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DEFICIÊNCIA DADOS / OMS DADOS / IBGE Nº / HABITANTES (EM MILHÕES)

Mental

5%

1,24%

2,09

Física

2%

0,59%

0,99

Auditiva

1,5%

2,42%

4,08

Visual

0,5%

6,97%

11,77

Múltiplos

1%

-

-

Motora

-

3,32%

5,6

Total

10%

14,5%

24,5

Dados: OMS e IBGE censo 2000 apud HECK6, (2002).

6 HECH, Ari. O Brasil é um País de deficientes. Artigo do leitor, Jornal O Estado de São Paulo, em

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Segundo a pesquisa citada, encontrou-se uma população de mais de 24,5 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. Os dados do Censo mostram, ainda, que os homens predominam no caso de deficiência mental, física ("especialmente no caso de falta de membro ou parte dele") e auditiva. O resultado é compatível com o tipo de atividade desenvolvida pelos homens e mostra que os acidentes de trabalho vêm contribuindo no aumento desse índice. Já as mulheres predominam no índice dificuldades motoras ("incapacidade de caminhar ou subir escadas") ou visuais, o que até certo ponto é coerente porque elas dominam na composição por sexo da população e idade acima de 60 anos. Também, ao somarmos o número de pessoas com deficiência física e motora, temos um total de 3,91% de pessoas com dificuldades físicas, ou seja, 6,59 milhões.

Durante os últimos trinta anos, acostumamo-nos a utilizar o índice estimativo mundial, segundo o qual 10% da população de qualquer país em tempos de paz seriam pessoas com algum tipo de deficiência. Por isso, muitos de nós, participantes do movimento da inclusão social, profissionais de reabilitação, ativistas das organizações de pessoas com deficiência e demais envolvidos neste campo, ficamos surpresos e preocupados com os resultados do Censo 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000).

A surpresa e a preocupação pouco têm a ver com a diferença entre o percentual estatístico (14,5%) encontrado no Censo do IBGE e o índice estimativo (10%). A diferença de 4,5%, para mais ou para menos em relação a 10%, já era esperada, a exemplo do que se verificou nos censos realizados em outros países ao longo de três décadas. São outros os motivos que nos levam a sentir insegurança e, de certo modo, resistência na hora de utilizar os dados do Censo 2000.

2,2 A cidadania e os movimentos sociais na perspectiva de inclusão

A palavra cidadania é derivada de cidadão, que vem do latim civitas. Na Roma antiga, o conjunto de cidadãos que constituíam uma cidade era chamado de civitate. A cidade era a comunidade organizada politicamente. Era considerado cidadão aquele que estava integrado na vida política da cidade. Naquela época, e durante muito tempo, a noção de cidadania esteve ligada à idéia de privilégio, pois os direitos de cidadania eram explicitamente restritos a determinadas classes e grupos. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer (AURÉLIO, 2004, p.18).

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De acordo com Valle (2000, p.25), ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar do destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranqüila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.

A expressão cidadania está por toda parte, apropriada por todo mundo, evidentemente com sentidos e intenções diferentes. Isso de certa forma é positivo porque indica que a expressão vem ganhando espaço na sociedade, por outro lado, tendo em vista a velocidade e voracidade das várias apropriações dessa noção, faz-se necessário à delimitação do seu significado.

Para Dagnino (1994, p. 103-14), torna-se evidente que as apropriações e a crescente banalização desse termo não só abrigam projetos diferentes no interior da sociedade, mas também tentativas de esvaziamento do seu sentido original e inovador. Há uma disputa histórica pela fixação do seu significado e, portanto, dos seus limites.

Na evolução histórica da busca pela cidadania, na concepção atual diz que ela é um fenômeno único, de modo que não se há de falar em uma continuidade do mundo antigo. A cidadania do passado não guarda relação muito estreita com a concepção atual. Porém, a análise histórica do que se entende por cidadania dá sentido à compreensão desse processo de entendimento conceitual e facilita a análise do seu significado moderno.

