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Discussão e Apreciação Geral das Argamassas

Avaliação exigencial das argamassas:

Comparando os resultados obtidos de propriedades mecânicas das argamassas da presente dissertação e os valores da Tabela 2.4 (que apresenta valores de referência recomendados para arga- massas de revestimento para edifícios antigos aos 90 dias de idade (Veiga 2010)) verifica-se que mui- tas das argamassas estudadas cumprem tais recomendações.

Tabela 7.8 – Verificação dos requisitos das propriedades mecânicas

Argamassas Reboco exterior Reboco interior Refechamento de juntas

CL3 √ √ √

CL3_5t(ArF) √ √ X

CL3_10t(ArF) √ √ X

CL3_15t(ArF) √ √ X

CL3_25t(ArF) √ √ X

Quanto às resistências mecânicas, todas as argamassas estudadas indiciam poder ser utiliza- das como argamassas de revestimentos para rebocos exteriores e interiores. Relativamente a arga- massas de refechamento de juntas,apenas a argamassa de referência pode ser aplicada, pois só viola uma condição (resistência à tração mínima). Deste modo e apenas com base nessa gama de valores, meramente indicativo, as argamassas de terra estudadas na presenta dissertação não deveriam ser utilizadas com esse fim. Em termos de coeficiente de capilaridade, nenhuma das argamassas (nem mesmo a de referência) se encontra dentro dos parâmetros.

Murete de taipa:

Os valores obtidos de caracterização do murete de taipa e das duas argamassas aplicadas neste permitem concluir que a dureza superficial do suporte obtida através de esclerómetro pendular é um pouco superior à dureza das argamassas, sendo no entanto bastante próximas. Relativamente ao comportamento face à água, a velocidade de absorção inicial é menor em ambas as argamassas apli- cadas do que no suporte. Enquanto a argamassa de referência absorve maior quantidade de água (em 5 minutos) que o suporte, a argamassa de terra absorve menor quantidade do que esse mesmo su- porte.

Tendo em conta estas duas análises, conclui-se que, deste ponto de vista, a argamassa de terra é preferível para aplicar neste tipo de suporte (taipa).

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Através da realização de ensaios semelhantes nas argamassas aplicadas em suportes distin- tos, foi possível analisar a sua influência. Na Tabela 7.2 podem ser consultados os resultados obtidos com o mesmo ensaio, nas mesmas argamassas, mas aplicadas em suportes diferentes, nomeada- mente no murete de taipa e em tijolo furado. Verifica-se que a aplicação da mesma argamassa em diferentes suportes provoca variações nos resultados. A dureza superficial não apresenta alterações consideráveis. No entanto, a velocidade de propagação de ultra-sons é bastante diferente, sendo muito superior nas argamassas aplicadas em suporte de tijolo. Relativamente ao comportamento face à água, as argamassas aplicadas no murete de taipa sugerem maiores quantidades de água absorvidas, sendo essa água absorvida pela argamassa de referência em maior velocidade e pela argamassa de terra, em menor.

Tendo em conta que a condutibilidade térmica da taipa é bastante elevada, a aplicação das argamassas neste suporte providenciam bons resultados, uma vez que apresentam condutibilidades térmicas inferiores.

Outros estudos:

Tendo em conta que as duas vertentes analisadas deste tipo de argamassas apresentam per- centagens de terra semelhantes (5, 10 e 25% de terra argilosa) tornou-se interessante comparar alguns dos resultados obtidos para as mesmas quantidades de terra introduzidas (Tabela 7.9). Para tal, com- parou-se através de setas representativas de aumentos ou diminuições de determinadas propriedades das argamassas da presente dissertação em relação às argamassas caracterizadas por Jamú (2013). Verifica-se que a utilização de terra como ligante ou como agregado parcial pode trazer vantagens e desvantagens. Embora sejam duas vertentes do mesmo tema, elas apresentam algumas diferenças. É necessário ter em conta que as argamassas da outra dissertação apresentam um traço 1:2, e portanto mais rico em ligante. Consequentemente é de se esperar que apresentem menos vazios, sendo por- tanto mais compactas.

