde o preço é desconhecido ou difícil de ser encontrado (CORREIA; LANZOTTI; SILVA, 2003; SILVA, 2015). Os primeiros registros da realização de leilões datam de mais de dois mil anos atrás, e desde então este mecanismo tem sido utilizado para negociar inúmeros tipos de bens.

Leilões de bens como obras de arte ou objetos raros e até mesmo leilões online para venda das mais variadas categorias de produtos são amplamente conhecidos pelo público em geral. Este mecanismo também é amplamente utilizado no setor público. Dentre as principais utilizações dos leilões públicos estão a privatização e a concessão de uso de bens públicos.

Existem quatro tipos principais de leilões: os leilões abertos que podem ser ascendentes (inglês) ou descendentes (holandês) e os leilões fechados que podem ser de primeiro ou segundo preço (Vikrey) (KRISHNA, 2010). De acordo com o teorema da receita equivalente, independentemente do tipo do leilão, o rendimento esperado será igual em todos eles desde que os valores dos lances dos participantes sejam simétricos e estejam distribuídos de maneira independente, e que os participantes sejam neutros ao risco (SILVA, 2011).

Os leilões podem ainda ser classicados de acordo com sua natureza, podendo ser leilões simples ou duplos, conforme ilustra a Figura 4.1. Os leilões simples podem ser de demanda ou de oferta. No leilão de oferta, o leiloeiro pré-xa um valor de reserva, onde acima dele o bem não será adquirido, e o ganhador é aquele que vender ao menor preço. No leilão de demanda, o leiloeiro pré-xa um valor de reserva, onde abaixo dele o

bem não será vendido, e o ganhador é aquele que comprar ao maior preço.

Em leilões duplos, vendedores e compradores dão lances de venda e compra simultaneamente e a escolha do vencedor é feita de acordo com regras pré-estabelecidas. Em um leilão duplo vence o comprador que der o maior lance de demanda e o vendedor que der o menor lance de oferta, respeitando a condição que o lance do comprador deve obrigatoriamente ser superior ao lance do vendedor.

Figura 4.1: Leilão de oferta, demanda e duplo Fonte: Adaptado de (SILVA, 2011)

Há ainda a classicação pelo preço de fechamento que pode ser uniforme ou discriminatório (Figura 4.2). Nos leilões de preço uniforme, o valor pago por todos os participantes vencedores é o mesmo. O leilão de preço uniforme pode ser de primeiro preço ou de segundo preço. No leilão de primeiro preço, ganha o participante que deu o maior lance e o valor a ser pago é o lance do ganhador. Por outro lado, no leilão de segundo preço, ganha o participante que deu o maior lance, porém, o valor a ser pago é o segundo maior lance. Nos leilões de preço discriminatório, o valor pago por cada participante vencedor será o valor do seu lance.

Figura 4.2: Leilão uniforme e discriminatório Fonte: Elaboração própria

4.2 Conceitos Importantes

4.2.1 Preço de reserva

O preço de reserva de um leilão é um valor máximo, no caso dos leilões descen- dentes, ou mínimo, no caso dos leilões ascendentes, estipulado para a venda ou compra de um determinado bem ou serviço. O bem só será negociado se o lance respeitar este valor. O preço de reserva acaba possuindo o efeito de diminuir o índice de participação no leilão, porém isto pode resultar no aumento da receita do leilão através da cobrança da taxa de entrada, ou através do efeito que o preço de reserva tem sobre o comportamento dos lances dos participantes (MENEZES; MONTEIRO, 2005).

4.2.2 Maldição do ganhador

Anterior ao acontecimento do leilão, o participante tem conhecimento apenas do valor que ele acredita que um determinado bem vale, ou seja, a sua estimativa de preço independe do quanto este mesmo bem vale para os seus concorrentes. Quando o leilão é

encerrado, o ganhador passa a saber o valor que o bem tinha para os demais competidores, e isso pode resultar em o vencedor descobrir que superestimou o valor deste bem. Esta possibilidade do vencedor pagar por um bem mais do que ele vale é chamada de maldição do ganhador (KRISHNA, 2010).

Existem dois casos onde o ganhador sofre a "maldição". O primeiro é quando o bem vale menos que o valor pago por ele, ou seja, o ganhador perde dinheiro ao comprá- lo. O segundo caso é quando os ganhos nanceiros que o vencedor terá com a compra do bem é menor que o estimado por ele inicialmente (LACORTE, 2012). É importante ainda notar que a magnitude da maldição do ganhador aumenta a medida que o número de participantes de um leilão aumenta (KRISHNA, 2010).

4.2.3 Colusão

Colusão é quando um grupo de participantes de um leilão se alia de maneira estratégica para maximizar seus lucros e garantir que o bem leiloado será adquirido por um dos membros da aliança. Todos os formatos de leilão estão sujeitos a colusão (SILVA, 2015). Entretanto, de acordo com Krishna (2010) os leilões de segundo preço são mais propensos a este tipo de estratégia.

Segundo Krishna (2010), a existência de um aliança não afeta o valor a ser pago pelos competidores não participantes da aliança. Também, quanto maior for o número de participantes da aliança, maior será o seu ganho. De maneira que a aliança mais eciente seria uma onde todos os participantes do leilão estivessem participando.

Um método utilizado para garantir a eciência da colusão é o preauction knoc- kout. Este método consiste em conduzir uma espécie de leilão entre os membros da aliança onde os mesmos expõe os lances que pretendem submeter no leilão do bem que desejam obter. O preauction knockout é conduzido com as regras do leilão de segundo preço e quem vencê-lo ganha o direito de representar a aliança no leilão que irá ocorrer. Caso este representante vença o leilão, ele deve dividir com os demais membros da aliança a diferença entre o valor que ele teria pago se não houvesse a aliança e o valor que ele de fato pagou.