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Elaboração participativa de material paradidático com estudantes da escola

Municipal Zumbi dos Palmares em Poço

Redondo

Ana Letícia Sirqueira Nascimento, Débora Moreira de Oliveira e Laura Jane Gomes

Os efeitos da seca são marcantes sobre grande parte da po- pulação do Nordeste do Brasil, que vem sobrevivendo na pre- cariedade devido a limitações como a escassez de água e de alimentos, perda de safras, que trazem como consequências a pobreza e a fome, constatadas nos baixos índices de desenvol- vimento humano.

Desta maneira, tais populações desenvolveram e procuram preservar uma cultura própria, de modo a enfrentar o am- biente adverso com sua sabedoria, fruto de um conhecimento acumulado ao longo de gerações.

Nesse contexto, sob o aspecto da proteção da biodiversida- de julga-se necessário ressaltar a importância de Unidades de Conservação (UC) em regiões secas e suscetíveis à desertifica- ção, podendo ser uma estratégia de cunho social, econômico e ambiental, pois a proteção dos sítios naturais e elementos culturais associados podem conciliar a integridade dos ecos- sistemas e o desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública.

O Monumento Natural (MONA) Grota do Angico é refe- rência de UC em Sergipe por abrigar componentes significati- vos da fauna e flora da região, bem como dispor de verdadeiros registros históricos e culturais, como o grupo de Lampião e sua batalha com a guarda volante. O mesmo está inserido no bio- ma Caatinga e encontra-se altamente vulnerável ao avanço das ações antrópicas. Exemplo rico em biodiversidade e riquezas naturais torna-se fundamental para sensibilização de pessoas, principalmente as que exploram ou residem no entorno a res- peito do manejo e cuidados necessários para com o local.

A Educação Ambiental pode atuar como importante meio de sensibilização e envolvimento dos jovens sertanejos junto à coletividade, pois pode resgatar, valorizar e construir valo- res sociais, conhecimentos e habilidades para a preservação e conservação da Caatinga. Pode ainda contribuir para o enga- jamento de população perante a realização de práticas susten- táveis e consequente harmonia com a natureza.

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objeti- vo elaborar de forma participativa um material paradidático com estudantes da Escola Municipal Zumbi dos Palmares, no Assentamento Jacaré Curituba, Poço Redondo por meio da percepção dos estudantes sobre o bioma Caatinga e as causas de severas secas que os atinge.

Metodologia

Área de trabalho

O Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Jacaré Curituba está situado no Semiárido de Sergipe, ao noroeste do Estado, na Microrregião do Sertão Sergipano do São Fran-

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cisco, que abrange os municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco. Em destaque, encontra-se a área trabalhada, parte do assentamento localizado no Povoado Alto Bonito, no município de Poço Redondo (Figura 42).

De acordo com Santos (2005), em 29 de dezembro de 1997, o assentamento foi criado conforme portaria estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – IN- CRA, composto por 759 famílias e considerado o maior pro- jeto de assentamento de reforma agrária criado para irrigação da América Latina. Cada assentado possui 16 hectares de terra.

Figura 42. Parte do Assentamento Jacaré Curituba, localizado no Povoado Alto Bonito, Poço Redondo, Sergipe, Brasil.

Na entrada principal do assentamento está localizada a es- cola de ensino fundamental Zumbi dos Palmares (Figura 43), mantida pela Prefeitura de Poço Redondo. Esta funciona nos

turnos matutino e vespertino, do 1º ao 9º ano e também com ensino pré-escolar. Na atualidade possui aproximadamente 500 alunos e um total de 24 professores.

Figura 43. Escola Municipal Zumbi dos Palmares. Fonte: Acervo pessoal

Elaboração de material paradidático

A partir do envolvimento de alunos e professores da esco- la, buscou-se elaborar uma cartilha de cunho socioambiental com o propósito de analisar as diferentes percepções dos jo- vens sobre a Caatinga e a sensibilização destes sobre a convi- vência do sertanejo com a seca.

