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DINHEIRO MUNDIAL

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 75-90)

Dinheiro mundial não é um conceito novo; ele tem sido usado ao longo da história. O dinheiro do mundo é o ouro. O objetivo da elite é acumular ouro e substituir os direitos de saque especiais como moeda mundial de mercado e das finanças.

Outras formas de dinheiro, incluindo conchas, penas e papel, são usadas em certos momentos e lugares, com o consentimento tribal ou pela força de lei. Qualquer meio pode ser dinheiro, com base na con- fiança e no seu valor em alguma troca futura. No entanto, o ouro é o único dinheiro bom em todos os momentos, em todos os tempos, luga- res, e é, portanto, o verdadeiro dinheiro do mundo.

Antes do Renascimento, o dinheiro do mundo existia como mo- edas de metal precioso ou lingotes. Césares e reis acumularam ouro, distribuíram-no a suas tropas, lutaram por ele e roubaram-no uns dos outros. A posse de terras foi outra forma de riqueza, desde a Antiguida- de. Ainda assim, a terra não era dinheiro, porque, ao contrário do ouro, não pode ser facilmente trocada e não tem um valor uniforme. Há um século, J. Pierpont Morgan resumiu o antigo estado das relações em seu comentário críptico: “Dinheiro é o ouro, e nada mais”.

No século XIV, os banqueiros florentinos (chamados assim porque trabalhavam em uma bancada ou banco nas praças de Florença e em outras cidades-Estado) aceitavam depósitos de ouro em troca de notas, uma promessa de devolver o ouro mediante demanda. As notas eram uma forma mais conveniente de câmbio do que o ouro físico. As notas podiam ser transportadas por longas distâncias e o ouro resgatado em filiais de um banco familiar florentino em Londres ou Paris. Os títulos bancários não eram passivos sem garantia, mas recibos de depósitos em ouro.

Os banqueiros renascentistas perceberam que poderiam colocar o ouro sob sua custódia para outros usos, incluindo empréstimos a prín- cipes. Isso fez com que houvesse mais notas emitidas do que ouro físico sob custódia. Os banqueiros confiaram no fato de que as notas não se- riam todas resgatadas de uma só vez, e eles poderiam recuperar o ouro dos príncipes e de outras partes em tempo para cumprir os resgates. Assim nasceu o “banco de reservas fracionário”, no qual o ouro físico mantido era apenas uma fração das promessas feitas em papel. Essa picardia nunca teve fim desde então.

Apesar do advento das operações bancárias, notas e reservas fra- cionárias, o ouro físico manteve seu papel de protagonista como o di- nheiro do mundo. Príncipes e comerciantes ainda mantinham moedas de ouro em bolsas e armazenavam ouro em cofres. Lingotes de ouro e promessas de papel permaneciam lado a lado.

A prata desempenhou um papel semelhante, conforme visto no sucesso do dólar espanhol, uma moeda de oito reais chamada, em es- panhol, de real de a ocho, ou pedaço de oito. O dólar espanhol continha 0,885 onças de pura prata. Era uma moeda de 22 quilates com um peso total de 0,96 onças, uma vez que uma liga foi adicionada para durabi- lidade. O Império Espanhol cunhou o real de a ocho para competir com os Joachimsthalers do Sacro Império Romano. O Joachimsthaler era uma moeda de prata cunhada no St. Joachim Valley (Thal, em alemão). A palavra Joachimsthaler foi, mais tarde, encurtada para taler, cognato da palavra “dólar”, em inglês.

Tanto o pedaço de oito espanhol como o taler alemão eram prede- cessores do dólar de prata americano. Os dólares espanhóis eram mo- eda corrente nos Estados Unidos até 1857. Em 1997, a Bolsa de Valores de Nova York trocou ações negociadas por unidades de um oitavo de dólar, um legado do original pedaço de oito de prata.

Uma cunhagem de prata semelhante foi adotada na Borgonha, na Holanda (chamada de leeuwendaalder ou “dólar do leão”) e no México, no século XVII. Os dólares espanhóis foram amplamente utilizados no

comércio mundial. A prata era quase a única mercadoria aceita pela China em troca de manufaturas chinesas até o século XIX. A China pe- gou sua própria fatia das moedas espanholas para torná-las circulantes no país. Se o ouro era o primeiro dinheiro do mundo, a prata era a pri- meira moeda mundial.

