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D e romances a crônicas: registros das cousas passadas da província

OMO SE DEVE ESCREVER A HISTÓRIA DAS PROVÍNCIAS C

2.3 D e romances a crônicas: registros das cousas passadas da província

Se o primeiro historiador provincial não foi o único a se preocupar com os passados locais, quem eram os outros e por quais meios conduziriam os trabalhos? Sob a cultura histórica oitocentista, que outros narradores ingressariam nas disputas para acessar e apresentar os passados do Ceará? Os textos de Franklin Távora, José de Alencar, Tomás Pompeu, Pedro Théberge e João Brígido são os convidados a dialogar com o livro pioneiro de Tristão de Alencar Araripe para fechar este primeiro momento historiográfico.

No representativo 1862 foi publicado, no Recife, Os índios do Jaguaribe de João Franklin da Silveira Távora (1842-1888). O autor, formado em Pernambuco, mas nascido no Ceará, subintitulou sua escrita como História do século XVII. O romance narrou o dia-a-dia da aldeia indígena Aracati (tabajara), em 1602, na borda do rio Jaguaribe, no Ceará.403 O primeiro volume da tetralogia foi considerado como fundamento de sustentação do grande edifício. Os quatro tomos prenunciariam um marco na divulgação do passado cearense. O gênero da narrativa estava indefinido para o autor: quem fosse competente que o qualificasse. Entretanto, Távora afirmou que, ao escrever essa “história”, não pretendia fazer romance de costumes daquele tempo. Ciente da existência de defeitos, o autor aproveitou personagens históricos e colocou certos acontecimentos em ordem.404 Contudo, não obstante o desprendimento do autor, as notas abarcaram longas discussões sobre definições linguísticas e históricas. Para quem não almejava tanto, ao menos no primeiro tomo, Franklin Távora ancorou o texto em boas bases. Perante os “silêncios da história”, ele expôs suas ações criadoras. O projeto inacabado e mal recebido de Távora sobre o passado remoto cearense explica os poucos estudos sobre a publicação – o primeiro romance cearense – num momento importante da construção de narrativas sobre o passado local.405 Em que pese contestarmos a autoridade dos comentários sobre pesquisas, influências e maior peso dos fatos históricos em detrimento da imaginação na narrativa pioneira,406 parece-me mais razoável ver a construção do texto como lugar onde a história permitiu “maior desafogo da imaginação” do autor.407 O

403 Receberia a segunda edição pelo autor com alterações em 1870 pelas Oficinas do Jornal de Recife. Na 1ª edição não constava qualquer referência editorial. Prometido para quatro volumes, somente teve o primeiro publicado. Utilizei: TÁVORA, F. Os índios do Jaguaribe: história do século XVII. 3. ed. Fortaleza: Sec. Cult. e Desporto, 1984. Baseia-se na 2ª edição.

404 TÁVORA, 1984, p. 139.

405 Os primeiros livros de Távora, incluindo o de 1862, foram acolhidos com entusiasmo no Norte, mas não houve nenhuma repercussão na Corte e no Sul do Império. TAUNAY, A. de E. Discurso do Orador. Sessão em 15 de dezembro de 1888. RIHGB, t. 51, parte 2, p. 354, 1888.

406 Lucia Miguel Pereira teceu pesadas críticas a Franklin Távora. Se não lhe faltavam algumas qualidades de escritor, como dons de observação, e certa vivacidade e naturalidade de estilo, faltavam-lhe por completo as de romancista. PEREIRA, L. M. Três romancistas regionalistas: Franklin Távora, Taunay e Domingos Olímpio. In: MOISÉS, M. (Org.). O romance brasileiro: de 1752 a 1930. Rio de Janeiro: Cruzeiro, 1952. p. 104. Afrânio

Coutinho destacou o livro como exemplo de pesquisa pelo “mergulho no passado e no ambiente local”.

COUTINHO, A. A tradição afortunada, o espírito da nacionalidade na crítica brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968. p. 108. Gomes Almeida classifica-o como romance histórico indianista com claras influências de José de Alencar. ALMEIDA, J. M. G. A tradição regionalista no Romance Brasileiro (1857-1945). 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Topbooks, [c1999]. p. 82. Aguiar, em estudo amplo sobre a vida e obra de Távora, situou a posição dúbia do autor no primeiro romance cearense. Inicialmente vacilante, o autor optou pela prevalência dos

fatos históricos sobre a imaginação: “o tom preponderante da História em detrimento da persuasiva e necessária construção romanesca.” AGUIAR, C. Franklin Távora e o seu tempo. Rio de Janeiro: ABL, 2005. p. 123.

