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ssim, como o trabalho reflete a imagem de Deus no homem (Deus trabalhou durante seis dias), também o descanso reflete a sua imagem em nós (no sétimo dia, Ele descansou).

Nosso mandato é refletir a imagem de Deus em toda dimensão da nossa existência — aí considerados o culto, a intimidade, a diversão e o descanso. Parte da nossa vocação, portanto, é descansar. Então, examinemos a maneira como a sociedade chegou a conceber o descanso e depois vejamos a perspectiva bíblica a respeito.

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PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA DO DESCANSO

Observamos no capítulo anterior que os gregos antigos desprezaram de tal modo o

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trabalho que a palavra que usavam para designá-lo significava literalmente “ausên-cia do lazer”. Hoje, parece-me que acontece exatamente o contrário. É comum entender-mos o descanso como a ausência do traba-lho. O descanso se torna o desejo ardente de escapar do trabalho. Criamos diversões e distrações. Depois do expediente, vivemos para os projetos em casa e para os fins de semana. Contamos os dias que faltam para as férias. Com essas atividades de lazer, pro-curamos negar o trabalho e, assim, acabamos nos tornando escravos dele. Não escolhemos diversões que acrescentem algum significado à nossa vida total, mas apenas distrações que nos ajudem a esquecer a insignificância das nossa vidas. De certo modo, essa visão do des-canso é uma conseqüência lógica da má com-preensão do trabalho como labor sofrido e doloroso, e não como vocação de Deus para ser seus bons administradores da criação.

Uma dessas atividades de lazer, caracte-rística da nossa sociedade, é o consumismo, atividade que tornou-se mais complexa e trabalhosa e mais semelhante ao trabalho.

Transformamo-nos em uma sociedade de consumo. Charles Taylor adverte:

O impulso para o consumo não é nenhuma moda por acaso, nenhum produto de mani-pulação esperta. Não será fácil contê-lo. Está associado à auto-imagem econômica da socie-dade moderna, e isso por sua vez está ligado a um conjunto de conceituações fortemente embutidas a respeito do valor da vida humana.12

O dinheiro 55

No meio da igreja, pensa-se de modo semelhante. Já há algum tempo, os sociólo-gos da religião repararam que nas igrejas evangélicas nos referimos às atividades da igreja como trabalhos ou obras. Usamos a linguagem não do descanso e conseqüente dependência de Deus, mas do labor e con-seqüente independência. Nesse contexto, nossa dificuldade em realizar programas da igreja destinados ao repouso físico e mental como fontes de renovação espiritual não é surpreendente. A maioria das nossas pro-gramações se enquadram, literalmente, muito bem, dentro do conceito de trabalho.

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PERSPECTIVA BÍBLICA DO DESCANSO

Como já afirmamos, parte da nossa vocação consiste em descansar. O próprio Deus descansou depois de haver criado o mundo. Aliás, no Decálogo, a proibição de trabalhar no sábado tem o mesmo peso que a proibição de matar ou de roubar. Enquanto Israel estava no deserto e, depois, no exílio, Deus lhe prometeu descanso na terra (Dt 3.20;

Jr 46.27). A nação toda seguia o ritmo de uma vida de trabalho e descanso. Cada sétimo dia, cada sétimo ano e cada sétimo de sete anos era um sábado para as pessoas, os animais e até para a própria terra.

Esse ciclo de trabalho e descanso estava intimamente ligado à sua dependência fiel de Deus. Pois, para descansar no sétimo ano,

E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.

(Gn 2.2)

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Israel precisava confiar em Deus que a terra produziria o suficiente para passar o ano sabático (Lv 25.18-24). No qüinquagésimo ano, a sua fé era provada mais ainda, por-que Israel precisava passar dois anos sem trabalhar com as mãos, dependendo de do-ações de Deus (Lv 25.8-12).

De modo semelhante, no Novo Testa-mento, a nossa suprema dependência de Deus, a salvação, é descrita em termos de entrar no descanso do Senhor (Hb 3-4). Não se deve confundir este descanso com a ina-tividade física ou mental. Para justificar sua atividade no sábado, isto é, o seu descanso, Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Portanto, o descanso cristão não é a falta de esforço fí-sico ou mental, como no conceito popular.

Em Hebreus 4.11, muito longe de pressu-por inatividade, o repouso cristão exige em-penho, requer esforço (cf. Hb 12.2, 3). Trata-se de um esforço para permanecer na de-pendência de Deus.

