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PRÉ-VESTIBULAR

POPULAR

A PROFESSORA

UNIVERSITÁRIA

ENTREVISTA

Vera Rodrigues (também conhecida como Vera Re) é professora adjunta no Ins- tituto de Humanidades da Unllab - Universidade da Inte- gração Internacional da Luso- fonia Afro-brasileira. É Douto- ra em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (2012); Mestre em antropolo- gia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006); e Bacharel em Ciên- cias Sociais pela Universida- de Federal do Rio Grande do Sul (2004). Realiza pesquisas com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasilei- ras, atuando principalmente nos seguintes temas: quilom- bos, políticas públicas, educa- ção, racismo, relações étnico- -raciais e feminismo negro.

DEDS: Quem é Vera Re, para além do belíssimo e inspirador currículo?

Vera Re: Pergunta insti- gante. Grata pelo belíssimo e inspirador currículo. Há uma coisa que eu sempre coloco quando me apresento em pú- blico. Digo que eu sou a filha de pais que tiveram muito mais contato com a enxada do que com o papel. E isso me constituiu naquilo que sou hoje. Eu digo que muito do que eu penso, do que eu vivo, do que eu sou vem dessa experiência de pais que, mes- mo não tendo contato com a educação formal, fizeram com que isso em mim fosse tão vivo, tão desejado, que me fez

ser quem sou. Então, sou essa filha desses pais, me identifico também com uma ideia de al- guém que vive, como a músi- ca fala, “pescador de ilusões”, eu gosto de acreditar em so- nhos, eu gosto de acreditar em ideias. Por isso, eu gosto sempre de conectar pessoas e ideias e oportunidades. É uma coisa que eu tenho comigo. Sou alguém que acredita mui- to na vida. Em viver uma boa vida como um direito, como algo que faz sentido. Sou um pouco disso tudo, dessas ex- periências.

DEDS: Você foi estudan- te de curso pré-vestibular popular. Como foi essa es- colha, e a experiência de estar nesse curso?

Vera Re: Eu venho do Pré-Vestibular Zumbi dos Pal- mares. Ouvi falar nele pela primeira vez em 1995, quan- do houve um encontro de educadores negros e negras em Porto Alegre. Naquela épo- ca eu estava ingressando no Movimento Negro e ia a todo evento. Tinha a palavra “ne- gro”, lá estava eu. Eu fui nesse encontro e foi a primeira vez que ouvi falar em projeto de educação – naquele momento se dizia projeto de educação para pobres e carentes. Não tinha ainda muito forte uma ideia de “para negros”, o re- corte racial definido, que era o que eu acho que me movia e me move até hoje. E aquela experiência pra mim foi funda-

mental, porque eu saí daquele encontro pensando “eu vou voltar a estudar”. E eu não sabia como, por onde, porque eu estava há dez anos sem es- tudar. Dez anos, minha gente. E aí, naquele encontro, eu vi que era possível voltar a estu- dar e ainda sonhar com uma universidade pública. Sonhar com a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). E aí eu fui conhecer o Pré-Ves- tibular Zumbi dos Palmares, que nasceu naquele encon- tro, e as primeiras pessoas com as quais eu tive contato foram a professora Marieta dos Santos Silveira e a profes- sora Enilza Garcia. A Marieta é professora de Português, foi ela que praticamente me alfa- betizou. Me ensinou a redigir um bom texto. E a Enilza foi a coordenadora e sempre será a alma do Pré-Vestibular Zum- bi dos Palmares. Pra mim, foi uma experiência riquíssima, porque lá, especialmente na disciplina de Cultura e Cida- dania, onde nós tínhamos contato com palestrantes que vinham falar sobre as- suntos diversos. Me lembro que veio gente da UFRGS, a bibliotecária da UFRGS, Eliane Gonçalves, que falou sobre a UFRGS, sobre biblioteca... Aquele mundo foi entranhan- do em mim, sabe? Há o fato de sermos todos envolvidos numa perspectiva social de um projeto – também é fun- damental. Esse projeto come- çou lá na Vila Cruzeiro do Sul, numa escola, num espaço ce-