A popularidade da prata enquanto padrão monetário baseou-se na oferta e na demanda. O ouro era sempre escasso; a prata, mais pron- tamente disponível. Charlemagne inventou a flexibilização quantita- tiva no século IX ao substituir a prata pela cunhagem de ouro para aumentar a oferta monetária em seu império. A Espanha fez o mesmo no século XVI.

A prata tem a maioria dos atrativos do ouro: seu grau é uniforme, ela é maleável, relativamente escassa e agradável aos olhos. Depois que os Estados Unidos tornaram a posse de ouro crime em 1933, as moedas de prata circularam livremente. Os Estados Unidos cunharam moedas de prata sólidas de 90% até 1964. O descrédito começou em 1965. Dependendo do tipo da moeda – de 10, 25 ou 50 centavos –, a porcentagem da prata caiu de 90% para 40%, e, finalmente, a zero no início dos anos 70. Desde então, as moedas americanas em circulação contêm cobre e níquel.

Desde a antiguidade até meados do século XX, até os cidadãos com recursos modestos podiam possuir algumas moedas de ouro ou prata. Hoje, não existem moedas de ouro ou prata em circulação. Tais moedas existem como lingotes que são mantidos escondidos.

O desaparecimento do ouro e da prata não anulou o dinheiro mun- dial. Foi somente a forma do dinheiro mundial que mudou. Em paralelo à diminuição do papel do ouro e da prata, ocorreu a ascensão de notas bancárias, ou moedas estáveis.

Críticos dessa sanção apontam para 15 de agosto de 1971 como o dia em que o ouro deixou de ser dinheiro. Naquele dia, o presidente Ri- chard Nixon suspendeu temporariamente a convertibilidade, em ouro físico, dos dólares em posse de estrangeiros. Essa suspensão não foi,

por si só, determinante, pois França e outros, esperavam retornar ao ouro em novas paridades. Os Estados Unidos, tecnicamente, permane- ceram em um padrão-ouro, com o dólar desvalorizado de US$35 para US$38 por onça de ouro, em virtude do Acordo Smithsoniano, de 18 de dezembro de 1971. Em outubro de 1973, os dólares foram desvaloriza- dos novamente, para US$42,22 por onça de ouro. Essas avaliações eram apenas formalidades porque os Estados Unidos nunca retomaram a convertibilidade após agosto de 1971. Em 19 de março de 1973, a maio- ria das principais nações comerciais passou para taxas de câmbio flu- tuantes. Em junho de 1974, o FMI desmonetizou formalmente o ouro e adotou um sistema monetário baseado em Direitos Especiais de Saque, os SDR. (os SRD, criados em 1969, foram originalmente vinculados ao ouro. Em 1973, os SRD eram apenas outra forma de sanção.) Em 1976, o Congresso dos Estados Unidos alterou os estatutos para remover todas as referências ao ouro ou à prata na definição de um dólar.

No entanto, o declínio do ouro como dinheiro é mais complicado e interessante do que a cronologia oficial sugere. Nixon e o FMI foram os agentes funerários que jogaram a última pá de terra no túmulo do ouro. O padrão-ouro clássico morreu em 28 de julho de 1914, com o ul- timato austro-húngaro à Sérvia e o início da Primeira Guerra Mundial. O período de sessenta anos, de 1914 a 1974 deve ser visto como um processo de vestir o corpo do ouro para o enterro. Esse período abriu o caminho para que as elites criassem novas formas de dinheiro mundial. Depois do ultimato austro-húngaro, os acontecimentos fugiram de controle. Mobilizações, invasões e declarações de guerra vieram em rápida sucessão. Em 4 de agosto de 1914, o Reino Unido, a França e a Rússia (membros da Tripla Entente de 1907) estavam em guerra contra a chamada Aliança Central da Alemanha, a Áustria-Hungria e o Impé- rio Otomano. Os Estados Unidos estavam oficialmente neutros.

