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Todos os animais que são apresentados à consulta com sinais clínicos devem ser despistados para o FIV e para o FeLV. Uma vez que muitos dos animais positivos a estes vírus se apresentam imunodeprimidos, o prognóstico e o tratamento poderão sofrer alterações (Hartmann et al., 2007).

As infecções por FIV e FeLV apenas se diferenciam através de testes laboratoriais apropriados (Hartmann et al., 2007). O diagnóstico de FIV, ao contrário do FeLV, é efectuado através da detecção de anticorpos específicos contra o vírus no soro, plasma ou sangue total, uma vez que durante a fase assintomática a carga viral sistémica é muito baixa e a maioria dos animais é testada nesta fase (Bienzle et al., 2004; Cohn, 2007a).

Os testes complementares de diagnóstico incluem o ELISA, a Imunofluorescência indirecta por Anticorpos (IFA) e o Western Blot para pesquisa de anticorpos anti-FIV. Os testes rápidos utilizados na prática clínica baseiam-se na metodologia ELISA, à semelhança do que ocorre com o FeLV (Bienzle et al., 2004; Cohn, 2007a). Estes testes apresentam elevada sensibilidade e especificidade (Bienzle et al., 2004; Cohn, 2007b) de 98% e de 93%, respectivamente, dependendo do teste utilizado (Pinches et al., 2007a).

Estes testes rápidos baseiam-se na detecção de anticorpos contra as proteínas do vírus, normalmente contra a proteína da nucleocápside p24 ou contra a proteína transmembranária gp40. Para o FIV, o teste rápido Snap® Combo (IDEXX, Lisboa, Portugal) é recomendado como o melhor, sendo o segundo melhor, o Speed® Duo da Virbac (Hartmann et al., 2007). A leitura do teste é baseada no desenvolvimento de um traço de cor em relação a um controlo, que é sempre positivo (Bienzle et al., 2004).

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Figura 12. Resultado negativo.

Figura 13. Resultado positivo.

Estes testes podem apresentar resultados falsos-positivos e falsos-negativos. Os resultados falsos-negativos (Figura 12) são raros, mas

podem ocorrer devido à existência de níveis insuficientes de anticorpos na amostra testada. Esta situação verifica- se quando a infecção é recente ou a resposta imunitária é insuficiente, muito comum nas fases tardias de infecção (Arjona et al., 2007; Cohn, 2007a; Cohn, 2007b; Crawford & Levy, 2007); quando a sensibilidade do teste

é inadequada ou em situação de erro técnico (má preparação da amostra ou interpretação incorrecta do resultado) (Cohn, 2007a; Crawford & Levy, 2007). Embora a maioria dos gatos apresente seroconversão dentro de 60 dias após a infecção, nalguns casos esta seroconversão pode demorar um pouco mais (Cohn, 2007a).

O PCR é capaz de detectar os animais infectados pelo FIV que ainda não sofreram seroconversão, quando a infecção é recente ou cujo sistema imunitário não é capaz de desenvolver uma resposta suficiente, o que ocorre em fases tardias da infecção (Arjona et al., 2007).

Os resultados falsos-positivos (Figura 13) podem surgir em gatos previamente vacinados (Levy, Crawford, & Slater, 2004; Arjona et al., 2007; Cohn, 2007a), podendo estes resultados ocorrer até 1 ano após a vacinação com a Fel-O-Vax® FIV (Fort Dodge, Iowa, EUA) (Levy et al., 2004). No entanto, existem estudos que demonstram a persistência destes anticorpos durante 2 a 3 anos (Crawford & Levy, 2007). Contudo, como esta vacina é

