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1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2 DESPORTO E DESPORTIVIZAÇÃO DA SOCIEDADE

“Acima de tudo, os desportos, na minha opinião, ensinam as pessoas a relacionarem-se entre si.” (Vladimir Putin, s/d)

O fenómeno desportivo movimenta atualmente milhões de euros, mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo e é, sem margem de dúvidas, um fenómeno social e cultural de extrema importância nos dias que correm, na generalidade das sociedades.

É, também, no entanto, um fenómeno de difícil definição e conceptualização, pela sua abrangência de influência no comportamento humano. Diferentes áreas encontram no fenómeno desportivo uma área de conhecimento e intervenção de eleição – Motricidade física, Medicina, Psicologia, Sociologia, entre outras – “digladiam-se” entre si para uma melhor e mais abrangente observação dos conceitos e resultados relacionados com o Desporto.

Neste subcapítulo procuraremos entender o ponto de vista sociológico sobre o conceito de Desporto e a sua evolução dentro da disciplina Sociologia, tal como a forma complexa como se cruzam os conceitos de socialização e desporto, terminando com o esclarecimento aprofundado do desporto particular aqui estudado – o Karate-Dō.

1.2.1 Desporto, Sociologia e Sociologia do Desporto

A escolha da frase referida no início do subcapítulo não foi por acaso. O desporto é um fenómeno social por excelência. Neste estudo o Desporto ou fenómeno desportivo será observado sob o ponto de vista sociológico, isto é, a forma como influencia o comportamento das sociedades e o comportamento do indivíduo como ser social. “O desporto é uma muito proeminente instituição social em quase todas as sociedades porque combina as características

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encontradas em qualquer outra instituição com o atrativo único, talvez, apenas duplicado pela religião” (Frey e Eitzen, 1991, p:503).

O desporto é, no entanto, um conceito difícil de definir.

A primeira dificuldade na definição de desporto é o conjunto de conceitos semelhantes e interligados que orbitam em redor dele. Brincadeira, jogo e trabalho são bons exemplos do que aqui se fala. “No discurso quotidiano, tendemos a utilizar palavras como ‘desporto’, ‘brincadeira’ e ‘jogo’ de forma solta, ou tratadas como sinónimos (…) no entanto, para os estudantes de estudos do desporto, a certeza de linguagem é muito importante” (Malcolm, 2008, p:238).

Woods (2015) propõe um esquema visual que permite a observação destes diferentes conceitos como um maior grau de especialização do conceito anterior (figura 2).

Figura 2 – Pirâmide do desporto (adaptado de Woods, 2015)

Huizinga inicia o seu muito influente ensaio Homo Ludens (1949, p.1) referindo que “brincar é mais antigo do a cultura, para haver cultura, apesar de incorretamente definida, pressupõem-se sempre uma sociedade humana, e os animais não esperaram pelo Homem para os ensinar como brincar (…) os animais brincam tal e qual como os homens”. O mesmo autor (1949, p.28)

Trabalho Desporto

Jogo Brincadeira

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descreve o brincar como “uma atividade voluntária executada dentre de certos limites de tempo e espaço fixos, de acordo com regras livremente aceites, mas absolutamente obrigatórias, tendo o objetivo em si mesmo e acompanhado por uma sensação de tensão, alegria e consciência de é algo diferente da vida normal”. Brincadeira, como pode ser observado, é a mais primária forma de atividade física que começa na infância e continua por toda a vida de várias formas, é “uma atividade livre que envolve exploração, autoexpressão, sonhar e fingir (…), que não envolve regras rígidas e que pode acontecer em qualquer lado (…), e onde o resultado não é importante a não ser dar prazer” (Woods, 2015, p.5).

Guttmann (2004) citado em Malcolm (2008: p.238) também se debruça sobre estes conceitos, definindo o brincar como “qualquer actividade física ou intelectual não utilitária que é realizada apenas por si; isto é, o prazer está em realizá-la em vez de estar no atingir de qualquer objectivo”. Pode-se referir então que brincar é uma actividade com o fim em si próprio e não como meio para atingir algo externo como saúde, desenvolvimento do carácter ou dinheiro (Malcolm, 2008).

Podemos, sumariamente, considerar o jogo e o desporto como formas especializadas de brincadeira com regras mais formais e objetivos específicos, tal como uma ênfase no resultado.

O jogo pode ser observado como uma forma organizada de brincar.

