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5 MATERIAL E MÉTODOS

5.1 Dados

Os dados analisados neste trabalho advêm da pesquisa amostral longitudinal “Pesquisa Jovem”, que foi financiada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes de Minas Gerais (Sedese) e conduzida pelo Centro de Desenvolvimento e

Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) entre 2007 e 2010 em alguns municípios de Minas Gerais. A metodologia da pesquisa consistiu em entrevistar, por três anos consecutivos, uma amostra representativa de adolescentes que, no início da pesquisa, cursava o 1º ano do Ensino Médio da rede estadual de ensino. A primeira coorte, foco desta dissertação, foi entrevistada pela primeira vez nos municípios de Ribeirão das Neves, Belo Horizonte, Pedro Leopoldo e Esmeraldas em novembro de 2007 (FIG. 2).

A análise feita aqui se concentra na segunda rodada (onda) da primeira coorte, cuja coleta de dados ocorreu em novembro de 2008. No total, qualificavam para essa segunda entrevista 3.385 estudantes que, no ano anterior (2007), estavam cursando o 1º ano do Ensino Médio da rede estadual nos municípios em estudo. No momento da pesquisa, 2.820 (83,3%) cursavam o 2º ano, enquanto 551 (16,3%), repetentes, permaneciam no 1º ano. Quatorze pessoas, ou 0,4% da amostra, não completaram essa informação corretamente, mas foram incorporadas à análise. Percebeu-se que 446 adolescentes que haviam completado a primeira onda da pesquisa não responderam o questionário na segunda onda. Essa quantidade representa 13,2% do total de alunos que deveriam ter sido entrevistados (3.385), os quais foram excluídos da análise.

Para garantir a representatividade, a amostragem das escolas estaduais que participaram da pesquisa foi feita por conglomerados, em um estágio, com estratificação geográfica. A escolha do número de escolas em cada um dos estratos geográficos foi feita proporcionalmente ao número de escolas em cada uma das regiões. Para a seleção das escolas, foi adotado um procedimento de amostragem com probabilidades proporcionais ao tamanho (PPT), sendo que a medida de tamanho adotada foi o número de alunos matriculados na 1ª série do Ensino Médio.

Os estratos foram definidos em Ribeirão das Neves, município central da amostra, como as regiões geográficas Centro, Veneza e Justinópolis. Em municípios vizinhos a Ribeirão das Neves, os estratos foram definidos como as regiões geográficas dos

municípios de Pedro Leopoldo, Esmeraldas e Belo Horizonte (localizadas na região de Venda Nova), adjacentes a Ribeirão das Neves. A seleção das escolas localizadas em Pedro Leopoldo foi realizada com probabilidades proporcionais à distância às escolas localizadas na região central de Ribeirão das Neves, considerando maior a probabilidade quanto mais próxima à escola. O mesmo procedimento foi adotado para a seleção das escolas localizadas em Esmeraldas e Belo Horizonte, com probabilidades proporcionais à distância das escolas localizadas respectivamente nas regiões de Veneza e Justinópolis, em Ribeirão das Neves (Rios-Neto, 2007).

Figura 2 - Mapa da Região Metropolitana de Belo Horizonte e indicação das cidades selecionadas para a aplicação dos questionários da Pesquisa Jovem

Como pode ser observado no QUADRO 4, os municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte escolhidos para a aplicação dos questionários possuem baixo IDHM quando comparados com a capital, Belo Horizonte. Além disso, eles apresentam maior incidência de pobreza, menor PIB per capita e menor desigualdade de renda.

QUADRO 4 - Características gerais dos municípios selecionados na RMBH para a aplicação dos questionários da Pesquisa Jovem

Belo Horizonte Pedro Leopoldo Esmeraldas Ribeirão das Neves População 1 2.375.444 58.696 60.153 296.376

PIB per capita (reais) 2 17.313,06 14.305,34 4.746,23 4.409,33

IDHM, 2000 3 0.839 0.807 0.748 0.749

Índice de Gini 4 0,42 0,41 0,34 0,33

Incidência de Pobreza 4 5,43 18,88 17,95 23,2

Proximidade com Belo Horizonte 5 n.a. 28,7 km 49,9 km 18,1 km

Fontes:

