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TEORIA GERAL DO CRIME E DA PENA FDUCP

4. O Dolo do Tipo

4.1. Conceito Legal de Dolo do Tipo

Dolo (art. 14º): conduta do agente para a realização de um facto típico que

representou e quis.

Elemento Intelectual ou Cognoscitivo/Conhecimento e Consciência:

representação ou visão antecipada do facto que preenche um tipo de crime.

Representação dos elementos objetivos do tipo: conhecimento do

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 Objeto da Representação: o facto típico com todos os seus elementos objetivos: a ação ou omissão, o evento ou resultado e o nexo causal (nos crimes matérias), o objeto material e as circunstâncias essenciais do facto.

Consciência da sua ilicitude: conhecimento da ilicitude do facto (art.

16º - se faltar, o dolo é excluído)

Elemento Volitivo/Vontade: a resolução, seguida de um esforço de querer

dirigido à realização do facto representado. Não é apenas a vontade psicológica dirigida aos elementos objetivos do facto, mas a vontade dirigida ao facto típico ilícito.

Nota: o elemento intelectual ou cognoscitivo e o elemento volitivo encontram-se

intimamente ligados, uma vez que ninguém pode querer algo sem disso ter a perceção prévia. Ex: se o agente não representou a morte do ofendido como consequência da sua conduta e da sua adaptação a esse resultado do meio usado, não existe dolo (em qualquer das suas formas).

4.2. Espécies de Dolo

Dolo Direto ou Intenção (art. 14º/1): o fim subjetivo do agente é o próprio facto

tipicamente ilícito. O facto representando é o facto querido e o agente atua com vontade de realizar esse mesmo facto. Ex: o agente quer matar uma pessoa. Representa uma pessoa e age (executando o meio adequado) com o fim de a matar. O agente conhecia o que estava a fazer e quis fazê-lo, ou seja representou intelectualmente que com uma determinada ação causaria a morte a uma pessoa e atuou com vontade de o fazer.

Dolo Necessário (art. 14º/2): o facto tipicamente ilícito não constitui o fim que o agente

se propõe, mas é consequência necessária da realização do fim (lícito ou ilícito) que se propõe. O agente para realização do fim que se propõe, que pode ser um facto lícito ou ilícito, representa como consequência necessária da sua conduta a perpetração de um facto tipicamente ilícito, mas essa representação não o impede de agir. O Fim Subjetivo do Agente não coincide com o Fim Objetivo da Ação, mas esta é meio necessário para a realização daquele, e por isso, querendo o agente o fim que se propõe, quer também o facto típico, pois sem a realização deste não realiza aquele. Ex: o agente quer matar a tiro um animal de caça (lícita ou ilicitamente). Percebe que para matar o animal vai necessariamente atingir e causar a morte a uma pessoa que se encontra perto do animal. Age mesmo assim, embora o seu fim primeiro fosse matar o animal e não a pessoa, mas não obstante ter a consciência de que mataria também a pessoa dispara pelo que ao querer a morte do animal quer também da pessoa.

Dolo Eventual (art. 14º/3): o agente prevê o facto como consequência possível da sua

conduta e mesmo assim age, assumindo o risco, conformando-se com a sua realização. A vontade não se dirige propriamente ao resultado, nem como fim nem como meio necessário, mas apenas ao ato inicial, licito ou ilícito, e o resultado não é representando como certo, mas só como possível. É um ato de vontade uma vez que

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o agente representa como possível o facto típico e age apesar dessa representação. Existe o enfraquecimento dos elementos estruturais do dolo, mas ainda há dolo: (1) existe a representação do facto típico; (2) há vontade do facto. Ex: o caçador que querendo matar uma peça de caça apercebe-se que disparando sobre o animal poderá atingir e matar uma pessoa que se encontra perto do animal. Se o agente se conforma com a morte dessa pessoa, ou seja, se considerar provável a morte dessa pessoa e mesmo assim dispara há dolo eventual. Se o agente não obstante a representação do risco, convence-se que não vai atingir a pessoa e só por isso dispara há negligência consciente.

Dolo Alternativo: o agente prevê e quer um ou outro dos resultados possíveis da sua

ação, mas o facto é sempre previsto e querido, seja ele qual for. Ex: o agente atira para ferir ou matar e pode querer indistintamente ferir ou matar, mas pode querer essencialmente ferir, prevendo, que da sua ação ou omissão possa resultar a morte e mesmo assim atuar conformando-se com esse resultado. O agente admite ambas as possibilidades e quer qualquer delas, devendo por isso o seu dolo ser afirmado relativamente ao tipo objetivo efetivamente realizado. Deste modo, podendo reconduzir-se a qualquer das outras espécies de dolo, o dolo alternativo não costuma ser autonomizado.