No conceito bíblico, o descanso se define como nossa dependência de Deus e a sua resposta em Jesus à maldição da dor no trabalho (Mt 11.28-30). São os desobedien-tes, ou independentes de Deus, que não conseguem entrar no descanso do Senhor (Hb 4.11). Ora, não foi a primeira desobedi-ência humana, a vontade de ser indepen-dente de Deus, que causou, como castigo divino, a dor do trabalho (Gn 3.14-19)? Se o

Considerem aquele [Jesus]

que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, de forma que vocês não se cansem nem se desanimem.

(Hb 12.3, NVI)

O dinheiro 57

castigo, a dor e o sofrimento do trabalho, e não o trabalho em si, foram resultados de um desejo de independência de Deus — uma vontade outras vezes descrita como desobe-diência ou infidelidade —, a reversão desse castigo se dá pela obediência e fidelidade ao Deus Supremo, em Cristo, e é descrita como o antônimo do trabalho doloroso, isto é, o descanso. O apelo para entrar no descanso de Deus, então, é um convite para entregar todas as nossas ansiedades, todas as nos-sas preocupações e toda a nossa auto-su-ficiência a Jesus. Expressa-se mais nítida e profundamente no convite de Jesus:

“Vinde a mim todos os que estais cansa-dos” (Mt 11.28). O verdadeiro repouso está em Jesus. Não é a invulnerabilidade e a inér-cia dos estóicos, mas a paz, o contentamen-to, a segurança e a completa dependência de Deus, revelados em Jesus.

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MPLICAÇÕES DO DESCANSO

Dito dessa forma, vejamos quais são as implicações da visão bíblica do descanso para nós. Quero destacar três princípios.

Primeiro, o descanso é mais que recupe-ração do serviço ou preparo para ele. Não é simplesmente o produto de fatores externos, o resultado inevitável de tempo sobrando, um feriado ou um fim de semana. É uma condição, e até atitude, de toda nossa vida. Aliás, o descanso e o trabalho podem envolver

Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência.

(Hb 4.11, NVI)

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atividades semelhantes, porém realizadas com perspectivas, atitudes e motivações di-ferentes. Por exemplo, a leitura faz parte tanto do meu trabalho como do meu des-canso. E o meu descanso inclui tanto uma longa caminhada, como o trabalho duro na horta e o esforço físico de um dia inteiro surfando na praia.

Segundo, o descanso está ligado à fé. Esta é a razão por que a maioria de nós evitamos o verdadeiro descanso e a razão por que o cristianismo medieval o entendeu como uma atividade mais elevada. A Bíblia relaci-ona a falta do descanso à desobediência e incredulidade (Sl 95.8-11; Hb 3.7-4.10).

Quando descansamos estamos reconhecen-do que toreconhecen-do esforço da nossa vontade, por si só, nada adianta. O descanso genuíno pressupõe o reconhecimento de que os nossos irmãos na fé sobrevivem sem a nossa intervenção. Esse descanso requer o reconhecimento da nossa própria insu-ficiência e uma entrega de responsabili-dade. É uma trégua real aos caminhos de Deus. E é um momento de celebração quando reconhecemos que a bênção vem somente de Deus. É por isso que o des-canso exige fé. É também por essa razão que a salvação pode ser descrita em ter-mos de descanso. Quando descansater-mos, aceitamos a graça de Deus: não procura-mos ganhar, recebeprocura-mos; não justificaprocura-mos, somos justificados.

Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.

Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.

Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

(Mt 11.28-30, NVI)

O dinheiro 59

Finalmente, o descanso não se destina ao consumo. Nossa sociedade está cada vez mais distante do descanso. Seus feriados fabricados se transformam cada vez mais em veículos de consumo. Nos países onde o ex-pediente do dia útil diminuiu, o resultado que Karl Marx esperava acontecer acabou não acontecendo. Em vez de provocar, nos povos, o desenvolvimento da dedicação ao trabalho e do senso crítico, bem como o florescimento da cultura, produziram-se nações de consumidores.

O descanso genuíno deve fluir de uma fé viva no Salvador, que assume o nosso fardo.

O DINHEIRO :

100% OU 10%?

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erta vez, um filósofo francês observou que o protestantismo nada mais é que um “substituto mais barato” do catolicismo romano. Criticou a Igreja Católica por ela exigir demais em termos financeiros.

Mas também acrescentou que as igrejas evangélicas acabam sendo usadas por aqueles cujas convicções religiosas se determinam mais pelo desejo de acumular dinheiro e propriedades para si mesmos.

