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DISCUSSÃO

Das características das amostras apresentadas nessa pesquisa observou-se (gráfico 1) que, dos 200 idosos entrevistados, houve uma predominância do sexo feminino (65%) e a faixa etária de 60 a 69 anos de idade. As mulheres, segundo são retratadas nos dados da Codeplan (1998), constituem a maioria da população de idosos no Distrito Federal, acentuando, cada vez mais, em grupos de idades mais avançadas.

Conforme os dados descritivos desse grupo de idosos, a maioria possui uma baixa escolaridade, com 16,5% de homens e 38,5% de mulheres com o Ensino Fundamental, sendo que das mulheres, apenas 19% delas, possuem o Ensino Superior e nenhuma, possui Pós-graduação. Já em relação aos homens, 29% deles possuem o Ensino Superior e 6% a Pós-graduação. Essa diferença da escolaridade entre homens e mulheres fará jus à profissão por eles exercida, correspondendo a 28% das mulheres como do lar e 34% dos homens realizando diversas profissões, como médico, engenheiro, agricultor, industrial, jornalista entre outras.

Quanto à naturalidade dos idosos pesquisados, 63 (48%) das mulheres relataram ser precedentes da região nordeste e, 28 (40%) dos homens, da região sudeste. Essa diversidade corresponde também ao tempo de existência do Distrito Federal, já que esse possui apenas 45 anos, não tendo ainda idosos natos, o que resulta na hegemonia de culturas diversificadas.

A renda familiar também prevaleceu para os homens representando 53% deles com o salário acima de 7 (sete) salários mínimos, enquanto para as mulheres, 28% delas, com 1 (um) salário mínimo. As mulheres, na sua maioria, exercem atividades do lar, sem salário, o que pode esclarecer a não contribuição na renda familiar.

Como requisito fundamental desta pesquisa, o grupo de idosos foi dividido em dois e constatou-se (gráfico 2A) que, dos 200 idosos, 133 (66,5%) são praticantes de exercício físico e 67 (35%) não praticantes de exercício físico. Sendo que, dos praticantes de exercício físico, a maioria (66%) são mulheres (gráfico 2 B), o que pode significar a maneira pela qual elas encontraram para se socializar, já que 46% delas relatam serem viúvas.

Além da característica de haver mais mulheres no grupo de praticantes de exercício físico, foi retratado também que 62 (48%) das mulheres, além do exercício físico, exercem atividade física em sua rotina por serem, como demonstrado anteriormente, do lar, o que requer muito esforço físico. Quanto aos homens, 28 (40%) deles só praticam o exercício físico, o que foi notado pelo tipo de profissão exercida pelos mesmos. Observou-se também o grupo de não praticantes de exercício físico que os homens prevaleceram com 18 (26%) deles para 30 (23%) delas, sendo sedentários, não exercendo exercício , nem atividade física.

Um outro detalhe importante a salientar nos praticantes de exercício físico, é quanto ao tipo mais freqüente de exercício físico realizado por eles. Aponta- se a caminhada, com 23% das mulheres e 36% dos homens, a qual é considerada uma atividade muito bem adequada para a idade deles, pois como as pesquisas desenvolvidas por Franklin (2001) atestam, os praticantes de exercício físico, por possuírem uma boa forma física aeróbica, têm mais probabilidade de viverem por

mais tempo. Isso acontece, até mesmo, no meio de pessoas com grande fator de risco coronário, como sobrepeso ou com doença de coração estabelecida, muito comum nessa faixa etária.

Ainda em relação somente aos praticantes de exercício físico, mais especificamente à freqüência e ao tempo da prática de exercício físico, os 65 (32%) dos idosos informaram praticar mais de 3 (três) vezes por semana e 88 (44%), há mais de 3 (três) anos, o que demonstra não somente uma necessidade; 49 (36,7%) relataram praticar exercício físico não só por recomendação médica, como também pela conscientização da importância dessa, principalmente quanto à freqüência, que é de no mínimo 3 (três) vezes por semana, conforme recomendam Pollock e Wilmore (1993).

Esses dados demonstram as características descritivas dos idosos pesquisados e contribui para o objetivo principal desta pesquisa, ou seja, identificar a orientação religiosa, se intrínseca ou extrínseca e suas possíveis relações com a qualidade de vida em idosos praticantes de exercício físico e não praticantes de exercício físico.