407 CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 8. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997. v. 2, p. 302.

romance histórico Os índios do Jaguaribe apareceu em 1862 como uma “história contada em

linguagem amena” da colonização do Ceará no século XVII.408

Três anos depois da narrativa sobre os indígenas no Ceará de Franklin Távora, foi publicado Iracema, lenda do Ceará (1865) de José de Alencar.409 O escritor se encontrava no apogeu da carreira.410 O livro narrou a relação da índia Iracema com o guerreiro português Martim no início do século XVII, na região da futura província do Ceará. Foi em sua terra natal que o romancista escutara o que narrou: “Uma história que me contaram nas lindas

várzeas onde nasci.”411

Na narrativa de José de Alencar, identificamos facilmente lugares, pessoas e períodos que transitaram na escrita da História da província do Ceará de Tristão de Alencar Araripe. Mas o esforço de contextualização foi desnecessário, pois o romancista, nas longas notas, guiou o leitor por entre os meandros históricos. E é aqui, mais do que nos trinta e três capítulos, que o livro se aproxima dos escritos de Araripe e Távora. Antecedendo as 127

notas, Alencar redigiu o “argumento histórico da lenda”. O nome completo de dois

personagens importantes no romance nos foi declarado: Martim Soares Moreno e Antônio Felipe Camarão. O texto relatou, sinteticamente, o passado local no início do século XVII e a

atuação de Soares Moreno, cuja memória o Ceará deveria honrar como a de um “varão prestante e seu verdadeiro fundador”.

408 Sessão em 18 de junho de 1880. RIHGB, t. 43, parte 2, p. 404, 1880. O romancista-historiador foi aprovado para sócio do Instituto Histórico pelo parecer de 27 de agosto de 1880 da Comissão de Admissão de sócios na sessão em 3 de setembro de 1880. RIHGB, t. 43, parte 2, p. 453, 1880. Comissão formada por Alfredo

d’Escragnolle Taunay e Guilherme de Shüch de Capanema. O escrutínio secreto foi realizado na sessão seguinte

e seu nome aprovado como sócio do Instituto. Sessão em 17 de setembro de 1880. RIHGB, t. 43, parte 2, p. 462, 1880. Compareceu pela primeira vez ao IHGB, como sócio, na sessão em 12 de novembro de 1880, na presença do Imperador. RIHGB, t. 43, parte 2, p. 474, 1880. O único texto de Távora, afora os discursos como orador da instituição, publicado na revista da instituição foi: A extinção da escravidão no Brasil, o jubileu do Instituto Histórico. RIHGB, t. 51, parte 1, p. XVIII-XXVII, 1888. Nas referências ao letrado Franklin Távora no IAGP, de maneira diferente do IHGB, se enalteceu o poeta, o romancista, o crítico, o orador. Sessão em 27 de janeiro de 1889. RIAGP, n. 36, p. 41, jan. 1890.

409

A primeira edição, publicada em 1865, no Rio de Janeiro, receberia, logo a seguir, a segunda em 1870. O texto de José de Alencar, que analisei, tomou como base essa última. Recentemente saiu publicada a edição fac- similar: ALENCAR, J. de. Iracema, lenda do Ceará. ed. fac. sim. São Paulo: Imprensa Oficial, 2003 [1865]. Utilizei: Id. Iracema, lenda do Ceará. Cotia: Atêlie Editorial, 2006a. Na segunda edição, o autor fez muitas alterações no texto da narrativa e em algumas notas. José de Alencar preparou a terceira edição que sairia no ano seguinte a sua morte pela editora B. L. Garnier (Rio de Janeiro). A classificação do livro Iracema pelo seu autor foi feita em outro escrito, Sonhos de Ouro de 1872. Das três fases do passado do país a que se referiam seus trabalhos, Alencar localizou a narrativa sobre o Ceará na “primitiva ou aborígene”. Aqui se encontravam as

lendas das terras selvagens, “as tradições que embalaram a infância do povo” e que o autor teria escutado “no berço”. O segundo período de seus escritos era histórico ou colonial e o terceiro, a infância da literatura com a

independência política. Id. [Sênio]. Sonhos de Ouro. Benção Paterna. In: _____. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1959 [1872]. v. 1, p. 692-702.

410

MARTINS, W. História da Inteligência Brasileira (1855-1877). 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1996. v. 3. p. 211.

