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Diminuição de custos económicos e sociais

Outra das vantagens da implementação do sistema proposto traduz-se na redução de custos para o Estado. A título de exemplo, e segundo um estudo Sueco efetuado por Sobocki (2006), relativamente à componente depressão, estimou-se que em termos anuais, o custo total por paciente atingiu SEK 102 200, ou seja 11 983,069€. Este número dá-nos uma dimensão do valor que cada paciente com depressão major pode custar ao Estado, e que se extrapolado para a enormidade de doenças mentais, verificar-se-ia um incremento deste custo por paciente

5.3.1 Evitar e controlar fraudes

Utilizando de novo o exemplo anterior, e partindo da hipótese do doente não levantar uma caixa de Seroquel SR 400, o que pode suceder com essa receita? O mais lógico é a farmácia imprimir o medicamento dispensado (Coaprovel  300 mg) e remeter a receita para a ACSS para obter a comparticipação no final do mês. E é aqui que reside o busílis da questão. Os sistemas informáticos atuais permitem a impressão do código de barras do medicamento, mesmo que o doente não o avie. Está aberta a porta à fraude. A farmácia que optar por esta ilegalidade está a defraudar o Estado em 157,49€, na pior das hipóteses (174,49€ PVP – 17,50€ Comparticipação do utente). Isto com apenas uma receita. Agora multipliquemos esta receita por alguns milhares, e por outros tantos medicamentos. Estamos na presença de uma potencial fraude de dimensões assinaláveis.

Com os atuais sistemas de informação, isto não só é possível, como muito difícil de detetar ou controlar. Agora suponhamos que existem médicos e farmácias, em cartel, que passam receitas a doentes, sem o conhecimento destes, com medicamentos criteriosamente escolhidos (caros e muito comparticipados), estaremos na presença de fraudes na ordem dos milhões.

No novo sistema, as fraudes seriam reduzidas para um valor praticamente residual, uma vez que passaria a haver um controle muito mais apertado do receituário. Esta diminuição das receitas ilícitas traduzir-se-ia numa significativa redução de custos para o Estado.

5.3.2 Diminuir e controlar desperdícios de medicamentos

Tendo ainda por base o exemplo supra, no caso de o doente aviar as receitas na sua totalidade, vai ficar com excessos do medicamento Seroquel SR 400. Se o medicamento da tensão vai permitir a terapêutica para 84 dias, o medicamento para a psicose vai permitir 180 dias de tratamento, ou seja, quase mais de 100 comprimidos.

Caso na consulta seguinte a comunicação entre o médico e o doente não contemple este fator, a situação pode-se repetir, assumindo contornos mais preocupantes. Nesta situação, o doente fica com comprimidos de Seroquel SR 400 a mais, e se por qualquer motivo existir uma mudança de medicação, essas embalagens excedentes retornam para as farmácias, na melhor das hipóteses, como desperdício, sendo destruídas posteriormente pelo Valormed. Não raras vezes são colocadas no lixo normal, provocando mais focos de poluição.

Com a implementação do novo sistema, este tipo de desperdícios decairia para um valor quase residual, porque no ato de prescrição o médico com auxílio do sistema, faria os ajustes necessários para cobrir as necessidades do doente, acautelando o desperdício. Neste novo contexto de prescrição, com um melhor acompanhamento do doente mental, estaria garantida a racionalização da medicação, assegurando os medicamentos necessários para o controle ou tratamento das doenças, mas evitando-se os desperdícios, resultando daí uma diminuição dos gastos por parte do Estado, o que vai de encontro à proposição 5.

i. P5: A racionalização de medicamentos tem um impacto positivo significativo nos custos do Estado, permitindo a alocação de recursos para a saúde mental.

5.3.3 Diminuir e controlar a despesa avultada em medicamentos

Os pressupostos explanados nas alíneas anteriores, só por si são geradores de despesas excessivas, que podem ser aligeiradas com um controle mais efetivo da medicação prescrita e aviada. A medicação excessiva, as burlas e os desperdícios de medicamentos, se controlados de maneira mais assertiva podem gerar poupança, que pode ser alocada para outras necessidades do Serviço Nacional de Saúde, tornando-o mais eficaz, potenciando a sua sustentabilidade. Um novo sistema de informação, que interaja com todas estas nuances, pode ser o um ponto de apoio para uma remodelação do SNS.

Com um melhor acompanhamento do doente mental, e estando garantida a racionalização da medicação, reduzir-se-iam os desperdícios, evitar-se-iam as fraudes e evitar-se-ia a prescrição abusiva e excessiva, resultando daí uma diminuição dos gastos por parte do Estado, o que valida a proposição 5.

i. P5: A racionalização de medicamentos tem um impacto positivo significativo nos custos do Estado, permitindo a alocação de recursos para a saúde mental.

