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A dimensão do espaço intraurbano e do planejamento como guia para construção da cidade no contexto de crise do pensamento

ANALÍTICAS

1.4 A dimensão do espaço intraurbano e do planejamento como guia para construção da cidade no contexto de crise do pensamento

social e urbano

Postas as questões de fundo para a análise do processo de organização do espaço e da produção e apropriação do território urbanizado, cabe tecer considerações relacionadas à formação do espaço intraurbano, que orientam algumas das considerações sobre a cidade de Joinville e, em especial, sobre o processo tardio de verticalização através do vínculo do ideário urbanístico (planejamento e espaços simbólicos) com a cidade efetivamente produzida. Flávio Villaça (2001) fornece o suporte ao debater aspectos da formação do espaço intraurbano no Brasil.

Aqui se faz necessário esclarecer que, muito embora a análise empírica realizada por Villaça se concentre na formação dos espaços intraurbanos das metrópoles, assume-se o risco de dizer que se pode conduzir uma análise similar no que diz respeito ao mesmo processo que ocorre nas cidades médias. Contudo, ao se fazer esta transposição deve- se atentar para os diferenciais de fluxos que se estabelecem entre os fixos situados nos espaços intra-urbanos e entre os espaços urbanos nas diferentes escalas em que se manifesta o processo de urbanização da sociedade capitalista, como já demonstrado anteriormente na discussão sobre a ação das horizontalidades e verticalidades.

Do debate dialético proporcionado por Villaça, emergem dois aspectos relacionados à forma das cidades: a formação do centro e do não-centro, que, para a tese em discussão, constituíam aspecto

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Concessão sucessiva de empréstimos em cadeia realizada no mercado hipotecario secundário, p.ex.

importante. Isso porque ele também deve ser considerado no movimento de inflexão das forças de verticalidade e que, no caso de Joinville, se coloca como uma das causas do caráter tardio da verticalização, como se verá nos capítulos 2 e 3 adiante.

Assim, segundo Villaça (2001, p. 238) o centro se apresenta como característica inerente a toda aglomeração humana, e se manifesta como um “...conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamento de fluxos de uma cidade real” onde se concentram atividades comerciais, de serviços e das instituições de tomada de decisão, aspectos que lhe atribuem, inclusive, um caráter simbólico. Aqui se verifica a materialidade proposta por Coraggio apud Corrêa (1991), ainda que em escala reduzida, que se manifesta através dos fluxos de pessoas, mercadorias, informações, etc., que se estabelecem entre os diferentes lugares da cidade, tomado o centro como referência.

Já o não-centro é formado pela trama urbana que se desenvolve ao redor do centro, aí incluindo o espaço rural, pois também se acha sob o domínio das decisões emanadas do centro principal.

Villaça (2001, p. 238) entende que o processo de formação da centralidade opera como uma determinação causada pela aglomeração de pessoas e de meios de trabalho, pois, trata-se de um “... impulso inato no sentido de poupar o desgaste físico e mental [recuperável] envolvidos no trabalho [o tempo envolvido não é recuperável]”. Assim, as cidades operam sobre um conjunto de deslocamentos espaciais demandados pelo processo de produção e reprodução da vida material.

Já o processo de formação do não-centro repousa sobre o fato de que ao mesmo tempo em que a aglomeração gera forças que apontam para um centro principal, ela gera afastamentos. Isso porque é impossível todos os agentes sociais se concentrarem em um único ponto. Dessa forma, segundo Villaça (2001), “...alguém tem que se afastar”.

Isto posto, o autor chama a atenção para o fato de que além do caráter simbólico - expressão de poder econômico ou da hegemonia política e social - do centro, a sua formação decorre do maior ou menor dispêndio de tempo vinculado ao processo de produção, diretamente relacionado às condições de deslocamento na comunidade. Assim, ao considerar que a sociedade contemporânea se organiza segundo diferentes categorias sociais, com distintos níveis de renda e de poder político, Villaça aponta para a geração de um diferencial de poder de acesso aos espaços mais centrais com o que corroboram Singer (1979, p.24) e Beltrão Sposito (1993), exatamente no sentido da citação apresentada no início desta tese, que aqui convenientemente se reprisa:

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Em última análise, a cidade capitalista não tem lugar para os pobres. A propriedade privada do solo urbano faz com que a posse de uma renda monetária seja requisito indispensável à ocupação do espaço urbano. Mas o funcionamento normal da economia capitalista não assegura um mínimo de renda a todos.

