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A estimativa das necessidades habitacionais é feita tanto para avaliar a situação de países isoladamente, como para elaborar comparações internacionais. Entretanto, uma experiência comum na estimativa das necessidades habitacionais é o fato de que freqüentemente, as metodologias desenvolvidas se tornam obsoletas. A análise das causas dessa obsolescência tem revelado que a concepção estática dos critérios de definição das necessidades habitacionais e o uso de métodos inadequados são as principais causas para tal fenômeno. À medida que a situação econômica do País melhora, características novas e imprevisíveis ganham importância relativa na estimativa do déficit. A essência da mudança é a transição de uma fase quantitativa do fenômeno para uma fase qualitativa e de estimação mais complexa. A maioria dos países europeus incrementou consideravelmente os métodos de estimação das necessidades habitacionais na década de 1960. Como comparação entre os métodos usados na estimativa do déficit nos países europeus, as diferenças mais marcantes entre o déficit eram relativas a: (1) critérios de densidade domiciliar; (2) proporção de diferentes categorias de domicílios e famílias secundárias; (3) o número de indivíduos vivendo em edifícios que não correspondiam ao conceito tradicional de residência; e (4) a grande variação no total de imóveis desocupados (UNITED NATIONS, 1973)

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SAIZ-SANCHEZ et al (1999); CLAYTON, SCHIFFLERS (1987) HOBCRAF, MENKEN, PRESTON (1982); WILCOX AJ, SKJAERVEN R e IRGENS LM (1994); dentre outros.

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OSMOND (1985); RIOS-NETO e OLIVEIRA (1999); BRAY, BRENNA, BOFFETTA (2001); dentre outros exemplos.

No Brasil e na América Latina, o desenvolvimento dos métodos de estimação do que se convencionou chamar de déficit habitacional ainda busca consenso na comunidade científica. Entretanto, é notório que a qualidade das moradias é uma questão que reflete grande parte da desigualdade social da América Latina e que as necessidades habitacionais são óbvias e inquestionáveis para moradores de rua e para os domicílios improvisados17. No Brasil, o maior problema relaciona-se com ocupação desordenada do solo urbano e com a ocupação precária em áreas sem infra-estrutura adequada. Em outros casos, outros imóveis podem necessitar de investimentos em melhorias e reparação mesmo estando localizados em áreas centrais das cidades, com excelente infra-estrutura urbana (ALVES, 2004).

Para tentar solucionar esses problemas, diversas metodologias foram propostas para a estimativa do déficit habitacional, dependendo do tipo de utilização dos dados a serem gerados e da base de dados disponível. Apesar de os censos demográficos não serem exclusivamente desenhados para estimativas de necessidades habitacionais, eles são úteis na quantificação do total de moradias inadequadas e têm sido aperfeiçoados na forma de investigação sobre os arranjos familiares e sobre as características dos domicílios. Como salienta Alves (2004), a quantificação do déficit (ou balanço) habitacional seria obtida facilmente pela subtração entre o total de moradias e o total de famílias que desejam uma residência. Ou seja, é consenso que cada unidade familiar18 deveria contar com uma moradia. Entretanto, as dificuldades estão nos critérios e definições utilizados pelos censos para definir famílias e domicílios que podem não coincidir com a necessidade efetiva de uma moradia. Nesse sentido, a opção por considerar como estoque habitacional apenas as famílias domiciliares e os domicílios ocupados elimina parte de um problema complexo de quantificação das necessidades habitacionais. Esse critério é o utilizado pelos estudos levantados e citados a seguir.

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Os domicílios improvisados são aqueles que não foram construídos para fins residenciais, embora servissem de moradia na data do Censo, como, por exemplo, loja ou fábrica sem dependências destinadas exclusivamente à moradia; prédios em construção servindo de moradia a pessoal de obra; embarcações; carroças; vagões de estrada de ferro; tendas; barracas; grutas; etc.

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Nas literaturas sociológicas, antropológicas e demográficas, a reflexão sobre família é bastante rica e complexa (CAVENAGHI e GOLDANI, 1993; MEDEIROS e OSÓRIO, 2000; LAZO, 2002).

