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Definição dos crimes de atribuição do tribunal penal internacional

3.9 COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

3.9.1 Definição dos crimes de atribuição do tribunal penal internacional

O Estatuto de Roma traz a definição dos crimes de genocídio, dos crimes contra a humanidade e dos crimes de guerra, considerados os crimes mais graves perante a sociedade internacional. Com relação aos crimes de agressão, não se obteve uma definição na Conferência dos Plenipotenciários, a tipificação jurídica deste crime foi alcança em 11 de junho de 2010, pela Comissão Preparatória.98

a) Crimes de genocídio

A definição do crime de genocídio está prevista na Convenção para Prevenção e Sanção do Crime de Genocídio de 194899, que serviu como fonte principal para a definição do atual conceito deste crime.100

95 MAZZUOLI, 2011, p. 51-52. 96 Ibid., p. 165.

97 TAQUARY, 2008, p. 184.

98 Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 260 A (III), em 9 de dezembro de 1948, o texto da Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio foi aprovado e entrou em vigor em 12 de janeiro de 1951, noventa dias após o depósito junto à Secretaria – Geral da ONU, quando do vigésimo instrumento de ratificação ou adesão.

99 Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 260 A (III), em 9 de dezembro de 1948, o texto da Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio foi aprovado e entrou em vigor em 12 de janeiro de 1951, noventa dias após o depósito junto à Secretaria – Geral da ONU, quando do vigésimo instrumento de ratificação ou adesão.

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Segundo Maia:

[...] De acordo com a Convenção, genocídio é qualquer ato em tempo de paz ou de guerra, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional étnico, racial, ou religioso, como o assassinato ou qualquer dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; subjugação intencional do grupo à condição de existência que lhe ocasione a destruição física, total ou parcial, medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo, e transferência forçada de indivíduos, sobretudo crianças, para outro grupo.101

Acerca do tema, Mazzuoli traz a definição do crime de genocídio que está prevista no artigo 6o do Estatuto de Roma:

[...] Para os efeitos do Estatuto de Roma, entende-se por „genocídio‟ qualquer um dos atos a seguir enumerados, praticados com a intenção de destruir (física ou culturalmente), no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal, a saber: a) homicídio de membros do grupo; b) ofensas graves á integridade físicas ou mental de membros do grupo; c) sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; d) imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; e e) transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.102

O conceito atual, adotado pelo artigo 6o do Estatuto de Roma, substituiu algumas expressões utilizadas pelo artigo 3o da Convenção sobre Genocídio.103 O Estatuto usou a palavra homicídio no lugar de assassinato, trocou a expressão dano por ofensa, bem como acrescentou a palavra imposição, na letra “d”, tendo em vista a licitude das condutas de controle de natalidade.104

b) Crimes contra a humanidade

O artigo 7o do Estatuto de Roma prevê a definição para os crimes contra a humanidade.105

Conforme leciona Taquary:

O Estatuto de Roma que cria o Tribunal Penal Internacional, prevê os crimes contra a humanidade no seu art. 7o, e são caracterizados quando praticados como parte de um ataque generalizado ou sistemático contra uma população civil e com conhecimento de tal ataque: homicídio; extermínio; escravidão; deportação ou transferência forçada de populações; encarceramento ou outra privação grave da liberdade física, em violação das normas fundamentais do direito internacional; tortura; estupro, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou outros abusos sexuais de gravidade compatível; perseguição de um grupo ou coletividade com identidade própria, fundada em motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos, de gênero, como definido no § 3o, ou

101 MAIA, 2001, p. 86-87. 102 MAZZUOLI, 2011, p. 63. 103 Ibid., p. 64. 104 Ibid., p. 64. 105

outros motivos universalmente conhecidos como inaceitáveis conforme o direito internacional, em conexão com qualquer ato mencionado no presente parágrafo ou com qualquer crime da jurisdição do Tribunal; desaparecimento forçado de pessoas; o crime de apartheid; outros atos desumanos de caráter similar que causem intencionalmente grande sofrimento ou atentem gravemente contra a integridade física ou a saúde mental ou física.106