Tendo em conta o estudo efetuado na Suécia por Sobocki (2006), os custos dos medicamentos foram estimados em 2 300 SEK, ou seja 269,68€ por paciente, 91% dos quais foram os custos dos antidepressivos. Novamente é referida apenas a componente

relativa à depressão, se extrapolássemos para todo o tipo de doença mental este valor seria mais elevado.

5.3.4 Diminuir e controlar os custos clínicos (consultas, internamento, tratamento)

Atuando de forma mais assertiva no controle da medicação, salvaguardando que nenhum doente ficaria sem os medicamentos necessários para as suas doenças, envolvendo todas as partes interessadas, estaríamos também a reduzir os custos clínicos, quer no que concerne a consultas quer no que respeita ao internamento e ao próprio tratamento. Com a intervenção efetiva de todas as partes interessadas apoiando o doente, a sua estabilização iria ser muito mais rápida evitando novas consultas ou internamentos, conseguindo muitas vezes a almejada estabilização ou cura da doença, com doses muito mais baixas e menos dispendiosas.

De acordo com o estudo para a Suécia os pacientes com depressão tinham, em média, sete consultas ambulatoriais, durante seis meses, e 0,3 dias hospitalares de cama. As consultas médicas foram o tipo mais relatado de consultas ambulatoriais. Os custos de cuidados médicos foram calculados em SEK 15.500, que corresponde a 1.817,39€ por paciente, composto pelos cuidados de internação (SEK 1 200), pelo atendimento ambulatorial (SEK 8.800) e pelas visitas a outros profissionais de saúde (SEK 5.500) (Sobocki, 2006). Este estudo reflete apenas os custos com a depressão, mas mesmo incluindo apenas esta doença mental, como se pode verificar é um valor demasiado alto para os cofres do Estado.

Este novo sistema de informação permitiria uma melhoria significativa no acompanhamento do doente mental, apostando na promoção da saúde, na consequente estabilização e monitorização do mesmo, prevenindo recidivas e atuando mais precocemente, o que por sua vez reduz os internamentos e as consultas de especialidade. Logo a melhoria da saúde mental potencia a diminuição dos custos por parte do Estado, o que corrobora a proposição 3.

i. P3: A melhoria da saúde mental tem um impacto positivo significativo nos custos do Estado.

5.3.5 Diminuir custos indiretos

Uns dos principais custos para o Estado são os chamados custos indiretos que estão relacionados com a perda de produtividade na sociedade devido à doença. Exemplos de custos indiretos são os custos de licença por doença, redução da produtividade no trabalho ou aposentadoria antecipada (Sobocki, 2006).

Estabilizando o doente muito mais rapidamente, o regresso ao trabalho seria o passo seguinte, o que levaria a uma redução dos custos indiretos. Dependendo da doença, da sua gravidade e da forma como o doente recuperar, este pode ser integrado nas funções normais de trabalho, ou em última análise, num trabalho adaptado. Poder-se-ia equacionar a hipótese de um regresso ao trabalho de forma gradual, com a Segurança Social a suportar apenas uma parte do salário. Com este processo, o Estado além de poupar no valor da prestação social por desemprego, ainda arrecadaria os descontos dos trabalhadores, quer da taxa social única, quer em sede de IRS.

Um facto que deve ser realçado, neste tipo de doentes com doenças mentais ou em qualquer outro tipo de doente com uma doença crónica, o absentismo causado pelas idas ao médico poderia ser reduzido significativamente, uma vez que o doente só teria que ir ao

médico para as consultas de rotina, sendo dispensado das consultas de renovação de medicação, uma vez que o sistema de informação a implementar suportaria a renovação automática do receituário.

Knorring, Åkerblad, Bengtsson, Carlsson, & Ekselius (2006) acompanharam os pacientes durante dois anos e estimaram um custo total de SEK 378 400 por paciente (preços de 2002), dos quais os custos indiretos constituíram 87%.

O estudo feito por Sobocki (2006) na Suécia evidenciou que os pacientes deprimidos na força de trabalho (idade 18-65) foram, em média, ausentes do trabalho por 68 dias, durante seis meses (ou 45 dias com base no pleno estudo da população), e 6% dos pacientes estavam em reforma antecipada. Estes custos indiretos somaram SEK 33.300, 3.904,46€ por paciente, o que representa 65% dos custos totais.

Ao haver uma intervenção mais precoce e mais próxima do doente, proporciona-se uma melhoria da saúde mental, onde os doentes estabilizariam muito mais rápido e a perda de produtividade seria reduzida, logo a melhoria da saúde mental potencia a diminuição dos custos indiretos por parte do Estado, o que corrobora a proposição 3.

i. P3: A melhoria da saúde mental tem um impacto positivo significativo nos custos do Estado.