dido. Nós passávamos o sába- do todo lá, levávamos um lan- che comunitário. Nós também doávamos alimentos para a comunidade, para a creche da comunidade. Então, havia uma perspectiva de troca, o espaço cedido e, ao mesmo tempo, nós também compar- tilhávamos. Essa experiência de estar lá com as pessoas, num sábado inteiro, onde nós comíamos juntos, estudáva- mos juntos era revolucionário, gente. Pra mim, a revolução sempre esteve muito mais li- gada ao cotidiano, ao chão, à vida das pessoas do que qual- quer outra coisa muito mais macro, avassaladora. Mas aquilo pra mim foi a minha revolução. Aquela experiência foi revolucionária na minha vida e de outros, porque ali nós descobrimos que era pos- sível mudar nossas trajetórias de vida se a gente pudesse ocupar espaço na universi- dade pública. Sonharmos em sermos professoras, enge- nheiros, seja o que for. E esse era um sonho que nascia da nossa própria vivência, com pessoas com as quais nós nos identificávamos. Nós ainda não falávamos naquela época em representatividade, mas nós aprendemos ali o valor da representatividade. Quando eu tive contato com professo- ras negras, quando eu vi mu- lheres negras como eu ensi- nando, eu vi gente como eu, e aquilo fez toda a diferença. Foi uma experiência impactante. E foi a experiência que me fez

voltar depois como professora voluntária também na disci- plina de Cultura e Cidadania, quando o “Zumbi” já não es- tava mais em Porto Alegre. Ele esteve em diferentes espaços, esteve naquela Vila Cruzeiro do Sul, no Sinpro (Sindicato dos Professores do Ensino Privado), na UFRGS, hoje está no Campus do Vale da UFRGS, no Colégio de Aplicação. Isso foi fundamental pra mim. Eu estava voluntária no projeto quando ele estava em Via- mão. Foi perfeito pra mim, foi impactante, foi inspirador.

DEDS: Como foi a sua trajetória de estudante vin- da do meio popular, cria de curso preparatório popu- lar?

Vera Re: Quando eu in- gresso na UFRGS, ingresso em um curso noturno, Ciên- cias Sociais. Nunca me es- queço. Era uma turma de 65 alunos, desses, três negros. Naquele momento, foi algo como um mundo completa- mente novo. Eu vislumbrava possibilidades, apesar de todas as dificuldades. Eu tra- balhava durante o dia e estu- dava à noite, e o desafio pra mim era a grande defasagem que eu sentia em relação aos demais alunos. Defasagem de conhecimento que eu não tinha, defasagem etária, por- que a maior parte dos meus colegas estava na faixa dos vinte e poucos anos e eu já tinha trinta e poucos anos,

mas eu sabia o que eu queria. Acho que a grande vantagem era que eu sabia o que eu queria. Eu sabia que eu que- ria uma carreira acadêmica, eu queria estar lá. E eu sabia que isso vinha por algo que tinha sido a minha formação inicial, uma formação política dentro do Movimento Negro. Eu queria agregar agora uma formação teórica. E isso foi fundamental. Porque lá, quan- do o professor da Antropolo- gia, numa disciplina que eu tive na graduação, entrou na sala de aula e disse, olhando pra mim e para os outros dois negros da turma, em anos, era a primeira vez que ele via al- guns rostos diferentes do que normalmente era o padrão da universidade. Ele começou uma fala sobre alteridade, diversidade, cidadania. Aí eu descobri que o que eu queria era Antropologia. Aquele cara era antropólogo e eu pensei “é por aí”. A Antropologia acolhia o debate sobre diferenças, so- bre desigualdades, e era isso o que eu queria fazer. Foi fun- damental essa escolha pela Antropologia, embora eu no- tasse, com a aproximação do final do curso de graduação, que eu não recebia o mesmo incentivo, da maior parte dos professores, como os demais colegas. Eu notava que o in- gresso na pós era muito co- mum para os meus colegas, mas a pergunta sobre a pós- -graduação, por exemplo, eu não via ninguém me pergun- tando, quase ninguém, além

do meu orientador, o profes- sor José Carlos dos Anjos, ou um ou outro professor mais próximo. Era quase como se dissessem “olha você chegou até aqui. Ótimo, beleza.” Mas eu queria mais. Aí eu decidi: eu vou pra pós, vou para o mestrado na UFRGS, e eu fui. Eu mal terminei a graduação e já estava entrando, no ano seguinte, no mestrado em An- tropologia na UFRGS.