Portanto o conceito de cidadania teve diferentes significados de acordo com a sociedade e a época em vigor, segundo as relações de poder, conquistas, lutas, dominações, entre outras situações históricas e foi sofrendo alterações ao longo do tempo, seja pelas alterações dos modelos econômicos, políticos e sociais ou como conquistas, resultantes das pressões exercidas pelos excluídos dos direitos e garantias aos poucos preservados, num rico processo histórico ora demonstrado.

A conceituação de cidadania é extremamente complexa, uma vez que não se trata de um conceito estanque, mas histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço. Ser cidadão na época do Brasil - colônia, durante o período da escravatura ou dos regimes militares, em comparação com a situação de hoje, era completamente diferente. Da mesma forma, é diferente a concepção de cidadania que se tem na Alemanha, Estados Unidos ou no continente europeu em relação a que se tem no Brasil. Isso ocorre não apenas pelas regras que define quem é ou não titular da cidadania, mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam o cidadão em cada um dos Estados nacionais contemporâneos.

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A evolução histórica do conceito de cidadania revela muitas situações que, consideradas absurdas anteriormente, se incorporaram ao conceito de cidadão, com o passar do tempo. Exemplos dessas questões referem-se à situação da mulher, da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência e dos marginalizados ou excluídos sociais. Sendo assim, podemos conceituar cidadania diante de uma situação contextualizada, mas não de forma perene e definitiva, pois esse conceito também se liga, intrinsecamente, às lutas e reivindicações de cada povo e ao pleno exercício da democracia.

Por conseguinte, para se ter uma compreensão do que vem a ser cidadania, faz-se necessário, rever historicamente, o processo de formação da sociedade. De acordo com Rodrigues (2006, p. 34), os homens travavam relações com a natureza e consigo mesmo. Ao transformarem a natureza para atender as suas necessidades, aparece o trabalho, a principio manual, mas que utiliza simultaneamente a reflexão intelectual. Na melhoria da confecção, facilitação, organização e administração da produção, o homem desenvolveu instrumentos de trabalho e domesticou animais, visando o aumento da produtividade social. Para desenvolver as forças produtivas, organizou a produção junto aos seus semelhantes, distribuindo tarefas entre si, surgindo, então daí, a divisão social do trabalho, primeiro genericamente entre os homens e mulheres, depois entre a agricultura e a pecuária, entre os artesões e administradores e assim por diante.

Esses modos específicos de divisão e de organização do trabalho, aliados ás relações de propriedade, denominados por Marx e Engels de relações sociais de produção, deram início à dominação de alguns homens sobre outros, sustentando a base das desigualdades sociais no sistema capitalista. A dominação histórica de alguns grupos humanos sobre outros produziu uma distorção na compreensão e valorização das atividades manual e intelectual, promovendo em detrimento da mão de obra, a exaltação da atividade cognitiva como estereótipo (RODRIGUES, 2006, p. 29).

As relações de dominação são processualmente construídas, histórica e socialmente aceita de acordo com a consciência coletiva vigente. No modo de produção escravista antigo como na Grécia e Roma antiga, o trabalho era feito pelos escravos. No feudal, os servos trabalhavam para os senhores feudais. Os modos de produções citadas, o dominado percebia claramente o seu explorador, ou seja, seu dominador. No capitalismo atual, a oposição entre capitalistas e trabalhadores constitui a base desse processo. Na venda da força de trabalho, o operariado não percebe o trabalho não pago que constitui a mais valia fundamento de sustentabilidade do processo de exploração dos sistemas capitalista, pois muitas vezes, considera natural um salário pelo fruto de seu trabalho (RODRIGUES, 2006, p. 41).