1 - IBGE, Primeiros Resultados do Censo 2010 2 - IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios 2008 3 - PNUD, Índice de Desenvolvimento Humano, 2000 4 - IBGE, Mapa de Pobreza e Desigualdade, 2003 5 - Googlemaps, 2011

Uma vez escolhida a escola e obtida autorização da diretoria, os questionários eram distribuídos em sala de aula, em dia marcado durante o período letivo, para toda a turma. Após recolher assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos alunos, era feita uma leitura em voz alta, seguida da entrega individual de uma cópia de documento que atestava a idoneidade da pesquisa, o caráter sigiloso das respostas, o seu aceite pela comissão de ética da UFMG, e telefones de contato para mais informações. O questionário, autoaplicado e com 39 páginas, inquiriu sobre características pessoais, situação socioeconômica, trabalho, educação, estilo de vida, saúde, relacionamentos, violência, sexualidade e opiniões sobre temas em geral, formando uma rica base de dados sobre diferentes aspectos da vida dos adolescentes estudantes de escolas estaduais na RMBH.

Apesar de a entrevista ter contemplado todos os estudantes presentes nas escolas amostradas no dia da aplicação do questionário, este estudo se concentra naqueles cuja etapa de vida fosse a adolescência. Logo, foram excluídos os não pertencentes à

faixa etária 15-19 anos. Nesta pesquisa, 93,3% dos alunos entrevistados tinham entre 15-19 anos em 2008, ocasião do preenchimento do questionário. A escolha dessa faixa etária justificou-se por compreender o período da adolescência em que a iniciação sexual ocorre com maior frequência, porém ainda é o período no qual grande parte ainda não se iniciou sexualmente, o que permite comparações entre esses dois segmentos dentro da população estudada, além de permitir comparações com outros estudos científicos cujo critério de divisão etária seja quinquenal.

Analogamente, foram excluídos os que, apesar da pouca idade já se encontravam em união estável ou matrimônio, além dos que diziam ser viúvos, já que tais status maritais implicariam no início da vida sexual, e por essa razão poderiam contribuir para mascarar as estatísticas de início da vida sexual antes do casamento. Esses somaram apenas 48 pessoas, ou 1,8% da amostra entrevistada de 15-19 anos. Sabe-se que o engajamento em união estável ou matrimônio em idades juvenis está relacionado com o fator religioso. Porém, por ser pequena a amostra (n=48), ela não garantiria representatividade estatística para ser levada à análise de status marital por religião. Um único aluno classificou seu status marital como “rejeitado”, e foi agrupado junto ao grupo de solteiros.

Por se tratar de um estudo sobre religião, alunos que não responderam à questão sobre sua religião ou sua frequência religiosa foram excluídos da análise. Esses somaram 17, ou menos de 1% da amostra qualificada de solteiros entre 15 e 19 anos.

Após as exclusões, a amostra total constituiu-se de 2.658 alunos. As 1.489 mulheres (56%) e os 1.169 homens (44%) foram analisados separadamente.

É importante destacar a seletividade dos estudantes que participaram da pesquisa e completaram o questionário. Esses são apenas uma parcela dos estudantes matriculados que estariam aptos a responder à pesquisa, pois são aqueles que estavam presentes em sala de aula na ocasião da entrevista. Pressupõe-se que não haverá diferencial entre os estudantes que não responderam porque faltaram à aula no

dia da entrevista e os estudantes que estavam presentes e que por isso completaram o questionário.

No entanto, mais importante ainda é destacar a seletividade dos jovens que estavam matriculados e frequentes ao sistema público de ensino, visto que muitos jovens sequer chegam ao Ensino Médio e outros, presentes na primeira onda, em 2007, abandonaram a escola ou mesmo evadiram, mudaram de escola ou faleceram. Nesse caso, não é possível generalizar a realidade das entrevistas para todos os jovens da RMBH que, apesar de estarem em idade escolar, não frequentam a escola. A literatura revela que jovens que abandonam a escola ou evadem possuem características sociodemográficas muito diferentes daqueles que continuam. Logo, em um contexto de pobreza e violência, os jovens que conseguem seguir com os estudos e são captados em pesquisas desse tipo são um público seleto, cujas características podem diferir dos seus pares que não puderem ou não quiseram continuar sua educação.