Para nortear a analise utilizou-se o conceito de topofilia uti- lizada por Tuan (1980), em que afirma existir um elo efetivo entre uma pessoa e o lugar ou ambiente onde vive. Esta rela- ção é permeada por diferentes laços afetivos dos seres huma- nos com o meio ambiente material, laços estes relacionados à

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contemplação, moradia, atividade econômica, dentre outros. Desta forma, procurou-se coletar dados gerados nas ofici- nas de desenhos e produções de texto para entender o elo afe- tivo entre os jovens e o espaço vivido, bem como as paisagens que compõem este espaço.

Os desenhos e os textos elaborados foram utilizados como base para a construção da cartilha, além da investigação juntos aos professores da escola de como eles têm adotado ações de Educação Ambiental no seu cotidiano em sala de aula.

Assim, entre os meses de maio e setembro de 2012 foram re- alizadas seis visitas técnicas à Escola Municipal Zumbi dos Pal- mares. Dentre essas visitas, duas foram destinadas à produção de oficinas para obtenção de dados na elaboração do material paradidático.

O período de maio a julho, dotado de quatro visitas técnicas, funcionou como alicerce para conhecimento do cotidiano de atividades adotadas pela coordenação e professores da escola no que diz respeito ao desenvolvimento de metodologias pedagó- gicas voltadas para as mais diversas questões ambientais, prin- cipalmente aquelas que enfatizam a Educação Ambiental para conhecimento e cuidados com o bioma Caatinga.

Já, as oficinas ocorreram em horário paralelo às aulas, uma com oito oito professores que estavam presentes na escola, entre eles, dois de história, um de geografia, um de língua inglesa, um de língua portuguesa e três polivalentes. A outra contou com 23 jovens de 6º ano, com idades entre 10 e 15 anos.

1ª Oficina – “Troca de ideias entre pesquisador e professores” A 1ª oficina, desenvolvida em 27 de agosto de 2012, foi chamada de “Troca de ideias entre pesquisador e professores”, na qual foram debatidas as melhores maneiras de desenvolver atividades interdisciplinares e de cunho socioambiental dire- cionadas aos alunos.

Por meio do diálogo, permitiu-se conhecer o planejamen- to das pautas de aula que os professores presentes na oficina desenvolvem em relação à Educação Ambiental e como con- seguem inseri-la em suas disciplinas. Ainda neste momento, ocorreu um debate entre os participantes sobre quais questões relacionadas ao bioma Caatinga deveriam ser apresentadas de maneira fundamental à elaboração da cartilha.

Também foi aproveitada a oportunidade de solicitar à pro- fessora de língua portuguesa, possíveis produções de texto de- senvolvidas por alunos em sala de aula. Estas deveriam conter o envolvimento da temática “meio ambiente”, para posterior interpretação do pesquisador sobre o que se passa no pensa- mento dos jovens a respeito da natureza.

2ª Oficina – “Construção de desenhos”

A 2ª oficina, realizada em 05 de setembro de 2012, foi voltada à construção de desenhos a partir do cotidiano e da percepção dos jovens sobre a natureza e o meio onde vivem. Segundo Bazarra e Ceja-Adame (2005), a partir do conheci- mento das percepções dos jovens com a natureza, é permitido fortalecer os valores que são o seu ambiente natural e ao mes- mo tempo ajuda a desenvolver habilidades de comunicação e

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cooperação em seu ambiente social.

Levando em consideração esse pensamento, o pesquisador procurou por meio de uma conversa descontraída, instigar o conhecimento dos jovens sobre os temas que inspiram à ela- boração do material paradidático, entre eles, a percepção pai- sagística da Caatinga, a convivência sertaneja com a seca e o questionamento sobre a existência do fenômeno de desertifi- cação no assentamento Jacaré Curituba.

Em seguida, 11 alunos da turma trabalhada foram voluntá- rios e participaram da oficina de desenhos, confeccionando-os individualmente. Cada aluno nomeou o que desenhou, atra- vés de questionamento do pesquisador.

Análise dos resultados

De maneira a contribuir para a elaboração da cartilha, de- senhos e produções de texto destacaram-se como forma de expressar pensamentos dos jovens através de diferentes formas de representação e linguagem.

As distintas técnicas de coletas de dados foram analisadas por meio da triangulação de dados, a fim de unir as “respostas” obtidas. Segundo Denzin (1989), a partir desta metodologia, é possível lançar perspectivas que permitam o pesquisador utilizar, no mesmo estudo, diferentes métodos em diferentes combinações, o que oportuniza investigar e facultar o pensa- mento dos jovens através do cruzamento de informações para uma maior reflexão.