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Esse processo de feuticização é denominado por Marx de falsa consciência ou consciência invertida, em que, por estarem alienados, os trabalhadores não conseguem perceber as relações de submissão pelas quais estão envolvidos.

Por conseguinte,

[...] a sociedade mostra-se alienada quanto ao modo de produção capitalista, além de condicionada pela mídia, tornando-se consumista de uma forma extrema, quando a idéia de que o homem e a mulher só se sentem incluída se consumir e excluída se não consegue beneficiar-se deste consumo (RODRIGUES, 2006, p. 42).

No que se refere ao processo de formação da sociedade, faz-se necessários uma reflexão acerca da tomada de consciência dessa dominação e alienação, cada vez mais acentuada nos dias atuais com a constante invasão da mídia em nossas vidas, com o avanço tecnológico da informação, gerando economia de mão-de-obra, conseqüentemente, o desemprego e o aumento da estratificação social.

O termo alienação tem várias definições como, cessão de bens, transferência de domínio de algo, perturbação mental, na qual se registra uma anulação da personalidade individual, loucura. A partir desses significados elaboram-se algumas diretrizes para melhor analisar o que é a alienação, e assim buscar alguns motivos pelos quais as pessoas se alienam. Ainda assim, os processos alienantes da vida humana foram tratados de maneira atemporal, defraudada, abstraído de processos sócio-econômicos concreto. A alienação trata-se do mistério de ser ou não ser, pois uma pessoa alienada carece de si mesmo, se tornando sua própria negação.

Alienação tem seu significado atrelado às teorias de Karl Marx, que vai escrever sobre como o sistema capitalista gera uma forte estratificação na sociedade em capitalistas e proletariados. Desta maneira, quando explica a condição do proletariado no mundo capitalista e relata sobre as condições de trabalho no período de industrialização, mostra que quem detém o modo de produção é o capitalista, e a produção é dividida em etapas, de forma que um trabalhador não tinha conhecimento ou posse do resultado final do trabalho (o produto).

Através desse recorte histórico, podemos analisar que o povo retratado somente pode recuperar direitos perdidos e melhorar sua organização através de reivindicações, lutas e participação política. Para época, era natural que houvesse a distinção do povo entre cidadão e não cidadãos, já que essa conquista se dava, a principio, a partir de uma hegemonia ou hereditariedade. A cidadania estava relacionada à questão da forma de pertencimento comum a todos.

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Retomando a historicidade da cidadania, alguns períodos representam marcos significativos para a análise do processo conceptual. Pode-se ter como referência que os alicerces da cidadania formaram-se pelas Revoluções: Inglesa (1640-1688), Americana (1776) e Francesa (1789). Posteriormente, o conceito de cidadania continuou se desenvolvendo de acordo com a evolução da sociedade (direitos sociais, luta das mulheres e das minorias, meio ambiente, etc.), até chegar ao estágio conhecido nos dias de hoje (DAGNINO, 1994, p. 93).

Dentre as revoluções citadas, a Revolução Francesa constitui, dentro do conceito de cidadania, um marco de extrema importância, em razão de princípios adotados: liberdade, igualdade e fraternidade. É a fundadora dos direitos civis e tem como marco significativo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão7. Essa declaração teve a característica de universalidade, não se restringindo apenas aos cidadãos franceses. Ela é considerada como uma declaração dos direitos civis dos homens, não importa o país, o povo e que etnia. É uma declaração que pretendeu alcançar a humanidade como um todo.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, nesse contexto, ganhou relevância, já que significou o início do processo de transformação do homem comum em cidadão, cujos direitos civis são garantidos por lei. Basta que analisemos alguns artigos dessa declaração para constatar tal assertiva.

Art. 1 - Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. Art. 2 - O fim de toda associação política é a preservação dos naturais e irrenunciáveis direitos humanos. Estes direitos são: a liberdade, a propriedade, a segurança, a resistência contra a opressão.

Art. 3 - A origem de toda soberania está essencialmente no povo.

