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DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: UMA PRÁTICA EM DESUSO

2 DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

2.5 DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: UMA PRÁTICA EM DESUSO

O periódico científico, que surgiu no século XVII (FREITAS, 2006; MEADOWS, 1999; OHIRA; SOMBRIO; PRADO, 2000; STUMPF, 1996), vem, com o passar do tempo, adaptando-se às novas tecnologias da informação. Desde os anos 70 do século XX, o periódico científico passou também a ser veiculado no espaço digital. Oliveira sinaliza que foi neste período que aconteceu a primeira tentativa de elaboração do que hoje se denomina periódico eletrônico (OLIVEIRA, 2006).

Não existe, na literatura, uma data precisa quanto à origem do periódico eletrônico. Lancaster (1995) acredita que a imprecisão ocorre pela dificuldade em definir o que vem a ser periódico eletrônico. O autor aproveita para afiançar que o termo periódico eletrônico é tão ambíguo quanto publicação eletrônica, o que nos leva a confundi-lo com outros suportes de periódicos, a exemplo do CD-ROM (LANCASTER, 1995). Cruz et al. reforçam a dificuldade em conceituar periódico eletrônico, afirmando que o mesmo conceito utilizado para periódico eletrônico também é aplicado para conceituar publicação eletrônica, seriados eletrônicos e periódicos on-line (CRUZ et al., 2003).

É bem verdade que o periódico científico no formato eletrônico emergiu no momento em que a crise nas bibliotecas universitárias era mais acentuada, e consequentemente refletia na pesquisa científica. Esta dificuldade já era prenunciada há algumas décadas, com redução dos recursos financeiros, elevação no custo das assinaturas e crescimento acelerado no número de periódicos científicos (MUELLER; PASSOS, 2000). Portanto, o surgimento deste veículo de comunicação científica neste novo formato era uma tentativa de solucionar tais problemas.

O periódico científico eletrônico trazia também, no seu arcabouço, vantagens até então não possibilitadas com o periódico no formato impresso. Inicialmente, um dos pontos positivos dos periódicos científicos eletrônicos era a ausência de custo de acesso. Meadows sinaliza este momento na pesquisa científica ao afirmar que “[...] a maioria dos periódicos eletrônicos dedicados à pesquisa na primeira metade da década de 1990 era grátis (ou seja, não era cobrada taxa alguma para acessá-los, embora os leitores tivessem de gastar dinheiro para se ligarem à rede).” (MEADOWS, 1999, p. 76, grifo do autor).

Atualmente, poucos são os títulos periódicos científicos eletrônicos que não apresentam custo para se ter acesso, o que não diminui a sua aceitação no meio acadêmico. De acordo com alguns autores, a receptividade para este novo formato do periódico científico deve-se aos pontos positivos encontrados neste canal de comunicação formal. Entre as vantagens podem-se elencar: o dinamismo e facilidade na divulgação da produção científica; a rapidez no acesso para os usuários; interação entre o(s) autor(es) e seus respectivos leitores, flexibilidade do processamento; evidência nos recursos gráficos e a oportunidade de um maior número de pessoas terem acesso (MEADOWS, 1999; MUELLER; PASSOS, 2000).

Outra vantagem do periódico científico eletrônico é o hipertexto, que, associado à velocidade e à não-linearidade, permite uma interface impossível no periódico científico impresso, já que este é estável. Levy discorre sobre o hipertexto, afirmando que:

O hipertexto é dinâmico, está perpetuamente em movimento. Com um ou dois cliques, obedecendo por assim dizer ao dedo e ao olhar, ele mostra ao leitor uma de suas faces, depois outra, um certo detalhe ampliando uma estrutura complexa esquematizada. Ele se redobra e desdobra à vontade, muda de forma, se multiplica, se corta e se cola outra vez de outra forma. (LEVY, 1993, p. 41).

A transição do periódico científico do formato impresso para o eletrônico ocasionou mudanças na área da informação, repercutindo na rotina de todos os envolvidos com a comunicação científica, como os autores, publicadores, bibliotecários e usuários (CRUZ et al., 2003; OLIVEIRA, 2006). No caso específico dos bibliotecários que trabalham em bibliotecas universitárias, esta transformação é espelhada em vários setores, desde a entrada deste recurso informacional, através do processo de desenvolvimento de coleções, até o momento da disponibilização para os usuários.

Alguns autores, inclusive, são enfáticos quanto à mudança do formato dos periódicos científicos no que diz respeito ao trabalho desenvolvido pelas bibliotecas universitárias, afirmando que, com esta transição, não haverá mais função para os bibliotecários.

(VIJAYAKUMAR, J.; VIJAYAKUMAR, M., 2006, tradução nossa). Será que é possível, de fato, fazer tal afirmação? Será que a função do bibliotecário atravessa uma fase de esvaziamento?

Santos e Arellano também defendem a teoria de que este novo paradigma, no qual é irrefutável o conceito de acesso – que possibilita consultar um documento independentemente de sua localização física – vem alterando as práticas das políticas de desenvolvimento de coleções. Consequentemente, tem modificado a atividade do bibliotecário responsável pelo

desenvolvimento de coleções nas bibliotecas universitárias (SANTOS; ARELLANO, 2006).

Cunha (1999, 2000) acredita que o desenvolvimento de coleções passe por reduções, por acreditar que seja o tempo de agregar as fontes eletrônicas aos acervos e serviços existentes na biblioteca. Já Cruz et al (2003) afirma que, apesar das mudanças tecnológicas, as bibliotecas universitárias continuarão a exercer suas funções imprescindíveis, e cita a função de orientação de usuários com dificuldade na interface com o meio eletrônico.

Este novo cenário que as bibliotecas universitárias estão vivenciando, principalmente no Brasil, nos faz acreditar que a postura do bibliotecário é alterada como reflexo de avanços tecnológicos, principalmente quando se está falando dos bibliotecários responsáveis pelo processo de desenvolvimento de coleções.

Meadows inclusive afirma que as tecnologias da informação vêm alterando o processo de transferência da informação, consequentemente, vêm mudando também outras atividades (MEADOWS, 2000), desempenhadas por seus respectivos profissionais.

Logo, fica claro que os bibliotecários não podem ficar alheios ao que acontece no cenário das bibliotecas universitárias brasileiras, achando que não fazem parte do processo de mudança. Como profissional da informação, é o momento de os bibliotecários adquirirem um novo olhar para o seu papel no ambiente de trabalho, além de buscar uma formação continuada.