Guttmann (2004) citado em Malcolm (2008) refere que os jogos podem ser competitivos ou não competitivos, sendo que os competitivos podem ser divididos em disputas intelectuais ou físicas. Para Woods (2015) o jogo é uma forma de brincadeira que tem maior estrutura e é competitiva.

Jogo pode ser definido como, segundo Woods (2015):

• Têm claros objetivos participação, sejam eles mentais, físicos ou uma combinação de ambos;

• São governados por regras formais ou informais; • Envolvem competição;

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O desporto pode ser então entendido como uma ordem mais especializada do jogo, ou jogos como determinadas características que os tornam “diferentes”. De forma geral, os desportos são jogos, onde existindo componente intelectual, fundamentalmente são disputas físicas, ao invés de serem lutas e guerras “reais” elas são jogadas (Malcolm, 2015).

Num sentido mais estreito e fechado do conceito, Meier (1981, p.79) refere que o Desporto tem de incluir as seguintes componentes:

• Todos os desportos são jogos;

• A demonstração de capacidade física ou destreza é uma componente necessária de todos os desportos;

• Não é necessária uma elevada capacidade atlética ou excelência para os participantes se integrarem no desporto;

• Qualquer distinção postulada entre atividades motoras grosseiras e finas, como critério para distinguir os desportos dos jogos, é rejeitada como arbitrária, desnecessária e contraprodutiva;

Guttman (2004) citado em Malcolm (2008) vai de encontro a esta definição resumindo que o desporto são disputas organizadas de caráter lúdico e não utilitário nas quais a demanda física ultrapassa as componentes intelectuais. Estas definições de desporto permitem, de certa forma, delimitar a abrangência do conceito, separando o conceito de desporto de jogo e brincadeira. Liga o conceito de desporto com jogo e com a necessidade de desempenho e proficiência física.

“Os desportos estão relacionados com atividades humanas, que não podem existir sem a integração de ações humanas e sem considerar o contexto. Se a noção de características essenciais de todos os desportos como “jogar” ou “regras” são aceites, então as características essenciais do desporto têm a ver com “jogar”, “fazer” ou “praticar” e o “movimento capaz” dos participantes. Esta última característica está ligada à “atitude” dos participantes direcionada a uma atividade particular

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que é concebida por eles e se manifesta por ações não verbais ou comportamentos dos participantes” (Hsu, 2005, p:52).

Esta definição aborda um outro aspeto essencial do fenómeno desportivo. Para além dos critérios apresentados anteriormente introduz o fator “atitude”, ou seja, vontade expressa e ativa de desempenhar o papel e as atividades da prática desportiva, isto é, para além da habilidade e destreza física é necessária intencionalidade.

Sage (2015) tenta separar definitivamente o conceito de desporto de jogo, referindo que um desporto é diferente de um jogo por:

• Ter obrigatoriamente de envolver uma componente física;

• Por ser competitivo e ter resultados que, habitualmente, ultrapassam o indivíduo;

• Por ser obrigatoriamente institucionalizado, tendo grupos constituídos para supervisionar e fazer aplicar as regras;

• E por necessitar, habitualmente, de instalações e equipamento especializado.

No seguimento desta definição podemos integrar a visão de McPherson (1989) citado em Malcolm (2008) onde este refere que o desporto tem quatro caraterísticas fundamentais: és estruturado/organizado; é orientado para objetivos; é competitivo; e é lúdico.

Estas características são consideradas como fundamentais para um grande número de autores, segundo Woods (2015). Este autor (2015, p.7) resume o que foi referido anteriormente definindo desporto como sendo “uma atividade competitiva institucionalizada que envolve habilidade física e instalações ou equipamento especializado, e que é conduzida de acordo com um conjunto de regras aceites e que determinam um vencedor”.

Olhando para estas definições do desporto podemos então, combinar os conceitos presentes nestas e, em suma, definir desporto, de forma objetiva e concreta, como sendo:

“Atividades competitivas institucionalizadas que envolvem esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades físicas relativamente complexas por

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indivíduos cuja participação é motivada pela combinação de satisfação pessoal com recompensas externas (Coakley, 1998, p.19)”.