Os desenhos produzidos foram analisados de acordo com Oliveira (2012), que trabalhou percepções e representações da

natureza com crianças de um assentamento rural do estado, e seguiu orientações de Silva et. al. (2010) para análise indivi- dual dos desenhos, de modo a quantificar todos os elementos através de porcentagem em categorias como fauna, flora, na- turais, antrópicos e agrícolas.

De modo a analisar as produções de texto disponibiliza- das pela professora de língua portuguesa, buscou-se formular um apanhado de possíveis subtemas encontrados ao longo das redações. Para interpretação e exposição dos diferentes pensa- mentos e ideias abordados, frases de citações dos alunos foram evidenciadas, tomando como base o conceito de topofilia para descrever a relação dos jovens com o local onde vivem.

Resultados e Discussão

1ª Oficina

De acordo com os professores que participaram da oficina de troca de ideias com o pesquisador, o diálogo explicitou a educação como algo norteador para a sabedoria dos jovens so- bre as melhores formas de convivência com a seca, buscando evidenciar o possível equilíbrio do uso dos recursos disponí- veis na natureza com a conservação dos mesmos.

Desta forma, os educadores afirmaram atribuírem práticas de ensino através de metodologias alternativas que visem a Edu- cação Ambiental em sala de aula, pelo menos uma vez ao mês. Segundo Yamazaki & Yamazaki (2006), esse tipo de metodo- logia é mais uma ação que complementa a prática cotidiana de professores do que um abandono de práticas anteriores.

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A dinamização do ensino é realizada através de poemas, histórias em quadrinhos, teatros e paródias que parecem pro- vocar aprendizagem de maneira mais eficiente aos alunos.

Como demonstra Yamazaki & Yamazaki (2006) em seu trabalho “Sobre o uso de metodologias alternativas para en- sino-aprendizagem de ciências”, esses métodos proporcionam uma mudança significativa na prática de educadores que pre- tendem, de fato, ensinar, não sendo por acaso que o uso sis- temático de métodos tradicionais é considerado por muitos estudantes como entediante, maçante e pouco proveitoso.

Levando-se isto em conta, a elaboração da cartilha funcio- nou como outro veículo de aprendizagem, pois a partir do debate decorrido entre pesquisador e professores, foi possível constatar e expor de maneira clara no material os conceitos de Bioma Caatinga, Desertificação, Unidades de Conservação, quais as causas de severas secas e a importância de saber difer- enciar preservação e conservação junto ao manejo sustentável dos recursos naturais.

O artigo “Estudo do processo de desertificação na Caatin- ga: uma proposta de Educação Ambiental”, escrito por Araújo e Sousa (2011), segue referência de (Abílio et al., 2004), que, analisando 24 livros de ciências (5ª a 8ª séries) de 11 autores, publicados entre o período de 1990 a 2004, os quais apresen- taram conteúdos básicos sobre Educação Ambiental e Meio Ambiente, verificaram que esses conteúdos são tratados, em sua maioria, de forma superficial e por meio de uma visão apenas ecológica, esquecendo das outras facetas que compõem o Meio Ambiente. Enfatizam as questões do lixo, poluição, desmatamentos e outros problemas ambientais, tais como o efeito estufa e os danos à camada de ozônio, mas, em sua to-

talidade, não conceituam e não apresentam conteúdos con- textualizados e nem uma pedagogia ambiental.

Para evitar esse tipo de banalização à Educação Ambiental, a coordenação da escola adota a comemoração de datas sim- bólicas, promovendo um meio atrativo para a exposição de fa- tos históricos, culturais e de conteúdos interdisciplinares. Em alusão ao meio ambiente, datas como o Dia da árvore, o Dia da água, a Semana do Meio Ambiente e a Semana da Caatinga são veementes trabalhadas.

A exemplo disso, a Prefeitura de Poço Redondo (Poço Re- dondo, 2013), divulgou em seu site oficial uma atividade lúdi- ca pedagógica preparada pela escola, uma visita ao MONA, incluindo sua sede , trilha do cangaço , local da morte de Lampião e conversa com o gestor da unidade sobre as mais diversas riquezas biológicas e registros históricos pertencentes a região, na semana de comemoração do bioma Caatinga.