Os beligerantes, em 1914, sabiam que o ouro era o fator decisivo para a vitória. Eles suspenderam imediatamente os resgates de notas por ouro. Pela duração da guerra, suas economias funcionariam como dinheiro em papel não reembolsável, uma forma de tomar emprestado

forçosamente dos cidadãos. O entendimento foi que, após a vitória, a convertibilidade do ouro poderia ser retomada – embora isso fosse pro- blemático no caso de uma derrota. Iniciou-se uma louca corrida pelo ouro. Os cidadãos foram encorajados a entregar o ouro que possuíam em troca de títulos de guerra. Não houve resistência a essas medidas; elas foram amplamente aceitas. A guerra é existencial.

Havia duas exceções importantes à suspensão da convertibilidade do ouro em 1914, Estados Unidos e Reino Unido, por razões decidida- mente diferentes.

Em julho de 1914, Londres era, indiscutivelmente, a capital finan- ceira do mundo. O projeto de lei de Londres, um instrumento garantido por um banco líder no Reino Unido, era o coração dos mercados mo- netários. As contas esterlinas untavam as rodas do comércio mundial. Com o surto da guerra, um pânico financeiro emergiu e as moratórias da dívida estavam declaradas.

O governo francês vendeu títulos em Londres por libra esterlina e exigiu conversão para ouro e envio para Paris. Para obter ouro, os ban- cos do Reino Unido venderam títulos em Nova York e também exigiram ouro para as receitas em dólar. A pressão da venda resultou no fecha- mento de todas as bolsas de valores importantes na Europa e em Nova York. No entanto, a procura pelo ouro não foi abalada.

Funcionários do Tesouro do Reino Unido e do Banco da Inglaterra inicialmente tenderam à suspensão da convertibilidade do ouro. John Maynard Keynes, um consultor do Tesouro à época, argumentou persu- asivamente que o Reino Unido deveria permanecer com o ouro. Keynes sabia que uma moeda estável seria a chave para a vitória militar. A ca- pacidade de Londres em financiar a guerra dependia da fé de Nova York no crédito do Reino Unido.

A visão de Keynes se provou profética. Em outubro de 1915, Jack Mor- gan, filho de Pierpont, administrou um empréstimo sindicalizado de US$500 milhões para o Reino Unido e para a França, o equivalente, hoje, a US$11,7 bilhões. A Casa de Morgan não levantou nenhum dinheiro para a Alemanha.

Os bancos americanos lidaram com a demanda por ouro da melhor maneira que puderam. O processo foi atrapalhado por ataques de sub- marinos alemães no Atlântico, o que dificultou o envio de ouro para Lon- dres. Era impossível de se obter garantias. Os submarinos alemães tam- bém interditaram as exportações agrícolas para o Reino Unido, as quais eram necessárias aos Estados Unidos, para que pudessem recuperar o ouro que lhes era devido. Em desespero, o Banco da Inglaterra abriu uma filial depositária em Ottawa, no Canadá. O ouro foi enviado de Nova York para lá de trem, sem risco de ataques de submarinos alemães.

O Tesouro dos EUA interveio com um esquema de seguro patroci- nado pelo governo para que a navegação transatlântica pudesse ser re- tomada. Os fluxos de ouro foram normalizados em novembro e a Bolsa de Valores de Nova York reabriu em 5 de dezembro de 1914.

Apesar do conselho de Keynes e das acrobacias financeiras de Morgan, a manutenção da convertibilidade do ouro no Reino Unido ocorreu, apenas, na teoria. Foi dito aos cidadãos do Reino Unido que não era patriótico acumular ouro. Eles deveriam deixar seu ouro com os ban- cos. Da mesma forma, os bancos foram ameaçados com possível confisco de ouro se acumulassem ouro e não o disponibilizassem ao comércio.

As moedas de ouro foram retiradas de circulação e refinadas em barras de 400 onças, o famoso padrão de entrega de Londres, desde en- tão. Os bancos foram, inicialmente, incentivados e, então, solicitados a entregar o seu ouro para o Banco da Inglaterra, onde foi armazenado em um cofre central.

Essas barras de ouro poderiam ser de propriedade privada, ainda que não circulassem como as moedas uma vez circularam. Só os ricos as possuíam porque o peso de 400 onças era maior do que uma quanti- dade mais modesta, que a maioria podia pagar.

