• Nenhum resultado encontrado

As condições de saúde e de educação refletem a maneira de vida da população e, portanto, traduzem as condições culturais, políticas e econômicas que as mantêm. Dentro desse contexto, a escola, como instituição social, é também o local onde os problemas sociais mais se manifestam e se interagem, dada as características peculiares que cada educando traz consigo como parte de suas histórias de vida. É dentro deste contexto que procuraremos analisar como os professores das séries iniciais (Ia a 4a ) vêem o trabalho de educação em saúde, em sala de aula, nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Itajaí - SC; qual a compreensão que têm desta questão, como procuram resolvê-las nas suas práticas pedagógicas e quais as soluções que apontam.

A educação e a saúde como práticas sociais têm, historicamente, servido de instrumento de manipulação não só do Estado* como também no interior das normas estabelecidas pelos profissionais da saúde e da educação refletindo as contradições que se formam dentro das estruturas sociais e, conseqüentemente, no nível da qualidade de vida da população.

35

As ações voltadas para a educação em saúde sempre estiveram voltadas também aos interesses e à vontade política de uma minoria que usa o critério de seleção de prioridades para determinar suas ações que em nada condizem com as necessidades reais da população a que se destinam, criando um engodo da falsa proteção do Estado enquanto governo de proteção aos direitos do cidadão.

As práticas educativas, por sua vez, têm imposto aos educandos ações técnicas e instrumentais que se resumem na utilização de técnicas e recursos didáticos tradicionais, excluindo experiências mais participativas e democráticas, impondo uma ação pouco criativa e renovadora.

O Brasil tem uma sociedade marcada por relações de exploração, e esta tem concorrido para uma distribuição desigual, não só dos meios de produção da vida material, como também dos bens produzidos. Esta contradição se reflete no cotidiano de nossa população, onde apenas uma minoria tem poder aquisitivo e acesso à educação preconizada nos discursos dos atuais pedagogos, bem como acesso às novas tecnologias e tratamento que as ciências médicas conquistaram nos últimos séculos. A grande maioria da população vive à mercê de um sistema injusto, no qual a educação em saúde são partes integrantes da chamada política assistencialista que exclui um grande

termos uma consciência crítica acerca desses problemas, fazendo com que grande parte da nossa população assuma esta situação como normal, com verdadeira apatia diante do quadro nacional.

Isto posto, é importante esclarecer que os problemas de saúde de nossa população não seriam resolvidos todos na escola, pois incorremos no risco de transformá-la em mais uma Instituição de saúde, num ambulatório ou hospital, por exemplo, mas sabemos que é também, através da educação, que podemos transformar homens em verdadeiros cidadãos que conhecem seus direitos como tais e que, acima de tudo, sabem criticar e construir para si uma vida mais digna e justa. A educação precisa ajudar a construir mentes livres, críticas, que saibam lutar e procurar seu caminho através de um trabalho coletivo, em busca de objetivos comuns.

Este papel da escola tem, no professor e no educando, suas figuras centrais; é através deles que a educação se toma realidade; sai do discurso e se transforma em prática, e na sala de aula, se efetiva. Sabemos que inúmeros fatores têm contribuído para que a escola não consiga efetivar seu compromisso social. Entre eles, cita-se a precária formação dos professores que se traduz não só pela falta de conhecimento dos conteúdos ensinados, como também dos métodos e técnicas a serem usados, bem como a falta de apoio das demais

37

instituições que deveriam, juntamente com a escola, assumir seu papel dentro deste contexto.

O professor repassa aos educandos sua experiência não só profissional, como também de aluno que foi nos cursos de formação, e sua experiência de vida. Se ele não tem uma visão econômico-político-social e cultural da sociedade da qual faz parte, e uma sólida formação pedagógica, ele incorrerá no erro de passar o resto de sua vida repassando conceitos e conteúdos que não fazem parte da vida de seus educandos. Ele será, enfim, um mero repassador de conteúdos. Desta compreensão e formação pedagógica, faz parte também a educação em saúde.

Hoje, temos consciência de que as práticas de educação em saúde não podem se sustentar através de ações compensatórias, que ora vislumbram um problema da criança em detrimento de outras, mantendo um sistema conformizador e de manutenção de uma ordem social injusta.

As escolas municipais da cidade de Itajaí têm, em seu quadro, 234 professores que trabalham especificamente com alunos das séries iniciais (Ia a 4a) , atendendo a 9.489 alunos. Mantêm, ainda, um trabalho de educação em saúde financiado pela Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) através do agente de saúde que é um professor da escola, escolhido especialmente para exercer esta função.

Neste estudo, não pretende-se analisar especificamente a ação do agente de saúde por entender que a educação em saúde na escola não deverá estar centrada na ação pedagógica de um único professor. Também conforme consta no referencial teórico, a figura do agente de saúde nas escolas não conseguiu, na maior parte do país, contribuir para melhorar as condições de saúde das crianças, principalmente pelo fato de ter o projeto um cunho muito mais político do que social. No momento de sua implantação, em 1984, procurava amenizar as ânimos da população, criando um projeto voltado para assistência de saúde do escolar, contrário aos discursos dos educadores e dos profissionais de saúde da época, que propunham uma ação mais participativa da população em todos os segmentos da sociedade, em especial, saúde e educação.

Itajaí é um dos poucos municípios em Santa Catarina que mantém o agente de saúde nas escolas, fato este que tem sido objeto de discussões e de reavaliação, haja vista que, com a implementação da municipalização e das ações integradas de saúde, está havendo uma restruturação não só do discurso das práticas educativas, como também das ações das instituições sociais e o papel de agente de saúde está totalmente desvinculado destas novas propostas.

A análise mais detalhada sobre o papel do agente de saúde será feita no Capítulo II, do nosso estudo.

39

Considera-se, assim, pelas razões expostas anteriormente, que, apesar da presença dos agentes de saúde nas escolas, cabe ao professor desenvolver esta atividade juntamente com os alunos, família e comunidade, por serem estes os que têm maior contato com os alunos e condições para detectar e avaliar as condições de saúde não apenas no sentido de diagnosticar doenças, mas de orientar e encaminhar para profissionais especializados que possam a atender estes alunos em ambulatórios ou policlínicas da própria comunidade. Mas, sem dúvida, a principal ação do professor seria no sentido de promoção e prevenção dos problemas de saúde, a fim de estimular os indivíduos a tomarem decisões que contribuirão para melhorar seu nível de saúde.

A hipótese que orienta este trabalho é a de que os professores têm uma visão limitada de “Educação em Saúde” porque não têm, na sua formação, a compreensão de saúde como resultado de múltiplos fatores: biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos e culturais, fatores que, em verdade, não se encontram assim dicotomizados.