Apesar do choque que essa observação nos causa, Voltaire percebeu bem a maneira como os recursos econômicos e a sua administração indicam o relacionamento que alguém tem com a igreja.

Hoje em dia, o cristão pode facilmente escapar das suas obrigações e privilégios fi-nanceiros apenas mudando de igreja, já que

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existem tantas. Frente a esse quadro de incoerência entre a fé e o bolso, muitos lí-deres cristãos estão exortando as suas con-gregações a assumirem a prática vetero-testamentária do dízimo. Sem dúvida, o Ve-lho Testamento fala diversas vezes sobre o dízimo. E hoje? Qual é a perspectiva no Novo Testamento sobre a maneira como adminis-tramos nossos bens financeiros como ex-pressão de uma fé genuína? O Novo Testa-mento continua a legislação do Antigo Tes-tamento ou há alguma mudança de perspec-tiva? E se existe alguma mudança, qual é a orientação verdadeiramente cristã para o uso dos nossos recursos materiais? Bem, antes de pensar no Novo Testamento, con-vém esclarecer a perspectiva do Antigo.

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DÍZIMO NO

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NTIGO

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ESTAMENTO

Existem duas palavras hebraicas (ma‘aser e ‘eser) e uma grega (deka) que traduzimos como dízimo. Esses termos dão a idéia de um décimo e se referem ao produto da ter-ra que os fiéis do Antigo Testamento entre-gavam a Deus para o sustento do santuário e dos seus sacerdotes.

Ninguém sabe a origem certa do dízimo.

Está perdida na antigüidade. Possivelmen-te, anteceda a história de Israel e inclua tam-bém os povos indo-germânicos, além dos semitas. O que sabemos é que o dízimo era praticado na Babilônia, na Pérsia, na Grécia

Eu, o Deus Todo-Poderoso, ordeno que tragam todos os seus dízimos aos depósitos do Templo, para que haja bastante comida na minha casa.

Ponham-me à prova e verão que Eu abrirei as janelas do céu e farei cair sobre vocês as mais ricas bênçãos.

(Ml 3.10, BLH)

O dinheiro 65

e em Roma, ou como uma taxa política, ou religiosa, ou uma mistura das duas.

Há referências à prática ocasional do dízimo por Abraão (Gn 14.20; Hb 7.1-9) e Jacó (Gn 28.22), não como uma obrigação siste-mática, mas como uma expressão espontâ-nea de gratidão. Abraão, por exemplo, deu o dízimo dos despojos de guerra, não do pro-duto da terra.

É interessante que em todo o grande có-digo da lei no livro de Êxodo, não há nenhu-ma menção do dízimo. Entretanto, existem leis que legislam as primícias da terra. Evi-dentemente, isso deu sentido ao dízimo, sendo uma oferta, às vezes anual, às vezes de três em três anos, de certos produtos agrí-colas, tais como cereais, vinho ou azeite.

Então, é importante reparar que o conceito se desenvolveu através da história de Isra-el, embora nunca fosse algo fixo.

Primeiro, o dízimo estava ligado à idéia das primícias da terra. Anualmente, essa oferta era levada ao lugar designado e, na companhia de filhos, servos e levitas, todo o grupo familiar fazia um banquete desses produtos, diante do Senhor, com muita festa e alegria (Dt 12.6, 11-17; 14.22-29; 15.19-23).

A essa altura da história de Israel, o dízimo não era exclusivamente para os levitas.

Com o decorrer do tempo, a sociedade israelita desenvolveu-se e os seus proble-mas sociais aumentaram. Parcialmente para resolver isso, modificaram-se as leis

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que governavam o dízimo. As comunidades locais deveriam acumular o dízimo durante três anos para suprir as necessidades mate-riais dos levitas, dos estrangeiros, dos órfãos e das viúvas (Dt 14.28; 26.12).

Depois, o culto em Israel cresceu e o nú-mero de levitas e sacerdotes, que não pos-suíam terras e dependiam das ofertas do povo, se multiplicou. Assim, o dízimo de três anos se tornou insuficiente e, então, houve mais uma modificação. A partir desse mo-mento, todo o dízimo coletado em Israel se destinava aos levitas e anualmente era re-colhido como um imposto para sustentar os sacerdotes e a casa de Deus (Nm 18.21, 28;

Ne 10.32-39).

Às vezes havia negligência, e os levitas tinham de lavrar o solo enquanto o santuário se estragava. Mas várias reformas eram fei-tas para corrigir essas falhas e a bênção de Deus era restaurada (2 Cr 31.5-6; Ne 13.12;

Ml 3.8, 10).

