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CAPÍTULO I: A DEFICIÊNCIA FÍSICA NO CONTEXTO HISTÓRICO DA

1.4. Deficiência Física na Idade Média

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O período conhecido como Idade Média, entre os séculos V e XV, de acordo com Junior e Kutiansky apud Carvalho1 (2010, p. 107), traz algumas informações e registros (preocupantes) sobre pessoas com deficiência. Continuaram a existir, na maioria das vezes controlada e mantida por senhores feudal, local para o atendimento de doentes e deficientes.

As referências históricas enfatizam, porém, o predomínio de concepções místicas, mágicas e misteriosas sobre a população com deficiência. Junior e Kutiansky apud Carvalho2 (2010, p. 107) frisam que o crescimento dos aglomerados urbanos ao longo desse período criou dificuldades para a manutenção de patamares aceitáveis de higiene e saúde. Durante muitos séculos, os habitantes das cidades medievais viveram sob a permanente ameaça das epidemias ou doenças mais sérias.

As incapacidades físicas, os sérios problemas mentais e as malformações congênitas eram considerados, quase sempre, como sinais da ira divina, taxados como “castigo de Deus”.

Na concepção de Junior e Kutiansky apud Carvalho3 (2010, p. 107), a própria Igreja Católica adota comportamentos discriminatórios e de perseguição, substituindo a caridade pela rejeição àqueles que fugiam de um “padrão de normalidade”, seja pelo aspecto físico ou por defenderem crenças alternativas, em particular no período da Inquisição nos séculos XI e XII.

Doenças como a hanseníase, peste bubônica, difteria e outros males, muitas vezes incapacitantes, disseminaram-se pela Europa Medieval. Muitas pessoas que conseguiram sobreviver, mas com sérias sequelas, passaram o resto dos seus dias em situações de extrema privação e quase que na absoluta marginalidade.

Junior e Kutiansky apud Carvalho4 (2010, p. 108) destacam que no final do século

população, não só os deficientes. É claro que exemplos de caridade e solidariedade para com eles também existiram durante a Idade Média, mas as referências gerais desta época situam pessoas com deformidades físicas, sensoriais ou mentais na camada de excluídos, pobres, enfermos ou mendigos.

Outrossim, a Idade das Trevas não teve esta denominação sem motivos. Com o cristianismo cego a frente do poder de tudo, as restrições ao conhecimento por quase toda sociedade foi a principal característica desta época, na qual a ignorância da sociedade é de assustar até hoje nos livros de história e filmes. O olhar sobre o físico também sofreu alterações e ainda hoje se encontra presente no imaginário social, principalmente devido às influências do pensamento religioso, conforme afirma Junior e Kutiansky apud Carvalho5 (2010, p. 108).

Segundo Carvalho (2010, p. 108), a justificativa utilizada para discriminar os deficientes físicos era a de que Espíritos malignos e demônios foram as principais respostas da época para aquelas pessoas que não se encaixavam na sociedade da época.

Carvalho (2010, p. 109), entende que o surgimento do termo "Diabo" também contribuiu ainda mais para esta perseguição, pois contribuiu para o famoso fator histórico desta época, a temível inquisição das bruxas. Milhares de mulheres foram julgadas e queimadas nas lendárias fogueiras da Espanha até a Itália. Muitos padres católicos que também eram os juízes acreditavam que a deficiência era aplicada pelas bruxas nos infiéis.

Junior e Kutiansky apud Carvalho6 (2010, p. 109) registram que outros sofrimentos suportados pelos deficientes físicos nesta era negra foram às humilhações em público: muitos festivais medievais expunham estas pessoas como aberrações, submetendo-as à ridicularização pública.

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problema de saúde pública, pois a igreja fiscalizadora e conservadora começavam a perder seu poder de persuasão perante grande parte da sociedade.

Neste período de revoltos golpes e conflitos deparam-se com a famosa Revolução Francesa, que derrubou o sistema feudal e instalou os famosos princípios franceses de Liberté, Egalité e Fraternité (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) descritos por Rousseau, mudando radicalmente o olhar sobre cada cidadão da época.