Art. 4 - A liberdade consiste em tudo poder fazer que não prejudique um outro.

No entanto, na Inglaterra, como lembra Marshal, tais direitos consolidaram-se de maneira escalonada, ou seja, os direitos civis no século XVIII, os políticos no século XIX e os sociais no século XX.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão significou o início do processo de transformação do homem comum em cidadão, cujos direitos civis são garantidos por lei. No Brasil, a afirmação de tais direitos ocorreu tardiamente, a partir do século XIX e de modo diverso, ou seja, estabeleceram-se direitos políticos, alguns direitos sociais (principalmente na era Vargas) e os direitos civis, enfrentando dificuldades naturais, por motivo de mudança da

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forma de governo e das políticas desenvolvidas. Essa situação demonstra uma evolução na questão da cidadania do povo brasileiro, marcada por fatos históricos e pela exclusão de parcela da comunidade (mulheres, escravos, negros, crianças e adolescentes, portadores de deficiência) de seus direitos fundamentais.

Dagnino (1994, p. 101) afirma que a história relaciona a questão da cidadania à conquista de direitos. E todo esse movimento histórico proporcionou, no aspecto legal, uma evolução dos direitos. Nesse sentido, pensadores contemporâneos, como T. H. Marshal e Norberto Bobbio, revelam que, na evolução dos direitos dos homens, se encontram três grupos distintos.

Os Direitos civis correspondem ao conjunto das liberdades individuais estabelecidas por meio da igualdade jurídica. Compreende-se o direito de liberdade, como o direito que tende a limitar o poder do Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado. Podemos considerá-los os mais elementares, são os direitos políticos primários, sendo os que menos satisfazem aqueles que deles precisam, agravando ainda mais sua exclusão, pois só quem tem recurso pode fazê-los valer.

Os Direitos políticos, referentes ao exercício do poder, são estabelecidos por mecanismos de participação social e política. Os direitos políticos, segundo Dagnino (1994), são aqueles os quais concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impedimento, mas positivamente, como autonomia tem como conseqüência a participação cada vez mais ampla, generalizada e freqüente dos membros de uma comunidade no poder político (ou liberdade no Estado). Dentro do que observamos, na maioria das vezes, é a restrição natural ao direito social e civil que seria direcionado ao assistencialismo.

Os Direitos sociais que apresentam como o conjunto das garantias mínimas do bem- estar econômico, de acordo com os padrões culturais aceitos por uma sociedade. São regidos pelo signo da igualdade e visam ao bem-estar social. Expressam o amadurecimento de novas exigências, podemos mesmo dizer, de novos valores como os do bem-estar e da igualdade não apenas formal, e que poderíamos chamar de liberdade através ou por meio do Estado. Em outras palavras, na prática, não passam de meras concessões, que, na maioria das vezes, nem sequer são usufruídos.

Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados. Muitas vezes compreendemos os direitos como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que estão em baixo. Contudo, a cidadania não nos é dada, ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social.

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Portanto, no Brasil, estamos gestando a nossa cidadania, os primeiros passos foram dados através do processo de redemocratização e a Constituição de 1988 aborda no seu texto tais direitos expressos e legitimados. A afirmação dos direitos civis, políticos e sociais está bem caracterizada na também denominada de Constituição Cidadã, e nas leis ordinárias que se seguiram.

No texto da nossa Constituição, percebemos que a cidadania é o reconhecimento do cidadão, de seus direitos, deveres e participação, bem como pelo Estado. Sendo assim, a cidadania está vinculada à posse de direitos conquistados unido a idéia de igualdade de direitos. Portanto, não existe cidadania sem direitos. Nesse caso, cidadão é aquele indivíduo que participa de uma mesma comunidade política, na qual todos têm os mesmos direitos legalmente reconhecidos.