Deste breve histórico do dízimo podemos derivar alguns princípios preliminares do Antigo Testamento. Primeiro, por trás da idéia do dízimo estava o reconhecimento de que tudo pertence a Deus (Sl 24.1). Segun-do, e em conseqüência do primeiro princípio, o dízimo era uma expressão de gratidão a Deus pela sua generosidade (Gn 28.20-22).

Terceiro, a finalidade do dízimo incluía o sustento daqueles que cuidam da casa de Deus e o suprimento das necessidades dos

Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.

(Sl 24.1)

O dinheiro 67

pobres. Quarto, dar o dízimo resultava em bênção divina, enquanto retê-lo trazia mal-dição (Ez 44.30ss; Ml 3.8, 10). E, finalmen-te, já que o conceito e a finalidade do dízimo sofreram modificação no Antigo Testamen-to, seria natural esperar mais desenvolvi-mento da idéia no Novo Testadesenvolvi-mento.

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DÍZIMO NO

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OVO

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ESTAMENTO

A primeira observação surpreendente que fazemos do dízimo, ao abrir o Novo Tes-tamento, é que ele não é mencionado nas instruções à igreja! Não podemos negligen-ciar a importância dessa observação. Vamos ser o mais claro possível: Jesus nunca man-dou que os discípulos entregassem o dízimo.

Aliás, a única menção que Ele faz é explici-tamente negativa, mostrando o dízimo como um exemplo do legalismo e falsa religiosi-dade dos fariseus (Mt 23.23; Lc 11.42; 18.12).

Mas, além dessas, há outras referências ao dízimo no Novo Testamento.

Por exemplo, o escritor de Hebreus diz que Abraão e Levi pagaram o dízimo para Melquisedeque (7.2-9). Interessantemente, o mesmo autor não exorta que os leitores sigam esse exemplo.

Ninguém no Novo Testamento oferece tanto conselho e orientação para a vida das comunidades cristãs quanto o apóstolo Pau-lo. Entretanto, Paulo nem menciona o dízimo. De fato, escreve sobre contribuições

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, misericórdia e a fidelidade. Vocês

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para os pobres (1 Co 16.1-3; 2 Co 8-9; Ef 4.28) e para a igreja (1 Co 9), enfatizando a necessi-dade da contribuição financeira (1 Co 16.1-3;

2 Co 8.4; 9.1, 12) e da generosidade (2 Co 9.6;

8.1-5), porém jamais exige uma porcentagem (por exemplo, um dízimo) que se deve dar.

Portanto, ao ler o Novo Testamento, é impossível sustentar a obrigatoriedade do dízimo. Certamente não podemos compreendê-lo como lei. Podemos vê-lo, sim, como graça (2 Co 8.4).13 Creio que precisa-mos pensar no dízimo como uma instituição semelhante à circuncisão, à Páscoa, ao tem-plo ou à própria lei. Diante da introdução definitiva da época da graça, inaugurada pela crucificação e ressurreição de Jesus, essas instituições sofreram modificação e redefinição. Da mesma forma que a igreja cristã não observa literalmente essas insti-tuições, mas as redefine (e assim efetiva-mente exigindo mais, não menos — a lei se cumpre, não se anula!), também precisamos procurar princípios no Novo Testamento que ilustrem o cumprimento atual das antigas leis do dízimo. Encontramos tais princípios especialmente nas orientações do apóstolo Paulo sobre a disposição dos nossos bens materiais.

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OFERTA NO

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OVO

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ESTAMENTO

Efetivamente o Novo Testamento oferece orientações para pelo menos sete perguntas

O que furtava não furte mais;

antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.

(Ef 4.28, NVI)

O dinheiro 69

sobre a disposição cristã dos bens materiais.

As perguntas são as seguintes: 1) Por que contribuir? 2) Como contribuir? 3) Qual é o motivo apropriado da contribuição? 4) Qual é o nosso modelo para contribuir? 5) Com quanto contribuir? 6) Para que contribuir?

7) Qual é a finalidade da contribuição? Veja-mos uma por uma.

1. Qual é a razão da nossa contribuição financeira?

Por que contribuir? Primeiro, a vida cristã é uma troca de lealdades. Antes éramos prisi-oneiros das trevas, agora pertencemos ao domínio da luz. Paulo nos descreve como literalmente escravos (doulos) de Deus (Rm 6.16; 1 Co 7.22; Ef 6.6; 1 Pe 2.16), sem possessões próprias (1 Co 6.20). Tudo que humanamente consideramos nosso, no con-ceito bíblico, na verdade pertence a Deus.