As três propriedades mecânicas diminuem ao utilizar-se a argila como agregado parcial, sendo, no entanto, vantajoso para o módulo de elasticidade dinâmico. Relativamente ao comportamento face à água, a utilização da terra como agregado parcial faz aumentar os valores de coeficiente de capilari- dade e taxa de secagem, fazendo por outro lado diminuir o valor assintótico e índice de secagem. A condutibilidade térmica apresenta vantagens ao utilizar-se a terra como agregado parcial, uma vez que esta grandeza diminui. Relativamente à resistência aos sulfatos, verifica-se que as argamassas da presente dissertação perderam mais massa. Utilizando a terra como agregado parcial, obteve-se menor porosidade aberta, querendo isto dizer que as argamassas da presente dissertação são menos poro- sas, contrariando o que se esperava.

Discussão de Resultados

Tabela 7.9 – Comparação de resultados com Jamú (2013) (provetes prismáticos aos 90 dias)

Propriedades CL3_5t(ArF) CL3_10t(ArF) CL3_25t(ArF)

CC [kg/(m2.min0,5)]

VA [kg/m²]

TS [kg/m2]

IS [-]

Ed [MPa]

Rc [MPa]

Rt [MPa]

λ [W/m.K]

Δm 25c [%]

Pab [%]

Assim, verifica-se que a utilização de terra como agregado parcial apresenta algumas vanta- gens relativamente à sua utilização como ligante: a quantidade de água absorvida é menor; a veloci- dade de secagem é maior, apresentando portanto maior facilidade de secagem; o módulo de elastici- dade é menor, sendo também mais deformáveis; a condutibilidade térmica diminui, assim como a po- rosidade aberta. As desvantagens estão relacionadas com a velocidade de absorção de água, nas resistências mecânicas (tração e compressão) e também na resistência aos sais solúveis.

Compararam-se também alguns dos resultados com os resultados obtidos por Santos (2013) (Tabela 7.10). Estas argamassas são idênticas mas possuem adições de fibras naturais, constituídas por casca de arroz (FV), crina de cavalo (FAcrina) e fibras de lã de ovelha (FAlã), em duas proporções mássicas (considerada máxima para permitir trabalhabilidade da argamassas e metade da máxima). Aqui, as setas são relativas a aumentos ou diminuições de determinada propriedade relativamente à argamassa de 10% de terra analisada na presente dissertação.

Tabela 7.10 – Comparação de resultados com Santos (2013) (provetes em suporte de tijolo, 28 dias)

Argamassas DSD

[Shore-A] [W/m.K] λ Ultra-sons [m/s] Qt.

abs.1h

[ml] C

abs.T

[kg/(m2.min0,5)] [kg/(mCabs.4ml 2.min0,5)] Tempo[min] 4ml

CL3_10t(ArF)_0,5FV

CL3_10t(ArF)_FV

CL3_10t(ArF)_0,5FAcrina

CL3_10t(ArF)_FAcrina

CL3_10t(ArF)_0,5FALã

CL3_10t(ArF)_FALã

Verifica-se que a introdução de fibras piora claramente as duas propriedades de comporta- mento face à água (quantidade de água absorvida e coeficiente de absorção, ambas determinadas através de tubos de Karsten). No entanto, a condutibilidade térmica sugere bastantes melhoras, com exceção à argamassa CL3_10t(ArF)_0,5FALã (que contém metade da quantidade de lã). A introdução de fibras vegetais (casca de arroz) provoca diminuição da dureza superficial, contrariamente às restan- tes, que provocam o aumento desta grandeza. A velocidade de propagação de ultra-sons diminui com a introdução de fibras, ou seja, a argamassa em questão fica menos compacta.

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De uma forma geral, e ainda precoce (pois o estudo ainda está a decorrer), a introdução de fibras parece ser vantajosa em termos de condutibilidade térmica e dureza superficial. É de esperar que as propriedades mecânicas melhorem com a introdução de fibras.

Conclusões

8 Conclusões

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