De maneira geral, podemos afirmar que ser cidadão implica o reconhecimento e a concretização de seus direitos civis, políticos e sociais e a cidadania resulta na efetivação de tais direitos e na luta incessante para alcançá-los, independentemente da condição pessoal ou social do indivíduo em que implica o cumprimento dos deveres. Contudo, o elemento da reivindicação é preponderante para garantir exercício da cidadania.

Compreendemos que a existência da cidadania está atrelada, na maioria das vezes, a uma prática de reivindicação, de apropriação de espaços, da lei para fazer valer os direitos do cidadão, nesse sentido, a prática da cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a construção de uma sociedade melhor. Mas o primeiro pressuposto dessa prática é que esteja assegurado o direito de reivindicar os direitos, e que o conhecimento deste se estenda, cada vez mais, a toda a população.

A concepção de cidadania envolve a idéia de igualdade e de subjetividade, pois ela é respectivamente coletiva e individual. Portanto, construir cidadania é também construir novas relações e consciências. A cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a coisa pública e o próprio meio ambiente. Ela deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética dentre outros.

A pessoa com deficiência é um cidadão como toda e qualquer outra pessoa. Este direito deve ser respeitado por todos e em todas as situações, como, por exemplo, na saúde, na educação, no transporte, no acesso à justiça, dentre outros. O que ocorre, na verdade, é que, embora garantidos pela Constituição Federal e pelas leis, o que se verifica, na prática, é uma

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reiterada e ostensiva inobservância desses direitos de cidadania contra a maioria da população excluída dos bens e serviços desfrutados pelas elites.

O grande desafio é, portanto, além de incorporar novos direitos aos já existentes, integrar cada vez um número maior de indivíduos ao gozo dos direitos reconhecidos. Na visão de Covre (1991, p.13), para qual cidadania significa o acesso permanente aos direitos políticos, civis e sociais, sendo: os direitos políticos relacionados ao ato de votar e ser votado; os direitos civis relacionados à liberdade de expressão do pensamento, á locomoção e, ainda, ao exercício profissional; e à questão dos direitos sociais, às condições de vida como um todo . Não podemos nos esquecer que o caminho para se alcançar esses direitos requer mobilizações de grupos e atores sociais que fizeram e ainda fazem história. Mesmo aqueles que são agregados à dinâmica estatal perdendo, de certa forma, sua altivez e independência, em troca da viabilidade econômica injetada pelo Estado neoliberal vigente.

As lutas dos movimentos sociais têm sido consideradas, por vários analistas e consultores de organizações internacionais, como elementos e fontes de inovações e mudanças sociais. Existe também um reconhecimento de que eles detêm um saber, decorrentes de suas práticas cotidianas, passíveis de serem apropriados e transformados em força produtiva. Os movimentos são elementos fundamentais na sociedade moderna, agentes construtores de uma nova ordem social e não agentes de perturbação da ordem, como as antigas análises conservadoras escritas nos manuais antigos, ou como ainda são tratados na atualidade por políticos tradicionais.

Para Gohn (2001, p. 29), a presença dos movimentos sociais é uma constante na história política do país, mas ela é cheia de ciclos, com fluxos ascendentes e refluxos. Alguns estratégicos, de resistência ou rearticulação em face de nova conjuntura e as novas forças sociopolíticas em ação; compreendendo que o importante a destacar é esse campo de força sócio-político e o reconhecimento de que suas ações impulsionam mudanças sociais diversas. O repertório de lutas que eles constroem e demarcam interesses, identidades, subjetividades e projetos de grupos sociais.

Mesmo com a idéia da década de 80 como a década perdida , com sensível aumento dos índices de pobreza e exclusão social, pode-se dizer que o saldo positivo deste longo e complexo processo de organização popular foi ampliar as possibilidades de equacionamento político das demandas sociais, diante da disponibilidade de recursos públicos (DOIMO, 1995 p. 219).

Com as possibilidades de parcerias em andamento, a partir de 1990, os movimentos