utilizada apenas nos Estados Unidos, este facto apenas deve ser considerado em animais provenientes deste país e que tenham sido vacinados com esta vacina. Até à data, não existem métodos de diagnóstico capazes de distinguir anticorpos vacinais daqueles produzidos em resposta a uma infecção natural (Cohn, 2007a; Cohn, 2007b), razão pela qual esta vacina não é aprovada na Europa (Cohn, 2007a). A presença de anticorpos anti-FIV provenientes da progenitora infectada (Arjona et al., 2007; Cohn, 2007a), em gatinhos com menos de 4 a 5 meses de idade leva a resultados igualmente positivos esteja o gatinho verdadeiramente infectado ou não. Nestes casos, estes animais devem ser novamente testados dentro de 60 dias (Cohn, 2007b) ou a partir dos 6 meses de idade (Arjona et al., 2007; Cohn, 2007a; Cohn, 2007b; Crawford & Levy, 2007), altura em que já não possuem anticorpos maternos e em que supostamente já ocorreu seroconversão (Arjona et al., 2007; Cohn, 2007a). Também não

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Figura 14. Resultado duvidoso.

existem testes capazes de discriminar anticorpos adquiridos por via passiva daqueles produzidos em resposta à infecção (Arjona et al., 2007; Cohn, 2007b; Crawford & Levy, 2007).

Podemos também obter resultados duvidosos (Figura 14) quando os níveis de anticorpos estão próximos do limite de detecção da análise (Cohn, 2007a; Crawford & Levy, 2007). Animais que apresentem resultados deste tipo devem ser novamente testados dentro de 6 a 8 semanas, altura em que os resultados deverão ser claramente positivos ou negativos. Como opção, pode colher-se

sangue ao animal para posterior confirmação no laboratório por Western Blot (Cohn, 2007a; Cohn, 2007b).

A vantagem do Western Blot é que detecta anticorpos que reagem com uma variedade de proteínas virais. Os animais que reagem a duas ou mais proteínas são considerados positivos, enquanto que amostras que reagem apenas com uma proteína do teste são consideradas duvidosas.Este teste de diagnóstico é mais específico e mais sensível do que o ELISA (Crawford & Levy, 2007). No entanto, esta técnica é mais dispendiosa e morosa (Bienzle et al., 2004).

A Imunofluorescência indirecta por anticorpos geralmente não é utilizada para o diagnóstico de FIV, uma vez que a interpretação dos seus resultados é muito mais subjectiva e dependente da avaliação do técnico (Bienzle et al., 2004; Crawford & Levy, 2007).

Estão ainda disponíveis outros métodos de diagnóstico laboratorial como o isolamento viral e a detecção do ARN ou do ADN viral por PCR (Bienzle et al., 2004; Johnson, 2005). O PCR tem sido descrito como uma potencial solução para pôr termo ao dilema da diferenciação entre os animais que possuem anticorpos anti-FIV, tanto adquiridos por via passiva, como obtidos por via activa, visto que este teste identifica as células infectadas pelo FIV presentes no sangue. Uma vez que o PCR permite a detecção de apenas uma cópia de ADN/ARN viral em determinada amostra é muito mais sensível relativamente aos outros métodos. No entanto, a sua elevada sensibilidade pode levar a resultados falsos-positivos devido principalmente a erros técnicos. Também podem ocorrer resultados falsos-negativos quando a qualidade da amostra não é adequada, quando não há quantidade viral suficiente no sangue e devido a erros de preparação dos componentes do PCR. Os primers utilizados no PCR têm como base a sequência nucleotídica dos genes env e gag do FIV, mas não se sabe até que ponto estes primers são suficientes para detectar a vasta variedade genética dos subtipos virais existentes na natureza. Apenas se sabe que este método apresenta resultados falsos-negativos que variam

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dos 10% aos 100%. Por estes motivos, este teste não apresenta ainda a solução há tanto ambicionada para o diagnóstico de infecção por FIV (Crawford & Levy, 2007).

O isolamento viral é considerado o gold standard dos métodos de diagnóstico. Como este teste detecta a presença do vírus nas células sanguíneas mononucleares é possível a diferenciação dos animais infectados dos não infectados e dos animais vacinados (Crawford & Levy, 2007). No entanto, devido à complexidade da sua realização e a ser uma técnica dispendiosa e morosa (2 semanas até se obter um resultado), a sua realização torna-se impraticável (Bienzle et al., 2004; Crawford & Levy, 2007).

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