Assim como Araripe, José de Alencar se preocupou em definir “a pátria do

Camarão”.412 Essa “questão histórica”, que compreendeu a maior parte do argumento inicial

do autor, contestava a posição de escritores pernambucanos de tirar “a glória ao Ceará para

dar à sua província”. Alencar se permitiu uma erudita observação por discutir fontes e

narrativas para atestar a nacionalidade do índio Poti. O autor apontou a tradição oral como

fonte importante da história e “às vezes a mais pura e verdadeira”, aproveitada por diversos

escritores como Aires de Casal. No Ceará, segundo ele, além de existirem notícias sobre o Camarão entre o povo, havia uma velha mulher que se dizia sobrinha do insigne indígena. José de Alencar dialogou também com Manuel Calado e Pereira de Berredo; discutidos de forma muito semelhante por Araripe.413 Os esforços argumentativos de José de Alencar e Tristão de Alencar Araripe eram muito similares a todos que asseveravam ao Ceará o berço do ilustre indígena.

Alencar confessou que, embora redigido no Sul, o livro era cearense, pois foi imaginado e escrito para ser lido no Ceará. Contudo, o autor se mostrou temeroso diante da recepção pelos patrícios: “receio, sim, que o livro seja recebido como estrangeiro e hóspede na terra dos

meus.”414

Machado de Assis, no Diário do Rio de 9 de janeiro de 1866, informou que as preocupações de José de Alencar com Iracema se concretizaram: “Se alguma vez se falou na imprensa a respeito dela mais detidamente foi para deprimi-la; e isso na própria província que

o poeta escolheu para teatro do seu romance.”415

José de Alencar e Tristão de Alencar Araripe, como estudiosos dos tempos pretéritos, se aproximaram não só por integrar o esforço coletivo de narrar o passado do Ceará mas pelas trajetórias profissionais similares.Entretanto, possíveis trocas de informações sobre arquivos, discussões bibliográficas ou leituras dos textos de um pelo outro não apareceram nos amplos levantamentos biobibliográficos e nas pesquisas perscrutadas até o momento.416 Desde a sua publicação, Iracema, a lenda do Ceará, causou grandes discussões entre os literatos. João Brígido, cearense por opção, foi um deles.

412 Em texto da década de 1840, José de Alencar já mostrava preocupação em designar o Ceará como a pátria de Felipe Camarão. ALENCAR, J. de. A pátria de Camarão. Ensaios Literários, São Paulo, 1846. Essa informação consta em MENEZES, 1977, p. 374. O trabalho de Mirhiane Abreu datou-o, diferentemente, em 20 de maio de 1849: ABREU, M. M. Ao pé da página, a dupla narrativa em José de Alencar. 2002. 185 f. Tese (Doutorado em Teoria e História Literária) - IEL, UNICAMP, Campinas, 2002. p. 132, nota 13.

413 ARARIPE, 2002, p. 181. 414 ALENCAR, 2006a, p. 93. 415

MACHADO DE ASSIS, J. M. Semana literária. In: ALENCAR, J. de. Iracema – edição do centenário. Rio de Janeiro: José Olympio, 1965. p. 186.

416 Encontros e desencontros familiares, aproximações e afastamentos políticos entre Tristão de Alencar Araripe e José de Alencar podem ser pinçados nas pesquisas biográficas sobre este último. Contudo, como é recorrente na bibliografia, há confusão onomástica entre o Conselheiro Araripe e o filho. VIANNA FILHO, 1979. Não encontrei troca epistolar entre ambos: MENEZES, R. Cartas e documentos de José de Alencar. 2. ed. aum. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1967.

Criticou José de Alencar pela perpetuação de erros grosseiros e absurdos, por conhecer pouco as antiguidades cearenses e por mascarar falhas com seu estilo: “uma sedução viva” para os espíritos inexperientes.417

A representatividade da escrita da lenda do Ceará para as letras nacionais é irrevogável. A exaltação pela contribuição para a literatura pátria é recorrente. E ela continua sendo lida, relida, analisada.418 O périplo literário de Iracema aos dias atuais nos mostra que, quanto mais distante da primeira edição, com mais tenacidade são considerados os elementos históricos no texto. José de Alencar é consagrado historiador.419 Apesar da leitura de Iracema como mito fundador da Nação, ela não deixa de ser, primeiramente, uma lenda do Ceará. Trata-se, antes de tudo, de mito sobre a origem da província cearense, que pode ser lida, igualmente, como narrativa fundadora da Nação. A narração da origem é uma genealogia, ou seja, uma narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros que são seus antepassados. Ao conceber o mito fundador para o Brasil, Iracema conferiu relevância nacional para uma província até então inexpressiva. José de Alencar se esforçou em projetar o Ceará no cenário nacional.420 Vale lembrar que o jornalista José de Alencar, na década de 1850, ao debutar no ambiente letrado do Rio de Janeiro, no Diário do Rio, escreveu ao conterrâneo Tomás

Pompeu com a pretensão de se tornar embaixador da “Terra da luz” no Sul. Disse estar

resolvido a fazer o que nunca tinha sido feito até o momento: defender a província do Ceará

417

SANTOS, 1919, p. 2.