Quanto à orientação religiosa dos idosos pesquisados (gráfico 3A), notou-se que, de um modo geral, a religiosidade extrínseca (média = 3,6 para os praticantes e média = 3,9 para os não praticantes) comparada com a religiosidade intrínseca (média = 3,4 para os praticantes e média = 3,3 para os não praticantes), foi a que mais sobressaiu, tanto nos praticantes (média = 3,6) como nos não praticantes (média = 3,9) de exercício físico. Porém, a mesma religiosidade extrínseca, comparada somente entre os seus praticantes (média = 3,6) e os seus não praticantes (média = 3,9) de exercício físico, é mais acentuada nos seus não praticantes (média = 3,9) de exercício físico. Assim também foi estabelecida na

religiosidade intrínseca que, comparada somente entre os seus praticantes (média =

3,4) e os seus não praticantes (média = 3,3) de exercício físico, é mais acentuada nos seus praticantes (média = 3,4) de exercício físico. Porém, estes dados não influenciam o resultado final, pois vale ressaltar que, entre as médias da religiosidade intrínseca e extrínseca nos praticantes e nos praticantes de exercício físico, a diferença não foi suficientemente significativa, o que demonstra não haver nenhuma relação.

Conforme foram observadas (tabela 2), nas correlações t-Student das modalidades religiosas dos praticantes e dos não praticantes de exercício físico ficou explícito que as diferenças entre estes dois grupos não foram, estatisticamente, significativas, com os valores de p muito baixo, conforme demonstrou para a intrínseca (p = 0,485) e para a extrínseca (p= 0,240). O fato de as modalidades da orientação religiosa não terem diferença significativa entre os praticantes e os não praticantes, demonstra que realmente a cultura fragmentada do ocidente, com uma visão dicotômica, impede uma integração entre o corpo e o espírito, não deixando a vida religiosa da pessoa interferir na prática ou não de exercício físico.

A orientação religiosa dependerá também, além de outros fatores, dos momentos que a pessoa viveu no passado e também, pelo o que está vivendo, conforme Allport (1962) explica sobre o desenvolvimento religioso, sendo este influenciado pelo temperamento e formação. Está também sujeito a interrupções de crescimento, que deixam o indivíduo infantilizado na crença religiosa, se tornando egoísta e supersticioso, resultado da interrupção da satisfação das necessidades imediatas de conforto, segurança ou auto-estima. Entretanto, esses resultados podem ser diferenciados, além desses fatores, também pela idade.

Na avaliação da qualidade de vida (gráfico 4), de uma forma geral, não se diferenciando os homens das mulheres, foi observado que, dentre todos os domínios, que compreendem a Capacidade Funcional, as Limitações por Aspectos Físicos, a Dor, o Estado Geral de Saúde, a Vitalidade, os Aspectos Sociais, o Aspecto Emocional e a Saúde Mental o que prevaleceu com maiores valores das médias foi o que se refere Vitalidade (V), com uma média de 86 (DP= 33,0) para os praticantes de exercício físico e com média de 84 (DP= 38,7) para os não praticantes de exercício físico.

Em relação às diferenças de valores das médias (tab. 1), entre os praticantes de exercício físico e os não praticantes de exercício físico, a maioria foi insignificativa, exceto para apenas os 2 domínios: Capacidade Funcional (p = 0,001) e Dor (p = 0,017). As modalidades Aspecto Emocional (p = 0,064) e Saúde Mental (p = 0,076), embora não rejeitassem a hipótese de igualdade de média de qualidade de vida entre os dois grupos, o fizeram com baixo valor de p, como pôde ser notado. Em relação à qualidade de vida entre os praticantes de exercício físico e os não praticantes de exercício físico, em contrapartida, não há diferença.

Quanto à Capacidade Funcional (tab. 1) que sobressaiu para os praticantes de exercício físico e tendo uma diferença significativa (p = 0,001; DP= 21,9) em relação aos não praticantes de exercício físico, pode-se contudo confirmar, segundo Camejo (2002) que, matematicamente, pode-se expressar que o aumento da qualidade de vida é inversamente proporcional à expectativa de incapacidade e por isso tenha resultado numa diferença. Já em relação à dor, essa diferença (p = 0,017; DP= 17,9) pode ter ocorrido como conseqüência de a grande maioria dos idosos praticantes de exercício físico terem como motivo para a realização dessa atividade a recomendação médica, segundo consta nos resultados

da pesquisa, o que pode ser causado por doenças pré-existentes cujos sintomas podem ser a dor, independentemente de praticar-se ou não exercício físico.

De acordo com os resultados da pesquisa (tab. 3), entre aqueles idosos praticantes de exercícios físicos, observou-se correlação negativa entre a Saúde Mental e a religiosidade extrínseca, ou seja, quanto maior a religiosidade extrínseca, menor a saúde mental (r= -0,198; p= 0,021). Conforme o quadro 2 (pág. 47), um dos itens, caracterizam as pessoas que possuem religiosidade extrínseca com auto-estima baixa ou confusa. Sugere-se, entretanto, que os praticantes de exercício físico acreditam que viver a religiosidade de maneira extrínseca revela, pouca Saúde mental.

