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EDIFÍCIO DO PALÁCIO DO COMÉRCIO – 1977

Palácio do Comércio... Sonho de várias gerações, superior aspiração dos comerciantes piauienses.

José Elias Tajra, 1977. O Palácio do Comércio surgiu como a nova sede da Associação Comercial Piauiense31, instituição que ocupava o antigo sobrado (Figura 6.1), antes de propriedade do senhor Agripino Maranhão. Segundo Araújo et. al. (2011), o plano de construção da nova sede da associação iniciou-se em 1961, sendo o sobrado derrubado em 1969 para dar início às obras do edifício.

Figura 6.1: Sobrado onde funcionava a sede da Associação Comercial Piauiense. Fonte: Blog Extensão e Pesquisa (2014).

Para Silva (2006, p. 11), o projeto teve o apoio dos governos de Lucídio Portela e Alberto Silva, com as obras iniciadas e concluídas durante a administração da associação por José Elias Tajra. Foi idealizado pelo arquiteto Antonio Luiz Dutra de Araújo a convite do engenheiro Lourival Parente, em 1969. Executado pela

31 A associação surgiu em 1903, com a reunião de sete negociantes de Teresina, transformando em

sua sede o sobrado da Rua Bela, hoje Rua Senador Teodoro Pacheco, no cruzamento com a Rua Rui Barbosa (FILHO, 1982, p. 29).

131 Construtora Lourival Sales Parente Ltda., o edifício foi inaugurado em 23 de agosto de 1977 (Figura 6.2).

Figura 6.2: Perspectiva do edifício Palácio do Comércio, desenvolvida em 1969. Fonte: Arquivo Escritório Maloca (2012).

6.1 O ENTORNO E A IMPLANTAÇÃO

Localizado na esquina das ruas Rui Barbosa e Senador Teodoro Pacheco, a quatro quadras do Rio Parnaíba, o edifício pertence ao traçado original da capital piauiense, inserido em um contexto urbanístico e arquitetural de valor histórico para a cidade.

O entorno próximo atualmente apresenta um conjunto arquitetônico de exemplares ecléticos que datam desde o início do século XX, alguns deles já descaracterizados e outros já demolidos devido à intensa atividade comercial e administrativa da região, que não valoriza a preservação do patrimônio histórico dos imóveis.

A antiga Rua Bela, atual Rua Senador Teodoro Pacheco, e suas vizinhanças guardam um importante conjunto arquitetônico eclético, com edifícios do final do século XIX e início do século XX. É

132 perceptível a grande importância que a Rua Bela teve, sendo locação de edifícios como a Associação Comercial Piauiense, o primeiro banco do estado, o primeiro Grande Hotel e a primeira loja maçônica, além de ser endereço nobre de grandes famílias. A lei municipal complementar n. 3.563, de 20 de outubro de 2006, criou zonas de preservação ambiental, instituiu normas de proteção de bens de valor cultural e deu outras previdências (ARAÚJO et. al, 2011).

Analisando o mapa da Figura 6.3, observa-se o entorno em que o edifício está localizado: as edificações ecléticas importantes, como o a primeira agência bancária do Banco do Brasil em Teresina32 e o edifício onde funcionou o primeiro Grande Hotel do Piauí33, junto a alguns imóveis com fachadas remanescentes, porém descaracterizadas34, além de edificações em traços modernistas, como o edifício em uso comercial (representado no mapa pelo número 13), também com a fachada degradada.

Figura 6.3: Mapa do entorno do edifício do Palácio do Comércio. Estão numerados: 1) Edifício do Palácio do Comércio; 2) Imóvel comercial descaracterizado; 3) Imóvel de uso comercial descaracterizado; 4) Imóvel de uso religioso com fachada eclética preservada; 4) Estacionamento; 5)

Edifício da primeira agência bancária do Banco do Brasil em Teresina, em estilo eclético com fachadas conservadas; 6) Edifício do primeiro Grande Hotel do Piauí, hoje de uso comercial, muito descaracterizado; 7) Imóvel de uso religioso em linhas modernistas; 8) Imóvel de uso comercial em linha eclética e art nouveau com fachada preservada; 9) Estacionamento com fachada preservada em

linhas ecléticas; 10) Imóvel comercial com fachada descaracterizada; 11) Imóvel com características

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Atualmente neste edifício de 1921 funciona o escritório do Exército brasileiro.