A definição de desporto aqui proposta engloba, como já foi referido anteriormente, os aspetos apresentados nas outras definições, ora por um lado a associação do desporto ao jogo e à necessária capacidade e proficiência física para a sua realização, ora por outro integrando a necessária existência de uma atitude/motivação positiva por parte do atleta para desempenhar com intencionalidade as atividades da prática desportiva. No entanto, esta definição engloba ainda um outro aspeto fundamental à assunção do desporto como ele hoje se nos apresenta em termos sociológicos – a institucionalização.

A institucionalização como característica distintiva de uma atividade física poder ser entendida como desporto é algo fundamental do ponto de vista sociológico, pois assim podemos ver o desporto como uma instituição social, com consequentes regras, normas, princípios, valores e comportamentos, e consequente pertença ou não pertença de um indivíduo no grupo. Segundo Coakley (1998, p.20), “o processo de institucionalização inclui: a estandardização das regras; agências regulamentares oficiais que asseguram o cumprimento das regras; os aspetos organizacionais e técnicos da atividade tornam-se importantes; a aprendizagem das habilidades do “jogo” é formalizada”. Observando estes diferentes aspetos é simples de entender que pertencer ao grupo de quem pratica um determinado desporto é “formalizado” imediatamente na aprendizagem do mesmo, o que implica uma aquisição de modos de agir, pensar e sentir compatíveis com a pertença a esse grupo, sendo essa socialização garantida pelos agentes formais dentro da instituição desporto, ao longo do tempo que o indivíduo pertence ao grupo e pratica esse desporto.

Existe uma distinção dentro dos desportos, em ditos colectivos e ditos individuais, que é necessário aqui estabelecer para enquadrar o nosso estudo. Segundo Silva et al (2009):

• Nos desportos coletivos há o envolvimento de vários participantes em uma mesma equipa e o propósito final é comum a todos. A maioria desses desportos pode ser praticado nos mais diversos ambientes, pois

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não exigem espaços físicos tão específicos para serem realizados (ex.: futebol, andebol, voleibol, etc.).;

• Os desportos classificados como individuais são aqueles em que o praticante atua sozinho, dependendo basicamente de si mesmo para alcançar seus objetivos. Geralmente são praticados em ambientes estruturados e com a utilização de materiais específicos para sua realização, salvo exceções como, por exemplo, provas de atletismo, que podem ser realizadas em locais semi-estruturados (ex.: natação, atletismo, golfe, etc.).

Iniciaremos agora uma abordagem mais específica do desporto como campo da Sociologia.

A Sociologia apenas começou a observar o fenómeno do Desporto como algo sério e digno de relevo bastante recentemente na sua história enquanto ciência. Apesar dos primeiros estudos que se debruçam sobre esta temática em termos sociais remontarem ao início do século XX, apenas a meados dos anos 60 se iníciou um movimento consistente e continuado de estudo desta matéria (Malcolm, 2012). Isto é realçado por Elias e Dunning (1992: p.12) referindo que:

“Na verdade, a sociologia do desporto enquanto área de especialização e recente, embora tenha sido efectuada uma tentativa para Ihe atribuir uma ancestralidade respeitável, através da referência as observações feitas por sociólogos «clássicos» como Weber. O seu crescimento foi considerável, em especial, nos Estados Unidos, Canadá e Alemanha Ocidental, desde os primeiros anos da década de 60”.

Esta “falta de interesse” sociológico sobre a temática do desporto é explicada por Malcolm (2008) como sendo derivada de três aspetos particulares: a prevalência, no Ocidente, de uma mentalidade em que a “mente” se encontra acima do “corpo”; uma visão a curto prazo da sociologia mais focada em mudar o mundo do que em o conhecer de forma geral; na priorização do interesse na produção e na economia em detrimento do lazer e das caraterísticas “não económicas” da vida social. Mas, segundo Smith (2010), já não é mais necessário argumentar que o desporto é uma importante instituição na

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sociedade moderna. Cordeiro (2010: p.11) é claro na sua afirmação que conclui este raciocínio apresentado, referindo que:

“O desporto nos tempos actuais é um reflexo da própria modernidade, estando associada ao surgimento de novos valores que enaltecem o lazer e o tempo livre como espaço importante para a realização humana, ou seja, tem um objectivo mais abrangente que é a participação do cidadão comum em actividades de lazer e de realização pessoal. Pode então afirmar-se que o século XXI se caracteriza por um aumento do tempo livre dos cidadãos que poderá, pelo menos em parte, vir a ser ocupado em actividades desportivas, individuais ou colectivas, formais ou informais, e que devem visaro bem-estar físico e psíquico, o equilíbrio com o meio ambiente, a integração social, ou seja, em termos globais para uma melhoria da própria qualidade de vida.”