418 Para o sobrinho Tristão de Alencar Araripe Júnior, Iracema era o mais brasileiro dos nossos livros, aquele em que a alma de poeta com mais força e franqueza se revelou. ARARIPE JÚNIOR, T. de A. A crítica. In: ALENCAR, J. de. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1959. v. 3, p. 1332; Id. José de Alencar. In: _____. Obra crítica (1868-1887). Rio de Janeiro: Casa Rui Barbosa, 1958. v. 1, p. 205. Em José Veríssimo, Alencar se distinguia como primeiro a introduzir o índio no romance brasileiro. VERÍSSIMO, J. História da Literatura Brasileira, de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908). 5. ed. Brasília: Editora UNB, 1998. p. 192. Em Antonio Candido, Iracema, brotando no limite da poesia, foi o “exemplar mais perfeito da prosa

poética na ficção romântica”. CANDIDO, 1997, p. 200. Em Alfredo Bosi, O Guarani e Iracema fundaram o

romance nacional. BOSI, A. Um mito sacrificial: o indianismo de Alencar. In: _____. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 179. A ênfase de Bosi recaiu na análise do livro O Guarani, pelo seu caráter feudal. Para Afrânio Coutinho, Iracema colaborou para Alencar ser considerado o criador do romance e do estilo brasileiro, o libertador da literatura, o legítimo intérprete das lutas pela criação da nacionalidade literária no Brasil. COUTINHO, 1968, p. 122. Para Wilson Martins, José de Alencar no romance e Gonçalves Dias na poesia foram os criadores do nosso Indianismo. MARTINS, 1996, v. 3, p. 214. E foram de Martins, em texto de 1959, as palavras mais significativas do debate sobre o escritor José de Alencar: “ainda hoje, José de Alencar é um problema para a crítica: não há, em nossas letras, exemplo mais impressionante de malogro do

pensamento crítico em face de um autor.” E, especificamente sobre Iracema e a “leitura viciada” que fazemos

dela: MARTINS, W. Pontos de vista: crítica literária. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992/1994. v. 3, p. 502; v. 7, p. 88-93.

419

Dos textos que alçam o escritor romântico a “historiador”, cito, por exemplo: MARCO, V. de. A perda das ilusões: romance histórico de José de Alencar. Campinas: Unicamp, 1993; NAXARA, M. R. C. Cientificismo e sensibilidade romântica: em busca de um sentido explicativo para o Brasil. Brasília: Editora UNB, 2004 e ABREU, M. M., 2002.

420

Esta reflexão surgiu da leitura do texto: CAMILO, V. Mito e História em Iracema. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 78, p. 169-189, jul. 2007. O autor fez alusão ao livro de Tristão de Alencar Araripe publicado em

na alta imprensa da Corte. Assim, o governo seria obrigado a dar atenção à terra natal.421 Ao livro do literato famoso viria se juntar o do primo desconhecido na apresentação da província à Corte.

Os trabalhos de Tomás Pompeu de Sousa Brasil sobre o Ceará datam da década de 1840, como a Memória estatística da província do Ceará, sobre sua relação física, política e

industrial.422 Em 1851, Estatística da população da província do Ceará saiu publicada no jornal O Cearense.423 Seguiram-se outras mostrando que não foram poucas as pesquisas do letrado sobre a província.424 Líder do Partido Liberal no Ceará, Pompeu foi indicado e escolhido pelo Imperador para o Senado em 1864. Esse ano lhe foi benevolente na política e nas letras nacionais ao compor, pela primeira vez, uma das Comissões de trabalho no Instituto Histórico, no caso, a de Geografia.425 Colegas nas páginas do jornal O Cearense e compartilhando, num primeiro momento, de semelhantes “princípios liberais”, Pompeu e Araripe, a partir da década de 1850, começaram a se afastar profissional e politicamente. Deter-me-ei somente em dois livros do Senador Pompeu pela temática, período de finalização/edição, relação do autor com a Comissão Científica e por contar com a colaboração de outro letrado do Ceará.

