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O breve século XX, como afirma Hobsbawm (1996), foi testemunha de transformações significativas em todas as dimensões da existência humana. Ao lado do exponencial desenvolvimento tecnológico, que aumenta a expectativa de vida dos seres humanos e ao mesmo tempo sua capacidade de autodestruição, ocorreu um crescimento significativo da utilização de matéria e de energia para atender às necessidades da sociedade. Essa demanda por bens e serviços ocorre em toda a superfície do globo terrestre, mas não de maneira uniformizada, pois países desenvolvidos normalmente apresentam um padrão de consumo muito superior em relação aos países em fase de desenvolvimento (BELLEN, 2005).

Segundo Stern et al. (1993), as alterações globais colocam a Terra num período de mudanças ambientais que difere dos episódios anteriores de mudanças globais, por serem de origem antropogênica, entrelaçadas inexplicavelmente com o comportamento humano e impulsionadas pelas tendências de produção e consumo globais. De acordo com Barbieri (1996), o desenvolvimento que significa ato de crescer, progredir, não deve ser entendido, necessariamente, como crescimento ilimitado, uma vez que os ecossistemas possuem seus limites para fornecer a energia a esse crescimento. A confirmação desta afirmação reside no fato da escassez de recursos de fronteiras para expandir as economias nacionais, de depósitos para armazenar ou eliminar os rejeitos da sociedade industrial e, sobretudo, de acordo com Fernandes (2002), de uma política conjunta entre Estado, mercado e sociedade civil para enfrentar os desafios da crise, o que coloca a humanidade diante do desafio de planejar o desenvolvimento humano sem destruir o meio ambiente.

Segundo Kinlaw (2003), a deterioração do meio ambiente é hoje mundial.

Mudanças em um único elemento da ecologia terrestre estão produzindo impactos e reverberações que refletem em todo o sistema. Problemas locais e regionais de fublina (fumaça com neblina), chuva ácida, tornados, enchentes, derretimentos de

calotas polares, são algumas destas novas ameaças. Muitos desses problemas surgem do crescimento desmedido e da falta de consciência ecológica.

O atual modelo de crescimento econômico adotado principalmente pelas grandes nações gerou enormes desequilíbrios, contrapondo riqueza e fartura por um lado, mas, por outro, proliferando a miséria, desigualdade social, degradação ambiental e aumento da poluição. Uma das questões ambientais mais importantes enfrentadas por um país em desenvolvimento está relacionada ao fato de definir até que ponto a busca por um meio ambiente mais limpo é compatível com o prosseguimento de crescimento econômico.

Cairncross (2002) destaca que a política ambiental não somente é compatível com o desenvolvimento econômico, mas também é parte essencial desse. O crescimento econômico, que ignora as necessidades do ambiente, tende a ser insustentável.

Todo este paradoxo começou a ganhar grande importância a partir do momento em que o homem chegou à conclusão de que os recursos naturais são finitos e que sua qualidade de vida e a das gerações futuras estão intimamente ligadas à solução desta complexa e polêmica discussão. A noção de Desenvolvimento Sustentável tem sua origem mais remota no debate internacional sobre o conceito de desenvolvimento. Trata-se, na verdade, da história da reavaliação da noção do desenvolvimento predominantemente ligado à idéia de crescimento, até o surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável (BELLEN, 2005).

Segundo Brüseke (1995), alguns pontos importantes na discussão desse conceito foram, no século XX: o relatório sobre os limites do crescimento, publicado em 1972, o surgimento do conceito de ecodesenvolvimento , em 1973, a Declaração de Cocoyok, em 1974, o relatório da Fundação Dag-Hammarskjöld, em 1975, e, finalmente, a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992. O primeiro impacto foi produzido pelo Clube de Roma. Esta associação de cientistas políticos e empresários preocupados com as questões globais encomenda alguns projetos relacionados a elas. Em 1972,

surge um dos mais conhecidos estudos decorrentes dessa ação do Clube de Roma, o relatório mundialmente conhecido como The limits to growth (MEADOWS et al., 1972).

Esse relatório foi publicado no mesmo ano em que é realizada uma conferência em Estocolmo sobre o meio ambiente humano e ressaltava que a maioria dos problemas ligados ao meio ambiente ocorria na escala global e se acelerava de forma exponencial. O relatório rompe com a idéia da ausência de limites para a exploração dos recursos da natureza, contrapondo-se claramente à concepção dominante de crescimento contínuo da sociedade industrial (BELLEN, 2005). Em 1973, surge pela primeira vez o termo ecodesenvolvimento, colocado como alternativa da concepção clássica de desenvolvimento. Em 1974, formula-se a Declaração de Cocoyok, resultado de uma reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento e do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas. Ela inova na discussão sobre desenvolvimento e meio ambiente, afirmando que a explosão populacional é decorrente da absoluta falta de recursos em alguns países (quanto maior a pobreza, maior é o crescimento demográfico); a destruição ambiental também decorre da pobreza e os países desenvolvidos têm uma parcela de culpa nos problemas globais, em virtude do seu elevado consumo (BELLEN, 2005).

Em 1975, a Fundação Dag-Hammarskjöld aborda com maior profundidade as conclusões da Declaração de Cocoyok, publicando um relatório focado na questão do poder e sua relação com a degradação ambiental, destacando a importância de estudo de um modelo que mobilize as forças dominantes em relação aos problemas ecológicos mundiais. Em 1992, 20 anos após a reunião de Estocolmo, uma nova conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento é realizada no Rio de Janeiro, aumentando o grau de consciência sobre o modelo de desenvolvimento adotado mundialmente e também sobre as limitações que este modelo apresenta.

Finalmente, a interligação entre desenvolvimento socioeconômico e as transformações do meio ambiente entraram no discurso oficial da maioria dos países do mundo. A percepção da relação entre problemas do meio ambiente e o processo de desenvolvimento se legitima pelo surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável (GUIMARÃES, 1997).

Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), da Organização das Nações Unidas, desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Malheiros (2002) ressalta que o conceito de desenvolvimento sustentável é bastante complexo e envolve inter-relações com o conceito de qualidade de vida, refletindo sobre demandas atuais e futuras, envolvendo aspectos culturais, sociais, econômicos e ambientais.

Vargas (2002) destaca que o “desenvolvimento sustentável pressupõe participação, diálogo, respeito às diferenças, reconhecimento das capacidades e uma visão integradora das suas várias dimensões: econômicas, políticas, culturais, tecnológicas e ambientais”.

Diniz (1993) destaca quatro efeitos que impactam sobre o fluxo de emissões de poluentes no mundo: escala, tecnologia, composição entre países e composição entre setores. O autor observa que a idéia de que o desenvolvimento produz sempre conseqüências danosas ao meio ambiente é falsa. Na análise do autor, este fato só seria verdadeiro se não houvesse introdução de outras tecnologias menos poluidoras e se a fatia do produto pertencente a cada país e a cada setor permanecesse constante, hipótese completamente em desacordo com os fatos do mundo real.

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