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5. DESENVOLVIMENTO

5.4 O EFEITO DA CRISE DE 2008

Antes de 2008, o PIB russo crescia a uma taxa anual de 7% ao ano e, por ter a terceira maior reserva de divisas internacionais, se sentia confortável com a situação econômica então em curso. Os altos preços do petróleo também tranquilizavam o governo em relação a qualquer redução em seu orçamento.

Os sinais da crise, que também já podiam ser percebidos na economia dos Estados Unidos, começaram a chegar ao território russo. Apesar deles, para agravar mais a situação, a Federação Russa decidiu declarar guerra contra a Geórgia, enviando milhares de soldados, centenas de tanques e dezenas de aviões para as províncias de Ossétia do Sul e da Abecásia.

Mapa 2- Províncias de Abecásia e Ossétia do Sul na Geórgia:

Fonte: BBC Brasil

Ainda que a vitória militar tenha sido notória, a guerra foi desastrosa para a economia russa, tendo em vista que o conflito eclodiu em agosto de 2008, quando a crise dos empréstimos subprime afetou a economia mundial. “Essa ação militar russa gerou forte desconfiança dos investidores estrangeiros no mercado russo e a fuga de capitais” (ASMUS, p.220, 2010).

Isso levou a uma forte instabilidade política que teve como consequências eventos, como, segundo o Russian Trading System (RTS), uma queda de 54% na Bolsa de Moscou em setembro de 2008 resultando na perda de mais de 90% do valor recorde alcançado no mesmo ano, a suspensão das operações financeiras no mercado e a declaração do Kit Finance, um dos principais bancos de investimento do país, de que não havia dinheiro suficiente para pagar suas dívidas.

Ainda houve a falência de bancos comerciais, como o Capital Credit, abalando, a recém-conquistada confiança dos correntistas em relação ao sistema bancário russo. Assim, as perdas sofridas no mercado de ações totalizaram 80%

entre maio e outubro de 2008. Tendência negativa essa que foi mantida até fevereiro de 2009.

Além disso, houve a diminuição da produção industrial devido ao aperto do crédito e à queda da demanda doméstica e global. Ainda é possível perceber uma impressionante retração de 1,60% em outubro para 12,50% em novembro e para -12,80% em dezembro e mantendo a tendência de decréscimo até outubro de 2009.

Com a crise, também foram afetadas as exportações, mais notadamente em consequência de três fatores, segundo o Ministro das Finanças, Alexei Kudrin: pela falta de diversificação dos produtos exportados, pela redução da demanda global e pela queda no preço do barril de petróleo, gás e outras matérias primas.

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 1 - Mercado de Ações Russo 2008-2011.

Adaptado de Trading Economics, 2011

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Grafico 2- Produção industrial na Rússia (%).

Adaptado de Trading Economics, 2011

2010 2009 2008

Ademais, segundo o Banco Mundial, a Rússia foi extremamente atingida por essa grande crise no ano de 2009. Isso pois, segundo o órgão, o PIB do país em 2007 cresceu em 8,5%, já em 2008 esse indicador caiu para 5,2% e, finalmente, em 2009 esse crescimento despencou para -7,8%. Apesar disso, a Rússia iniciou uma recuperação relativamente rápida, afinal, em 2010, a Federação Russa já apresentava um crescimento de 4.5% como é possível ver no gráfico. Porém, esse crescimento não permaneceu no cenário Russo, afinal, em 2011, por mais que pequena, já havia uma redução no crescimento do PIB.

Gráfico 3- Crescimento do PIB anual Russo.

Fonte: Banco Mundial

Já as Repúblicas Bálticas, de acordo com Kattel e Raudla, entre os anos de 2004 e 2007, se destacavam na UE por seus altos índices de crescimento anuais que variavam de 8.2% na Lituânia a 10,3% na Letônia. Porém, esse desenvolvimento já vinha acompanhado de sinais de superaquecimento, como inflação de dois dígitos, além de um aumento nos preços de imóveis, segundo a comissão europeia, e um aumento rápido de salário que excedia a produtividade.

O crescimento ainda foi alimentado pelos créditos baratos, que ampliou a demanda interna, o que foi canalizado nas agências imobiliárias, construção, serviços financeiros e consumo privado. Esse conjunto de fatores fez com que as

economias fossem construindo rapidamente dívidas em todo o mundo. Todos esses fatores causaram dívidas que excediam em 20% o PIB na Letônia e 15% na Estônia e na Lituânia.

Os altos índices de crescimento induziram um efeito calmante13, o que fez as elites políticas esquecerem os sinais de perigo que apontavam para crises externas.

Além disso, ressalta-se que a crise nos países Bálticos foi rápida, mas causou enormes danos. As bolhas domésticas estouraram no início de 2008 quando os fornecimentos de empréstimos desaceleraram tendo em vista que os bancos começaram a aumentar as condições, ou seja, aumentar os requisitos. A recessão ainda aumentou como consequência de fatores externos, principalmente após a falência do Lehman Brothers, um banco de investimentos americanos.

Segundo Purfield and Rosenberg, o declínio no setor imobiliário foi resultado de dois fatores: o declínio da demanda interna, em primeiro lugar, e a deterioração da demanda do setor privado que foi resultado da desaceleração dos créditos e da diminuição da confiança do consumidor.

Outrossim, houve uma enorme queda na demanda interna e nas exportações entre 2008 e 2009, o que aumentou o desemprego mais rapidamente na Letônia (de 6% para 18,7%), seguida pela Estônia (de 4,7% para 16,9%) e pela Lituânia (de 4,3% para 17,8%).

Ademais, é possível perceber, segundo o Banco Mundial, um decréscimo muito maior no PIB dos países Bálticos do que no russo. Isso pois os países Bálticos, em 2007, mantinham uma média de crescimento entre 7,5%, na Estônia, e 11%, na Lituânia, tendo uma queda em 2008 entre aproximadamente -5,1% e 2,6%

nos respectivos países. Já em 2009, esse decréscimo foi maior ainda sendo uma

13 Do Inglês “lulling effect”. Termo criado por Rainer Kattel e Ringa Raudla.

Gráfico 4- Crescimento do PIB anual Leto.

Fonte: Banco Mundial

Gráfico 5- Crescimento do PIB anual Lituano.

Fonte: Banco Mundial

Gráfico 6- Crescimento do PIB anual Estoniano.

Fonte: Banco Mundial

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