Desta forma, a constante realização de atividades com este pensamento pode orientar os jovens quanto à importância de criação das Unidades de Conservação, e sua importância para a manutenção da biodiversidade, do clima e do regime das chuvas bem com da disponibilidade de água potável.

2ª Oficina

Ao decorrer da oficina de desenhos observou-se que os jo- vens representaram a Caatinga evidenciaram os fatores que a integram. Para isto, a percepção do cotidiano ficou evidencia- da na caracterização do bioma de acordo com a paisagem nat- ural (árvores, animais, solo, sol, céu e nuvens límpidas, etc.),

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pequenas propriedades rurais, lavoura e criação de gado para o sustento da maioria das famílias e até mesmo a tecnologia presente na região. Para Jodelet (2002), estas representações podem ser consideradas como a prática do saber, do conheci- mento cotidiano com base na experiência vivenciada.

No momento da conversa descontraída com os jovens, foi possível perceber a sensibilidade destes a respeito de um misto de fatores que influenciam a convivência do sertanejo com a Caatinga. Entre eles o reconhecimento da vasta biodiver- sidade, o apego pela terra cultivada e a problemática da seca, que para eles é sinônimo de dificuldades perante o sustento da maioria das famílias de assentados.

Ao serem questionados sobre o que era a desertificação, to- dos os estudantes associaram à ideia de um espaço composto por areia, sem corpos hídricos, árvores, animais ou população, o que provavelmente deva estar no imaginário deles a o que conceituamos como paisagem de deserto.

Desta forma, a partir da criação dos desenhos realizados para exposição do conhecimento próprio , os alunos puderam comparar suas ilustrações uns com os outros, proporcionando à dinâmica trabalhada o título consensual de “O meu Sertão”.

Segundo Souza (2010), ao desenhar, o jovem elabora seu pensamento. Expressa sua visão do mundo e descobre o novo, através do já conhecido e de suas criações. A alegria ou a tris- teza são mostradas graficamente, quando oralmente é mais difícil. Sentimento e razão estão ligados em linha direta. Ao prazer do gesto associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca.

Partindo do pressuposto de que os jovens pensam ludica- mente e de que o desenho é uma atividade lúdica (Moreira, 1999; Derdyk, 1989 e Arfouilloux, 1983), um estudo mais aprofundado de suas produções poderá ampliar a compreensão sobre a forma com que elas se relacionam com alguns conheci- mentos das Ciências Naturais. Do mesmo modo que em outras atividades lúdicas, o desenho, neste caso, nada mais é do que o próprio pensamento do jovem transcrito no papel.

Com embasamento no trabalho de Oliveira (2012), a repre- sentação dos 11 desenhos analisados e identificados com idade e iniciais dos nomes dos alunos foram contabilizados (Tabela 8).

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Tabela

8. I

dentificação dos elementos de fauna, flora, naturais, antr

ópicos e agrícolas encontrados nos

desenhos. F

onte: P

esquisa de campo

Tabela 8 (Continuação) I

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Desta forma, o sentimento de topofilia proposto por Tuan (1975), foi analisado de acordo com o elo afetivo entre o indi- víduo e o lugar ou ambiente físico.

Elementos antrópicos e de fauna estiveram presentes em igual e maior número nas gravuras. Somando-se todos estes elementos (computando-os uma única vez, na forma ausente -presente), chegou-se a um número mínimo de 11 elementos antrópicos e 11 elementos de fauna, gerando um total de 22 elementos. Em segundo lugar, seguem os de flora, com 09 representações, e logo após os elementos naturais (04) e agrí- colas (02) (Figura 44).

Figura 44. Distribuição geral dos elementos de fauna, flora, naturais, antrópicos e agrícolas representados nos desenhos.

No que se refere aos elementos antrópicos (Figura 45), a figura da casa (moradia) é representada por (82%). Para Ba-

chelard (2003 p.23), ao tratar do universo da casa, assume que “a casa é o nosso canto no mundo. Ela é, como se amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cos- mos em toda acepção do termo”. Portanto, a representação da casa remete ao fato de que o aluno se inclui na natureza, de modo que a sua moradia se torne fator indicativo da ideia de aconchego e interação com o lugar.

