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Disputa territorial entre as agroindústrias canavieiras e o disciplinamento da distância no plantio de Cana-de-açúcar

AGROHIDRONEGÓCIO E AS NOVAS FRONTEIRAS DA PRODUÇÃO

Mapa 01. Territorialização da agroindústria canaviera no Mato Grosso do Sul

2.3. Disputa territorial entre as agroindústrias canavieiras e o disciplinamento da distância no plantio de Cana-de-açúcar

Um dos elementos importante nesse processo expansionista do capital via produção de Cana-de-acúcar é justamente a necessidade de disciplinar a distância entre as agroindústrias instaladas e as que por ventura vierem a se territorializar na área haja vista o incomensurável interesse dos municípios em receber tais empreendimentos. Ou seja, nesse momento está embutido o processo de disputa territorial entre as agroindústrias.

Nesse sentido é indispensável a realização de zoneamento que abranja todas porções aptas a instalação de tais unidades. Entendemos que isto é papel do poder público o qual pode lançar mão das informações disponibilizadas exclusivamente pelas entidades de representação do capital no estado, pois tem consequências diretas sobre o conjunto da sociedade.

62 Identificamos através do Cadastro de Imóveis Rurais do Incra/MS apenas 2 propriedades rurais no Mato

Grosso do Sul, sendo 1 propriedade intitulada Fazenda Cerona I, com área de 131,4886 hectares, localizada em Nova Andradina, e outra intitulada Fazenda Cerona II, com área de 257,8606 hectares, sediada em Bataypora, justamente nas áreas onde havia o projeto inicial de instalação das agroindústrias.

63 Sobre a Coplacana ver matéria: “Implantação de cooperativa expõe mercado da cana-de-açúcar em MS”

publicada pelo Jornal Diário MS, em 03/07/2011.

64 A esse respeito ver matéria: “Formar condomínio reduz custo” publicada pelo Jornal O Estado de São Paulo,

A esse respeito, o Sr. Jorge Eremites de Oliveira (2007) cita-nos um exemplo ocorrido em Nova Alvorada do Sul/MS, onde a agroindústria canavieira estava a 5 km em linha reta de uma aldeia indígena. Nesse caso os ventos predominantes são da empresa para aldeia e a emissão de gases poluentes, por exemplo, afetava diretamente a comunidade. Logo o entrevistado aponta a necessidade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) estar atento a tal questão e que as empresas efetivamente respeitem um raio de 60 a 70 quilômetros de distância entre uma unidade e outra.

A não regulamentação da distância entre as unidades agroprocessadoras e sua instalação de forma desordenada têm implicações diretas, inclusive sobre a matéria-prima que poderá ser alvo de disputa acirrada entre as respectivas empresas, acarretando por seu turno, forte pressão sobre os proprietários rurais localizados na área. Do mesmo modo, pode prejudicar diretamente o cultivo de outros produtos agrícolas.

Não obstante, no Mato Grosso do Sul após intensa polêmica caiu por terra a Lei 3.204 que estabelecia distância mínima de 25 km entre as agroindústrias canavieiras. Vale destacar que mesmo após o fim da referida Lei buscou-se manter a distância entre as unidades no caso específico dos municípios de Sidrolândia, Maracaju, Rio Brilhante, Dourados, Fátima do Sul, Vicentina, Laguna Carapã, Caarapó e Itaporã.

Concorreu para isso o forte lobby político atrelado aos interesses econômicos de setores do agrohidronegócio aos quais se ligam, haja vista que a ala política é também uma das grandes detentoras de terras no Mato Grosso do Sul, como bem podemos observar através do Cadastro de Certificação de Imóveis Rurais (INCRA), aspecto esse que é sinônimo de prestígio e poder.

No Mato Grosso do Sul em evidência encontra-se as três fazendas que foram declaradas pelo representante do estado Flávio Augusto Derzi PPB/MS, localizado em Corumbá, elas somam quarenta e quatro mil e trezentos e treze (44.313) hectares. Nesta soma faz parte a Fazenda Conceição cuja extensão é de trinta e dois mil e oitocentos e oito (32.808) hectares, que ele declarou possuir com outros dois membros da família. No município de Guia Lopes da Laguna, no domínio do Cerrado na região da Serra da Bodoquena, ele declarou mais uma das suas grandes propriedades, e mais outra fazenda no município de Bela Vista fronteiriça com o Paraguai. Neste mesmo município Reinaldo Azambuja Silva PSDB/MS declarou uma grande propriedade e outra na riquíssima paisagem das terras de Maracajú. E nos solos férteis de Laguna Carapã, Marçal Gonçalves Leite Filho PMDB/MS declarou uma pequena propriedade. Enquanto Edson Giroto PR/MS e Luiz Henrique Mandetta DEM/MS declararam terras em dois Irmãos do Buriti, na “porta de entrada” para o Pantanal próximo a Aquidauana. Ainda neste estado, os representantes de São Paulo deram conta de territorializar o latifúndio ruralista, e esconder as áreas Edson Edinho Coelho Araújo PMDB/SP, em Aparecida do Taboado. Neste mesmo município e também em Alto Araguaia, Etivaldo Vadão Gomes PP/SP declarou sua fazenda. E, Paulo César de Oliveira Lima PMDB/SP declarou três propriedades em Pedro Gomes, e outra em Coxim, município na borda setentrional da bacia do Alto Paraguai que possui um dos maiores rebanhos bovinos do estado. As

propriedades que foram possíveis de identificação neste estado se situam nas áreas de solo mais fértil, da rica biodiversidade do Cerrado e Pantanal, além de gozar de abundância hídrica da bacia do rio Prata.

(Grifo nosso).

Observa-se a presença de detenções de terras de políticos no Alto Paraguai, nas proximidades à agroindústria canavieira Santa Olinda, instalada em Sidrolândia/MS. Além de importantes posses em Maracajú/MS e Aparecida do Taboado/MS, áreas tradicionalmente produtoras de Cana-de-açúcar do estado de Mato Grosso do Sul.

Já do ponto de vista particular da distância mínima entre as agroindústrias canavieiras é importante salientar que alguns municípios optaram por estabelecer critérios próprios para constituição de unidades em seu território, como exemplos, têm o caso de Itaporã/MS onde ficou definida em 2008 uma distância mínima de 20 km entre uma unidade produtiva e outra.

Também outros municípios como Dourados/MS tentaram incrementar medidas para disciplinar a territorialização de unidades agroprocessadoras, como através do projeto do vereador Elias Ishy65 o qual limitava em 50 quilômetros a distância mínima entre cada unidade produtiva instalada, aspecto este que não se concretizou.

65 Cf. Projeto de Lei: Dispõe sobre a limitação da distância entre as usinas instaladas no município de Dourados/

Nesse sentido, faz-se necessário observar a força do capital, que não considerou o fato do referido município ter decidido que as agroindústrias teriam que se estabelecer a uma distância mínima de 20 km do perímetro urbano, isto porque a denominada agroindústria São Fernando em atuação na área, situa-se a 15 quilômetros de Dourados/MS.

CAPÍTULO 03

AÇÃO DO ESTADO NO PROCESSO DE