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1- O CASO DE GESTÃO: A ESCOLA X

1.3 DESCENTRALIZAÇÃO E MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO

O texto, Criação dos Sistemas Municipais de Ensino, da professora Diva Chaves Sarmento (2005) evidencia no tempo e no espaço histórico como ocorrera a criação dos sistemas Municipais de Educação no Brasil, levando- nos a entender as jurisprudências em que se firmaram a criação de novas políticas públicas iniciadas principalmente nas três últimas décadas, culminando com a descentralização e

sequente municipalização do ensino público brasileiro, ais quais foram se sucedendo por lutas de forças políticas a favor e contra a municipalização. Quanto à organização, Sarmento (2005) define:

Como espaço de lutas e de conflitos, sua organização e difusão ao longo dos séculos refletem forças econômicas, históricas e sociais em seu entorno. Frequentar a escola submeter-se às normas, exames mecanismos de avaliação e controle passam a ser condição de inserção social (...). (SARMENTO, 2005, p. 1365).

Sob a ótica histórica e das políticas públicas implementadas desde a Constituição de 1891, primeira do estado republicano, a qual transferiu a responsabilidade da educação primária para os estados, o Governo Federal acenava para a descentralização política e administrativa em relação ao ensino público brasileiro. A constituição dos sistemas autônomos municipais de ensino, segundo nos prova Sarmento (2005), não se deu de forma simples e natural. Ao contrário, o caminho foi longo com interferências inclusive do sistema proposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com o seu plano de estabilização para os países emergentes, caso do Brasil, ficando claro que, seja qual for o sistema econômico e político que o Brasil adotasse, passaria pela esfera da democratização educacional.

Com o “enfraquecimento dos governos militares e o envolvimento dos diversos setores sociais na luta pela redemocratização do país, uma nova Constituição e uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996) revelaram-se uma necessidade” (SARMENTO, 2005, p. 1369) a reorganização e distribuição de competências nos três níveis de Governo assinalavam para a fomentação do sistema de governo que teria sentido pela construção e realização de base descentralizada. A educação, bem como as políticas públicas nascentes, não poderiam se constituir fora destes novos preceitos. Assim, segundo Sarmento (2005, p. 1396),

(...) a LDB deveria determinar a descentralização administrativa dos sistemas educacionais, entendendo-se que caráter unitário da escola só se adquire pleno sentido no âmbito local e que essa descentralização dependeria de uma reforma tributária, contemplando municípios e estados de forma a permitir que

assumissem suas responsabilidades com a manutenção e a ampliação do ensino público e gratuito de qualidade.

Neste momento, pode-se apontar uma congruência entre a constitucionalidade proposta tanto na Constituição de 1988 (CF/1988) quanto na LDB/96 e a realização de fato e de direito pelos estados e municípios do direito social à educação. Segundo Sarmento (2005), “muitos, ou a maioria dos municípios e grandes estados, não estavam preparados para assumir o papel de “condutores” de políticas públicas” que garantissem o acesso e condições ideais para a concepção da educação como um direito social de dever e garantia do estado. A distribuição de verbas e o despreparo mesmo não afiançavam a autonomia dos estados e municípios no sentido de “gerir’ educação”.

Seria necessário aos municípios e estados organização, planejamento, levantamento de demandas e criação de projetos que garantissem a implementação e a respectiva autonomia em relação ao processo estabelecido de ensino. Ainda hoje se percebe que há inúmeros municípios com sérias dificuldades em transpor para a área administrativa o que há muito foi garantido pela lei. Muitos são os problemas, inclusive os de natureza geográfica, rincões afastados dos grandes centros permanecem à margem desse processo. No que tange à grande parte dos estados e municípios, e pelos índices apontados pelas provas externas em larga escala, progressos são entendidos a cada ano, como também os apontamentos que são revelados e que necessitam de intervenções ainda bem significativas.

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.

No art. 8º da CF/ 1988 a disputa em relação à descentralização/administrativa do sistema de educação impôs reflexões sobre questões de autonomia, distribuição, competências e responsabilidades entre os entes federados. Estados e município necessitava de recursos financiáveis, colaboração dos sujeitos implicados no direito dos cidadãos brasileiros, enfim, novo tempo em que novos atores passariam a exercer papéis cada vez mais decisivos em busca de reconhecimento jurídico

outorgado pela lei. Mas com características democráticas que retiravam dos gabinetes dos representantes legais (parlamentares) ultrapassaram esses marcos representativos apoiando-se também em entidades sociais com participação efetiva na construção, implementação e execução de políticas públicas de qualidade. Esses movimentos, segundo Sarmento (2005), passaram a ser reconhecidos a partir de meados dos anos de 1980 - marco da Constituição Federal de 1988. O repasse de verbas por parte da União significara um comprometimento político de todos sob a forma de “ver” e “fazer” educação.

O que se viu, depois de 1980, foi uma mudança comportamental de “fazer política”, uma vez que desde os partidos de esquerda aos neoliberais, conservadores e progressistas, todos, dadas às características que os distinguem, identificavam a necessidade de descentralizar e valorizar os governos locais no sentido de promover ensino de qualidade para o povo brasileiro. Uma vez que pressupõe uma decisão pautada em lei, devendo ser interesse do executivo, aprovada pelo legislativo e contar com a participação de setores das comunidades nos Conselhos Municipais de Educação, parte integrante no sistema (SARMENTO, 2005 p. 1373).

A forma participativa de cada município para a criação de um sistema educacional autônomo não pode ser encarada como fato isolado, ao contrário, cabe ao Estado, como órgão maior, promover ações que desencadeiem práticas executáveis mantendo com efetividade necessária para que mais municípios sejam capazes de desenvolver programas de educação consolidados pelas leis e pela prática administrativa. Nesse sentido, todos os municípios que têm uma secretaria de Educação com um quadro seguro de promoção de políticas públicas educacionais operam com certo conforto dadas as novas práticas, pois a constituição e administração de um sistema educacional municipal identifica a cidade em que se instala, com as características democráticas, com a filosofia que compõe o processo participativo e estratégico das novas políticas públicas educacionais.

A inserção de instituições sociais, a escolha pelo voto direto dos gestores, a autonomia nas decisões pelas escolas, seja na parte curricular, formal e/ou diversificada do currículo, a manutenção de características locais a cada escola que compõe a rede de escolas, são fundamentos básicos que possibilitam ao município se apropriar e dar respostas de mudanças às políticas em âmbito nacional. A participação/autonomia/democratização formam um tripé constituído de legalidade e

1.4 O Contexto Histórico Antes do Bloco Pedagógico: Descentralização e

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