Recentemente eu soube, num momento que foi fantástico, quando eu participei de uma banca do programa de pós-graduação em Antropologia da UFRGS – primeira vez que eu volto à UFRGS como professora, e numa banca de um aluno cotista – que eu fui a primeira mulher negra a ingressar no mestrado em Antropologia da UFRGS. Houve outras pessoas negras, homens. Eu fui a primeira mulher negra. Isso me emocionou, isso também aumentou a minha responsabilidade e me faz pensar que a trajetória é incrível. Isso tem muito a ver com o que eu acredito que a ancestralidade nos traz, que eu fui trilhando, que as pessoas que me constituíram foram trilhando. Porque eu acredito em trajetórias coletivas de vida. Não em trajetórias individuais. Eu sou fruto de uma coletividade. Uma coletividade que é ancestral, que é contemporânea, mas sempre uma coletividade. E todas essas vivências coletivas

que eu tive, no Pré Zumbi dos Palmares, na UFRGS, elas impactaram na continuidade da minha vida. Porque, ao fim do mestrado, eu sabia que eu queria continuar, que eu queria chegar ao doutorado e eu queria me tornar professora em uma universidade. A minha chegada ao doutorado foi pela via das ações afirmativas, fui bolsista da Fundação Ford e com essa bolsa de doutorado eu pude, pela primeira vez, me dedicar exclusivamente aos estudos. Eu fiz meu doutorado na USP (Universidade de São Paulo), onde eu conheci um dos meus ídolos, que é o professor Kabengele Munanga.

DEDS: Como estas vi- vências impactaram na sua vida e nas suas escolhas?

Vera Re: Então, as mi- nhas escolhas foram sendo tecidas pouco a pouco e foi fundamental para essas esco- lhas tudo o que eu vivi. Então, sem dúvida, eu não seria hoje a professora doutora Vera Rodrigues – e eu posso dizer isso, porque não é uma ques- tão meritocrática, é coletiva. E é algo que eu me orgulho mui- to, algo que eu sinto quando apareço para os meus alunos, na sala de aula. Muitos deles, principalmente na pós-gra- duação, dizem que eu sou a primeira professora negra que tiveram durante toda a sua formação universitária. Eu sin- to que isso vale a pena. Como também já dizia Luiza Bairros:

“Numa sociedade machista e racista, uma mulher negra deve ter nome e sobrenome”. Isso é fundamental também e faz parte das minhas escolhas – ter nome e sobrenome. É sa- ber de onde eu vim pra saber pra onde eu vou, e por que eu estou onde estou hoje. Estar hoje na Unilab, a Universidade Federal da Integração Interna- cional da Lusofonia Afro-Brasi- leira, é parte dessas escolhas e é parte do que eu sou. Hoje eu sou professora do curso de graduação e pós-graduação em Antropologia. Toda a mi- nha trajetória acadêmica foi na área de antropologia das populações afro-brasileiras, então tudo está ali se unindo nessa perspectiva. A Unilab, pra mim, é uma ação afirmati- va, com todos os desafios que isso traz, e ser parte disso é fundamental na minha vida.

DEDS: O que é um curso pré-vestibular popular? O que você acredita que deve conter na experiência de um pré-vestibular popular além da instrumentaliza- ção para a prova de sele- ção?