O Ensaio estatístico da província do Ceará foi publicado em dois tomos (1863 e 1864), cada um dividido em duas partes.426 Surpreende a quantidade de quadros estatísticos, o detalhamento e a atualidade. O volume dois, apesar de mais reduzido, contém levantamento histórico. Após a síntese das 14 comarcas da província, a última parte apresentou um resumo cronológico da história do Ceará desde 1603 até 1861, ano a ano, com intervalos, e dentro

421 ALENCAR, J. de. Carta a Tomás Pompeu de Souza Brasil (26 out. 1856) transcrita em MENEZES, 1977, p. 102. A troca epistolar entre ambos pode, igualmente, ser observada, desde 1855 até 1868, em: MENEZES, 1967. 422 Ordenado padre e formado em Direito pela Faculdade de Olinda, Tomás Pompeu de Sousa Brasil foi um dos fundadores do Liceu do Ceará (e seu primeiro diretor) e professor de Geografia e História.

423 Estatística da população da província do Ceará. O Cearense, Fortaleza, n. 405, p. 1-2, 7 fev. 1851. Embora não assinado, pressuponho que a autoria seja de Tomás Pompeu.

424 De autoria do Senador Pompeu: Memória sobre a estatística da população e indústria da província do Ceará em 1856 (1857), Relatório do estado da instrução pública e particular da província do Ceará no ano de 1857 (1858), População da província do Ceará (1859), Dicionário topográfico e estatístico da província do Ceará (1861) e Ensaio estatístico da província do Ceará (1863-1864).

425 Sessão da Assembleia Geral em 21 de dezembro de 1864. RIHGB, t. 27, parte 2, p. 388, 1864. Foi reeleito nos anos seguintes. Apesar de constar seu ingresso no Instituto em janeiro de 1845, a informação está incorreta: TAPAJÓS, V. (Org.). Dicionário biobibliográfico de historiadores, geógrafos e antropólogos brasileiros. Rio de Janeiro: IHGB, 1996. v. 3, p. 140. Não consegui apurar com exatidão a data, os proponentes da candidatura, a publicação avaliada e os pareceres das comissões encarregadas. Na ata da sessão em 28 de abril de 1854, há uma carta de Tomás Pompeu acusando a recepção do ofício em que lhe comunicaram sua aprovação como sócio correspondente do IHGB. RIHGB, t. 17, p. 857, 1854. Pompeu não teve trabalhos publicados no periódico da instituição. No entanto, vários foram remetidos ao Instituto como observei nas atas das sessões em 11 de maio e 20 de julho de 1860. RIHGB, t. 23, p. 609 e 629, 1860.

426

BRASIL, T. P. de S. Ensaio estatístico da província do Ceará. ed. fac. sim. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 1997 [1863-1864]. 2 v. A apresentação ao leitor está datada de 28 de fevereiro de 1862, tendo como cidade de origem Fortaleza (Ceará), apesar de publicada no Maranhão.

desses o escalonamento dos acontecimentos por dia e mês. O resumo foi confeccionado por outro estudioso, não citado: João Brígido.427 O passado da região foi dividido por épocas. As referências à atuação do pai de Tristão de Alencar Araripe não foram depreciativas nem apologéticas. João Brígido, no livro de Pompeu, não citou os documentos consultados na elaboração de seu resumo cronológico.

No complexo e heterogêneo caminho de disciplinarização dos estudos históricos ao longo do século XIX, chamou-me atenção as considerações sobre o lugar de onde falava o pesquisador Pompeu e onde inseriu seu trabalho. Para ele, a ciência que descrevia os países era a Geografia. A História, por sua vez, estava incumbida de relatar a maneira como os países se constituíram e as fases pelas quais passaram. A Economia Política indagava como a riqueza deveria ser produzida, repartida e consumida no interesse da sociedade. E a Estatística era a ciência que se ocupava do exame das leis pelas quais se verificavam os diversos fenômenos sociais.428 Seus escritos foram enquadrados nesta última e ampla ciência com a colaboração das demais ciências auxiliares, como a História. Não era geógrafo, historiador, tampouco político: Pompeu era estatístico. A História da província do Ceará não fez referência alguma às suas pesquisas. Por esse abrangente e coetâneo trabalho foi infundado o reclame de Alencar Araripe, no capítulo terceiro do seu livro, da falta de dados estatísticos da província. Além de pesquisas específicas sobre o Ceará e entorno, a região receberia destaque em outro livro do autor.

Em 1864, estava na quarta edição o Compêndio elementar de geografia geral e especial

do Brasil, adotado no Colégio de Pedro II, nos Liceus e seminários do Império. Após a capa

há uma citação que nos é familiar.429 As mesmas palavras de Victor Cousin transcritas pelo Visconde de São Leopoldo no artigo O Instituto Histórico é o representante das ideias de

Ilustração. A província do Ceará recebeu dedicada atenção no livro de Geografia. Pela