1.5. A Revolução Industrial e o Mercado de Trabalho

Segundo Sérgio Pessotti (1984, p. 72), com a Revolução Industrial o panorama da concepção de deficiência muda um pouco seu foco, considerando que esse período retrata um processo de transformações econômicas e sociais, caracterizadas pela aceleração do processo produtivo e pela consolidação da produção capitalista, abrindo caminho para o processo de produção em série, que exige a escolarização em massa de seus trabalhadores.

Surge, então, uma nova parcela da população que passou a ser considerada menos eficiente, ou seja, deficiente, aqueles que não conseguiam aprender conforme as normas escolares instituídas, segundo informa Sérgio Pessotti (1984, p. 73).

Com a Revolução Industrial surge o modelo de caracterização da deficiência como questão médica e educacional, direcionando os portadores de deficiência a viver em conventos e hospícios ou até mesmo o ensino especial (criou-se nesse momento histórico o modelo do paradigma da institucionalização do indivíduo, mantido segregado e com vínculo permanente com a instituição), conforme entende Pessotti (1984, p. 77).

Ainda para Pessotti (1984, p. 77), vários inventos se forjaram com o intuito de propiciar meios de trabalho e locomoção aos portadores de deficiência, tais como a cadeira de rodas, bengalas, bastões, muletas, coletes, próteses, macas, veículos adaptados, camas, móveis, criação do Código Braille por Louis Braille para deficientes visuais.

Notadamente, as respostas da Revolução Francesa deram origem à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão e à Revolução Industrial, que transformou significativamente os modos e meios de produção do trabalho para o operariado.

Direitos obtidos no tocante á liberdade, igualdade e autonomia da pessoa humana coadunaram em propiciar garantias e direitos para o reconhecimento da importância do ser humano, independente de suas limitações e restrições, como pessoa, dando às mesmas acesso aos diversos setores do mercado de trabalho.Insta afirmar que ainda há muito a evoluir, ou seja, a sociedade contemporânea tem muito a conquistar em relação aos direitos e garantias individuais da pessoa.

19 dentro do padrão considerado normal para o ser humano, podendo ser permanente ou não, conforme afirma Linamara Rizzo Battistella, (2005, p. 5).

Segundo Linamara Rizzo Battistella:

[...] por deficiência permanente, o mesmo decreto regula que é aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos. (BATISTELLA, 2005, p. 5)

O parágrafo 1º do artigo 4° do referido Decreto considera as seguintes deficiências:

pessoa portadora de deficiência, deficiência física, deficiência auditiva, deficiência visual e deficiência mental.

[...] a deficiência tida como incapacidade, ou seja, uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. (BATTISTELLA, 2005, p. 5)

Segundo o Decreto n.º 914/1993 artigo 3º, deficiente físico é o indivíduo que apresenta comprometimento da capacidade motora, nos padrões considerados normais para a espécie humana. Pode ser definido como uma desvantagem, pois resulta de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho motor de uma determinada. Senão, vejamos:

[...] pessoa portadora de deficiência é aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função

psicológica, fisiológica, ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano. (BRASIL, 1993)

Os tipos de deficiência física são: a hemiplegia, que é a paralisia da parte direita ou esquerda do corpo, a paraplegia, que é a paralisia dos membros inferiores, ou seja, das pernas, e a tetraplegia que é a paralisia dos quatro membros, sendo assim dos braços e perna.

De acordo com as convenções brasileiras para a saúde (BRASIL, 2006, p. 22), várias podem ser as causas da deficiência física: pré-natais, como problemas durante a gestação; perinatais, ocasionadas por problemas respiratórios na hora do nascimento; pós–natais, tais como parada cardíaca, infecção hospitalar, doenças infecto-contagiosa, traumatismo ocasionado por queda forte, assim melhor esclarecido:

Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição materna; rubéola; toxoplasmose; trauma de parto; subnutrição; outras;

Hemiplegias: por acidente vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral e outras; Lesão medular: por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca; acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas.

Traumatismos diretos; quedas; processos infecciosos; processos degenerativos e outros; Amputações: causas vasculares; traumas;

malformações congênitas; causas metabólicas e outras; Febre reumática doença grave que pode afetar o coração; Câncer; Miastenias graves (consistem num grave enfraquecimento muscular sem atrofia). (BRASIL, 2006, p. 22).

