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Neste subcapítulo, pretende-se apresentar um novo conceito de valoração dos dejetos que envolvem uma nova consciência e percepção de sustentabilidade e inovação tecnológicas na gestão de resíduos da suinocultura. O enfoque é no “ciclo de vida” dos dejetos suínos, que podem representar matéria-prima de novos produtos e possíveis novas oportunidades econômicas, reduzindo a poluição ambiental e o uso de outras matérias-primas.

A gestão dos dejetos suínos necessita, atualmente, ser vista à luz dos conceitos da ecoeficiência e criar mais valor com menos impacto, conforme o modelo ecológico de eficiência de gestão criado em 1997, em Genebra, Suíça, pelo World Business Council Sustenability of Developement (WBCSD) – Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Com esse modelo se mede o valor de um produto ou serviço, em termos de seu impacto ambiental (DIAS, 2014). Nesse sentido, as atenções devem ser voltadas para as estimativas reveladas da “falha de mercado”, que, no caso deste estudo, contemplou possíveis deficiências na gestão dos dejetos suínos.

Trata-se da implementação de um serviço ou procedimento dinâmico e contínuo que visa minimizar impactos ambientais, reduzir a poluição e trazer benefícios em médio prazo para a empresa pela criação de novos produtos. Com isso surgem a figura do ecoempreendedor e um modelo de gestão capaz de utilizar uma externalidade negativa, representada, neste caso, pelo volume e potencial poluidor dos dejetos, e transformá-la em eco-oportunidade (DIAS, 2014).

Constatada a “falha de mercado”, decorrente da gestão inadequada dos dejetos suínos, depara-se com uma situação que pode representar custo-benefício eficaz e, ao mesmo tempo, ambientalmente relevante, condições que, segundo Dias (2014), evidenciam o que ele define como eco-oportunidade.

De acordo com os conceitos de Dias, neste caso dos dejetos suínos, diferentemente de lixo, estes são resíduos que ainda não cumpriram seu “ciclo de vida” e podem ser transformados através da ecoinovação. Essa capacidade de inovar, sobretudo, a concepção dos gestores sobre os potenciais produtos ou outros materiais, que podem surgir da reutilização, recuperação e reciclagem de um resíduo antes conceituado como potencial poluidor que passa, agora, a ser entendido como potencial recurso ou agente de uma ecoinovação (ANDERSEN, 2008).

Essa modalidade de gestão empresarial busca a substituição de modelos e materiais por tecnologias e produtos limpos, bem como a redução de resíduos e a recuperação de recursos, capazes de evidenciar um processo de melhoria contínua e, consequentemente, incremental (SCHMIDHEINY, 1992).

A adequada gestão dos dejetos suínos à luz dos conceitos da ecoeficiência, conforme Dias (2014), exige o entendimento da dinâmica de geração dos dejetos, que pode ser entendida na gestão operacional da suinocultura, e, nessa ótica, esses resíduos são recursos a serem estimados, por meio de indicadores da eco- oportunidade.

Conforme Coldebella et al. (2006) e Moreira et al. (2009), a viabilidade e escolha da tecnologia adequada para o tratamento dos dejetos suínos decorrem, primeiramente, em função do volume de dejetos gerados. Nesse aspecto, Gomes e Raiher (2013) relatam que muitos estudos de caso sobre o assunto constatam inviabilidade na instalação de biodigestores em propriedades com baixa produção de suínos devido à pequena quantidade produzida de dejetos. Essas autoras apontam que há pouca disponibilidade de estudos conhecidos que demonstrem a partir de que nível de produção a geração de biogás se torna viável economicamente.

De acordo com Oliveira (1993), Perdomo et al. (2003) e Ferreira et al. (2004), a suinocultura em sistema intensivo, sob confinamento, é desenvolvida basicamente em três tipos de criação. Esses tipos, segundo Nascimento e Rodrigues (2012) obedecem a parâmetros referenciais de geração de dejetos em função do volume de alimentos e água ingeridos, que são padronizados por categoria animal (TAB. 3).

Tabela 3 – Produção de dejetos por categoria animal

Esses referenciais são fundamentados em índices zootécnicos de produtividade, bastante precisos e permitem importantes inferências, capazes de identificar indicadores da viabilidade de tratamento dos dejetos e da geração de recursos que também podem ser estimados, descritos e mensurados (FERREIRA et al., 2004; DE ZEN et al., 2014; ANDREAZZI et al., 2015).

A TAB. 4 ilustra a geração dos resíduos e do efluente final formado pelos dejetos veiculados na água de higienização das instalações, em função dos três tipos clássicos de criação: Unidade de Produção de Leitões (UPL), Unidade de Produção e Terminação (UPT) e Unidade de Ciclo Completo (UCC), considerando-se a média de dejeção dos animais, por categoria, ao longo do ciclo de vida e estágios produtivos e reprodutivos (PERDOMO et al., 2003; NASCIMENTO; RODRIGUES, 2012).

Tabela 4 – Produção de dejetos e efluentes, por tipo de criação

Conforme informam Ferreira et al. (2014), nas granjas suinícolas UCC e UPL encontram-se matrizes e cachaços, além dos leitões lactentes de 0-21 dias de vida, e na creche são alojados os leitões de 21-45 dias de idade, após o que vão para a fase de produção na UPT e aí permanecem até o fim do ciclo (150 dias). Dessa

forma, nas UPLs e nas UCCs o porte do rebanho representado pelo número de matrizes na granja determina o potencial gerador de dejetos, enquanto nas UPTs é representado pelo número de suínos em terminação (PERDOMO et al., 2003).

Para Perdomo et al. (2003) e Martins et al. (2012), o mesmo suíno terminado de 100 kg sob o Índice de Conversão Alimentar (ICA) 2,75, durante o ciclo de 150 dias, já ingeriu, portanto, 275 kg de ração e deverá dejetar proporcionais volumes de urina e fezes de acordo com o consumo de água nas respectivas operações de criação.

Nas granjas UPL e UCC, as matrizes são a unidade de referência do potencial gerador de dejetos. São animais com peso corpóreo médio de 220 kg mantidos na granja por cerca de dois a três anos, os quais ingerem maior quantia de dieta, em kg/matriz, padronizada conforme o estágio reprodutivo, perfazendo 1 t/matriz/ano (DE ZEN et al., 2014); e, portanto, dejetam maiores volumes em comparação com os suínos das granjas UPTs. A esses dejetos são adicionados os dos leitões de 0-45 dias. Segundo Lima et al. (2010), são dois partos/ano, com média de 18 leitões terminados/matriz/ano.

Os dados referendados da geração de dejetos sinalizam o porte da granja e a indicação da tecnologia mais eficiente para o seu processamento (CADIS; HENKES, 2014; CALZA et al., 2015; NOVACK et al., 2016). Por expressarem a chamada eco- oportunidade, os dejetos adquirem status de recursos econômicos em vez de resíduos. Assim, o ecoempreendimento oportunizado será potencializado pelo maior volume de dejetos, que se processados por tecnologias ambientalmente corretas estabelecerão o modelo de ecoinovação e a gestão ecoeficiente (DIAS, 2014).

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