Poucos reclamaram da ausência do ouro por causa das exigências da guerra. No final da guerra, em 1918, os hábitos haviam mudado. O novo hábito de manter notas bancárias estava enraizado, não apenas no Reino Unido, mas em toda a Europa, e, cada vez mais, nos Estados

Unidos. O ouro ainda era privado, e as notas eram apoiadas pelo ouro. No entanto, uma mudança tinha ocorrido. Após 1918, o ouro físico es- tava, em sua maioria, sob a forma de volumosas barras de lingote, en- terradas pelos bancos, longe dos olhos e da mente.

A centralização da custódia do ouro aumentou em 5 de abril de 1933, quando Franklin Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 6102, exi- gindo que os cidadãos americanos entregassem o ouro privado aos agentes fiscais do governo, sob pena de serem processados.

Os cidadãos não foram os únicos sujeitos à varredura de ouro por FDR. A Gold Reserve Act (Lei da Reserva de Ouro, em tradução livre), de 1934, assinada em lei pelo presidente Roosevelt, em 30 de janeiro de 1934, exigia que todo o ouro monetário nos Estados Unidos, incluindo o ouro detido pelos bancos do Fed, fosse transferido para o Tesouro.

Os doze bancos regionais do Fed, localizados entre Boston e São Francisco, possuíam ouro originalmente pago pelos proprietários dos seus bancos, depois que o sistema foi estabelecido, em 1913. A Gold

Reserve Act de 1934 ordenou que o ouro do Fed fosse transferido para o

Tesouro americano em troca de certificados de ouro, que tem aparecido nos livros do Fed desde então.

Em 1936, o Tesouro dos EUA possuía mais ouro do que poderia armazenar com segurança nas instalações existentes. O U.S. Bullion Depository (Depósito de Lingotes) dos EUA, em Fort Knox, Kentucky, foi inaugurado em 1937, como uma instalação segura para manter o ouro confiscado em 1933 e 1934. Outras caixas-fortes de ouro foram criadas nos U.S. Mints, e no forte militar em West Point. O ouro, que uma vez foi disperso em milhões de cofres e bolsas, de costa a costa, está agora assentado em algumas caixas-fortes protegidas pelo exército dos EUA.

Em fases entre 1914 e 1934, o ouro dos EUA passou das mãos pri- vadas para as mãos dos bancos, delas para os bancos centrais, e, en- tão, para o Tesouro. Isso acompanhou o processo que ocorreu no Reino Unido e em outras economias desenvolvidas. Os governos fizeram o ouro desaparecer.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o que havia restado da convertibilidade do ouro foi novamente suspenso. As re- messas de ouro entre as nações praticamente cessaram.

O único grande distribuidor de ouro oficial durante a Segunda Guerra Mundial foi o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), em Basileia, na Suíça. O BIS fez um ótimo negócio como corretor do ouro nazista, incluindo o ouro retirado de judeus e de outras vítimas do Ho- locausto. Os rendimentos foram usados para ajudar a financiar o es- forço da guerra nazista, matando americanos e seus aliados. Durante a guerra, o BIS foi presidido por um americano, Thomas McKittrick. Hoje, o BIS continua a ser o corretor mais importante para as transfe- rências de ouro entre as nações soberanas e os grandes bancos.

No final da Segunda Guerra Mundial, o ouro havia deixado de cir- cular como moeda. O acordo de Bretton Woods, de julho de 1944, rein- troduziu um padrão-ouro, pelo menos para as nações, já que não o fez para os cidadãos. O valor de cada moeda dos 44 países participantes foi indexado ao dólar americano a uma taxa de câmbio fixa. O dólar foi atrelado ao ouro com um valor de um trinta e cinco avos de onça. O ouro ainda era o dinheiro do mundo, mas não circulava, o que circulava era o dólar.

Ao longo das décadas seguintes, os parceiros comerciais dos EUA ganharam dólares vendendo para os americanos prósperos do pós- -guerra de rádios transistorizados e Volkswagen Beetles a vinhos fran- ceses. Essas nações exportadoras converteram seus dólares em ouro. Na maioria dos casos, o ouro não foi para o exterior, mas ficou nos Estados Unidos, no cofre do Fed de Nova York, na Rua Liberty, em Ma- nhattan. O título legal foi alterado dos Estados Unidos para o Japão, por exemplo, mas o ouro permaneceu no mesmo lugar. Uma exceção foi a França, que exigiu e obteve seu ouro fisicamente transferido para Paris, onde ele permanece.