33 Construído no começo do século XX, encontra-se muito descaracterizado atualmente.

34 Como é o caso do número 9 na Figura 6.3, que teve sua estrutura demolida para um

estacionamento, sendo mantida somente a fachada, além do edifício número 3 que também foi posto abaixo para a construção das dependências de uma igreja, mantendo apenas a fachada.

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ecléticas pouco preservadas; 12) Imóvel de uso comercial em linhas modernistas; 13) Edifício comercial modernista com fachadas degradadas.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

A quadra em que se encontra o Palácio do Comércio mantém um alinhamento com as praças Conselheiro Saraiva e Rio Branco por meio da Rua Rui Barbosa, seguindo também o alinhamento do terreno da Igreja São Benedito por meio da Rua Senador Teodoro Pacheco. Segundo o arquiteto Antonio Luiz, a implantação do edifício obedeceu à mesma cota o recuo da Igreja São Benedito em relação à Avenida Frei Serafim, por isso existe um recuo de 8,50 m para o passeio público, proporcionando um espaço de respiro urbano (Figura 6.4).

Figura 6.4: Imagem aérea do entorno evidenciando o recuo frontal do edifício do Palácio do Comércio com relação à Rua Senador Teodoro Pacheco, alinhado à cota da Igreja São Benedito, e

do recuo lateral com relação à Rua Rui Barbosa, alinhado à cota da Praça Saraiva. Estão enumerados: 1) Praça Marechal Deodoro; 2) Praça Saraiva; 3) Igreja São Benedito; 4) Edifício do

Palácio do Comércio.

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora (2014).

A malha urbana do entorno é marcada por ruas estreitas com calçadas estreitas por conta da alta taxa de ocupação dos terrenos dessa região. Levando-se em consideração o gabarito das preexistências em um raio de 100 m, nota-se que atingem, em sua maioria, a altura de três pavimentos, com exceção do objeto em estudo e do prédio ao lado em linhas modernistas de uso comercial, com oito pavimentos. A percepção do entorno reflete o quanto o edifício marca a paisagem, pois além de apresentar os traços modernistas em seu aspecto formal, destaca-se

134 também sua verticalidade, evidenciada principalmente em decorrência das ruas estreitas e dos baixos gabaritos (Figura 6.5).

Figura 6.5: Vista do edifício da Rua Rui Barbosa. Fonte: Arquivo da autora (2013).

O projeto disponibilizado não apresenta planta de situação, portanto a análise da ocupação do edifício foi feita de acordo com observações durante a visita, vistas aéreas e também pelas proporções das plantas e dos cortes, com relação ao recuo do entorno.

A topografia do local apresenta uma diferença de 1,35 m da fachada voltada para a Rua Rui Barbosa ao fundo do terreno, mantendo os dois acessos do edifício em níveis de altura diferentes (Figura 6.6). Tais acessos (um pela Rua Senador Teodoro Pacheco e outro pela Rua Rui Barbosa) se encontram na galeria existente no pavimento térreo, sendo que o primeiro leva o usuário diretamente às lojas e aos elevadores, e o segundo direciona o usuário primeiramente à escada para o primeiro pavimento e só depois para a galeria (Figura 6.7).

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Figura 6.6: Planta do terreno com os acessos e as diferenças de cota da topografia. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

Figura 6.7: Imagem da galeria interna do edifício a partir do acesso pela Rua Rui Barbosa. À esquerda, o acesso aos elevadores e às escadas.

136 6.2 PROGRAMA DO EDIFÍCIO (ACESSOS, FLUXOS, CIRCULAÇÕES)

O projeto segue alguns dos princípios modernistas utilizados na construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde. O prédio é monumental, disposto em dois blocos, tendendo à verticalidade, como forma de aproveitar melhor o terreno. No entanto, não foram utilizados os pilotis no projeto teresinense, devido à necessidade de se ter 12 pontos comerciais no nível da rua e pelo fato de o edifício não estar isolado, o que tornava sem sentido a liberação integral do solo (SILVA, 2006, p. 12).

O edifício foi projetado para utilizar melhor a área do terreno, que tinha um pequeno dimensionamento com relação ao programa requerido. A Associação Comercial também pretendia criar salas comerciais para locação, além do espaço utilizado por eles. Dessa forma, o edifício foi projetado mantendo-se os recuos, mas verticalizando o objeto arquitetônico a fim melhor aproveitar o espaço disponível.

Os pilares foram dispostos em duas tramas iguais seguindo a modulação de 3,90 x 7,80 m, distantes 3 m uma da outra (Figura 6.8). Essa disposição resolveu o pavimento-tipo com um programa definido em 12 salas comerciais separadas de maneira simétrica por um corredor central de 3 m de largura (Figura 6.9).