Sob este ponto de vista, Souza (1994), Somekh (1997), Villaça (1986, 2001), Vargas (2014) e Harvey (2014) corroboram com Beltrão Sposito (1993), que, anota que a expansão territorial da cidade se realiza através da produção imobiliária, no sentido de que ela constitui

a expressão da reprodução do capital aplicado em uma construção, tendo como condição o acesso a uma fração do território (terreno) gerando ao proprietário desta, a realização da renda fundiária ali capitalizada e apropriada através da venda da construção imobilizada.

Assim, revela-se o caráter de mercadoria, que a terra se reveste no modo capitalista de produção, como único meio através do qual a produção imobiliária se realiza, viabilizando a apreensão de mais-valia, como renda da terra capitalizada e lucro.

Esse processo que entre outras formas produz o edifício de apartamentos ou de escritórios, como destaca Beltrão Sposito (1993) “...expressa a privatização de uma fração do território da cidade indissociável do imóvel e da própria cidade como um todo”. Essa privatização repousa sobre o conceito da propriedade, caracterizada por Menegat (2006, pp. 18-19) como o “lastro geográfico da civilização ocidental”, a forma dominante no Ocidente de “...apropriação do território e lugar de acumulação da riqueza socialmente produzida”. Aqui a análise de Menegat (2006) se encontra com a base teórica de Santos (1996), quando afirma que a propriedade e cidades constituem, um conjunto de “formas-conteúdo indissociáveis e tensamente relacionadas, dialeticamente constituídas, logicamente tramadas” de modo que é no seu interior que se produzem o “excluído, o outro, o sem propriedade”. Em escala ampliada é assim que se produzem as diferenciações socioespaciais, ou como se optou por chamar, aqui na tese, de a cidade “do lado de lá e a do lado de cá” ou ainda o “perto” e o “longe”, na visão de Villaça (1986).

Essa prática social “produz e reproduz” espaços urbanos diferenciados marcados por disputas intra e inter-categorias sociais, que se pautam por interesses contraditórios, pela otimização do tempo ou do seu controle. Tal movimento produz valores diferenciados que se manifestam no valor de troca da terra. Essa prática também se revela nas ações dos agentes que participam do processo de verticalização de Joinville, seja através de uma ação espacialmente seletiva, ou ainda no processo de negociação dos terrenos para a construção dos edifícios. Menegat (2006, p. 3) corrobora esta visão quando considera que “...a urbanização é um modo específico de colonização que se implanta mediante a lógica da desterritorialização19 do outro”. Um processo que, na civilização ocidental, remonta a sua antiguidade e se fundamenta no exercício da propriedade pública e privada que se submetem à uma coesão lógica regida pela dialética do domínio territorial do proprietário versus o sem propriedade.

De outra parte, retomando a discussão de Villaça (2001, pp. 244- 245), “...dominar o centro e o acesso a ele representa não só uma vantagem material concreta, mas também o domínio de toda uma simbologia...”, sobre as quais se constrói a estratégia “...para o exercício da dominação”. Assim emergem as condições para a produção do que o autor chama de “centro hegemônico”, que não só pode, mas “...deve ser chamado de centro principal”, cuja dinâmica em Joinville é tratada no capítulo 4.

O caráter simbólico do centro da cidade, posto por Villaça, pode ser compreendido como uma representação do discurso produzido por um coletivo social que se organiza a partir de um conjunto de pessoas e, ou, entidades ligadas ao controle do processo do desenvolvimento econômico e social, e que se manifesta em diferentes escalas, desde o nível local até o nível mundial. Assim se reproduzem os discursos acerca da modernidade – vide o caso do Edifício Manchester (Item 1.3) - e a flexibilidade representada pela moradia em apartamentos, dos estilos arquitetônicos, ou ainda de se habitar em espaços do tipo “Home Clube”, que integram espaços de lazer à moradia e negam a cidade enquanto espaço de integração (VARGAS e ARAÚJO, 2014, pp. 129- 166). Essa nova urbanidade representada pelo “Home Clube”, assim como o insistente projeto de implantação do prédio (Edifício/lote), com fechos de lote imponentes, com vidros blindados, portarias com vidros espelhados e câmeras de vigilância, que multiplica o conceito de

19Em razão da polêmica instalada sobre a existência ou não do fenômeno de desterritorialização, aqui se emprega o termo apenas no sentido original da citação.

