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Na presente pesquisa foram analisados aspectos do perfil profissional dos cirurgiões-dentistas atuantes no município de Natal(RN) e, de acordo com os dados obtidos, observou-se que a maioria destes profissionais era mulheres, na faixa etária de 25 a 34 anos, com a conclusão do curso em universidade pública. As características da amostra já demonstram uma das fragilidades da pesquisa, apontando para uma tendência dos profissionais recém formados e oriundos de universidade idealizadora de pesquisa, se sentirem mais motivados para contribuírem com a mesma.

Embora a maioria dos entrevistados tenha concluído a sua graduação em ensino publico (n=29/87,9%) do que no ensino privado (n=4/12,1%), a sua universidade de origem não influenciou no seu nível de conhecimento farmacológico.

Quando o currículo das universidades, tanto pública quanto privada é analisado e comparado vemos que possuem componentes curriculares com cargas horárias semelhantes. Aponta-se uma evasão da farmacologia na graduação e esse fato se da por não reconhecerem a farmacologia como uma especialidade prática. A farmacologia acaba sendo administrada nos primeiros semestres do curso, quando não se tem conhecimentos básicos que deveriam ser pré-requisitos para disciplinas práticas, onde o ideal seria administrar concomitantemente 14,15.

Segundo Costa 14 os profissionais que têm até 5 anos de formado geralmente só tem o conhecimento farmacológico que adquiriram na graduação, e dentre os participantes da pesquisa esse grupo corresponde a 15 (45,5%) dos entrevistados14. O ideal seria de que as informações relacionadas ao tema fossem colhidas de diversas fontes, buscando sempre a atualização farmacológica ao longo dos anos de formação, no entanto, limitam-se ao conhecimento adquirido na graduação14, 16. Apesar do tamanho da amostra não ter permitido uma análise inferencial do resultado com relação ao tempo de formado. Os resultados sinalizam para um limitado conhecimento sobre anestésicos locais em todas as faixas estudadas.

Grande parte dos profissionais entrevistados (n=13/39,4%) possui nível de formação de especialista, apesar disso ,o nível de formação não influenciou no resultado da pesquisa, pois a maior parte dos cirurgiões dentistas reporta-se aos

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conhecimentos adquiridos na graduação e não têm a atualização desses conhecimentos após sua graduação, de mesma maneira que foi identificado nos trabalho de Costa e Santanaella 14,15.

Diante das áreas de atuação dos cirurgiões dentistas indicados no questionário, há um equilíbrio no número de profissionais por área. Pensando que esses profissionais tiveram formação curricular semelhante e não há procura por atualização de terapia medicamentosa por área, conclui-se que a área de atuação do cirurgião dentista não influi sobre o seu conhecimento farmacológico.

Considerando que 17 (51,5%) entrevistados julgaram seu conhecimento farmacológico satisfatório houve uma contradição com os resultados obtidos no questionário, onde se observa que o nível de conhecimento dos cirurgiões dentistas do município de Natal RN é insatisfatório. Ao se analisar o resultado do questionário aplicado vê-se que o número expressivo de profissionais não sabem responder a diversas questões relacionadas à farmacologia. Acredita-se que a deficiência é decorrente não apenas da graduação, mas também como na falta de atualização do conhecimento farmacológico após a graduação, provavelmente por julgarem seu conhecimento satisfatório, se acomodam e não busquem a expansão do mesmo.

Apesar da quase totalidade da amostra considerar como muito importante a atualização farmacológica, é perceptível, diante das respostas, que os profissionais não buscam essa atualização ou a abordagem dos assuntos farmacológicos não alteram a utilização do medicamento em consultório. Em um estudo com resultados semelhantes é relatado que as principais fontes de conhecimentos de farmacologia são limitadas à graduação, a qual já se observa uma deficiência em sua administração, e os livros didáticos se tornam obsoletos com o tempo 16,15. Juntamente com esse fato, e corroborando com os achados dessa pesquisa, justifica-se a necessidade de atualização de conhecimentos farmacológicos dos cirurgiões dentistas, a despeito da sua área de atuação.

No que tange aos conhecimentos específicos sobre anestésicos locais. Era de se esperar que houvesse um maior domínio por parte dos entrevistados em se tratando do grupo de medicamento mais utilizado na rotina Odontológica nos

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resultados, nos resultados foram de uma perceptível deficiência de conhecimento referente ao mesmo.

Os anestésicos tópicos são utilizados como meio para aliviar o efeito introdutório da agulha nas anestesias infiltrativas, a qual é aplicada diretamente na mucosa do paciente. Os anestésicos tópicos não se diferem dos anestésicos locais injetáveis, apenas na diferença de absorção, facilitada por ser aplicada diretamente na mucosa do paciente 11. Os anestésicos tópicos mais utilizados são a benzocaína 20% e lidocaína 5%,ambos em forma de gel11,17.