Cabe ressaltar que, embora o crime de genocídio não deixe de ser considerado um crime contra a humanidade, ambos diferenciam-se em razão da intenção. Nos crimes de genocídio, existe a intenção de destruir membros de um determinado grupo, ao contrário dos crimes, contra a humanidade, que não se caracterizam por essa intenção específica.107

c) Crimes de guerra

Os crimes de guerra são conhecidos como “[...] crimes contra as leis e costumes aplicáveis em conflitos armados [...].” A definição dos crimes de guerra surgiu com o passar dos tempos através de uma longa evolução do direito internacional humanitário, e tem como principais referências o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, as Convenções de Haia e as quatro Convenções de Genebra de 1949, com seus Protocolos adicionais em 1977.108

O Estatuto de Roma, em seu artigo 8o, traz um extenso rol para definição dos crimes de guerra, e para resumir sua tipificação citando os pontos mais importantes. Fernandes menciona as 4 classes que compõem a definição dos crimes de guerra, quais sejam:109

[...] a) infrações graves às Convenções de Genebra de 1949 em conflitos internacionais;

b) outras violações graves das leis e usos aplicáveis nos conflitos armados internacionais dentro do marco do Direito internacional;

c) violações graves a Convenções de Genebra de 1949 em conflitos não internacionais;

d) outras violações graves a leis e usos aplicáveis dentro do marco do Direito internacional nos conflitos armados não internacionais.110

Salienta-se que os crimes de guerra constituem-se pela existência de um conflito armado, e esta característica faz a distinção entre os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade.111 106 TAQUARY, 2008, p. 188-189. 107 LIMA; COSTA, 2006, p. 114. 108 MAZZUOLI, 2011, p. 68. 109 Artigo 8o do Estatuto de Roma. 110 FERNANDES, 2006, p. 296. 111

d) Crimes de agressão

A Assembleia geral da Organização das Nações Unidas adotou na sua Sessão de 14 de dezembro de 1974, por meio da Resolução 3314, a definição de agressão.112

Contudo, durante as negociações na Conferência Diplomática de Plenipotenciários das Nações Unidas para a instituição do Tribunal Penal Internacional, não se chegou a um acordo para definir os crimes de agressão e nem tampouco sobre seus elementos constitutivos.113

Dessa forma, o crime de agressão foi incluído no rol fixado pelo artigo 5o do Estatuto de Roma como mera formalidade. Todavia, o Tribunal só exercerá sua competência em relação aos crimes de agressão quando ficar estipulado o seu conceito e, para isso, serão utilizados os preceitos contidos nos artigos 121 e 123 do Estatuto de Roma, que farão as respectivas alterações a fim de proceder à correta inclusão do crime.114

Diante disso, sete anos após a entrada em vigor do Estatuto de Roma, foi realizada, em 2010 na cidade de Kampala capital de Uganda, uma Conferência de Revisão para examinar possíveis alterações como prevê o artigo 123, § 1º do Estatuto de Roma.115 Nessa Conferência, através da Comissão Preparatória do Tribunal Penal Internacional, chegou-se a um consenso sobre os elementos constitutivos dos crimes de agressão, e, assim, em 11 de junho de 2010, foi celebrado um acordo de emenda que dispõe sobre a definição dos crimes de agressão.116

No referido acordo, ficou estipulado que, ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, “[...] cabe a responsabilidade primária de decidir se uma invasão ou ataque contra outro Estado constitui ou não crime de agressão [...].” Desse modo, “[...] pela nova regra, o indivíduo que der causa ao ataque armado de um Estado contra outro, sem justificativa de legítima defesa ou sem prévia autorização do Conselho de Segurança, será responsabilizado criminalmente pelo TPI [...].” Porém o acordo só entrará em vigor em janeiro de 2017, data prevista para a sua aprovação oficial.117

112 MAZZUOLI, 2011, p. 73. 113 LIMA; COSTA, 2006, p. 123. 114 Ibid., p. 123.

115

Artigo 123 do Estatuto de Roma. Revisão do Estatuto

1. Sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas convocará uma Conferência de Revisão para examinar qualquer alteração ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir nomeadamente, mas não exclusivamente, sobre a lista de crimes que figura no artigo 5°. A Conferência estará aberta aos participantes na Assembléia dos Estados Partes, nas mesmas condições. 116 MAZZUOLI, op. cit., p. 74.