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condomínio fechado, merece um estudo específico que escapa do escopo desta tese.

Esse discurso se apresenta sob diferentes formas de linguagem. Ele carrega implícito no seu bojo a visão gramsciana de que se trata de “... uma sua concepção de mundo, ainda que não consciente, ainda que acrítica, já que a linguagem é sempre, embrionariamente, uma forma de concepção de mundo” (GRUPPI, 1978, p. 67). Assim, no entendimento de Gramsci, é a partir da consciência formada no âmbito das relações sociais que o homem é capaz de ‘...elaborar a própria concepção do mundo consciente e criticamente’..., o que lhe permite ‘...participar ativamente na produção da história do mundo...’ (A. GRAMSCI, 1971 apud GRUPPI, 1978, p. 67). Portanto, é através do processo social, de uma formação político-ideológica, e não da visão individual que se constrói a base do discurso hegemônico que orienta, por exemplo, o processo de produção do espaço urbano, que em Joinville se demonstra no capítulo 4.

Contudo, como ressalta Gruppi (1978, p. 89) ao analisar a contribuição da noção de hegemonia de Gramsci ao desenvolvimento do marxismo, o discurso hegemônico não se trata de um processo monolítico e homogêneo. Ao contrário, pelo fato de estar influenciado por uma base ideológica - que na visão marxista se traduz na “...superestrutura de determinados tipos de relação de produção e de troca” -, que se reflete na estrutura econômica predominante, está contaminado pelas contradições que se desenvolvem no âmbito dessa estrutura e, por conseguinte, da própria ideologia. Ainda na exposição de Gruppi, cabe destacar que apesar das contradições, o que prevalece é “...a ideologia da classe dominante”, como no caso da impossibilidade de se construir prédios altos em Joinville, mas que essa mesma classe constrói quando lhe convém, o primeiro arranha-céu da cidade e no topo instala o símbolo máximo de sua representação (Ver capítulo 2).

Ainda no que diz respeito à contribuição para o desenvolvimento do materialismo histórico, Gruppi (1978, p. 90), destaca que o conceito de hegemonia formulado por Gramsci “...permite que se capte a complexidade dos planos superestruturais, assim como a complexidade de todo o desenvolvimento da formação econômico-social”. Daí porque Gramsci ao dedicar especial atenção ao momento cultural, “...refuta o materialismo mecânico, ou seja a concepção mecânica das relações entre classe e ideologia [grifo original]”.

‘...a afirmação e difusão das ideologias como um processo, e como um processo guiado pela hegemonia’. Uma determinada classe, dominante no plano econômico, e, por isso, também no político, difunde uma determinada concepção do mundo; hegemoniza assim toda a sociedade, amalgama um bloco histórico de forças sociais e de superestruturas políticas por meio da ideologia. Essa hegemonia entra em crise quando desaparece sua capacidade de justificar um determinado ordenamento econômico e político da sociedade. Isso ocorre quando as forças produtivas desenvolvem-se de tal nível que põem em crise as relações de produção existentes. Da contradição entre forças produtivas e relações de produção, da contradição de classe, nasce a ação da classe subalterna, primeiro de modo esporádico, não coerente, não guiado por uma teoria, por uma estratégia política, mas que depois – com a conquista da teoria, da concepção do mundo e do método de análise – torna-se coerente, expressa-se a nível cultural, critica a cultura tradicional, propõe uma nova cultura. ... ... Na realidade, as revoluções se efetivam quando a classe dirigente deixa de ser tal, quando a sua hegemonia entra em crise.

