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Alexsandra Costa Silva ¹ Vanessa Gabassa ² O ano de 2020 está sendo marcado por grandes mudanças e transformações na vida das pessoas no Brasil e no mundo. A pandemia causada pela covid-19 fez as pessoas aderirem a novas práticas de convivência e distanciamento social e isso tem impactado de forma inédita a área da educação. Foi diante desse novo contexto que surgiu o interesse em investigar os desafios enfrentados por professores do ensino fundamental no interior do Tocantins. A necessidade do isolamento social inviabilizou as aulas presenciais e motivaram a modalidade de ensino remoto emergencial. No entanto, sabemos que em algumas regiões do Brasil, existem segmentos sociais vulneráveis que não possuem acesso a tecnologias ou à internet, o que nos fez questionar sobre como essas pessoas estão tendo acesso à escolarização. A pandemia contribuiu para aumentar as deficiências da escola pública e houve o agravamento das dificuldades em um nível jamais imaginado (SANTOS, 2020). Interessamo-nos em investigar a situação de uma cidade do interior do Estado do Tocantins, pois o contexto é bastante vulnerável, no qual poucas pessoas da zona rural têm acesso à internet e onde a modalidade de ensino à distância seria impensável em outro momento. Motivamo-nos por verificar a forma como está ocorrendo o processo de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e a relação entre professores (as) e estudantes diante das barreiras impostas pela pandemia. Verificamos de antemão que os professores estão enfrentando muitos desafios durante a pandemia da convid-19 para trabalhar em situação precária e com alunos que possuem pouco ou nenhum acesso à internet. Este trabalho não tem o intuito de culpabilzar professores, pais ou administradores públicos por eventuais mazelas na educação nesse momento, ou deforma simplista

encontrar responsáveis e justificar a inoperância de um sistema de ensino que revela os processos sociais de exclusão. Consideramos pertinente investigar em que medida a pandemia modificou as possibilidades de acesso à escolarização para um grupo de estudantes do ensino fundamental da zona rural do norte do país, trazendo à tona as principais barreiras que esses estudantes e professores estão enfrentando ou as alternativas que estão construindo. Por essa razão, dentre outras, delimitamos o campo de investigação deste estudo, levando em conta as vozes dos que vivem as práticas sociais que investigaremos. Os subsídios teóricos que fundamentarão esta pesquisa partem, sobretudo, das obras de Paulo Freire e outros estudiosos que aderem ao seu pensamento. A percepção de Paulo Freire sobre sua época, seu momento histórico e suas propostas para uma pedagogia da libertação se mostram cada vez mais atuais, especialmente nesse momento de pandemia. Freire propôs uma metodologia dialógica e crítica em que as experiências dos aprendizes são valorizadas de modo a perceber a realidade de forma crítica. Foi um pensador comprometido com a vida, expôs seu saber sócio pedagógico, como educador e o resultado de investigações feitas durante os anos que esteve no exílio e praticou seu método de ensino. Todo o trabalho de Paulo Freire é um convite ao diálogo de educadores com sujeitos das camadas desfavorecidas, e trataremos desses sujeitos que hoje não possuem quase nenhum acesso à escolarização em consequência da pandemia do covid-19 que atingiu principalmente as camadas sociais de baixa renda. Freire (1987) afirmava que a história da humanidade tinha sido reduzida a mecanismos econômicos e os valores resumidos ao realismo das vantagens individuais. O raciocínio de Freire é atualizado nesse momento de crise sanitária em que se agravam as dificuldades de acesso à educação das pessoas de baixa renda e não se apresentam investimentos para reduzir essas desigualdades, bem como o fato de que o problema de dificuldade de acesso não se aplica a toda a nação. Este estudo será orientado pelos princípios metodológicos de uma pesquisa de cunho qualitativo com abordagem dialógica. O foco da investigação é buscar as respostas às perguntas apresentadas por

meio das vozes dos sujeitos envolvidos (estudantes, professores/as e familiares). Para tanto, a construção dos dados se dará a partir dos seguintes instrumentos de coleta: entrevistas em profundidade e grupos de discussão comunicativos. Para Lüdke e André (1986, p.18), o estudo qualitativo “é o que se desenvolve uma situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”, essa abordagem nos proporcionará maior flexibilidade naquilo que concerne ao estabelecimento de diálogo entre diferentes teorias. Constatamos que estamos vivendo um momento importante da nossa história e isso gera uma vontade de compreendê-lo melhor, para dele extrair, na pesquisa, a experiência do outro, a qual pode contribuir para a construção das nossas próprias experiências enquanto sociedade. Dessa forma, a atenção não será voltada apenas para as mazelas que assombram a educação pública no Brasil, principalmente nos rincões da imensidão do país. Focaremos também no que se diferencia, no que ilumina, na criatividade; as possíveis alternativas para se vencer a dificuldade e apontar a esperança para um processo pedagógico mais inclusivo, porque cada parte do país, cada pessoa, importam e podem nos evidenciar saídas e mostrar outras possibilidades.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

LÜDKE, Menga. & ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso. Pesquisa

em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

SANTOS, Boa Ventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. [recurso eletrônico]. São Paulo: Boitempo, 2020.

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