Vera Re: Recentemente, eu fui à Porto Alegre participar da Reunião de Antropologia do Mercosul e retornei ao Zumbi dos Palmares (pré-vestibular) para falar da minha trajetória. Foi muito bom eles terem feito esse convite a mim. Agrade- ço muito ao Márcio Santos, à Enilza Garcia, porque é um

cursinho pré-vestibular para além de instrumentalizar para a prova de seleção, ele deve ser o exemplo de uma prova viva de que outro mundo é possível. Me perdoem pelo slogan, mas eu acredito nis- so – outro mundo é possível, outra trajetória de vida é pos- sível. O curso deve ser algo vivido, que é uma perspectiva teórica que a antropóloga Ma- risa Peirano traz, como “teoria vivida”. Eu acredito na teoria vivida e o curso deve estar alinhado à vida, deve estar alinhado às trajetórias das pessoas, à dinâmica social. Ele não deve se ausentar dos debates contemporâneos. Se

nós estamos debatendo de- mocracia e luta antirracista, então, o curso deve fazer isso também. Porque é formar pes- soas pra vida, pessoas com- prometidas com a sua comu- nidade, com o seu país, com o seu grupo social. Eu acredito muito nisso. Por isso, acredi- to que a disciplina de cultura e cidadania é fundamental em qualquer projeto que se queira pensar numa educa- ção alternativa e solidária, uma educação popular, seja o que for, mas tem que ter um viés de democracia, de ci- dadania. Pra mim, os cursos pré-vestibulares cumprem esse papel da articulação

com a base, o papel de uma educação transformadora. É nisso que eu acredito: que os cursos pré-vestibulares pre- cisam, cada vez mais, estar alinhados a essa perspectiva e, para isso, é fundamental estar conectado à universi- dade pública, porque é por aí que a gente vê o acesso ao en- sino superior, e a universidade pública eu vejo como um direi- to. Eu sempre fico pensando nisso: se lutou muito por uma universidade pública nesse país, muito mesmo, então, a gente precisa manter esse di- reito, assegurar, garantir esse acesso. E as relações entre os cursos pré-vestibulares, pra mim, devem ser fomentadas. Respeitadas obviamente as suas limitações, as suas di- nâmicas, mas precisam ser fomentadas.

DEDS: Como você vê essa relação na região onde trabalha atualmen- te como professora da Unilab?

Vera Re: Eu trabalho na re- gião nordeste do país, mais pre- cisamente no Ceará, na cidade de Redenção, a qual fica a uns 60 km de Fortaleza. A Unilab também está presente na Ba- hia, na cidade de São Francisco do Conde. O Ceará é um estado que guarda uma peculiaridade: apesar do discurso oficial do pioneirismo da abolição, aqui comumente se diz que não há negros e negras nesse estado. E quando a Unilab chega, ela

Vera Rodrigues em aula

ACER

VO VERA R

chega pra tensionar isso. Pense em uma universidade em coope- ração com o Continente Africa- no e estudantes universitários africanos. Isso afeta, não só in- ternamente a comunidade aca- dêmica, porque as pessoas não estão presentes apenas nume- ricamente, mas para impactar a produção de conhecimento. Isso também impacta as relações so- ciais extramuros universitários. Então, eu vejo a chegada da Unilab ao Ceará, ao Maciço de Baturité, como uma oportuni- dade pra que a gente desvele a questão racial. Acho isso fun- damental. Acho fundamental também a perspectiva de in- serir o nordeste cada vez mais

na produção de conhecimento. Estou procurando fazer a mi- nha parte aqui a partir de dois projetos. Um deles é o Mulheres

Negras Resistem, que é uma

formação teórico-política para mulheres negras. Esse projeto emerge a partir da dor, da luta e do luto por Marielle Franco. Eu fiz uma parceria com docentes negras aqui em que a nossa res- posta ao que fizeram com Ma- rielle é que outros corpos negros estarão vivos como sementes e nós vamos dar conta de todas as lutas que se fazem presentes pra nós e vamos fazer isso a par- tir desse lugar, aqui do Ceará.