Ao se falar sobre o conceito de hegemonia presente no discurso das classes dominantes, também cabe destacar outro aspecto que com ele se relaciona: a noção do mito fundador, tal como discutido por Chauí (2000, pp. 9-10). Para o desenvolvimento da noção a autora salienta a importância da abordagem antropológica que coloca a narrativa dos feitos comunitários do passado e de valor para o grupo social dominante como “...a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade”.

Essa noção se reveste de importância pelo fato de se constituir “...um bloqueio à percepção da realidade e impedir lidar com ela”, o que impede o desenvolvimento de uma cultura relacionada às classes subalternas, que na visão de Gramsci proporcionaria os meios para o surgimento de uma nova classe hegemônica. Chauí (2000, p. 9) explica que esse bloqueio se dá por conta de que

Um mito fundador é aquele que não cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas

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linguagens, novos valores e ideias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo.

Retomando as considerações de Villaça sobre a formação dos espaços de centralidade urbana, que resultam de diferentes forças contraditórias, o centro principal, em um primeiro momento se caracteriza pelo domínio das categorias sociais de mais alta renda e de uma pequena parcela de famílias de renda média. Essa é uma constatação de Villaça (2001, p. 273), ao demonstrar que nas metrópoles brasileiras, era ali que a maioria das pessoas de alta renda trabalhavam e ali também se localizavam os empregos de maiores níveis de renda.

A segunda metade do século XX foi marcada por transformações nas cidades, resultado de seu crescimento, fato que se reflete no abandono - decadência - do centro principal pelas camadas de alta renda: seja como local de moradia, compra e busca por serviços; seja como local de empregos de mais alta renda. No sentido contrário, o centro, foi tomado pelas categorias sociais populares (VILLAÇA, 2001, pp, 274-277). Joinville submetida às forças da verticalidade dessas transformações também reproduz esse arranjo espacial como se revela nos itens 3.2 e 3.3 adiante.

Desses movimentos resultam o que o autor chama de “centro velho” - abandonado, degradado - e o “centro novo” – novos espaços de valorização da terra e do significado social -, reafirmando o caráter segregacional do processo de urbanização das cidades capitalistas. A segregação observada por Villaça tem origem no diferencial de renda das diferentes categorias sociais. As camadas sociais de mais alta renda têm o poder de “escolher” o centro principal (VILLAÇA, 2001, p. 282).

O poder de escolha, ou a possibilidade de acesso a uma determinada localização é regulado pelo mercado, que transforma a acessibilidade em uma “mercadoria sui generis”, na visão de Singer (1979, p.23), que responde à demanda de quem estiver disposto a pagar. Contudo, como salienta Singer (1979), os preços praticados no mercado imobiliário não dependem do que o autor chama de preço corrente20, mas de um conjunto de circunstâncias, que sujeitam a formação do preço de determinada área “...a variações violentas, o que torna o mercado imobiliário essencialmente especulativo”. Esta discussão é

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Segundo Singer (1979, p.23), no “... mercado de produtos do trabalho humano ... ... os preços giram ao redor de uma média constituída pela soma dos custos de produção e da margem de lucro capaz de proporcionar a taxa de lucro média sobre o capital investido...”.

ampliada e detalhada nos trabalhos de Harvey (2014) e de Vargas e Araújo (2014).

Assim, investimentos, ou até mesmo a possibilidade da realização desses investimentos, públicos ou privados que influenciem a estrutura urbana podem provocar a ‘valorização’ da gleba, com o bem registram Vetter e Massena (1982). Nesse sentido, na economia capitalista, empresas ou indivíduos buscam espaços na cidade que “...atendem as necessidades de consumo coletivo” (SINGER, 1979, p. 24). As empresas buscam, com a melhor localização, auferir vantagens locacionais que influenciem sobre seus custos, seja isoladamente ou através da aglomeração. E é exatamente essa aglomeração que facilita a comunicação entre as empresas, que leva muitas delas (bancos, p.exe.) a disputarem os melhores espaços no distrito central da cidade, ou ainda a formarem distritos industriais (SINGER, 1979, p. 24). Aqui se encontram as discussões de Singer (1979) e de Villaça (2001), no que diz respeito à formação dos chamados “centros das cidades” - hegemônicos, principais, velhos, históricos.