A Sociologia do Desporto é um ramo ainda recente da Sociologia, mas com uma evolução significativa nas últimas décadas. Como refere Freitas (2000), o surgimento e o desenvolvimento da sociologia do desporto foi um pouco tardio, visto que a sua aplicação passou um pouco despercebida pelos estudiosos, entretanto, o tema avançou bastante na última década. Se inicialmente o desporto apenas foi observado de uma forma social na perspetiva das ciências do desporto e longe das correntes sociológicas dominantes (Elias e Dunning, 1992), nos anos recentes diversos representantes das ditas correntes sociológicas como Bourdieu, Stone, Costa, Ferrando, Defrance e Pociello se debruçaram sobre esta temática (Freitas, 2000). Os primeiros estudos focaram- se na teoria funcionalista estruturalista sendo seguidos de estudos assentes na corrente das teorias do conflito, no entanto, gradualmente, a abordagem ao desporto tem se alterado, sendo que atualmente a grande maioria dos estudos se enquadra no caráter de estudos culturais (Frey e Eitzen, 1991).

Este despertar tardio, mas intenso, para a temática do ponto de vista sociológico tem particularmente a ver com uma mudança na observação pós- moderna de diferentes aspetos da sociologia, tal como na evolução do próprio desporto como conceito que se integra atualmente em todas as vertentes da

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sociedade (Malcolm, 2008). Esta evolução do desporto é referida por Jarvie (2006: p.18) quando aborda a temática da seguinte forma:

“É impossível compreender totalmente a sociedade e cultura contemporânea sem reconhecer o lugar do desporto. Vivemos num mundo onde o desporto é um fenómeno internacional, sendo importante para políticos e líderes mundiais serem associados a personalidades do desporto; este contribui para a economia, alguns dos espetáculos internacionais com maior visibilidade são eventos desportivos; o desporto é parte do tecido social e cultural de diferentes localidades, regiões e nações, o seu potencial transformativo é evidente em algumas das áreas mais pobres do mundo; este é importante para a indústria da televisão, do cinema e do turismo; é ainda regularmente associado a problemas e questões sociais como o crime, saúde, violência, divisão social, migração laboral, regeneração social e económica e pobreza”.

É um facto assente que o desporto se apresenta, na sociedade atual, com uma significância social gradualmente maior. Elias e Dunning (1992) referem que isto é derivado de três aspetos interligados da figuração social moderna: o facto do desporto se ter desenvolvido como um dos principais meios de geração de excitação agradável; o facto do desporto se ter tornado um dos principais meios de identificação coletiva; o facto do desporto se ter tornado na principal fonte de sentido na vida de diversas pessoas. Nesse sentido Malcolm (2008: p.241) reforça que o “desporto é socialmente significante porque envolve as paixões das pessoas (busca da excitação) e tornou-se uma caraterística central na forma como muitas pessoas nas sociedades ocidentais constroem e expressam a sua identidade”.

“O desporto é considerado, como outras instituições sociais, um microcosmo da sociedade” (Frey e Eitzen, 1991, p:504). Ou seja, antes de mais, podemos observar o desporto como uma instituição social no sentido atribuído por Giddens (2006: p.381) em que uma instituição social pode ser vista como “o cimento da vida social. Ela fornece os arranjos de vida básicos que os seres humanos trabalham nas suas relações com os outros e pelo meio dos quais a continuidade é atingida através das gerações”. Craig e Beedie (2008) referem

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que instituição social são práticas sociais que são regular e continuamente repetidas, legitimadas e mantidas pelas normas sociais, sendo as normas sociais formas de comportamento que são usualmente aceites como corretas e próprias pela maioria dos membros da sociedade.

Este ponto de vista é aprofundado por Frey e Eitzen (1991) quando dizem que o desporto proporciona a oportunidade de estudar formas altamente cristalizadas da estrutura social que não são encontradas em outros sistemas ou situações. “Dentro de qualquer sociedade existem regularidades e padrões de comportamento reconhecíveis, e o desporto é um excelente exemplo disso mesmo” (Craig e Beedie, 2008: p.18). Elias e Dunning (1992) também consideram que o desporto tem uma função “des-rotinizante”, fundamental nas sociedades modernas altamente rotinizadas e civilizadas, permitindo a libertação dos constrangimentos emocionais do quotidiano, no entanto, esta libertação é também sujeita a regras e controlo social.