Mulheres Negras Resistem está

na sua segunda edição e nós se- guimos adiante. Também estou envolvida em um projeto de ex- tensão O apagamento do negro

na terra do sol: a educação e cultura afro-brasileira no Ceará,

numa parceria entre a Unilab e o Instituto Federal do Ceará, por meio dos NEABIs (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indí- genas). Vamos mapear, por di- versas regiões do Estado, a pre- sença negra e transformar isso em produção de conhecimento. É um projeto que está no seu co- meço e nós esperamos que ren- da bons frutos. Então, tudo isso se dá a partir da Unilab.

DEDS: Você vê relação entre a ideia de democra- tização do acesso ao ensi- no superior e a criação de instituições como Unilab, UNILA, Institutos Federais? Você faz uma relação entre sua trajetória pessoal e esse contexto?

Vera Re: Sim, eu vejo. A ideia de democratização perpas- sa instituições públicas como Unilab, UNILA (Universidade Fe- deral da Integração Latino-Ame- ricana) e Institutos Federais. É a partir da redemocratização do país em que movimentos so- ciais, como o Movimento Negro, vão pautar o acesso ao ensino superior como uma medida de promoção da igualdade racial via políticas públicas promovi- das pelo Estado. Em decorrên- cia disso, educação deve ser vista como um direito de todos a ser garantido por esse Estado.

ACER

VO VERA R

ODRIGUES

A criação e/ou expansão de instituições públicas de ensino para além dos centros urbanos do sul e sudeste, tem na interiorização e direcionamento para o norte e nordeste um importante mecanismo de democratização do acesso à educação. Isso só acontece em governos democráticos. O inverso disso é o desmonte da universidade pública: a falta de investimento em ciência e tecnologia, bem como os ata- ques à autonomia universitária. A defesa da democracia e da educação são pautas indissociáveis, também em função das trajetórias coletivas de vida daquelas e daqueles que lutaram para que Unilab, UNILA e Institutos Federais fossem uma realidade. Isso faz parte da minha trajetória, por exemplo, e de outros professores e professoras negros e negras que estão nessas instituições de ensino, pesquisa e extensão. E nós trazemos isso (nossas trajetórias) para o nosso fazer científico, para o nosso fazer profissional. A nossa trajetória de vida não está descolada da nossa trajetória acadêmica, e isso faz uma grande diferença. E isso só pode acontecer porque está de fato entranhado em nós, tão entranhado que procuramos fazer essa articulação sempre presente. Eu penso que as universidades criadas pós- redemocratização do país e no debate das ações afirmativas, têm um plus por carregar isso no seu DNA – a democracia e a luta por justiça e igualdade social.

DEDS: Quais suas percepções sobre as ações afirmativas e a educação popular?

Vera Re: Eu hoje faço parte da Comissão de Ações Afirmati- vas do Programa Associado de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universida- de da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. A nossa luta hoje é por espalhar as ações afirmativas nos pro- gramas de pós-graduação das universidades locais – Unilab, UECE (Universidade Estadual do Ceará), UFC, além de universi- dades de outras regiões, como por exemplo, a URCA (Universi- dade da Região do Cariri). Nós estamos empenhados em que a pós-graduação abrace cada vez mais as ações afirmativas. Mesmo sabendo que isso vem em um momento de ataques à educação pública, de cortes, de tudo, das ameaças que estão sendo feitas, de um viés de anti- -intelectualismo e de criminali- zação do conhecimento. Nosso desafio é nos mantermos de pé. Eu sempre digo: a universidade pública precisa se manter de pé. Haja o que houver, nós va- mos sair dessa inteiros. Talvez machucados, talvez fragilizados, mas vamos sair inteiros, até porque eu acredito que a minha fase atual de vida é a de “pas- sar o bastão”. Eu vou fazer de tudo para formar antropólogos e antropólogas, especialmente jovens antropólogos e antropó- logas negros e negras. Isso faz

parte do que eu acredito como ação afirmativa. Ela é para além do ingresso – todos nós sabe- mos – é permanência e suces- so. Sucesso para mim é hoje superar esse estado de coisas. Porque não há racismo, não há fascismo que vá nos manter de- baixo dos pés, debaixo dos cotur-