Em relação aos não praticantes de exercícios físicos (tab. 3), verificou-

se correlação negativa entre a Saúde Mental e as religiosidades, intrínseca (r= -0,359; p = 0,002) e extrínseca (r= -0,491; p= 0,000) e a Capacidade Funcional e

as religiosidades, intrínseca (r= -0,317; p= 0,008) e extrínseca (r=-0,469; p= 0,000). Assim, pode-se dizer que, para esses idosos, quanto maior a Saúde Mental e a Capacidade Funcional, menor os escores em orientação religiosa. Essa correlação negativa, entre a religiosidade (intrínseca e extrínseca) e a qualidade de vida (saúde mental e capacidade funcional) nos não praticantes de exercício físico, pode ter sido causada pelo tipo de formação da cultura religiosa no Brasil ter pouca influência na qualidade de vida dos idosos, o que vale destacar à importância da realização de mais estudos sobre esses aspectos da vida, em idosos.

Numa abordagem mais completa, poder-se-ia argumentar que tantas semelhanças resultantes da qualidade de vida e da correlação dela com a religiosidade, entre os praticantes e não praticantes de exercício físico se devem

muito à qualidade de vida envolver muitos outros aspectos como pode ser citado por Witner e Sweeney (1992, apud Néri, 1993). São eles o contexto sociocultural, as tarefas vitais: a espiritualidade, a auto-realização, o amor, o trabalho e a amizade; os fatores contextuais: o governo, a comunidade, a família, a religião, a educação, os negócios e os meios de comunicação de massa; e as características pessoais: a saúde, a prontidão física, a nutrição, as capacidades cognitivas e processo socioemocionais.

Como pôde ser observado, no entanto, o Brasil, é religioso e há muitos idosos praticantes do exercício físico, no resultado dos pesquisados. Analisando-se, separadamente, a qualidade de vida e a religiosidade, não foi demonstrada diferença significativa nessas médias de quem pratica e de quem não pratica exercício físico, ou seja, a qualidade de vida e a religiosidade são as mesmas, evidenciando bem a visão dicotômica pertinente na cultura ocidental.

Essa cultura, que não está habituada a tratar de assuntos que envolvam a polêmica, a atualidade e a originalidade. E que, dentre esses assuntos, estão as questões religiosas, que tempos atrás ficou adormecida e que agora tem ressurgido, e no caso, conjuntamente com a gerontologia. Os estudos gerontológicos atuais, têm muito horizontes a serem desvendados e ainda é alvo de críticas e preconceitos. Por último, a qualidade de vida envolvendo tópicos, como as práticas do exercício físico e da orientação religiosa, que mesmo não sendo freqüente na literatura, induz à reflexão, tornando-se uma inovação, principalmente na cultura ocidental, com visão dicotômica. Sabe-se também que não se trata desses assuntos conjuntamente, mas cada qual na sua área de atuação.

Enfatizando esse notório aspecto da cultura ocidental, as conseqüências oriundas dos dados obtidos e verificadas em todo o processo empírico desta pesquisa, observou-se também que o resultado pode ter sido influenciado por aspectos relevantes advindos de algumas limitações como a faixa etária. Responder as questões da pesquisa torna-se cansativo para os idosos. Os idosos advindos de muitos outros lugares, com diversos aspectos culturais, não caracterizando, desta forma, uma população idosa homogênea, já que Brasília é uma cidade nova e sem pessoas dessa idade natas aqui.

Outra dificuldade também encontrada foi em relação aos conceitos e aos instrumentos a serem aplicados, difíceis de ser encontrados e, geralmente, formulados em culturas ocidentais, já com suas características próprias, dificultando uma avaliação mais homogênea. Os conceitos de orientação intrínseca e extrínseca, por exemplo, já foram polemizados no passado e tornaram um paradoxo, segundo Hunt e King (1971), que na época queriam identificar e medir separadamente estas duas modalidades. A escala de Gorusch e McPherson, mesmo, teve que ser submetida à redução de quatro características, como extrínseca moral, extrínseca pessoal e extrínseca social e intrínseca para apenas duas, a extrínseca e a intrínseca. A escala de qualidade de vida, no entanto, não é suscetível à redução, devendo ser subdividida em oito domínios.

Todavia, constata-se o obstáculo de uma avaliação mais globalizada desde a formulação das escalas, estendendo pela validação, aplicação e finalizando, pela interpretação dos dados.

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