Segundo Vygotsky (2004, p. 233), um defeito ou problema físico, qualquer que seja sua natureza, desafia o organismo. Assim, o resultado de um defeito é invariavelmente duplo e contraditório. Por um lado ele enfraquece o organismo, mina suas atividades e age como uma força negativa. Por outro lado, precisamente porque torna a atividade do organismo difícil, o defeito age como um incentivo para aumentar o desenvolvimento de outras funções no organismo; ele ativa, desperta o organismo para redobrar atividade, que compensará o defeito e superará a dificuldade.

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III. EVOLUÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL

O Brasil é detentor da legislação mais completa da Ibero-América na área de apoio às pessoas portadoras de deficiência. De acordo com Andreia Matilde Bottamedi (2004, p. 48), “destacam-se especificamente, os textos referentes ao acesso ao emprego, deixando clara a importância da preparação para o trabalho com vistas ao engajamento das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho nacional”. Todas as construções legislativas, referentes a este assunto, fundamentadas na Carta Magna, estruturam-se no princípio da igualdade.

[...] a conceituação de pessoa portadora de deficiência, no âmbito jurídico, é importante para fins da compreensão e aplicação das leis dirigidas a essa parcela da população. A pessoa portadora de deficiência física é uma pessoa e desta forma se enquadra no conceito jurídico como tal, sendo sujeito de direitos e obrigações, é então cidadão. (BOTTAMEDI, 2004, p.

50)

Os direitos sociais estão elencados no artigo 6º da Constituição Federal de 1998 e em conjunto com os direitos fundamentais e da ordem econômica resguardam o cidadão e promovem justiça social e bem estar a todos.

3. Leis que regulam e resguardam os direitos dos deficientes

O conjunto de leis que no Brasil orientam, resguardam e efetivam os direitos dos deficientes físicos é farta. Inicialmente, a Carta Magna prevê o tratamento igualitário a todos os cidadãos e diversas outras leis esparsas complementam e normatizam de forma especifica o tema aqui discutido. Senão, veja-se:

3.1. Constituição Federal de 1988 – garante a todos os cidadãos, sem exceção, todos os direitos sociais.

3.2. Lei nº 7.853, de 29 de outubro de 1989 – saúde, educação e trabalho são os principais aspectos tratados nessa Lei, em relação às pessoas portadoras de deficiência. Criminaliza o preconceito. Conceitua a deficiência como toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.

3.3. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 – trata das vagas para as pessoas portadoras de deficiência nos concursos públicos. Esta Lei vem para resguardar a acessibilidade do portador de deficiência às vagas de trabalho na Administração Pública bem como lhe conferir o direito ao melhor lugar nos termos de suas limitações seja quais forem.

3.4. Lei nº 8.213, de 25 de julho de 1991 – a partir dessa lei, todas as organizações com cem ou mais empregados devem reservar de 2% a 5% de suas vagas para beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência habilitadas.

3.5. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – a lei de Diretrizes da Educação Nacional aborda o ensino regular e o especial, realizando ainda distinções entre ambos.

3.6. Portaria nº 4.677, de 29 de julho de 1998 – organizações com cem ou mais empregados ficam obrigados, a partir desta portaria, do Ministério da Previdência e Assistência Social, a destinar 2% a 5% das vagas para os beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.

3.7. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 – trata da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Estabelece mais diretrizes em educação, saúde, desporto, trabalho, cultura, lazer, turismo, acessibilidade,

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habilitação e reabilitação profissional e capacitação de profissionais especializados.

Também obriga as organizações com cem ou mais empregados a destinar 2% a 5%

de suas vagas a reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.

3.8. Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000 – pessoas portadoras de deficiência têm atendimento prioritário, juntamente com gestantes, lactantes, indivíduos com mais de 65 anos e pessoas com crianças de colo.

3.9. Decreto nº 3.691, de 19 de dezembro de 2000 – delibera sobre o transporte de pessoas carentes portadoras de deficiência. Assegura o passe livre para pessoas carentes portadoras de deficiência, regulamentando a Lei nº 8.899, de junho de 1994 e dispões sobre os cidadãos portadores de deficiência no transporte coletivo interestadual.