Figura 6.8: Plantas com a malha da demarcação dos pilares. A planta da direita representa os pilares do primeiro e segundo pavimentos, e a planta da esquerda representa a malha do segundo ao

décimo segundo pavimento. Fonte: Redesenho feito pela autora (2014).

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Figuras 6.9: Imagem da circulação do pavimento-tipo. Fonte: Arquivo da autora (2014).

O térreo e o primeiro pavimento foram resolvidos seguindo a modulação dos pavimentos-tipo, mas como a planta avançava nos sentidos noroeste e nordeste, foram dispostos mais cinco pilares na fachada noroeste, seguindo uma modulação específica. O avanço do primeiro pavimento com relação ao térreo sobrepõe uma marquise de 1,60 m pelo perímetro do passeio público do edifício (Figura 6.8).

A circulação vertical foi resolvida por uma escada helicoidal e por dois elevadores (Figura 6.10). No caso do primeiro pavimento existe uma escada em L que leva diretamente ao primeiro pavimento, a partir do acesso do edifício pela Rua Rui Barbosa. As baterias sanitárias também estão sobrepostas nos pavimentos-tipo, dispondo uma bateria para cada dois módulos de salas comercias. Junto ao volume das baterias, também percorrem, a partir do segundo pavimento, os dutos de ar- condicionado propostos pelo arquiteto (Figura 6.8).

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Figura 6.10: Imagem interna da escada helicoidal. Fonte: Arquivo da autora (2014).

O pavimento térreo apresenta uma galeria com cinco espaços comerciais voltados para o interior do edifício e mais seis voltados para o passeio público e uma recepção. O primeiro pavimento ocupa os espaços do auditório, sala de reunião, biblioteca, arquivo morto, secretaria, área para exposições e depósito. No projeto original, o último pavimento seria destinado para uso da Associação Comercial, porém, na execução do projeto, a associação eliminou o pavimento, deixando-o como um terraço livre, passando a ocupar o segundo pavimento.

6.3 ESTRUTURA

A solução construtiva do Palácio do Comércio foi resolvida pelo uso do concreto armado. Analisando a disposição das plantas, observa-se que a setorização e circulação dos espaços obedece à trama dos pilares. Além disso, as

139 fachadas (sudeste e noroeste) também são demarcadas pela solução estrutural (Figura 6.11).

Figura 6.11: Fachada sudeste. Fonte: Arquivo da autora, 2014.

A estrutura que percorre de modo homogêneo todos os pavimentos tem 28 pilares dimensionados em 0,20 x 1 m dispostos em duas malha de 3,90 x 7,80 m distantes 3 m uma da outra. No térreo e primeiro pavimento, foram adicionados mais cinco pilares com a dimensão de 0,20 x 0,30 m na fachada noroeste, que não seguem a modulação da trama do edifício.

Esse acréscimo de pilares é justificado pelo avanço do primeiro pavimento e do térreo em relação ao pavimento-tipo, formando uma marquise de 1,60 m que percorre todo o perímetro do passeio público. Já vigas, dimensionadas com uma altura de 60 cm, só se apresentam marcadas na fachada do pavimento térreo (Figura 6.12).

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Figura 6.12: Vista do térreo e da marquise que forma o primeiro pavimento. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Os detalhes construtivos apresentados no projeto revelam o desenho de câmaras de exaustão criadas junto às baterias sanitárias das salas comerciais. A solução construtiva recua as baterias em planta para formar um duto vertical, que percorre todos os pavimentos-tipo, servindo como abertura para ventilação higiênica dos banheiros e ao mesmo tempo para a instalação dos aparelhos de ar- condicionado, que ficam escondidos por uma grelha metálica (Figura 6.13).

Figura 6.13: Corte do detalhe construtivo de exaustão dos banheiros e do ar quente dos aparelhos de ar- condicionado.

141 6.4 ADEQUAÇÕES AO CLIMA LOCAL

Atentando para as condições climáticas da capital piauiense, no projeto original não se observou soluções construtivas que demonstrasse intenções de melhorias de conforto térmico no conjunto. O terreno apresenta uma disposição inclinada em relação aos pontos cardeais, o que deixa duas fachadas vulneráveis à insolação poente – no caso, aquelas voltadas para sudoeste e sudeste (Figura 6.14).