No conceito bíblico, somos chamados também de mordomos de Deus. Isso signi-fica que somos administradores dos bens do Senhor (1 Pe 4.10; Rm 14.12). Deus é o dono e nós, os administradores (aliás, a pa-lavra senhor significa exatamente isto:

dono). Portanto, na verdade o ser humano não dá nada para Deus que não seja dele desde o princípio. Nós meramente devolve-mos a Ele aquilo que já lhe pertence.

Finalmente, uma das características da nova vida cristã mais difíceis de compreender e praticar no Ocidente é a vida comunitária.

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A vida cristã é uma vida em comunidade com outros cristãos. Vivemos literalmente em co-munhão (koinonia) e vida em coco-munhão que seja coerente exige o compartilhamento dos bens que estão à nossa disposição (2 Co 8.6, 7, 11).

Já vimos que nem Paulo nem os outros escritores do Novo Testamento nos orien-tam sobre o dízimo propriamente dito. E o motivo agora deve estar claro: a prática do dízimo no Antigo Testamento encontra um cumprimento no Novo Testamento pela dis-posição de todos os nossos bens para o avan-ço do reino de Deus.

Mas ainda há a questão do sustento es-pecificamente da instituição cristã nascen-te. E aqui é Paulo que nos dá as diretrizes, especialmente numa longa passagem sobre as contribuições financeiras em benefício da igreja mãe em Jerusalém, que estava passan-do por dificuldade material, conforme se lê nos capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios.

Derivamos os princípios a seguir sobre a contribuição cristã principalmente dessa passagem.

2. Como contribuir?

As nossas contribuições devem ser volun-tárias (2 Co 8.3). A iniciativa deve ser pró-pria, e não por pressão de quem quer que seja. Pensando nos dias de hoje, não creio que isso implique a proibição de uma coleta pública e regular, como ato de gratidão e

No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema

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consagração no culto. Pessoalmente, acho isso bom e saudável, pois ajuda toda a co-munidade cristã a lembrar que a vida mate-rial também é vocação de Deus e motivo de gratidão. Entretanto, um ato público de tribuição financeira jamais poderá ser con-duzido de modo constrangedor, muito me-nos manipulativo. As igrejas que demoram num apelo para que os participantes contri-buam ou que fazem qualquer pressão nesse sentido não estão dentro da orientação bí-blica.

Portanto, damos nossas ofertas por con-ta própria, e não como resposcon-ta a uma or-dem (2 Co 8.8). Damos, livremente, de tal modo que no nosso íntimo podemos afir-mar que a oferta foi dada genuinamente por nós. Isso nos leva ao próximo princípio.

3. Qual é o motivo apropriado da contribuição?

Se não é uma ordem que nos leva a dar, qual é o motivo por trás da nossa oferta?

Novamente em 2 Coríntios vemos que ofe-recemos o fruto material das nossas profis-sões à causa do Senhor por alegria (8.2; 9.7) e de boa vontade (8.12). Repare que em 2 Coríntios 8.2 esta alegria não provém neces-sariamente de uma abundância material com a qual Deus nos presenteia. Tanto aqui quanto no relato sobre a contribuição da viúva pobre nos Evangelhos, aprendemos que a alegria de dar nasce de uma confiança no

Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por

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Deus que cuida de nós, quer na riqueza, quer na pobreza. Paulo sabia viver contente tanto na pobreza, quanto na fartura (Fp 4.12, 13).

4. Qual é o nosso modelo para contribuir?

O supremo modelo em tudo para o cristão sempre é o exemplo de Jesus. E isso tam-bém em relação às contribuições financei-ras. Nossa generosidade é conseqüência da sua generosidade para conosco (2 Co 8.9). O Deus que tudo possui entregou tudo a fim de nos enriquecer com a sua graça. Por isso, não é uma décima parte do suor do nosso labor que damos à obra de Deus. Damos tudo porque Ele nos deu primeiro tudo de si.

O supremo modelo em tudo para o cristão sempre é o exemplo de Jesus. E isso tam-bém em relação às contribuições financei-ras. Nossa generosidade é conseqüência da sua generosidade para conosco (2 Co 8.9). O Deus que tudo possui entregou tudo a fim de nos enriquecer com a sua graça. Por isso, não é uma décima parte do suor do nosso labor que damos à obra de Deus. Damos tudo porque Ele nos deu primeiro tudo de si.

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