3.10. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 – a promoção de acessibilidade é o tema dessa lei, que estabelece normas e críticas para os setores de transportes, comunicação e sinalização. Garante a eliminação das barreiras de comunicação.

3.11. Decreto nº 3.956, de 8 outubro de 2001 – promulga a Convenção Interamericana para eliminação de todas as formas de discriminação de pessoas portadoras de deficiência – a Convenção de Guatemala.

3.12. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 – Libras – Língua Brasileira de Surdos e outros recursos associados a ela são reconhecidos nessa lei como meios legais de comunicação, informa Andreia Matilde Bottamedi (2004, 50).Mediante esta Lei, o Brasil reconheceu a Língua Brasileira de Sinais/ Libras, por meio da Lei nº 10.436/2002, como a Língua das comunidades surdas brasileiras, que no seu artigo 4º, dispõe que o sistema educacional federal e sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação

de Educação Especial, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais / Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Os recursos, as facilidades de acesso e as reservas de vagas disponibilizadas para os portadores de deficiência elevam o grau de cidadania dispensado a estes cidadãos.

São cerca de 65 (sessenta e cinco) Leis e Decretos instituídos em prol do deficiente para facilitar, regulamentar e auxiliar a condição de vida deles.

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IV. OS DIREITOS DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIENCIA FISICA NA CONSTITUICAO FEDERAL

4. Direitos Sociais e Direitos Fundamentais

A República Federativa do Brasil fundamenta-se constitucionalmente, entre outros, no princípio da dignidade humana e tem objetivos como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e a redução das desigualdades sociais e regionais.

O legislador constituinte de 1988 estabeleceu, assim, as bases axiológicas do Texto Magno, reafirmando o antigo princípio liberal da Revolução Francesa: a igualdade de todos perante a lei (artigo 5º, caput).

Entretanto, conforme entende Cabral (2008), quando o objeto de análise são as pessoas portadoras de deficiência, fica clara a desproporção de acesso aos direitos individuais e sociais ao exercício das suas cidadanias, exigindo-se a presença do Estado.

Segundo Cabral (2008), o resultado da igualdade perante a lei resulta na sua eficácia quando aplicada ao caso concreto. Essa igualdade oportuniza que as pessoas sejam tratadas de modo igualitário, o que impossibilita o privilégio a outros grupos.

Para Cabral (2000), o modelo constitucional brasileiro estabeleceu que a igualdade perante a lei é o que na doutrina geral temos por igualdade na lei, dirigindo-se prioritariamente ao legislador, pois ao juiz caberá, tão somente, sua aplicação ao caso concreto.

Cabral (2008) ressalta:

[...] somente a lei pode desigualar e, quando o faz, objetiva igualar os desiguais, oferecendo-lhes as condições necessárias ao pleno exercício de sua cidadania, visto que tanto se viola o princípio da igualdade quando em situações semelhantes

recebe o cidadão tratamento diferenciado, como quando pessoas em situações diversas recebem tratamento igual. (CABRAL 2008)

Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 há, em todos os capítulos que tratam dos direitos do cidadão e dos deveres do Estado, vários artigos referentes aos portadores de deficiência física.

O Ministério Público segundo a Constituição Federal, em seu artigo 127, é o guardião da ordem jurídica, do regime democrático de direito e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Ele atua, entre outras áreas, nos conflitos decorrentes de trabalho, em todos os estados brasileiros, através de seus Procuradores, na promoção dos interesses difusos e coletivos dos trabalhadores.

Há, ainda, legitimidade do Ministério Público para a proteção dos interesses difusos e coletivos da pessoa portadora de deficiência, conforme artigo 129 da Constituição Federal interpreta Andreia Matilde Bottamedi (2004, p. 51).

Não obstante, o Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado em maio de 2003, mostra que o Brasil está entre os países onde o preconceito contra trabalhadores portadores de deficiência e de outras etnias é alarmante, como informa Andreia Matilde Bottamedi (2004, p. 54).