4.3. O Dolo e o Momento da Execução do Crime; o Dolo Antecedente

Nos crimes à distância, o resultado pode ocorrer num momento em que a vontade do agente esteja inerte ou já não se verifique  existe dolo desde que se verifiquem os seus requisitos durante a atividade de execução. É necessário que o evento seja o resultado previsto para a conduta querida no momento da sua execução.

Pode suceder que o agente com intenção de praticar determinado crime realize um facto capaz de produzir o resultado, e logo depois, na crença de que o produziu pratique um novo facto que é causa efetiva do resultado. Ex: o agente que dispara sobre a vítima e acreditando que ela já esta morte atira-a a um rio, vindo a vitima a falecer por afogamento  o agente responde por homicídio doloso (não é necessário que o dolo persista durante toda a execução do facto, bastando que a conduta que desencadeia o processo causal seja dolosa).

Actiones Liberae in Causa: no momento da execução o agente não tem consciência

e vontade do facto, mas essa vontade existe em momento antecedente ao estado de inimputabilidade.

4.4. Dolo Genérico e Dolo Específico

Dolo Genérico: o dolo tem como conteúdo a representação e vontade do facto

ilícito, não incluindo em geral a exigência de um determinado fim subjetivo para alem da realização do próprio facto ilícito. Ex: nos crimes de injúrias, em abuso e liberdade de imprensa, basta o simples dolo genérico, em qualquer das suas modalidades, pelo que comete esse crime o jornalista que reproduz a imputação de um facto ofensivo da honra de alguém sabendo que o não podia nem devia fazer sem se ter rodeado das cautelas necessárias.

Dolo Específico: relativamente a certos crimes, aos elementos essenciais e gral do dolo

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 Art. 132º al. g): ter em vista preparar, facilitar, executar ou encobrir um outro crime, facilitar a fuga ou assegurar a impunidade do agente de um crime.  Art. 217º: intenção de obter para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo.

Dolo de Tipo Dolo específico

Respeita aos elementos objetivos do tipo (conhecimento e vontade de os realizar

Não é propriamente dolo com um fim que acresce ao dolo genérico, mas

elemento subjetivo específico de determinados crimes que exigem para

alem da consciência e vontade da pratica dos elementos objetivos do crime

ainda uma determinada intenção ou propósito do agente.

A Doutrina fala normalmente em Crimes de Intenção ou de Resultado Cortado, para designar os casos de Dolo Específico: a exigência subjetiva refere-se a um resultado que não faz parte do tipo, que esta fora dele e por isso a realização desse resultado não é necessária para a consumação do crime. A intenção, a exigência do fim subjetivo, é elemento subjetivo do tipo legal, mas o fim prosseguido não faz parte do tipo e por isso basta a intenção para que o crime fique consumado.

4.5. Dolo de Perigo

Costuma distinguir-se entre dolo de dano e dolo de perigo, mas tal é pouco relevante – distinção respeita aos crimes de resultado.

Dolo de Dano: o agente quer e age para produzir um resultado de dano

Dolo de Perigo: o agente representa, quer e age para produzir um resultado de perigo,

ou seja o agente quer que o resultado da ação seja o perigo que o possibilita e não um dano.

Prof. Germano Marques da Silva: o dolo de perigo não é uma diferente espécie de dolo do tipo, mas sim uma qualquer das suas espécies cujo objeto (conhecimento e vontade) na parte referente ao evento material é uma situação de perigo.

↳ Dolo de Perigo enquanto vontade de criar tão-somente o evento material e perigo. Tal não se aplica aos crimes de perigo abstrato, pois nestes crimes o perigo é simplesmente presumido pelo legislador  basta que o agente represente e queira a conduta tipificada, sendo que tal há-de ser querida, independentemente do agente tr ou não consciência do perigo que ela representa, bastando que queira a conduta e tenha consciência que ela é proibida.

Na estrutura dos crimes de perigo comum, a lei distingue o dolo de ação do dolo da situação de perigo.

↳ Dolo de Perigo: referida ao evento situação de perigo, é necessário que a ação seja também dolosa, mas a ação pode ser dolosa e não querido o evento de perigo  não há dolo de perigo, pois a consciência e a vontade do agente não abrange o resultado consistente na situação de perigo. Ex: art. 272.

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4.6. Intensidade do Dolo

Interpretação do art. 71º/2 al. b) ‘’intensidade do dolo para efeito da determinação

da pena concreta’’: o dolo é definido nos seus elementos essenciais, mas a sua

concretização supõe a ponderação de outros elementos da vontade real, consoante se verifiquem em concreto.

O dolo pode ser mais ou menos intenso, sendo que a maior ou menos intensidade constitui circunstância acidental do dolo e por isso também do crime.

Regra: dolo eventual menos intenso do que o dolo direto ou necessário.

A intensidade do dolo refere-se, em regra, ao elemento volitivo.

5. O Erro sobre a Factualidade Típica