Foi visto nos resultados a clara dúvida em relatar qual o anestésico tópico mais utilizado na Odontopediatria, onde os entrevistados ficaram entre a benzocaína (n=15/45,5%) e a lidocaína (n=13/39,4%). Tal divergência não compromete a correta indicação do fármaco, uma vez que são essas 2 opções as mais indicadas pela literatura vigente. O que é relevante de levar em consideração é que em torno de 10% da amostra indicada, outros ou não souberam qual o anestésico que usar, comprometendo assim a saúde do paciente. A dúvida mostrou-se ainda mais clara quanto ao questionamento em relação à concentração dos anestésicos, onde mais da metade dos entrevistados (n=19/57,6%) relataram não saber qual seria esta.

Os anestésicos locais utilizados na Odontopediatria são: lidocaína 2%, mepivacaína 2 e 3%, prilocaína 3% e articaína 4%. Sendo a primeira opção de escolha do anestésico local para pacientes infantis a lidocaína com o vasoconstrictor mais utilizado, a epinefrina/adrenalina 1:100.000. A lidocaína possui início de ação rápida, com duração intermediária e uma boa eficácia.1,6,9.

Diversos cirurgiões dentistas empregam apenas um tipo de anestésico local para todos os procedimentos 17. Devido às características particulares dos pacientes infantis, a escolha da base anestésica e do vasoconstrictor deve ser feita com cautela a fim de evitar reações adversas. Quando questionados sobre qual o anestésico local e o vasoconstrictor mais utilizados na Odontopediatria, a maioria soube responder corretamente a questão. Apesar disso, um número considerável (n=9/27, 3%) ainda relatou não saber a base anestésica mais utilizada e 11 (33,3%) não souberam responder corretamente qual o vasoconstrictor mais utilizado.

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Na pesquisa a reação alérgica foi citada como a reação adversa mais comum na odontopediatria (n=13/39,4%),os resultados sugerem uma clara deficiência quanto a esse questionamento, onde apenas 4 (12,1%) souberam responder corretamente ao que se foi perguntado que seria a úlcera traumática, a ocorrência de mordidas na área anestesiada.

A reação alérgica em pacientes infantis é rara, envolve o complexo antígeno-anticorpo e não depende da dose administrada7, 9,15. Os casos de alergia estão possivelmente relacionados aos conservantes ou antioxidantes adicionados às soluções, como o bissulfito e o metilparabeno12. Sabe-se que o metilparabeno atua como um antimicrobiano na solução anestésica, e o controle de reações alérgicas têm sido feita através da sua retirada, sendo já proibida nos EUA. O uso de metiparabeno em tubetes seria explicado apenas na tentativa de aumentar o prazo de validade nas soluções, sendo assim, sua adição seria desnecessária no tubete odontológico, já que o mesmo é descartável e de uso único. Com a retirada desse composto os casos de reações alérgicas se tornam ainda mais raras18.

É visto que o efeito duradouro da anestesia local pode culminar na reação adversa mais comum na odontopediatria, a mordedura ou a mastigação dos tecidos bucais, gerando assim úlcera traumática. 9,19. Procura-se o anestésico o qual possui um efeito de ação curto, reduzindo assim o tempo do efeito 13,20. As úlceras traumáticas geralmente são auto limitantes e se curam espontaneamente sem complicações, embora raros os casos, pode ocorrer sangramentos e infecções 17. Deve-se então alertar aos responsáveis pela criança para supervisionarem a mesma para não lesionar alguma área tecidual, devendo também, informa-los sobre o tempo de permanência da dessensibilização 18,9.

A toxicidade ocorre devido a administração excessiva tanto da base anestésica quanto do vasoconstrictor associado a este. O volume de sangue menor do paciente infantil quando comparada a de um adulto leva a maiores riscos tóxicos, dado pelo aumento de nível plasmático obtido mais facilmente pelo anestésico local

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. Assim, o melhor tratamento para a toxicidade é a sua prevenção.

No questionamento da quantidade máxima de tubetes anestésicos a ser utilizado em uma criança de 5 anos com 20 kg, a maioria dos entrevistados

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(n=20/60,6%) souberam responder como sendo 2 o máximo de tubetes, no entanto ainda 8 (24,4%) cirurgiões dentistas não soube responder a pergunta. Uma vez que é escolhido corretamente o anestésico local, associado ou não com vasoconstrictores, deve-se saber a dosagem ideal para o paciente infantil afim de que se evitem reações tóxicas. Para o cálculo dessa dosagem é levado em conta a idade, peso e superfície corporal da criança, no entanto a técnica mais empregado é a fórmula de Clark (dose do adulto x peso em kg / 70kg) que leva em consideração o peso corporal, por ser mais fácil de se calcular e ser segura 5.

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