Assim, o artigo 7º, XXXI, integrado no rol dos direitos sociais, referindo-se aos trabalhadores urbanos e rurais, prevê a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salários e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”.

Este inciso reitera o artigo 3º, IV, que estabelece como objetivo da República Federativa do Brasil a “promoção do bem de todos, sem preconceitos e quaisquer outras formas de discriminação”, segundo Benjamim Constant (2004, p. 28).

O artigo 23, II, da Constituição Federal distribui a competência para cuidar da saúde e da assistência pública, da proteção e da garantia das pessoas portadoras de deficiência entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, cabendo ao Poder Público Federal, nos termos da Lei Complementar 7.853/89, conferir-lhes atendimento prioritário e apropriado, a fim de que lhes seja efetivamente

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possibilitado o pleno exercício de seus direitos individuais e sociais, bem como sua completa integração social.

Consoante o artigo 24, XIV, a competência da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre a proteção e a integração social das pessoas portadoras de deficiência é concorrente, ensejando maior eficácia nas atribuições da norma constitucional encontra-se complementada pela Lei 8.112/90, em seu artigo 5º, § 2º7.

O artigo 203 trata da assistência social aos menos favorecidos e preocupou-se o legislador, tanto no inciso IV, que institui como um dos seus objetivos a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência à vida comunitária, como no inciso V, garantindo-lhes um salário mínimo mensal a título de benefício quando comprovarem não possuir meios de se manterem ou for providos por suas famílias.

O artigo 208 reconhece a educação como dever do Estado, assegurando às pessoas portadoras de deficiência atendimento especializado, preferencialmente na rede regular de ensino.

Inserido no capítulo Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso, o artigo 227 responsabiliza, igualmente, a família, a sociedade e o Estado pelo atendimento dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, necessário ao pleno desenvolvimento de sua personalidade, integridade física e perfeita adaptação social, enumerando um rol de prioridades segundo Benjamim Constant (2004, p. 23).

7 “§ 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.”

O inciso II do § 1º do referido artigo estabelece para o Estado o dever de promover programas de assistência integral à saúde destas crianças e adolescentes que, portadores de deficiência física, sensorial ou mental, aí se inserem, com o objetivo de promover-lhes: prevenção e tratamento especializado; integração social assegurada através do treinamento para o trabalho e a convivência; a facilitação operacional do acesso aos bens e aos serviços coletivos e a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

Ainda, o artigo 244 da Constituição Federal remete à disposição, por força de lei complementar, sobre a adaptação de logradouros, edifícios públicos, veículos de transporte coletivo já existente ao tempo da promulgação da Constituição Federal, a fim de garantir às pessoas portadoras de deficiência o direito constitucional de ir e vir.

A Carta Magna dispõe também que o acesso físico dessas crianças e jovens aos edifícios de uso público será planejado em norma complementar – disposições contidas obrigatoriamente nos Planos Diretores dos municípios com mais de 20.000 habitantes – bem como a fabricação de veículos de transporte coletivo.

Além das normas constitucionais, leis civis promulgadas em todos os níveis federativos vêm ao encontro dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, em conformidade com os princípios gerais do direito consagrados em nosso ordenamento jurídico.

As principais leis federais, promulgadas após a Constituição de 1988, são as Leis 7.853/89, a 8.028/90 (que alterou a anterior) e o Decreto 914/93.

O Decreto 914/93 instituiu a política nacional para a integração da pessoa portadora de deficiência, atribuindo à CORDE (Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência) a ampla divulgação desta política.

Quando a Constituição, em seu artigo 208, assegurou a educação especial, determinou que esta será ministrada, preferencialmente, na rede regular de ensino.

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A Lei Complementar 7.853/89 detalhou este atendimento que vai da educação precoce até o 2º grau, a educação supletiva e a que visa à formação profissional, criando-se currículos, etapas e exigências de diplomação próprios, inseridas as escolas no sistema educacional.

A Lei Complementar 7.853/89 detalhou este atendimento que vai da educação precoce até o 2º grau, a educação supletiva e a que visa à formação profissional, criando-se currículos, etapas e exigências de diplomação próprios, inseridas as escolas no sistema educacional.

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