Figura 6.14: Marquise do primeiro pavimento contrapondo-se com a verticalidade da fachada sudoeste. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Além disso, o edifício não apresenta soluções construtivas que viabilizem o aproveitamento da ventilação cruzada ou que protejam melhor as fachadas. De acordo com o arquiteto Antonio Luiz, foi feita a proposta de instalação de brises nas duas fachadas mais prejudicadas (sudoeste e nordeste), porém a solução nunca foi executada.

142 6.5 VOLUMETRIA

Evidenciando a verticalidade, o Palácio se materializa com um caráter monumental, principalmente em decorrência dos baixos gabaritos das construções do entorno. A marcação dos elementos estruturais nas fachadas forma planos verticais nas fachadas das salas comerciais, evidenciadas pela solução das grelhas que escondem os aparelhos de ar-condicionado (Figura 6.11).

A escada helicoidal demarca a fachada cega com um volume cilíndrico azul, que avança o gabarito do edifício, propondo ao conjunto arquitetônico uma sensação de apoio. A cobertura em telha metálica é escondida por platibandas que seguem a mesma volumetria do pavimento-tipo. Observando o edifício pela fachada nordeste, não se apresentam quaisquer sinais da cobertura, sendo evidenciada a altura da platibanda apenas nas fachadas nordeste e sudoeste (Figura 6.15).

Figura 6.15: Volume da escada helicoidal avançando na fachada e na cobertura. Fonte: Arquivo da autora (2014).

Localizado em um terreno modesto no centro de Teresina, o edifício sugere uma situação de instabilidade volumétrica, devido ao escalonamento das lajes,

143 resultando a sensação de um volume vertical que se origina do horizontal. Apresentando uma tendência à verticalização, em evidencia pelas baixas construções do entorno próximo, não alcança o olhar dos transeuntes com facilidade, devido à falta de espaço para sua contemplação. Apesar de estar em uma esquina e apresentar um recuo maior em relação aos outros edifícios, as árvores e as marquises das outras edificações barram o ângulo de visão.

O programa é evidenciado no objeto arquitetônico por meio dos volumes da escada helicoidal em azul, da marquise formada pelo primeiro pavimento e pelos rasgos transparentes, que evidenciam as esquadrias das salas comerciais. Ao analisar o conjunto como um todo, o pavimento do auditório evidenciado horizontal contrapõe-se com o volume dos pavimentos-tipo, em linhas verticais, criando uma sobreposição de formas puras, quebrando a linearidade volumétrica em altura. Além disso, a inclinação das paredes do primeiro pavimento garante maior leveza à estrutura vertical, formando recortes de esquadria na fachada, que apresentam uma quebra da rigidez do conjunto (Figura 6.16).

Figura 6.16: O térreo e os rasgos no plano inclinado da marquise formada pelo avanço do primeiro pavimento (fachada noroeste).

144 6.6 PLASTICIDADE E MATERIAIS

O objeto arquitetônico é revestido parte em mármore branco e parte em pastilhas, nas cores branca e azul. O térreo e o primeiro pavimento em mármore branco apresentam maior rigidez, evidenciada pelas linhas horizontais. No caso dos pavimentos-tipo, revestidos em pastilhas brancas, são evidenciadas a verticalidade e menor rigidez, também devido aos planos transparentes bem demarcados (Figura 6.17).

Figura 6.17: Mármore branco utilizado para revestir o pavimento térreo. Fonte: Arquivo da autora (2014).

A escada é evidenciada na fachada pelo revestimento de pastilhas em tom azul, que quebra a sobriedade do edifício da fachada noroeste do edifício. Com relação à construção, apresenta-se toda revestida, inclusive na área interna dos pavimentos, o que mimetiza das soluções estruturais (Figura 6.18).

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Figura 6.18: Pastilhas brancas e azuis revestindo a fachada noroeste. Fonte: Arquivo da autora (2014).

6.7 CONSIDERAÇÃO

O edifício institucional é inserido na paisagem como um objeto arquitetônico resultado da configuração do lote. Localizado em um terreno de esquina pertencente ao traçado original de Teresina e de linhas ortogonais, apresenta questionamentos que o relacionam ao entorno quanto a espaços privados e públicos, no que diz respeito à escala, à arquitetura inserida no contexto urbano e ao uso dos espaços do edifício.

A aproximação ao objeto arquitetônico representa o primeiro aspecto de conflito, já que a ortogonalidade e as modestas larguras das vias urbanas prejudicam a visualização e percepção da concepção formal. A diferença acentuada de escalas em relação às construções do entorno enaltecem sua verticalidade, de forma a imprimir uma sensação de monumentalidade.