Sob o ponto de vista dos indivíduos Singer (1979, p. 27) chama a atenção para o fato de que

A demanda de solo urbano para fins de habitação também distingue vantagens locacionais, determinadas principalmente pelo maior ou menor acesso a serviços urbanos, tais como transporte, serviços de água e esgoto, escolas, comércio, telefone etc., e pelo prestígio social da vizinhança. Este último fator decorre da tendência dos grupos mais ricos de se segregar do resto da sociedade e da aspiração dos membros da classe média de ascender socialmente.

Vale observar que essa aparente liberdade que empresas e indivíduos têm, na medida do seu poder econômico é claro, de escolher a melhor localização, podem enfrentar obstáculos postos pelas normas urbanísticas (leis de zoneamento, p.ex.) como resultado do processo de planejamento urbano. Nesse sentido, faz-se mister analisar como a norma urbanística local estabelece os limites e incentivos que podem acelerar ou retardar o processo de verticalização urbana no estudo de caso, a cidade de Joinville.

Contudo, o processo de planejamento, que possui um forte componente econômico, deve ser analisado segundo a problemática da produção e apropriação do território. Essa análise se faz importante, porque pensar e agir sobre a organização do território, é fazê-lo a partir

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da busca das repostas às questões sobre o Como? O quê?, Onde? e Quanto? aportadas por Corrêa (1991), no início do item 1.2. Para dar cumprimento a essa tarefa faz-se necessário colocar em pauta as observações de Bolaffi (1979), Souza (1994), Somekh (1997), Villaça (2005) e Pereira (2008) no sentido de dar suporte à análise dos planos urbanísticos de Joinville.

Em primeiro lugar, cabe destacar que esta não é uma preocupação recente, pois, em 1975, ao chamar a atenção para as soluções que vinham sendo encaminhadas para resolver o problema da habitação no Brasil, Gabriel Bolaffi já apontava uma descrença na forma como o planejamento urbano vinha conduzindo a questão. A questão central para o autor era a forma descompromissada como vinha se conduzindo essas duas faces de um mesmo problema: o controle do uso do solo por parte do poder público (BOLAFFI, 1979, p. 64). Não assumir tal compromisso significaria condenar aos “arquivos e gavetas” os planos elaborados, o que, segundo o próprio autor, à época já não tinha nada de novo.

Bolaffi (1979) conduziu tal análise na esteira da discussão dos limites dos efeitos e das possibilidades da criação da EMURB – Empresa Municipal de Urbanização e da aprovação da lei de zoneamento da cidade de São Paulo, em 1972. Em Joinville, esta finalidade deveria ser cumprida pela COMURB - Companhia Municipal de Urbanização, sugerida já em 1965, no Plano Básico de Urbanismo, mas que na realidade acabou por não cumprir a sua função. A EMURB tinha por objetivo “...adquirir antecipadamente os terrenos localizados em áreas onde a implantação de novos serviços públicos já programados fatalmente provocará a elevação do valor do solo”. Contudo, entraves técnicos, administrativos, jurídicos, legais e políticos impediam que a empresa tivesse operacionalidade e assim cumprisse seus objetivos. Quanto à lei de zoneamento, segundo Bolaffi, ela provocava efeitos tão sensíveis sobre o valor do solo urbano que não resistiria “...por muito tempo às pressões políticas para a modificação dos usos permitidos nos terrenos afetados”.

Pereira (2008, pp. 130-135) atualiza a discussão e recoloca o problema do planejamento e da habitação na mesma direção de Bolaffi. O autor chama a atenção para o fato de que “...a questão habitacional foi fortemente influenciada pelo modelo hegemônico do urbanismo da maior parte do século XX: o chamado urbanismo modernista ou funcionalista”. Pereira (2008, p. 131) dá especial destaque para a exagerada ênfase dada às leis de zoneamento por parte dos planos diretores elaborados nessa transição do século XX para o século XXI,

“...como se este fosse o único e mais eficaz instrumento de direcionamento do processo de ocupação, crescimento e apropriação ...” do espaço urbano.

Para Pereira ao zoneamento caberia estabelecer regras para segregar usos e atividades incompatíveis, ou, que pudessem provocar a