Em 1968, o sistema de Bretton Woods estava quebrando. O equi- valente a uma corrida aos bancos emergiu, exceto para o banco que era

o depositário de ouro, em Fort Knox. Suíça e Espanha juntaram-se à França para exigir o seu ouro. Nixon fechou a janela de ouro para parar a corrida e preservar o que restava do tesouro de ouro dos EUA.

Os anos de 1971 a 1974 foram uma confusão. As principais potên- cias econômicas não tinham certeza se voltariam ao ouro em novas pa- ridades, manteriam taxas de câmbio fixas sem o ouro ou se passariam para taxas de câmbio flutuantes.

O declínio de Bretton Woods coincidiu com o auge da influência do economista Milton Friedman, da Universidade de Chicago. Friedman construiu sua reputação acadêmica com um monumental estudo inti- tulado A Monetary History of the United States, 1867-1960, (Uma Histó- ria Monetária dos Estados Unidos, 1867-1960, em tradução brasileira) em coautoria com Anna Jacobson Schwartz. Friedman defendia uma política monetária baseada na teoria quantitativa do dinheiro (uma teoria articulada anteriormente por Irving Fisher e outros). A tese de Friedman era que a Grande Depressão foi causada por uma política monetária excessivamente apertada do Fed, antes do colapso do mer- cado de ações de 1929, e nos anos imediatamente subsequentes.

A solução de Friedman era o dinheiro elástico. Com isso, ele refe- ria-se à capacidade dos bancos centrais de criar dinheiro conforme o necessário para neutralizar os efeitos da recessão e da demanda por bens e serviços temporariamente reduzida. O dinheiro elástico signifi- cava o abandono do ouro e das taxas de câmbio fixas, porque ambos os regimes limitam a capacidade dos bancos centrais de expandir a oferta monetária. A opinião de Friedman influenciou as respostas políticas à crise financeira global de 2008 por Ben Bernanke e, mais tarde, por Janet Yellen, bem como suas consequências.

A pesquisa erudita de Friedman e a teoria do dinheiro foram im- pressionantes. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia, em 1976.

No entanto, as hipóteses de Friedman eram muito falhas. As re- comendações por políticas, baseadas em seu trabalho, se mostraram defeituosas. Friedman acreditava em mercados eficientes e expectati-

vas racionais, duas hipóteses desacreditadas tanto por dados, quanto por avanços na ciência comportamental. Particularmente, Friedman, e Fisher, antes dele, acreditavam que a velocidade ou o volume de ne- gócios do dinheiro era constante. Friedman não conseguiu ver que a velocidade era volátil devido a funções recorrentes no comportamento adaptativo emergente dos agentes do mercado. Sem a velocidade está- vel, a teoria quantitativa do dinheiro é inútil enquanto ferramenta para formulação de políticas, embora a teoria seja útil para experiências de pensamento, testando resultados em vários estados.

É injusto culpar Friedman por esse ponto cego. A velocidade ob- servada foi estável ao longo de toda a sua carreira, de 1950 a 1990. Foi apenas com a crise financeira global de 1998 que a velocidade de- sestabilizou-se, um movimento acelerado por uma crise subsequente, em 2008. Mas a velocidade também despencou no início dos anos 30, fato que Friedman deve ter conhecido. Friedman foi muito limitado e, em última análise, estava errado ao atribuir a velocidade de queda dos anos 30 ao ouro e às taxas de câmbio fixas, o que, segundo Friedman, limitou a capacidade do Fed de estimular com facilidade monetária.

No corajoso novo mundo financeiro de Friedman, a eliminação do ouro e das taxas de câmbio fixas permitiu que os sábios banqueiros ca- librassem cuidadosamente a oferta monetária para atingir o máximo crescimento real compatível com a baixa inflação. Em 1971, Richard Nixon disse: “Eu sou agora um keynesiano em economia”, uma varia- ção da frase mais famosa de Friedman: “Nós somos todos keynesianos

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