Em suma, como instituição social de relevo, o desporto tem a capacidade de influenciar diferentes aspetos da sociedade que geram diferentes tipos de capital - económico, social e cultural – tal como nas questões de género, do corpo, do poder e da globalização, entre outras (Malcolm, 2008).

É, como tal, inegável a relação entre o desporto e a socialização.

1.2.2 Socialização através do desporto

Está profundamente enraizado na nossa sociedade atual que praticar desporto, para além dos benefícios físicos e para a saúde, está ligado à aquisição e transmissão de valores, princípios e comportamentos sociais desejáveis. Cada vez mais, observamos que a prática desportiva é fomentada desde a primeira infância, tanto dentro da escola como fora desta, em clubes e instituições desportivas. No entanto será que o desporto tem realmente uma importância socializadora significativa, com reais resultados futuros? E, se tem,

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de que forma esta opera? Estas são as duas questões que se procurará responder nesta secção do trabalho.

Socialização através do desporto pode ser, sumariamente, definida como “o processo em que, através de um envolvimento individual no desporto, ensina e reforça conhecimento, valores e normas que são essenciais para participar na vida social” (Craig e Beedie, 2008, p. 93). Pode ainda ser observada como: “o modo como a cultura desportiva, uma vez adquirida, facilita ou proporciona ao desportista mecanismos e recursos para se integrar de um modo eficaz e positivo no seio da sociedade” (Ferrando, Otero e Barata, 2013: p.92).

Socialização no e através do desporto é responsável pelo papel do desporto em cada sociedade (Baciu e Baciu, 2015). É inevitável afastar o conceito de desporto da sociedade onde este se insere, pelo que é considerado como uma instituição social nas sociedades atuais.

Se considerarmos o desporto como uma arena de comportamentos padronizados, estruturas sociais, e relações inter-institucionais (Frey e Eitzen, 1991, p: 504), podemos compreender que “começar o envolvimento e manter- se envolvido no desporto ocorre em conexão com os processos de tomada de decisão e formação da identidade” (Coakley, 1998, p.113).

Se tomarmos em consideração que socialização pode ser definida como um complexo processo pelo qual os indivíduos, em interação com os outros, acumulam habilidades, conhecimentos, valores, normas, atitudes e padrões de comportamento desejáveis para a sua existência na sociedade em que se inserem, facilmente percebemos o papel do desporto na socialização (Baciu e Baciu, 2015). Na verdade, cremos que é impossível dissociar é a prática desportiva da aquisição de valores morais, como já foi observado anteriormente, sendo reforçada esta ideia quando entendemos que:

“a prática desportiva remete necessariamente para um código moral, para toda uma série de valores que, no seu sentido restrito, tendem a reforçar os valores dominantes da sociedade complexa dos nossos dias. Ainda que a socialização num desporto remeta para a aprendizagem real do desporto propriamente dito, sem que em principio

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se tenha de delimitar a utilidade do desporto fora do âmbito desportivo” (Patrikson, 1996: p.133, citado em Ferrando, Barata e Otero, 2013: p.92).

Culturalmente, acredita-se que a praticar um desporto pode ensinar valores adequados à vida em sociedade, tais como; a disciplina e o respeito pelo outro, tal como a apreciação pelo trabalho árduo, competição e obtenção de objetivos (Frey e Eitzen, 1991, p:504); autocontrolo, reconhecimento da autoridade e conformidade com as regras (Coakley, 2011); estabelecimento de relações amigáveis, não discriminativas e uma melhoria do nível de bem-estar (Baciu e Baciu, 2015).

O desporto origina inevitavelmente múltiplas formas de desenvolvimento incluindo a socialização/ressocialização, revitalização da comunidade através da melhoria das ligações humanas e o compromisso com os outros (Giulianotti, 2004).

No entanto, tanto Frey e Eitzen (1991) como Coakley (2011) alertam que a pesquisa existente permite poucas generalizações acerca dos padrões de desenvolvimento carácter e padrões de comportamento em conexão com a participação no desporto, existindo pouca evidência da contribuição do desporto para o processo de socialização.

O desporto em si pode não realizar socialização, no entanto, a participação no desporto exige certos valores, atitudes, padrões de comportamento dos indivíduos, sem os quais estes ou não iniciam a participação no desporto ou

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