Figura 45. Parte de desenhos em que a imagem do agricultor, moradia e cercas de madeira são apresentados como elementos antrópicos (Desenho feito por J13, L11 e JA12).

As cercas de madeira com 45% das aparições chamaram atenção para o modo como os jovens se preocupam com a apropriação e demarcação da terra no contexto da reforma agrária, tanto na ilustração de suas casas como também da la- voura e criação de animais. Espécies madeireiras da vegetação

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da Caatinga são utilizadas vastamente como fonte de energia e/ou combustível (Teles, 2005) principalmente o consumo de lenha, cercas ou venda, geralmente sem seguir um manejo es- pecífico, como afirma Araújo et. al., (2010).

O desenho (M11) retrata a ilustração de uma fogueira, técnica geralmente utilizada para o cozimento de alimentos. Segundo Grauer e Kawano (2001), a lenha utilizada possui baixo custo de aquisição e seu caráter renovável confere a pos- sibilidade de que, se bem manejada, seu uso seja sustentável ou tenha menos impacto ambiental.

Todas as aparições de pessoas estiveram voltadas a figura do agricultor (36%), imagem que designa familiaridade aos jovens e é derivada da realidade que circunda o ambiente em que vivem. Isto também revela o meio rural como considerá- vel portador de atividades essenciais à sobrevivência e ao sus- tento da maioria dos trabalhadores no assentamento.

Algumas medidas que contribuem para uma melhor con- vivência com a seca demonstrou representações como galpão para estoque de alimentos, devido à sazonalidade de plantios (J12 e JA12), cisterna para armazenagem da água proveniente da chuva ou dos caminhões pipa (J13 e JA12).

O fato de essas medidas paliativas serem extraídas do meio que percebem, não significa que os jovens as tenham deseja- do, pois segundo Tuan (1980), nem todo o ambiente que se presencia possui o irresistível poder de despertar sentimentos topofílicos. Isto é, o fato de conseguirem lidar com a seca não significa que não desejem viver em um ambiente sem gran- des preocupações no que diz respeito às necessidades básicas como água e bundância de alimentos.

Os elementos de fauna mais presentes (Figura 46) foram os pássaros, porém 45% dos participantes não citaram ou iden- tificaram o nome popular das espécies. Lindemann-Matthies (2002) chama esse fato de “analfabetismo natural”, indicando que o fato de não nomear as espécies não está necessariamente relacionado com a falta de oportunidade para que os jovens vejam os animais no meio imediato, e sim, reflete a falta de oportunidade para que os mesmos nomeiem e estudem os or- ganismos locais. Porém, o pássaro popularmente conhecido como Azulão e nativo do bioma Caatinga, foi retratado por meio de dois desenhos (J13 e JG12).

Figura 46. Parte de desenho em que o pássaro sem nome identificado, vaca e jumento, aparecem como elementos de fauna. (Desenho feito por M11).

A vaca (45%) e o jumento (36%) também tiveram considerá- vel aparição, pois são animais típicos e de grande valia para o de- senvolvimento das atividades de pecuária e agricultura da região.

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O tamanduá, animal silvestre não pertencente ao bioma Caatinga, também foi representado (M12 e JG12), o que im- plica afirmar que o inconsciente pode “tomar forma” perante o papel. Segundo Luquet (1991), dos quatro até os doze anos, a criança passa a desenhar não somente o que conhece, mas também o que sabe existir.

Quanto aos elementos de flora (Figura 47) que mais estive- ram presentes foram: as árvores (sem identificação do nome) e a grama, com 45% respectivamente. Schwarz, Sevegnani e André (2007), ressaltam a forma genérica como são represen- tados, em geral os componentes do meio, mas não apresen- tam identidade específica. Isto sugere que os jovens têm no- ção da diversidade de plantas da região, mas ao representá-las, possuem dificuldades em apresentar os respectivos nomes. Guarin-Neto, Santana e Silva (2000) explicam que o uso das plantas como recurso está fortemente presente na cultura po- pular que é transmitida de pais para filhos no transcorrer da

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