117

Mazzuoli informa a definição do crime de agressão que está disposto no artigo 8

bis, §§ 1o e 2o, do mencionado acordo:

[...] Ficou ali estabelecido que uma pessoa comete um crime de agressão quando, estando em condições de controlar ou dirigir efetivamente a ação política ou militar de um Estado, planeja, prepara, inicia ou realiza um ato de agressão que por suas características, gravidade e escala constitua uma violação manifesta da Carta das Nações Unidas [...] Ainda nos termos do acordo de emenda, por „ato de agressão‟ se entenderá o uso da força armada por um Estado contra a soberania, integridade territorial ou a independência política de outro Estado, ou qualquer outra forma de incompatibilidade com a Carta das Nações Unidas [...].118

Mazzuoli apresenta a definição de agressão, que está no artigo 1o da Resolução 3314:

[...] Agressão é o uso de força armada por um Estado contra a soberania, integridade territorial ou independência política de outro Estado, ou qualquer outra atitude que seja inconsistente com a Carta das Nações Unidas, conforme determinado por esta definição [...].119

O art. 8 bis, § 2o, do acordo de emenda, teve como referência para a definição específica do crime de agressão, a Resolução 3314 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas de 1974, no qual ficou elencado um extenso rol de atos constitutivos dessa categoria de crime.120

Preceituou-se, portanto, que o Tribunal Penal Internacional terá condições de exercer sua competência com relação ao crime de agressão, tendo em vista o alcance de sua definição para a tipificação jurídica.121

Após a abordagem da estrutura e funcionalidade dos órgãos que compõem o Tribunal Penal Internacional, bem como a impossibilidade de se fazer reserva ao seu Estatuto e a sua competência, passar-se-á para o próximo capítulo, que analisará a inserção do Estatuto de Roma no Direito brasileiro, demonstrando que a recepção do referido diploma ocorreu em consonância com preceitos elencados na Carta Magna pátria, esclarecendo que os conflitos suscitados entre o Estatuto e a Constituição Federal são apenas aparentes, não havendo, portanto, que se falar em incongruência entre o ordenamento jurídico interno e o internacional, estabelecido pelo Tribunal.

118 MAZZUOLI, 2011, p. 74. 119 Ibid., p. 73. 120 Ibid., p. 74. 121 LIMA; COSTA, 2006, p. 123.

4 AS DIVERGÊNCIAS ENTRE O ESTATUTO DE ROMA E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

O presente trabalho abordou, no primeiro capítulo, uma breve introdução acerca da diferença entre o Direito Internacional e o Direito Nacional, com a finalidade de conhecer o âmbito internacional, no qual foi tratado o surgimento dos tribunais ad hoc com seus erros e acertos que serviram de inspiração e base para a criação do Tribunal Penal Internacional (TPI) e, posteriormente, foi abordada a inserção do Tratado de Roma que instituiu o TPI no nosso Direito interno tornando o Brasil parte desse Tratado. O segundo capítulo do referido trabalho teve como foco a exposição dos órgãos que compõem o Tribunal Penal Internacional, oferecendo uma visão geral da sua estrutura e funcionalidade, com o escopo de demonstrar as suas principais funções e entender sua atuação dentro do Direito Interno dos Estados signatários.

Desse modo, os assuntos desempenhados nos dois primeiros capítulos desse trabalho vão servir de alicerce para o estudo que foi objeto de pesquisa e que vai ser abordado neste capítulo como foco de investigação. Assim, deve-se proceder a uma análise das aparentes divergências que versam sobre a Constituição brasileira e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, com o intento de responder as seguintes perguntas: Quais são

as controvérsias entre o Tratado que cria o Tribunal Penal Internacional e a Constituição Federal brasileira? A coisa julgada, a prisão perpétua, a entrega de indivíduos, a imprescritibilidade de crimes e a ausência de imunidade de certos agentes públicos podem ser consideradas inconstitucionais?

4.1 A INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS

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