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Parte III: Mass media e Medo do Terrorismo

1. Definição de Mass media

Media são todos os meios de comunicação de massa numa comunidade (National Crime Prevention Council, 2000). Segundo Berger, (1995) a comunicação de massa é a utilização dos media impressos ou eletrónicos para comunicar com um grande espetro de pessoas que se encontram espalhadas por vários locais (Berger, 1995). Os mass media fornecem um contexto de significados e imagens que preparam as audiências para certas decisões. Os cidadãos fazem parte da audiência de vários meios de comunicação de massa. (Altheide, 2007).

Wilkinson (1997b) usa um termo mais genérico para definir mass media – todos os métodos ou canais de informação e entretenimento. Segundo o autor, os mass media abrangem jornais, rádio e televisão, mas existem outras formas importantes de comunicação, como os livros, filmes, música, teatro e artes visuais. No final do século XX desenvolveu-se a globalização dos mass media, contudo, ao longo da história foram existindo métodos informais de comunicação, como os boatos que ocorriam nas tabernas e nas ruas e que até aos dias de hoje têm um papel fundamental na transmissão de informações. Estes canais informais

29 coexistem, nas sociedades contemporâneas, com as mais recentes tecnologias multimédia (idem, 1977b).

Já a definição de News Media foi sofrendo alterações à medida que as emissoras de notícias oficiais começaram a recorrer aos media sociais para manter o contato com as massas. Assim, News Media é definida como informação sobre eventos recentes relatados, editados, monitorizados e transmitidos por profissionais reconhecidos deste setor das notícias (Hildreth, 2015). A qualidade das News Media mede-se pelo grau de responsabilidade, credibilidade e confiança (idem). As diferenças significativas entre os News media e os media tradicionais tornam os primeiros menos focados em públicos grandes, passivos e heterogéneos, portanto, os news media visam pequenos públicos homogéneos que têm um interesse especial num tipo restrito de conteúdo (Surette, 2011). Em suma, os News Media têm desempenhado um papel importante na criação de perceções sobre a política e a vida em sociedade (Chong & Druckman, 2007; Iyengar, 1990).

Para melhor percebermos o conceito de mass media e a sua relação com o medo do crime é importante ter em linha de conta as teses explicativas deste último.

1.1. Modelos Teóricos: o medo do crime e as suas teses explicativas

São diversos os modelos teóricos que têm sido usados para explicar a relação entre os mass media e o medo do crime. Entre aqueles, os mais relevantes têm sido a Teoria da Cultivação, a Teoria da Substituição e a Teoria da Ressonância. Nas próximas linhas iremos caraterizar cada uma das referidas teorias.

A Teoria da Cultivação, que considera o cultivo como um sistema de nível macro de explicação sobre os mass media, foi introduzida por George Gerbner e pauta-se por se focar mais no papel dos media (Gerbner & Gross, 1976; Gerbner, Gross, Morgan & Signorielli, 1980).

Potter (2014) afirma que Gerbner não se debruçou sobre a forma como as pessoas selecionavam e processavam as informações das mensagens, nem quais os efeitos que as mesmas exerceram sobre as pessoas durante as exposições ou imediatamente após; em vez disso, focou-se nos significados dos cenários pertencentes aos mass media, ou seja, com a influência que um escopo mais amplo de mensagens exerceria sobre o público à medida que as pessoas eram expostas às mensagens dos media nas suas vidas quotidianas (idem, 2014).

A Teoria da Cultivação recai sobre as implicações de padrões estáveis, repetitivos e penetrantes de imagens e ideologias que a televisão proporciona. Esta perspetiva aborda a

30 televisão como um sistema de mensagens – um sistema cujos elementos não são invariáveis ou uniformes, mas complementares, orgânicos e coerentes – e indaga sobre as funções e consequências dessas mensagens como um sistema, em geral, para os seus públicos. Desta feita, o foco da análise desta teoria está nos correlatos e consequências da exposição cumulativa à televisão em geral, durante longos períodos de tempo (Gerbner, G., & Gross, L. 1976; Shanahan, J., Shanahan, J., & Morgan, M., 1999). Portanto, o consumo intenso das mensagens dos media distorce as crenças da audiência sobre o mundo, influenciando, por seu turno, os estados cognitivos e emocionais da mesma (Gerbner, G., & Gross, L. 1976). Este fenómeno pode ser observado com o crime, sendo que este é reportado de forma distorcida, nomeadamente os crimes violentos, sendo que os media negligenciam os padrões e as causas do crime, criando e vincando a ideia de que o crime é aleatório, inexplicável e irracional (Surette, 2011).