A relação com os elementos preexistentes gera uma discrepância de escalas e de modelos arquitetônicos e tecnológicos. Ainda assim, o recuo do edifício com

146 relação à Rua Senador Teodoro Pacheco, seguindo o alinhamento da Igreja São Benedito, é uma tentativa do arquiteto de soltá-lo do lote, visto que os recuos dos fundos do terreno haviam sido completamente ocupados. Esse partido arquitetônico não apenas libera o volume do edifício como cria um espaço de transição ao acesso principal, representando um respiro urbano com poucos vazios.

A interligação dos dois acessos principais do edifício – um pela Rua Senador Teodoro Pacheco e outro pela Rui Barbosa – gera um galeria no pavimento térreo, que conduz o usuário às circulações verticais. A relação dos fluxos aos acessos gera uma hierarquização das circulações de acordo com o uso do objeto arquitetônico. A setorização do objeto arquitetônico cria um conjunto simétrico com volumes demarcados na fachada como a circulação vertical e o mezanino social, o que propõe uma quebra da linearidade e monotonia do volume principal (determinado pelas salas comerciais, esse volume é resultado do aspecto formal do lote).

A estrutura foi definida a partir da planta dos pavimentos-tipo, que comportavam as salas comerciais. No mezanino e térreo ela recebe mais suporte para sustentar a marquise que percorre todo o perímetro do espaço público térreo, formando um espaço de transição que convida o usuário a adentrar o conjunto arquitetônico. A relação construtiva com o volume foi visualmente minimizada já que, apesar de fazer parte da fachada, a estrutura não se encontra evidenciada por receber o mesmo revestimento em pastilhas do resto do edifício (com exceção do mezanino e do térreo, revestidos por mármore branco), camuflando a tectônica e a materialidade do edifício.

Atualmente as condições físicas do edifício não são satisfatórias. As fachadas se apresentam degradadas pelo desprendimento de pastilhas e do mármore, além da inserção de placas comerciais no térreo. A solução indicada pelo arquiteto para locar os aparelhos de ar-condicionado não é utilizada em razão da não eficiência dos aparelhos que, ao serem instalados, ficam com suas caixas inseridas nas janelas, o que mais uma vez descaracteriza o volume arquitetônico. Por fim, a vulnerabilidade das janelas das salas comerciais e a não solução de brises arquitetônicos resultam na utilização de filmes e até papelão para barrar a alta incidência solar ao ambiente interno, quebrando a homogeneidade arquitetônica do conjunto.

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148 A trajetória particular do arquiteto Antonio Luiz, que percorreu caminhos transitados por muitos profissionais de sua geração, envolve episódios determinantes em sua produção arquitetônica como um todo, mas principalmente deixou uma marca e um legado expressivo na cidade de Teresina. Graduado pela FNA no início da década de 1960, Antonio Luiz teve uma formação modernista, em um ambiente intelectual repleto de profissionais atuantes no meio arquitetônico, como foi o caso de Sérgio Bernardes, professor que muito admirava. Ao fazer parte do setor responsável pela construção das agências do Banco Nacional, ele encontra uma oportunidade de atuar diretamente com a arquitetura de prédios institucionais bancários, projetando agências pelo Brasil e vivenciando outras cidades em realidade tão distintas daquelas centrais do período, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Esse movimento dos arquitetos a partir da década de 1950 acompanhava o crescimento do país e abria as portas para quem interessava em assumir a demanda de infraestrutura e expansão de atividades urbanas nas cidades periféricas e ainda atrasadas do país. A ida de Antonio Luiz para Teresina por meio do Banco Nacional também se inclui nesses movimentos, enquadrando-o como arquiteto migrante. O bom relacionamento com a sociedade local, aliado à oferta de trabalho na capital piauiense, traz o arquiteto de forma definitiva à cidade, considerada por ele na década de 1960 um lugar atrasado e provinciano, visto que as construções ainda não apresentavam, na grande maioria, linhas do modernismo arquitetônico.

Ao conhecer sua produção arquitetônica, percebe-se que ela é vasta não apenas em número, mas principalmente na variedade de programas, usos e também na quantidade considerável de projetos executados em Teresina. Tais objetos arquitetônicos acompanharam o crescimento e modernização da cidade, fazendo parte não apenas da malha urbana, mas também da paisagem construída. A arquitetura residencial desenvolvida por Antonio Luiz apresenta uma íntima ligação com a cultura e materiais locais, adequando soluções construtivas modernistas que se ajustam ao ambiente local, como o aproveitamento do terreno e das ventilações.

Sua produção institucional em Teresina buscou trazer elementos

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