O trabalho de Vasconcelos e Cândido Júnior19, citado por ALVES (2004), apresenta três componentes para o cálculo dos déficits: (1) déficit por moradia conjunta ou habitações ocupadas por mais de uma família; (2) déficit por moradia precária, caracterizada pelos domicílios improvisados e rústicos; (3) déficit por moradia deficiente, que caracteriza as casas com ausência de canalização interna de água e rede de esgoto.

No caso da Fundação João Pinheiro - FJP (2001), o déficit habitacional foi estimado dividindo-o em duas dimensões: o das necessidades de incremento e reposição do estoque e as

inadequações dos domicílios. O incremento do estoque é composto por aqueles domicílios que

devem ser incorporados ao estoque de domicílios por não existir ou substituídos por sua precariedade. O conceito de inadequação das moradias considera moradias que, apesar de ser desnecessária a construção de uma nova residência, têm a demanda por investimentos, sejam eles de origem pública (serviços públicos) ou privada (reformas e ampliações).

A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – SEADE, do Estado de São Paulo calculou o déficit habitacional pra o estado de São Paulo com base na Pesquisa de Condições de Vida – PCV, que se trata de um levantamento, por amostragem de domicílios, realizado de quatro em quatro anos, bastante amplas na análise da qualidade de vida da população. Embora a PCV não tenha sido desenhada para a mensuração das necessidades habitacionais, é útil a essa finalidade, já que o levantamento do tipo das habitações foi bastante amplo (GENEVOIS e COSTA, 2001).

O Instituto Nacional de Estadística y Censos – INDEC, da Argentina, em seus critérios para definir os domicílios com Necessidade Básicas Insatisfeitas – NBI, considera pelo menos uma das seguintes condições de inadequação: (1) adensamento excessivo; (2) domicílios denominados inconvenientes, como quarto de aluguel, domicílios precário e outro; (3) domicílios sem banheiro; (4) domicílios com crianças em idade escolar (6 a 12 anos) fora da escola; (5) domicílios que tinham quatro ou mais pessoas por membro ocupado e cujo chefe não tinha completado o terceiro ano de escolaridade primária. Embora os itens 4 e 5 não

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VASCONCELOS, José R. CÂNDIDO JÚNIOR, José O. O problema habitacional no Brasil: déficit, financiamento e perspectivas. Rio de Janeiro, Texto para discussão nº 410, IPEA, abril de 1996.

correspondam diretamente ao conceito básico de déficit, seriam úteis a políticas sociais que vislumbram domicílios vulneráveis.

A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE considera como adequados os domicílios particulares permanente com rede geral de abastecimento de água, com rede geral de esgoto ou fossa séptica, coleta de lixo por serviço de limpeza e até dois moradores por dormitório. Adicionalmente, estima critérios intermediários de domicílios semi-adequados e inadequados.

Metodologia

A Figura 2 representa esquematicamente os procedimentos para a projeção das demandas habitacionais, segundo a metodologia das taxas de chefia, que inclui as projeções populacionais e as projeções habitacionais propriamente ditas. Os itens 1 e 2 da figura 2 correspondem à projeção populacional por sexo e idade, segundo as regiões em estudo. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada a projeção populacional realizada pelos pesquisadores do CEDEPLAR (2004), que incluem desagregações por sexo e idade, para todos os municípios brasileiros. Essa projeção populacional envolveu duas etapas, sendo a primeira realizada para as unidade da federação (item 1 da figura 2) em que foi utilizado o método das componentes demográficas e, na segunda etapa, os dados foram desagregados em unidades espaciais menores por meio de métodos para projeção de pequenas áreas (item 2 da figura 2). A projeção da demanda por habitação, propriamente dita, faz uso da metodologia das taxas de chefia, comumente usada para projeções de demanda por habitação (Itens 3 e 4 da figura 2) e de estimativas específicas para o déficit habitacional.

Dessa maneira, no desenvolvimento deste estudo, foram utilizados três arcabouços metodológicos para a projeção da demanda demográfica por residências. O primeiro item considera a definição formal das taxas de chefia assim como da projeção habitacional à luz dessa definição. O segundo item desenvolve os procedimentos adotados para projetar as taxas de chefia por meio de modelos IPC. O terceiro item aborda o déficit habitacional e esclarece os critérios admitidos para este estudo.

Figura 2 – Estrutura esquemática da projeção de demanda demográfica por habitação Fonte – Elaborado pelo autor do artigo