Apesar da crítica associada à tese da cultivação, esta tem sido aplicada em alguns estudos empíricos com o objetivo de estudar como é que a exposição prolongada à televisão pode distorcer as perceções do público e exacerbar aspetos da realidade social, como o crime ou violência. Estudo existentes sugerem que o medo do terrorismo é influenciado pelos mass media de forma semelhante ao medo do crime, contudo, estes não diferenciam as fontes acedidas, em vez disso, focam-se em meios de comunicação específicos, como jornais ou televisão. Portanto, há uma necessidade de estudar a influência de diferentes tipos de mass media no medo subjetivo. (Williamson & Miles-Johnson, 2019)

Tanto a Teoria da Substituição como a Teoria da Ressonância foram elaboradas com o objetivo de delinear traços individuais e circunstâncias que poderiam ser usadas para explicar a relação entre os mass media e medo do crime. Portanto, a primeira pressupõe que quanto menor a experiência pessoal do crime, maior é o efeito que os mass media têm sobre os sentimentos de medo (Eschholz et al. 2003). Por exemplo, o paradoxo medo-vitimação entre as pessoas idosas e as mulheres explica muito bem este conceito, porque estas populações reportam níveis mais elevados de medo do crime em relação aos mais novos e aos homens, sendo que na realidade as estatísticas oficiais dizem o contrário, que estes dois grupos (idosos e mulheres) são os que têm menos risco objetivo de vitimação (Hale, 1996). Desta feita, os efeitos dos mass media são mais preponderantes em fenómenos que estão fora da esfera experiencial pessoal dos sujeitos (Weaver & Wakshlag, 1986; Surrete, 2010), ou seja, as pessoas que se encontram isoladas do crime estão mais suscetíveis de serem influenciadas pelas mensagens do crime (idem).

31 Por outro lado, a Teoria da Ressonância argumenta que a televisão tem mais impacto e cria mais consequências quando ressoa com a experiência daqueles que a assistem, isto é, quando as imagens dos media são consistentes com a experiência vivida (e.g., vitimização criminal, residir numa comunidade com altas taxas de criminalidade), portanto, os media e a experiência reforçam mutuamente o medo dos cidadãos (Gerbner et al 1980; Weitzer & Kubrin, 2004). Deste ponto de vista, aqueles com maior exposição ao crime (homens; pessoas que sofreram revitimações; com rendimentos mais baixos) seriam aqueles que demonstrariam relações mais fortes entre TV-medo (Eschholz et al. 2003; Weitzer & Kubrin, 2004).

A tese da Ressonância é suportada em alguns estudos, como o de Chiricos, Padgett & Gertz (2000), que se debruçou sobre comunidades de alta criminalidade, sendo que estas, no estudo do autor, são predominantemente afro-americanas que, geralmente, são desproporcionalmente vitimados pelo crime. Desta feita, esta teoria previa uma relação mais forte entre os negros do que entre os brancos, ou seja, a exposição a notícias sobre a criminalidade, juntamente com uma maior vulnerabilidade pessoal ou experiência de crime nos bairros, deve produzir um medo maior do crime entre os negros. Ainda, constatou-se que com a visualização de TV o medo aumentou, mas apenas em bairros de alta criminalidade. A exposição televisiva não teve efeito sobre o medo em bairros de baixa criminalidade, levando à conclusão de que a televisão só se destaca quando interage com as condições de criminalidade da vizinhança (Weitzer & Kubrin, 2004).

Em suma, é importante ter em linha de conta que a maioria das pessoas não tem experiência pessoal direta com crimes graves, sendo os mass media a principal fonte. Adicionalmente, importa ter em consideração que os mass media são fontes de informação às quais os membros da sociedade moderna participam amplamente (Sacco, 1982). Concluindo, os media afetam positivamente o medo do crime, contudo é preciso considerar que as pessoas consomem as mensagens do crime através da TV, jornais e outras fontes mediáticas e que por seu turno estes representam essas mensagens de forma amplificada e exagerada (Jewkes, 2004). Sendo que tudo isto vai influenciar os comportamentos dos cidadãos, tal como Garofalo (1981) afirma, as pessoas passam a restringir a sua atividade na sociedade para minimizar o seu risco de vitimação na rua.

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2. Relação entre Terrorismo e os Mass Media: relação simbiótica ou relação